John Kyalo Mulwas já não conseguia suportar a sua família cultivando os seus seis hectares de terra como sempre o fez e decidiu abandonar a agricultura e abriu um bar, deixando a terra – e as decisões sobre a actividade – para a sua esposa, e verificou-se que ela se tornou melhor do que ele alguma vez foi.Fidelis Mbithe acorda às seis horas da manhã todos os dias para arrancar algumas folhas de couve para alimentar as galinhas, por vezes ela acrescenta outros ingredientes, como milho moído e ervilhas para as aves, uma vez que elas não podem viver só de vegetais. “Esta é uma zona de seca. É por isso que devemos utilizar o conhecimento local para sustentar qualquer tipo de agricultura e criação de animais”, disse ela.Os frangos de Mbithe estão na base do seu sucesso desde que ela tomou conta da administração dos seis hectares da família na pequena aldeia de Kiambani, no leste do Quénia. Em 2007, ela começou com cinco frangos e com todo o cuidado ela atingiu os actuais números que lhe dão fama.Ela utilizou os ganhos da criação de frangos aplicando-os na terra. “Eu cultivo vários tipos de vegetais. Também cultivo milho e mapira – basicamente para uso doméstico e alimento para as minhas galinhas. Uso o remanescente para vender no mercado local.”Em Janeiro deste ano, Mbithe e outros membros do seu grupo começaram a semear piri piri e outras sementeiras resistentes à seca, para exportação. “Temos pessoas que vêm todos sábados com camiões para comprar o nosso produto para os mercados de exportação”, disse.Ela conta com três trabalhadores e outros três sazonais diariamente. Aos sábados, quando ela faz a colheita para exportação, ela contrata mais trabalhadores, chegando a completar 15.Mbithe diz que a sua farma tem um rendimento de cerca de 1.500 dólares americanos por semana, que ela utiliza para pagar aos trabalhadores, para comprar os necessários insumos, e o resto para o consumo da família, incluindo a sua sogra e o marido.Por vezes, Mulwa ajuda a sua esposa a supervisar as actividades da farma quando há muito trabalho, mas acha melhor deixar tudo sob o controlo dela. “As coisas mudaram. De facto ela me ajuda algumas vezes a actualizar o estoque do bar e, ao mesmo tempo, ela toma conta do trabalho doméstico. Eu confio nela. E penso que tenho muita sorte de ter uma mulher tão diligente como esposa”.
“Quando percebi que o meu negócio tinha estabilizado, decidi juntar-me a um grupo de mulheres de ajuda mútua conhecido como Kaasya Production Group – que faz parte da Associação de agricultoras de Mbiuni”, disse Mbithe. A associação é composta por 16 mulheres com um total de 750 pequenas agricultoras da semi-árida região de Ukambani, no leste do país. O grupo colabora com uma ONG conhecida como a Formação Inades – uma ONG pan-africana que encoraja grupos a poupar colectivamente para apoiar membros individuais com empréstimos. Mbithe ainda não pediu o seu primeiro empréstimo. “Tenho acumulado as minhas contribuições e muito em breve poderei pedir um empréstimo para expandir o meu projecto”.O exemplo de Mbithe apoia as conclusões de um estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) que sugere que se as mulheres tivessem acesso a alguns recursos como os homens têm, os seus rendimentos na agricultura poderiam aumentar em 20 ou 30 por cento. “Mbithe é uma das mulheres que saíram de um estado de pobreza para se tornarem o sustentáculo das suas famílias através de agricultura de pequena escala”, disse Jane Biashara, perita em desenvolvimento comunitário que trabalhou com mais de 60 grupos de agricultoras de pequena escala no Quénia.De acordo com Biashara, a melhor maneira de empoderar as mulheres pobres é mobilizá-las em grupos, onde elas podem angariar fundos e empréstimos a partir das suas contribuições. “Da minha experiência, aprendi que mulheres pobres sentem-se melhor p[egando empréstimos de fundos seus do que de outras organizações. Os juros voltam ao mesmo fundo, evitando perdas”.Ela realça o exemplo da associação à qual Mbithe pertence. O grupo acumulou mais de 70 mil dólares americanos em capital em cinco anos simplesmente pela compra de acções pelos membros no valor de cerca de 6,25 dólares cada.Segundo Judith Musau Mwikali, a tesoureira de Mbiuni, os membros têm o direito de pedir empréstimo à associação, pagando com juros. “Os juros tornam-se um dividendo para o beneficio dos membros do grupo”. Sem um título formal da posse de terra, um obstáculo comum para mulheres que procuram crédito, a associação resolve este problema procurando três avalistas, também membros do grupo a que pertencem. O montante do empréstimo que os membros podem pedir é também limitado pelo número de acções que ela tem na associação.“Nós usamos os membros como garantia simplesmente porque na maioria dos casos as mulheres não têm propriedades que podem dar como garantia para um empréstimo. Isto significa que se alguém não consegue reembolsar um empréstimo recorremos às suas acções”, disse Musau.
0 comments:
Enviar um comentário