domingo, setembro 27, 2015

Dhlakama em fuga e incomunicavel

Resultado de imagem para dhlakama e chissanoO ataque protagonizado sexta-feira (25] em Amatongas, no distrito de Gondola, na provincia central de Manica, resultou na morte de um civil e 13 guardas do lider da Renamo, Afonso Dhlakama, segundo a Radio Mocambique (RM), a emissora publica nacional.De acordo com fonte, que cita o comando provincial da Policia mocambicana (PRM), os corpos das vitimas foram evacuados para os hospitais de Gondola e cidade de Chimoio, a capital provincial.O civil, um automobilista de um transporte semicolectivo de passageiros, foi baleado pelos homens armados da Renamo, enquanto os 13 guardas da caravana de Dhlakama foram abatidos na sequência dos confrontos que se seguiram com as forças policiais que se fizeram ao local para reestabelecer a segurança e ordem.
Resultado de imagem para dhlakama e guebuzaO comandante provincial da PRM em Manica foi citado pela fonte a dizer que a situação esta controlada na zona e que o tráfego rodoviário foi normalizado.Ainda de acordo com a fonte, oito viaturas abandonadas da coluna do lider da Renamo foram incendiadas pela população local revoltada.
Entretanto, a Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, desmente ter perpetrado o ataque.“Não é prática da Renamo atacar civis, conforme todos sabem aquilo é uma mentira”, disse o porta-voz da Renamo, António Muchanga, hoje, em Maputo, durante uma conferência de imprensa.

Resultado de imagem para dhlakama e nyuseMuchanga disse que, a ser verdade que o incidente foi causado pela comitiva da Renamo, a Polícia, tendo um posto de controlo em Inchope, podia “interceptar a Renamo para voltar e se responsabilizar pelo acto”.Ele desmentiu ainda o balanço do ataque, afirmando que no incidente morreram sete elementos da Renamo, três (3) militares e quatro civis.Sobre o actual paradeiro do líder da Renamo, Muchanga apenas afirmou que Dhlakama está em Manica.“O presidente Dhlakama foi atacado em Chimoio, no distrito de Gondola, e está em Manica, está em bom estado de saúde, mas moralmente preocupado com o caminho que os nossos detractores escolheram”, disse Muchanga na conferencia de imprensa. 

quarta-feira, setembro 16, 2015

Bombeiros da Beira capacitados pela ENB

O Conselho Municipal da Beira (CMB) pela mão do seu Presidente Daviz Mbepo Simango apostou no estreitamento das relações técnicas-cientificas e culturais, com a assinatura esta Terça-feira de um memorando de entendimento com a Escola Nacional de Bombeiros de Portugal (ENB), baseada em Sintra, representada no acto pelo seu Presidente da Direcção Dr. José Maria Oliveira Ferreira, com o envolvimento da empresa T4S Moz – Training Solutions, Safety and Security Services, Lda (T4S Moz), sediada nesta cidade e a quem cabe a tarefa de executor. O acordo rubricado pelas partes, presenciado pelo Cônsul de Portugal na urbe e quadros seniores do município, tem em vista a necessidade de formação e capacitação de bombeiros, agentes de protecção civil e colaboradores com disponibilidade de cursos de graduação, estágios profissionais e acções de formação, salvaguardando assim estes interesses comuns. No que diz a mais valia a Edilidade do Chiveve, esta traduz-se num contributo para formação técnica de bombeiros e de outros agentes de protecção civil com responsabilidades nas áreas de segurança e saúde no trabalho, primeiros socorros e segurança contra incêndio e seu combate. Conforme apuramos de Daviz Simango, esta cooperação com a Escola Nacional de Bombeiros de Portugal é fruto da sua recente digressão pela Europa que para além doutras novidades a trazer, contempla a “Conferencia de Investidores – Beira 2015” a ter lugar no dia 17 do corrente mês na urbe, cujo objectivo principal é apresentar o “Plano Director” para a cidade da Beira.

A ENB é uma associação privada, sem fins lucrativos, reconhecida como pessoa colectiva de utilidade pública com a missão de formação dos bombeiros e demais agentes de protecção civil; certificação da formação de bombeiros em Portugal; atribuição de equivalências à formação ministrada por instituições de ensino superior público, privado ou por entidades formadoras certificadas; formação dos cidadãos na vertente de auto-protecção; elaboração de estudos; promoção de investigação aplicada; prestação de serviços de consultoria e edição de suportes informativos e formativos, possuindo um conjunto de acreditações, certificações e reconhecimentos por entidades nacionais e internacionais que comprovam formalmente a qualidade da formação ministrada e mais importante, reconhecida como autoridade pedagógica de formação. A ENB possui um conjunto de acreditações, certificações e reconhecimentos por entidades nacionais e internacionais que comprovam formalmente a qualidade da formação ministrada e reconhecida como pessoa colectiva de utilidade pública pela Presidência do Conselho de Ministros de Portugal como autoridade pedagógica de formação nas seguintes áreas:
Protecção de pessoas e bens; Segurança e higiene no trabalho e Saúde - programas não classificados noutra área de formação. Internacionalmente reconhecida pelo ICET - International Centre for Emergency Techniques para ministrar formação na área de salvamento e desencarceramento, a ENB com Sede em Sintra, possui um Centro de Formação (incêndios urbanos e industriais) em S. João da Madeira e outro em Lousã, especializado em incêndios florestais.

Esta mesma empresa foi quem no ano transacto terminou o processo de constituição do corpo de bombeiros da HCB - Hidroeléctrica de Cahora Bassa, num ambicioso projecto que englobou o recrutamento e formação de pessoal, o desenvolvimento de infraestruturas e a consultoria na aquisição de material. Também, já em parceria com a T4S MOZ, prestou formação na área de Primeiros Socorros e Combate a Incêndios a Cornelder (Moçambique).

terça-feira, setembro 15, 2015

Estou pronto mesmo amanhã!!!!!

