domingo, junho 24, 2012

Água e mercúrio perigam segunda maior hidroeléctrica

O nível de redução da água na albufeira de Chicamba, em consequência de falta de chuvas, está a deixar apreensivo o Governo provincial de Manica, chefiado por Ana Comoane, numa altura em que a respectiva central está inscrita nos projectos de reabilitação da empresa Electricidade de Moçambique (EDM).Trata-se de um dos maiores lagos artificiais do país, cuja central deverá, em  princípio,   ser reabilitada com fundos da Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (ASDI), para além da hidroeléctrica de Mavúzi, estimados, no final do ano passado, em 54 milhões de dólares.É na albufeira que está implantada a segunda maior hidroeléctrica de Moçambique, a Hidroeléctrica de Chicamba, empreendimento pertencente à empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM).A água baixou até um nível de 20 metros de altura e grande parte dos elementos que compõem a estrutura física da barragem, antes submersos, estão à vida devido à escassez da chuva, apesar de ser uma zona de altitude, o planalto de Manica. Caso não chova o cenário, de alguma forma, pode tornar-se dramático na Hidroeléctrica de Chicamba, pois a infra-estrutura funciona basicamente através de água, para a geração de energia eléctrica. Os gestores do empreendimento afirmam estar em curso a redução do consumo de água, para assegurar uma disponibilidade maior daquele recurso natural. O engenheiro Sérgio Sacama, da EDM, afecto naquele estabelecimento, vincou, contudo, que a situação não é, ainda, alarmante. Embora a questão seja descrita como não sendo ainda alarmante, a governadora Ana Comoane, considera o facto como preocupante, na medida em que a água da barragem regista redução em consequência directa da redução da água do rio Revuè, a principal fonte de alimentação da hidroeléctrica.À semelhança de outros vários cursos naturais de água, o rio Revuè baixou de nível devido à falta de chuvas, que está a se tornar cada vez mais necessária, segundo  Ana Comoane, num momento em que o país atravessa a época seca. A barragem possui uma grande capacidade de encaixe, mas a falta de precipitação no tempo chuvoso deixou-a sem água à sua altura. Os gestores garantem o seu funcionamento, mas há problemas de água.Algumas comportas de descarga estão a descoberto, pois a água baixou consideravelmente. Nada há a libertar, senão concentrar, para a elevação dos níveis, em termos de disposição do recurso hídrico, na Hidroeléctrica de Chicamba.Esta central garante o fornecimento da energia eléctrica às cidades de Chimoio e da Beira. Chicamba constitui alternativa mais sustentável para o fornecimento de energia às referidas urbes, em caso de problemas do lado da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa.É mesmo em Chicamba onde, por outro lado, está implantado o sistema de captação de água para abastecer às cidades de Chimoio e Manica e à vila municipal de Gondola, no âmbito do projecto de gestão delgada de água, desenvolvido pelo Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG).
A continuar a descida do nível de água em Chicamba, isso poderá significar constrangimento no abastecimento de água potável àqueles centros urbanos da província de Manica, onde a taxa de cobertura registou uma relativa melhoria, com a entrada em funcionamento do sistema recentemente reabilitado e ampliado, para assegurar que a água potável esteja sempre presente no seio da população.Mineradores artesanais também têm estado a causar danos, na albufeira, o que se caracteriza pela oxidação do equipamento da hidroeléctrica, indicam dados apurados, durante a visita efectuada pelo chefe do Executivo provincial de Manica, ao empreendimento, um dos bens herdados do colonialismo português. Informações sobre os riscos têm sido disseminadas, mas o garimpo continua a ser feito sem a observação de normas básicas. A lavagem do ouro continua a ser nos rios, com o recurso ao mercúrio. Dados apontam para um estudo feito que dá conta que a água está com um teor muito baixo de infestação por mercúrio. O engenheiro Sérgio Sacama revelou que o mercúrio evidencia-se nas máquinas da hidroeléctrica, em resultado da actividade de mineradores artesanais, não obstante os resultados dos estudos em referência.