”EU estou pronto para me encontrar com o meu irmão Filipe Nyusi, mesmo amanhã”, assim se expressou ontem na Beira, província de Sofala, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na palestra por ocasião dos 20 anos da Universidade Católica de Moçambique (UCM).Dhlakama respondia assim a uma pergunta que lhe foi feita pelos participantes ao evento sobre as razões das constantes ameaças à paz no país.No entanto, não deixou de acusar o Governo de ter alegadamente violado o Acordo Geral de Paz de que ele e Joaquim Chissano foram protagonistas em 1992.“A palavra paz tem um significado muito importante e não e só o calar das armas”, defendeu.Afonso Dhlakama fez estas afirmações depois de ter feito uma apresentação subordinada ao tema “A Universidade Católica de Moçambique como promotora da expansão e acesso ao Ensino Superior em Moçambique”.A propósito, defendeu que a UCM desempenhava um grande papel na sociedade moçambicana que tem ainda imensas necessidades em termos de formação de quadros.“Moçambique precisa de uma nova geração de quadros qualificados ”, defendeu ainda o líder da Renamo.
UM episódio que marcou de forma singular a cerimónia de ontem se deu quando uma das três pombas soltadas pelo Arcebispo da Beira, D. Cláudio de La Zuana, postou-se mesmo em frente ao ponto onde se encontrava sentado o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.Foi um momento que prendeu a atenção dos presentes, e que paralisou momentaneamente o evento, que acabava de começar, com muitas imagens a serem registadas, enquanto Dhlakama se mantinha sentado.Não faltaram interpretações do episódio, com alguns a considerarem que a pomba estava ali para transmitir a mensagem da paz ao presidente da Renamo.Pouco depois, o pessoal do protocolo tentou retirar a pomba, mas nessa altura ela voou para uma das varandas do edifício, onde decorria a palestra.

A OUTRA figura presente nos 20 anos da UCM foi o antigo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Brazão Mazula.Abordado a propósito do acontecimento, Mazula afirmou que este jubileu da UCM que decorre sob o lema “Promovendo a Reconciliação” faz um apelo aos signatários do Acordo Geral de Paz (AGP) - o Governo e a Renamo - para que retomem com muita urgência o diálogo para essa reconciliação que se crê verdadeira.“A paz deve ser verdadeira. Como viram, foram lançadas três pombas, mas uma delas acabou não voando e ficou ali em frente dos signatários do AGP, pois estavam ali o presidente Chissano e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Portanto, é de reconciliação que temos que falar. Até a pomba nos mostrou que isso é possível, indo pousar diante dos signatários do AGP”.Brazão Mazula deixou um recado em forma de pergunta: “Por que é que nós ainda nos matamos? Por que é que o Governo e a Renamo ainda continuam a matar-se? - questionou.Mazula disse não haver motivos para os moçambicanos se matarem uns aos outros. “Não há motivos para a guerra. Que as armas se calem para sempre para vivermos em paz”, referiu Mazula.

Angola pode ficar sem indústria do petróleo

"Se não houver uma significativa redução dos custos, tudo vai parar", disse o diretor-geral da Total em Angola, Jean-Michel Lavergne, em declarações à agência financeira Bloomberg, nas quais explicou que caso as condições não melhorem, a indústria petrolífera angolana "vai desaparecer", partindo do princípio que o preço do barril de petróleo se mantém nos 60 dólares. Em causa estão as várias medidas que o Governo angolano tem tomado nos últimos anos, que fizeram os custos de produção aumentar em 500 milhões de dólares por ano, disse Lavergne durante um fórum empresarial em Luanda, no qual anunciou que está pedida uma reunião com o Governo angolano para dar conta destas preocupações causadas pelos custos da regulação.
Em junho, Angola ultrapassou pela primeira vez a Nigéria enquanto maior produtora subsariana, tendo bombeado 1,77 milhões de barris por ano, contra 1,9 milhões da Nigéria, embora no total do ano passado a média de produção tenha sido de 1,66 milhões, comparado com os 1,9 milhões da Nigéria.
A Total é a maior produtora de petróleo em Angola, com cerca de 700 mil barris por dia, o que representa mais de 40% da produção do país. Os poços de petróleo em águas profundas na costa de Angola têm um desenvolvimento muito caro, e a indústria precisa de preços entre 60 a 80 dólares por barril "para a operação fazer sentido", disse Lavergne. O preço do barril de petróleo 'Brent' está nos 50 dólares por barril, menos de metade do pico do ano passado, e as previsões apontam para um ligeiro acréscimo de preço no próximo ano. As novas normas sobre as emissões o desperdício, aliadas aos preços baratos, significam que algumas companhias estão a pensar em sair do país, que se tornou o mais recente membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em 2007, disse o diretor da câmara de comércio Estados Unidos - Angola, Pedro Godinho.

"Há muitas petrolíferas que estão a ponderar sair do país se o cenário mundial não mudar", disse o responsável durante o evento em que participou também o diretor da Total em Angola, concluindo que a solução para a quebra nas receitas fiscais e consequentes dificuldades orçamentais "não é matar a galinha que põe os ovos de ouro".

segunda-feira, setembro 14, 2015

25 anos da Universidade Católica


Hoje!
Universidade Catolica de Moçambique (UCM FCS). 
Cidade da Beira.
Um momento de reflexão para a PAZ.






domingo, setembro 13, 2015

Motorista de Dlakama ferido gravemente


comitiva da Renamo atacada em chimoiocaravana de dhlakama atacada em chimoioA polícia moçambicana negou a autoria da emboscada no sábado contra a caravana do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, atribuindo o ataque a um grupo de desconhecidos. "Quem disparou não consigo descortinar", afirmou, em declarações á Lusa, Armando Mude, comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica, sobre o ataque contra a coluna de viaturas onde seguia o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, no centro do país. "A informação que tenho é da existência às 19:30 de um tiroteio, um pouco depois do cruzamento de Tete. Eu não consigo chegar lá, porque trata-se de uma caravana de homens armados [da Renamo], com um efetivo de cerca de 40 a 50 homens", declarou Armando Mude.Uma caravana em que seguia o líder do maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, foi [12 setembro] atacada ao início da noite na província de Manica, centro de Moçambique, havendo cinco feridos, mas o líder da “perdiz” saiu ileso do incidente.O ataque, testemunhado pela Lusa no local, foi dirigido por homens da Unidade de Intervenção Rápida (UIR/FIR) cerca das 19:00 em Chibata, junto do rio Boamalanga, quando a comitiva de Dhlakama regressava de um comício em Macossa e se encaminhava para Chimoio, capital de Manica, centro do país.Os militares da Renamo responderam aos tiros e entraram no mato em perseguição dos homens da UIR, enquanto o resto da comitiva, incluindo Dhlakama, permaneceu no local.O carro do presidente da Renamo não foi atingido, mas o motorista de um dos veículos da caravana ficou ferido com gravidade.Um militar da Renamo avançou à Lusa a existência de outros quatro feridos entre os homens da UIR.A comitiva retomou a sua marcha cerca das 20:30 em direção a Chimoio, onde é esperada uma declaração de Dhlakama sobre o incidente.

Um diálogo de paz

Os Estados Unidos da América (EUA), Portugal e Reino Unido condenaram hoje o uso de violência e palavras ameaçadoras que atentam à paz e estabilidade para a resolução de diferendos entre as várias esferas da sociedade moçambicana, em lugar do diálogo.Este sentimento foi manifestado pelos respectivos embaixadores acreditados no país, Douglas Griffiths, Joanna Kuenssberg e José Duarte, durante um encontro que mantiveram, em separado, com o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, em Maputo.Nas suas declarações à imprensa, após o encontro com o Primeiro-Ministro, os diplomatas mostraram-se satisfeitos e disseram ter manifestado o interesse de cada um dos países que representam apoiar sempre ao povo e às autoridades moçambicanas no desenvolvimento, prossecução da paz e no respeito pela democracia no país.O diplomata português, por exemplo, disse existirem dois motivos grandes que se ligam ao interesse em apoiar o país, nomeadamente afectivo e material, como são os casos da ligação histórica longa que os dois países têm, que permite à sociedade portuguesa ter uma relação de afectividade genuína com Moçambique e os investimentos.
Resultado de imagem para paulo duarte embAIXADOR“Tensões políticas existem em todos os Estados democráticos. Fazem parte do debate político. Não têm problema. Contudo, essas tensões políticas devem ocorrer em todo o lado no estrito respeito da lei e na estrita utilização das instâncias democraticamente eleitas para o efeito. Se há leis que necessitam ser mudadas, as pessoas debatem-nas e aprovam as mudanças que consideram adequadas para responder a essas mesmas necessidades. Para nós, isso é claro, não apenas para Moçambique, mas para todos os países do mundo”, afirmou o embaixador.Na sua política externa, Portugal apela sempre ao respeito pela paz, vida humana e instâncias democraticamente eleitas, bem como instâncias normais para debater pontos de vista, reformar leis, e contextos, o que com Moçambique não foge à regra.Para Duarte, os moçambicanos são suficientemente maduros e sabem perfeitamente o que querem para, por si sós, chegarem às negociações. “No entanto, cabe a eles encontrarem os modelos, modalidades e esquemas naturais que se considerem adequados à sua convivência pacífica”.Portugal continua a ser, desde 2008, um dos principais investidores externos de Moçambique e maior criador estrangeiro de emprego, tendo criado cerca de 75 mil postos de trabalho.Assim, Duarte não vê com bons olhos a instabilidade que se vai instalando no país, devido às ameaças da Renamo, o principal partido de oposição, de criar forças policiais e de defesa paralelas às já constitucionalmente existentes, que podem prejudicar todo um clima de investimento.“As pessoas, quando investem, querem ter lucro. Para que tenham lucro, convém que haja paz e estabilidade. Só assim é que as coisas evoluem. Nós gostamos de ver os moçambicanos a terem sucesso. Nós gostamos de ver taxas de crescimento económico em Moçambique que rondam os sete e sete e meio por cento. Nós gostamos de ver Moçambique a evoluir, a descobrir gás natural, a ter perspectivas de ser um país mais rico, a ter perspectivas de ver menos gente pobre, a ver mais gente a participar nessa riqueza”, realçou.Portugal tem uma comunidade de cerca de 23 mil pessoas em Moçambique.
Por seu turno, a Alta Comissária do Reino Unido e Irlanda do Norte afirmou que a existência de partido político armado, como é o caso da Renamo, é condenável, visto não ser uma parte de saída para uma paz sustentável, encorajando, por conseguinte, o estabelecimento dum diálogo consolidado e a todos os níveis.“Eu disse que, segundo a nossa história, nós sabemos que do lado do governo é muito importante ter a responsabilidade de combater sempre para a paz, para que o público não tenha medo, para acabar com a incerteza que existe dada esta tensão”, disse Kuenssberg.A diplomata realçou que o passado recente moçambicano mostra que não há um espaço para as armas, referindo-se à tensão político-militar entre o governo e Renamo, cujo acordo de cessação foi assinado em 2014.“É necessário o diálogo e conversa face a face entre pessoas e não pelas armas. O público não quer violência. Encorajo ambas as partes a falarem. As respostas só vão sair da conversa, do diálogo. Ninguém quer a guerra. Todos querem a paz. O Reino Unido considera também que as instituições públicas também deviam ser respeitadas”, acrescentou.O Reino Unido e Moçambique estão a reforçar cada vez mais as relações existentes. No encontro, a diplomata e o Primeiro-Ministro falaram também da cooperação britânica que está a apoiar todas as prioridades do Plano Quinquenal do Governo para o desenvolvimento político, social e económico do país.Os dois trocaram ainda impressões sobre o investimento do sector privado e ambiente de negócios.Em Moçambique, há mais de 40 empresas britânicas que operam em todos os sectores.
Resultado de imagem para Douglas Griffithsor sua vez, o embaixador Douglas Griffiths disse que, para além de ter encorajado para um diálogo de paz, deixou bem claro que os EUA não apoiam a nenhum partido político no país e que sempre estão a favor do uso das instituições para fortalecer a paz em benefício do povo.
“Temos que usar um diálogo de paz. Acho que as pessoas têm que colaborar. Precisamos de usar palavras para construir em vez de dividir”, sublinhou.A trajectória e o estágio das relações bilaterais entre os EUA e Moçambique e o investimento norte-americano foram outros assuntos debatidos. Em relação ao investimento, Griffiths revelou que o seu país colocou à disposição cerca de 500 milhões de dólares, para investir na educação, saúde, agricultura, entre outros sectores em Moçambique. 




sexta-feira, setembro 04, 2015

A aula de Mia Couto !

"O LIVRO QUE ERA UMA CASA A CASA QUE ERA UM PAÍS"
Todos os povos amam a Paz. Os que passaram por uma guerra sabem que não existe valor mais precioso. Sabem que a Paz é um outro nome da própria Vida. Vivemos desde há meses sob a permanente ameaça do regresso à guerra. Os que assim ameaçam devem saber que aquele que está a ser ameaçado não é apenas um governo. O ameaçado é todo um povo, toda uma nação.
Pode não ser este o momento, pode não ser este o lugar. Mas é preciso que os donos das armas escutem o seguinte: não nos usem, a nós, cidadãos de Paz, como um meio de troca. Não nos usem como carne para canhão. Diz o provérbio que “sob os pés dos elefantes quem sofre é o capim”. Mas nós não somos capim. Merecemos todo o respeito, merecemos viver sem medo. Quem quiser fazer política que faça política. Mas não aponte uma arma contra o futuro dos nossos filhos. É isto que queria dizer, antes de dizer qualquer outra coisa.
Que me seja perdoado este empolgado introito. Que me seja perdoada a falta de etiqueta que deveria começar por saudar a presença do Presidente da República, o Presidente Jacinto Filipe Nyussi. Na verdade, Excelentíssimo Presidente, talvez eu tenha adiado esse momento porque um escritor não deveria nunca declarar-se sem palavras. Na verdade, sabendo da sua intensa e preciosa ocupação, eu não encontro palavras para lhe agradecer a honra da sua presença.
O que quero dizer é saudar o seu apelo para repensarmos o modo como nos concebemos como povo e como nação. Queremos ser parte desse esforço, queremos aprender a ser um país que não exclui, um país plural e diverso. Queremos ajudar a construir uma nação que assume, sem medo, as suas diferenças. Esta nova atitude pode ser a cura para uma espécie de autismo de que vínhamos padecendo. Quero saudar a presença do Presidente Joaquim Chissano, é um prazer imenso reveê-lo.
É difícil imaginar quanto, mesmo ouvindo, podemos ser surdos. Seletivamente surdos. Escutamos os que nos são próximos, escutamos os que nos obedecem, escutamos o que nos agrada ouvir. Escutamos os do nosso partido, escutamos sobretudo quem não nos critica. Tudo o resto não existe, tudo o resto é mentira, tudo o resto é calúnia. Tudo o resto é proferido pelos “outros”. E é quase um paradoxo: porque se ocupam páginas inteiras dos jornais a dizer que os “Outros” não devem ser ouvidos. Gastam-se horas de programação radiofónica e televisiva para dizer que os outros não disseram nada. Esses “outros” que querem questionar o que fazemos, esses outros são “estranhos”, a caminho mesmo de serem “estrangeiros”. A verdade, porém, é que ninguém pode anular a existência desses “outros”. Ninguém pode negar que são moçambicanos. Ninguém pode saber se têm razão se não deixarmos que falem livremente. Esta é a grande lição do Presidente Nyussi que entendeu reconciliar uma nação apartada de si mesma. É ele que nos lembra que esses que dizem “não”, são da mesma família dos que dizem “sim”. Esta é uma mesma família que dispõe de uma única casa. Não existe outro lugar, não existe outro destino senão este que dá pelo nome de Moçambique.
Digo tudo isto sem qualquer embaraço. Porque todos nós, a começar por si, Senhor Presidente, queremos fugir da pratica da bajulação. Com a sua atitude de abertura e simplicidade, o Presidente sugere uma outra relação, mais próxima, mais verdadeira. Apesar de tudo, é fácil imaginar que junto a Vossa Excelência já se criou um cortejo de aduladores. Felizmente, veio da sua parte um sinal de alerta: assim que tomou posse, o Presidente Filipe Nyussi começou a receber gente que não batia palmas, gente que tinha interrogações e levantava críticas. Os seus ministros estão a fazer o mesmo, estão a escutar os que pensam diferente, estão a sentar-se com os que deixaram de ser ministros, estão a aprender desses outros que estavam condenados à condição de já terem sido alguém. Parece pouco perante os gigantescos problemas que enfrentamos. Mas esta forma de lidar com as pessoas pode sugerir uma outra forma de lidar com os grandes os desafios.
Por tudo isto queria muito dizer-lhe: muito obrigado, Senhor Presidente. Muito obrigado por nos ter devolvido a nossa dimensão de família. Muito obrigado por ter reabilitado o nosso estatuto de moradores na mesma casa. Durante muito tempo fomos conduzidos a construir fronteiras que nos separavam em pequenas nações dentro da grande Nação moçambicana. Durante muito tempo houve quem sugerisse que havia categorias de moçambicanos, uns mais autênticos que os outros. Ainda hoje sobrevive em alguns esse olhar de polícia de identidades. Ainda hoje há quem avalie os outros pela cor da sua pele, pela cor da tribo, pela cor do seu partido. Ainda hoje, há os que, em lugar de discutir ideias, atacam pessoas. E ainda prevalecem os que, em lugar de procurar soluções, procuram modos de esconder os problemas. Toda esta cosmética foi sendo feita em nome da unidade e do patriotismo. Toda esta encenação de normalidade é uma herança que pedia uma resposta firme. Esta resposta foi trazida por si. Sem grandes proclamações, mas de um modo firme e continuado. Conhecemos hoje essa sua mensagem: podemos ter os recursos que tivermos. Não disso é tão promissor como o nosso património humano feito de tanta gente tão diversa.
O Presidente está a criar uma dinâmica que é bem mais do que uma nova política. É uma nova cultura. E esta cultura pode marcar uma diferença em toda história de Moçambique. Parabéns por quanto já acendeu como esperança, parabéns pelo seu modo paciente, sem recurso ao autoritarismo, sem uso da demagogia fácil. Parabéns pelo caminho iniciado para devolver à política a sua dimensão ética e humana.
Magnífico Reitor, Professor Doutor Lourenço do Rosário
Dizem que os escritores são donos das palavras. Não são. As palavras, felizmente, não tem dono. Às vezes, sinto pena que assim seja. Porque se tivesse esse poder eu o aliviaria das formas de tratamento que são bem mais pesadas que estas minhas novas vestimentas.
Na verdade, o Professor Doutor Lourenço do Rosário não precisa do lustro de um título seja ele qual for. Lourenço do Rosário conquistou um lugar de respeito não apenas na academia mas na sociedade moçambicana como um homem empenhado com a sua gente e com a sua pátria. E essa autoridade moral que vem exercendo na sua função de mediador das conversações no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Sabemos como é difícil encontrar, entre nós, personagens capazes de reunir tão amplo consenso. Somos uma nação que foi convidada a assumir-se em dualidades extremas. Os que defendem a lucidez da isenção foram sempre olhados com desconfiança.
As suas recentes palavras são um alerta para quem se esquece que o país não pertence a nenhum partido. Eu vou reproduzir essas suas palavras com o risco de o estar a citar por via dos jornais (e os jornais são mais criativos do que qualquer escritor). O Professor terá dito: “No fundo, o partido da oposição está a revelar a sua pretensão em cumprir aquilo que a gíria popular chama de “chegou a nossa vez”.
Traduzindo as suas palavras na linguagem da oralidade que Professor Rosário tão bem conhece o resultado poderia ser assim: é que para uns, a política é uma panela. É preciso comer muito e rápido porque a colher é muito disputada e a refeição pode durar pouco. Para outros, contudo, a política ainda é a nobre arte de servir os outros, a política ainda é a missão de colocar acima de tudo os interesses de todos. Possivelmente quem tanto reclama contra a partidarização não está contra o princípio em si mesmo. Quer, sim, partidarizar a dois. Não me importa o nome dos partidos. A minha questão não é tanto de ordem política que, para isso, pouca vocação me resta. É uma objecção de natureza moral. Importa-me como cidadão que persista, em alguns dirigentes moçambicanos, a ideia de que Moçambique é um quintal privado. Um quintal cujo destino é ser parcelado, conforme interesses e conveniências.
Permita-me Senhor Reitor que, apesar da solenidade deste acto, o trate pelo qualificativo mais honroso que conheço que é o de “professor”. Não existe outro título que a mim mais me honre. Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades em Maputo. Ainda hoje, passados quase dez anos, esses meus alunos passam por mim e tratam-me por professor. Não podem imaginar o quanto isso me comove e quanto receio não ter tamanho para encher aquela palavra. Professor não é quem dá aulas. É quem dá lições. Não é aquele que vai à escola ensinar. É aquele cuja vida é uma escola.
Pois o nosso Professor Lourenço do Rosário chamou-me há uns meses para me comunicar que a Universidade Politécnica me tinha escolhido para receber este grau académico. Ele confessou que receava que eu não aceitasse esta distinção. Não sou uma pessoa de títulos, nem de honrarias. Mas não fui capaz de dizer que não. Por causa da pessoa que me falava, por causa da instituição que ele representava. Ainda tive coragem de lhe perguntar: mas a cerimónia vai ser com protocolos de fardas, discursos e chapéus? E ele respondeu laconicamente: vai ter que ser. E aquele “vai ter que ser” não deixava espaço para negociação.
Demorei meses a me habituar à ideia desta tão solene solenidade. Quando pensava que já me tinha conciliado com o fantasma das vestimentas, aconteceu um pequeno e infeliz incidente. É que tive a triste ideia de mostrar aos meus netos fotografias de uma outra cerimónias de doutoramento. E um deles, entusiasmado, perguntou: mas, avô, vais ter que vestir estas saias compridas? Pois eu quero aproveitar este momento para tranquilizar a minha querida companheira, a Patrícia, que está ali sentada e dizer-lhe o seguinte: Patrícia, por baixo destas longas saias continua a estar um homem de calças.
Quero falar ainda de Luis Bernardo Honwana, o meu padrinho. A palavra “padrinho” ganhou nos dias de hoje uma conotação deslustrosa e, a partir de agora, haverá mesmo, meu caro Luís Bernardo, quem te peça para dares um jeito e arranjes umas vestimentas para algum amigo carente de títulos. Quero dizer, no entanto, que, no teu caso, me reencontro plenamente naquilo que é a etimologia da palavra “padrinho” que é o guia e de norteador. Na verdade, há muito que o Luís Bernardo, sem o saber, vem cumprindo esse papel de modelo na minha actuação como escritor e como pessoa. É preciso repetir aqui o quanto nós, escritores moçambicanos, somos devedores a Luís Bernardo. O que ele nos deixou como legado é bem mais do que ele escreveu. É uma espécie de manifesto inaugural, uma instauração de caminhos que nós depois viemos a trilhar. Luís Bernardo Honwana, José Craveirinha, Noémia de Souza e o João Dias foram os primeiros 4 vértices dessa construção de vozes que, a um certo momento proclamaram: nós queremos escrever a história com a nossa própria caligrafia. Luís Bernardo, bem sei que és avesso a estes tratos: mas eu não posso deixar de expressar a minha infinita gratidão por seres quem és: uma figura tutelar e inspiradora na escrita, na vida e no pensamento.
Há aqui algo que devo ainda revelar: comecei a trabalhar como jornalista exatamente no mesmo jornal em que LBH se havia iniciado também como repórter. Esse jornal chamava-se a TRIBUNA. Aquele foi um tempo muito curioso porque havia um jogo de descobertas. Havia um jornalismo que andava à procura do seu próprio país; mas havia também um país que andava à busca de um jornalismo que fosse seu. E essa dupla procura pedia um jornalismo feito paredes meias com a literatura. Não foi por acaso que não apenas o Luís Bernardo mas José Craveirinha, Rui Knopfli, Carneiro Gonçalves e o Luis Carlos Patraquim foram todos eles jornalistas e escritores. Eu devo muito a essa gente, a esse ambiente de inconformismo que reinava na redação dos jornais. Recordo o primeiro dia que me apresentei na redacção e fui chamado por alguém que eu venerava como poeta e que era o Rui Knopfly. E ele perguntou: queres ser jornalista? E antes mesmo de eu responder ele passou-me uma folha de papel. Nessa folha estava reproduzida uma frase de um cantor norte americano chamado Frank Zappa. E a frase dizia o seguinte: “o jornalismo de hoje consiste em colocar jornalistas que não sabem escrever, entrevistando pessoas que não sabem falar, para pessoas que não sabem ler. “ Foi um bom começo de profissão.
Lembrou Luis Bernardo Honwana os meus pais. E estou grato por essa lembrança que faz justiça à história da minha família. Tudo o que sou vem daí, aquela é nascente do meu Tempo e do tempo dos filhos, dos netos e dos que vierem depois. O mundo em que nasci e me fiz homem alimentava-se do preconceito. Criava muralhas para separar e graduar as raças. As muralhas não ofendiam apenas os que ficavam do lado de lá. Os do lado de cá, convertiam-se eles mesmos em estereótipos. Éramos, de um e do outro lado, diminuídos pelo medo e pelo desconhecimento. Acreditamos que o efeito dos preconceitos raciais e tribais é o de tentar desvalorizar uma outra raça. E isso é verdade. Esses preconceitos resultam também numa outra pérfida consequência que é a negação da existência de pessoas singulares, cada uma com a sua identidade própria. Eis o que faz o racismo, o sexismo e o tribalismo: cada pessoa deixa de ser uma criatura única, passando a ter a identidade do seu grupo. Deixa-se de ter um rosto, uma voz, uma alma: passamos a ser identificados por um rótulo geral: os negros, os brancos, os matsuas, os macuas, os do Norte, os do Sul. Fala-se de alguém e há uma voz que diz: ah, já sei como ele é, conheço esses tipos.
Caros amigos
Irei falar sobre a erosão dos valores morais e de como pode um escritor ajudar na reabilitação do tecido moral da sociedade.
Escolhi este tema porque não conheço ninguém que não se lamente da perda de valores morais. Este é um assunto sobre o qual temos um imediato consenso nacional. Todos estão de acordo, mesmo os que nunca tiveram nenhum valor moral. E até os que tiram vantagem da imoralidade, até esses, depois de lucrarem com da ausência de regras, se queixam que é preciso travar a falta de decoro.
Um dos caminhos que nos pode ajudar a resgatar essa moral perdida pode ser o da literatura. Refiro-me à literatura como a arte de contar e escutar histórias. Falo por mim: as grandes lições de ética que aprendi vieram vestidas de histórias, de lendas, de fábulas. Não estou aqui a inventar coisa nenhuma. Este é o mecanismo mais eficiente e mais antigo de reprodução da moralidade. Em todos os continentes, em todas as gerações, os mais velhos inventaram narrativas para encantar os mais novos. E por via desse encantamento passavam não apenas sabedoria mas uma ideia de decoro, de decência, de respeito e de generosidade.
Há certa de trinta anos atrás Graça Machel - que era então Ministra da Educação - convocou um grupo de escritores para lhes dizer que estava preocupada. Estou preocupada, disse ela, estamos a ensinar nas escolas valores abstractos como o espírito revolucionário, do patriotismo, o internacionalismo. Mas não estamos a ensinar valores mais básicos como a amizade, a lealdade, a generosidade, o ser fiel e cumpridor da palavra, o ser solidário com os outros. E ela pediu-nos que escrevêssemos histórias que seriam publicadas nos livros de ensino. Graça Machel tinha a convicção que uma boa história, uma história sedutora, é mais eficiente do que qualquer texto doutrinário.
Eu queria ilustrar o poder das histórias com dois pequenos exemplos. Nestes próximos momentos partilharei convosco duas vivências e o modo como essas experiências produziram em mim duradouras lições.
O primeiro episódio – uma nação à procura de um hino
Ainda há pouco entoamos nesta sala o Hino Nacional. Este hino tem uma história e eu estou ligado a essa história. Aconteceu assim: no início da década de 80, Samora Machel decidiu que o Hino Nacional então vigente deveria ser mudado. Ele tinha razão: a letra era mais um louvor à própria Frelimo do que de uma exaltação da nação moçambicana. Estávamos ainda longe do multipartidarismo, mas Samora tomou essa decisão. E nessa maneira que era a sua, “requisitou” 4 poetas e 5 músicos e fechou-os numa moradia na Matola com a incumbência de produzirem não uma, mas várias propostas de hinos. Eu era um dos 4 poetas. Eram tempos de guerra, a única coisa que havia nas lojas eram prateleiras vazias. Todos os dias saímos de casa com uma única obsessão: o que trazer para comer para a nossa família. Pois, nessa altura, de repente, estávamos numa casa com piscina, rodeado de mordomias e servidos de comida e bebida. Confesso que nos primeiros dias ficamos de tal modo fascinados que pouco trabalhávamos. Quando, a meio da tarde, escutávamos as sirenes dos carros dos dirigentes nós corríamos para o piano e improvisávamos um ar de grandes cansaços. Ao fim da tarde, eu e os meus colegas entregávamos às nossas esposas que nos vinham visitar, recipientes com a comida que cada um de nós tinha poupado durante o dia. E foi assim que, ao fim de uma semana, produzimos uma meia dúzia de hinos que foram ensaiados por um grupo coral e apresentados a uma comissão avaliadora. Havia duas propostas que mereciam a nossa preferência: uma delas era esta que agora é o nosso hino nacional, a Pátria Amada. A outra era baseada numa composição do maestro Chemane e tinha um estribilho que dizia: “Pátria de heróis! Levanta a tua voz! Viva Moçambique, povo unido, A estrela do amanhã brilhará!” O grupo coral que apresentou esta proposta em vez de Pátria de Heróis cantava: “Pátria de arroz” e a proposta ficou esquecida.
O que sucedeu é que, por razão que desconheço, a iniciativa de Samora não teve seguimento. Samora morreu, o grupo de artistas foi desfeito e cada um de nós voltou para a bicha à espera do repolho e do carapau. E nunca mais nos lembramos do que havíamos feito.
Uma década depois, o novo parlamento pluripartidário procurava um novo hino nacional. E eu fiz parte de um grupo de trabalho criado pela Assembleia da República. Esse grupo juntava pessoas apontadas pelo Partido Frelimo e pela RENAMO. Devo dizer que trabalhamos de facto juntos, num ambiente de concórdia tal que nos esquecíamos de que representávamos duas forças rivais. Fizemos dois concursos públicos mas as propostas recebidas eram todas elas muito fracas. O falecido Albino Magaia publicou então um artigo relembrando os hinos que, dez anos antes, um grupo de artistas havia criado. E foi assim que se resgataram esses registos quando estávamos nos últimos dia de trabalhos da assembleia. Escolhemos o Patria Amada com algumas dúvidas. O que não havia dúvida, porém, era que se o hino não fosse aprovado naquele dia, ter-se-ia que esperar pela próxima sessão meses depois. E aquela era uma questão de enorme sensibilidade e urgência.
Pois nesses derradeiros momentos, os colegas da RENAMO colocaram objecções sobre algumas passagens da letra. Para dizer a verdade, a maior parte dessas objeções tinha sentido. porque alguns dos versos daquela letra eram realmente marcados pelo tempo de revolução. Já não se exaltava nenhuma força política. Mas falava-se de proletários, falava-se no Sol vermelho. Pedi ao grupo de trabalho uns minutos e, ali num quarto ao lado, alterei as passagens que suscitavam polémica. Foi ali que surgiu o “Sol de Junho”, por exemplo, para substituir o Sol Vermelho. E o hino foi aprovado pelo grupo e transferido para debate entre os deputados.
Curiosamente uma das passagens que suscitou mais objecções foi essa que diz “Nós juramos por ti Moçambique, nenhum tirano nos irá escravizar”. Alguns deputados achavam que aquilo não devia estar ali. Porque, segundo eles, nunca teríamos em Moçambique a ameaça de um tirano. Todos os países do mundo podem sofrer essa eventualidade. Nós, não. Não imagino como se pode sustentar essa certeza. Subsiste a ideia ingénua que nós, moçambicanos, estamos, por qualquer razão divina, acima dos comuns mortais. Mas nós somos humanos e existirão entre nós aqueles, que na ganância do mandar, já são tiranos antes mesmo de conquistarem o Poder. Ainda bem, caros amigos, que essa estrofe não foi retirada. Há muitos modos de ser tirano. Há vários modo de ser escravo. E é bom que o nosso hino nos encoraje a não aceitar nenhum forma de tirania ou de escravatura.
Segundo episódio - O não discurso de Samora
No Quarto Congresso da Frelimo, em 1983, fui designado como responsável do Gabinete de Imprensa. Nós, os jornalistas, ficávamos confinados a um compartimento envidraçado, numa espécie de aquário suspenso sobre a grande sala. Na altura, nós já produzíamos emissões de televisão para além, é claro, da rádio e dos jornais. Logo no inicio dos trabalhos, Samora Machel subiu ao pódio para usar da palavra. Trazia consigo o Relatório do Comité Central que era, à maneira dos partidos revolucionários, um documento volumoso. Assim que começou a ler, Samora teve uma breve hesitação, colocou os papéis na bancada e falou de improviso. Foi um improviso breve mas o que ele disse foi, para mim, mais importante e mais duradouro que o extenso relatório do Comité Central. Inclinado sobre o pódio, como se ganhasse a proximidade de uma confidencia, Samora convertei a solene Sala de Congressos num espaço com intimidade familiar. E falou do seu sentimento de estranheza ao ver-se como um ex-guerrilheiro agora rodeado de facilidades, cercado pelas obrigações protocolares e de segurança de um palácio presidencial. E disse mais, falou daquilo que ele chamou das “balas doces do inimigo”. Referia-se às formas mais subtis de sedução e de corrupção que, no seu entender, eram mais perversas que as verdadeiras balas. E ele interrogou-se se os seus companheiros estariam preparados realmente para esse embate, se estavam preparados para enfrentar as balas de açúcar. A sala estava suspensa naquela confidência. A rádio e a televisão transmitiam em direto aquele desabafo do Presidente. E escutavam-se não só as palavras mas os silêncios e a respiração inquieta do presidente. Naquele momento, um oficial do protocolo entrou na Gabinete de Imprensa e entregou-me um papel com uma instrução rabiscada que dizia: interrompam imediatamente a transmissão. Aquilo foi, para mim, um balde de água fria. Porque me parecia, como jornalista e como cidadão, que estava ali a acontecer tinha um alcance didático que não poderia ser recuperado se perdêssemos a transmissão. Mas havia naquele bilhete uma ordem que eu não tinha modo de refutar. Ocorreu-me uma pequena manobra de diversão. Eu queria apenas uns minutinhos adicionais. Quem sabe o Presidente não usasse mais que esses minutos? E escrevi o seguinte nas costas no bilhete: desculpe, não entendo bem a assinatura, não se importa de identificar melhor, afinal é o Presidente quem está falar.... Dobrei muito lentamente a folha e pedi ao mensageiro do protocolo que fosse de volta. Aquele vai e vem deu-me tempo para que o presidente terminasse o seu improviso em transmissão direta.
De toda a minha carreira de onze anos de jornalismo talvez tenha sido este o momento maior. Porque estava ali um dirigente de uma nação que se despia do seu estatuto infalível e partilhava não uma certeza, mas a confissão de uma insegurança, de um fragilidade. Estava ali não um líder revolucionário discursando em voz alta, mas um homem dobrado pela angústia e murmurando dúvidas sobre o quanto valera a pena toda a sua luta.
Durante um intervalo desse mesmo congresso tive a oportunidade de me sentar com um grupo de veteranos da luta de libertação nacional. E eles foram relatando como saíram clandestinamente do país para se juntarem à luta nacionalista. Alguns desses homens confessaram que o principal motivo da sua fuga não era a libertação da pátria. O que os movia a sair de Moçambique era poderem estudar. E quando, na Tanzania, receberam a notícia que, em vez de estudar, iriam combater esses militantes foram assaltados por dilacerantes dúvidas. Alguns pensaram em desertar e fugir dos campos de treino. Foi isto que confessaram. E eu pensei que havia mais coragem naquela confissão, do que em toda a sua arriscada odisseia. Aquelas pequenas histórias humanizavam a narrativa solene e oficial que apresenta a epopeia dos nacionalistas como um desfile de super-homens. Afinal, o ninguém nasceu herói. Ele cresceu, teve duvidas, sentiu medo. A bravura maior não está no modo como combateu aos outros. A grande coragem está no combate interior, esse que fazemos para nos superar a nós mesmos.
Falei-vos há pouco dessa proposta de hino chamada Pátria de heróis que foi entoada como Pátria de Arroz. Lembro-me que, na altura, até gostei do equívoco dos cantores, porque me vieram à memória as palavras de Albert Camus quando recordava a Argélia onde ele nasceu e dizia: “Pobre do país que precisa de heróis”.
Naquela altura achei que talvez fosse preferível uma pátria de arroz a uma pátria de heróis. A verdade é que a nossa epopeia nacional foi apropriada por um discurso vazio de exaltação patrioteira.
O resultado é que as nossas ruas e praças estão recheadas de nomes de heróis. A esses heróis, porém, falta-lhes rosto, falta-lhe voz, falta-lhes vida. Herdámos uma história heroica de heróis sem história. Só temos a História com H maiúsculo. Faltam-nos as pequenas histórias, falta-nos os pequenos episódios que seduzem a imaginação e sustentam a memória.
Caros amigos
Um dia destes, um jovem funcionário propôs-me o pagamento de um suborno para emitir um documento. Aquilo não correu bem porque ele, num certo momento, reconheceu-me e recuou nos seus propósitos.
Para se redimir o jovem explicou-se da seguinte maneira:
- Sabe, senhor Mia eu gostava muito de ser uma pessoa honesta, mas falta-me o patrocínio.
Não será exatamente o patrocínio que nos afasta da honestidade. O que nos falta é criar uma narrativa que prove que a honestidade vale a pena. Houve quem confundisse o combate contra a pobreza absoluta pelo combate pela ganância absoluta. Sugeriram-nos que a auto estima pode ser resolvida pela ostentação do luxo.
Uma certa narrativa quer ainda provar que vale a pena mentir, que vale a pena roubar, e que vale a pena tudo menos ser honesto e trabalhar. Aliás, a palavra “trabalho” suscita fortíssima alergias. Pode-se ter negócios, pode-se ter projetos. Mas ter um trabalho isso é que nunca. Que o trabalho leva muito tempo e, além disso, dá muito trabalho. Mas, no fundo, todos sabemos: enriquecer rápido e sem esforço só pode ser feito de uma maneira: roubando, vigarizando, corrompendo e sendo corrompido. Não existe, no mundo, inteiro, uma outra receita.
Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho académico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais. Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.
Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido..,) . Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas. Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.
É preciso remar contra toda essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros. Histórias em que o herói não é o lambe-botas, nem o chico-esperto. Talvez essa histórias sejam o tal patrocínio que faltou ao nosso jovem funcionário.
Tudo isto é urgente e imperioso. Porque nós estamos na eminência de desacreditar de nós mesmos. Todos nós já escutámos de alguém a seguinte desistência: não vale a pena, nós somos assim. Nós somos cabritos à espera de ser amarrados num qualquer pasto. Estamos a aprender a desqualificarmo-nos. Estamos a replicar o racismo que outros inventaram para nos despromover como um povo de qualidade moral inferior.
E vou terminar partilhando um episódio real que foi vivido por colegas meus. Depois da Independência, um programa de controlo dos caudais dos rios foi instalado em Moçambique. Formulários foram distribuídos pelas estações hidrológicas espalhadas pelo país. A guerra de desestabilização eclodiu e esse projeto, como tantos outros, foi interrompido por mais de uma dúzia de anos. Quando a Paz se reinstalou, em 1992, as autoridades relançaram esse programa acreditando que, em todo o lado, era necessário recomeçar do zero. Contudo, uma surpresa esperava a brigada que visitou uma isolada estação hidrométrica no interior da Zambézia. O velho guarda tinha-se mantido ativo e cumprira, com zelo diário, a sua missão durante todos aqueles anos. Esgotados os formulários, ele passou a usar as paredes da estação para registar, a carvão, os dados hidrológicos. No interior e exterior, as paredes estavam cobertas de anotações e a velha casa parecia um imenso livro de pedra. Ao receber a brigada o velho guarda estava à porta a estação, com orgulho de quem cumpriu dia após dia: acabou-se o papel, disse ele, mas o meus dedos não acabaram. Este é o meu livro. E apontou para a casa.
E esta é a história com que termino."