Medíocres, os que o Estado proteja!

Um agente da Força de Intervenção Rápida (FIR) acaba de fazer mais uma vítima mortal da Polícia da República de Moçambique. Manuel Domingos Ventura, de 22 anos, foi baleado no bairro da Manga, na cidade da Beira, quarta-feira, num caso que começa com a circulação de uma motorizada sem iluminação.Ventura foi  morto após ele e o seu amigo, Enemene Toni, serem interpelados quando circulavam com uma mota sem iluminação, por volta das 21 horas de quarta-feira, no bairro da Manga.
Ele foi alvejado mortalmente por um agente da FIR identificado por Inácio Lenarte Arcai, de 24 anos, tudo porque presumivelmente se recusaram a dirigir a mota para a 8ª Esquadra da PRM, após terem sido obrigados pelos agentes nesse sentido.“Depois de apresentarmos toda documentação da mota, o polícia disse-nos para levarmos a mota para a Esquadra. Antes de nos pronunciarmos sobre a orientação, um dos agentes daquele grupo rasteirou o meu amigo e começou a espancá-lo. Na tentativa deste fugir, o polícia disparou directamente para o corpo do Ventura”, contou Enemene Toni, precisando que deu boleia a Ventura para cobrar a sua dívida algures distante.
O tio do ora baleado mortalmente, Luís Castigo Nhama, disse que, quando acompanhou o caso, dirigiu-se ao local para tentar acudir. Nisso, o agente da FIR, ainda furioso, pretendia disparar também contra ele e a multidão que se aproximou.Na circunstância, Luís Castigo Nhama acabou arrancando a arma, do tipo AKM, ao agente, tendo tirado dela o carregador, que continha 30 balas. “O meu sobrinho não fez nada, não entrego este carregador antes do funeral do meu sobrinho. Outros polícias vieram aqui pedir o carregador, disseram-nos que se tratou de algo que sucedeu. Aquilo não é exactamente comportamento de um polícia, disparar directamente contra um cidadão, seja de que problema for”, anotou.
Entretanto, o oficial de imprensa no Comando Provincial da PRM de Sofala, Mateus Mazibe, afirmou que tudo se deu no meio de ânimos exaltados. “Numa situação de empurra-empurra, o cidadão baleado pretendia arrancar arma ao polícia, o qual acabou por disparar”, anotou, precisando, contudo, que a Polícia está solidária com a família enlutada.Mazibe acrescentou que o polícia em causa está sob controlo na unidade do Comando Provincial da PRM e haverá condições de trazer de volta o carregador da arma ora nas mãos do tio do finado.
Testemunhas no local onde o acto aconteceu disseram que o referido agente da FIR estava sob efeito de álcool. Questionado sobre isso, Mazibe negou, afirmando que, para se apurar tal alegação, passa necessariamente por um teste alcoolémico.Este é mais um dos tantos casos que ocorrem um pouco por todo o país, sendo que as explicações dadas pelas autoridades policiais vão suscitando cada vez mais dúvidas e neste caso o agente envolvido está integrado numa força de elite, que é a FIR.Há dias, na cidade de Quelimane, um indivíduo foi baleado, tendo sido atingido pelo projéctil nos testículos, encontrando-se hospitalizado. Neste caso, o porta-voz da Polícia alegou tratar-se de legítima defesa. 

O nosso grafite

A australiana Triton Gold quer adquirir licenças de prospecção mineira de grafite na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.Para o efeito, a companhia assinou, recentemente, um contrato com a Grafex Limitada para a aquisição de cinco pedidos de licenças desta última para a prospecção de grafite.Segundo um comunicado da empresa, citado pela Macauhub, nos termos do contrato, a Triton Gold terá de desembolsar 1,5 milhões de dólares australianos (1,503 milhões de dólares norte-americanos) para pagar à Grafex.A Triton Gold procederá ainda à entrega à Grafex Limitada de 15 milhões de acções próprias e de 10 milhões de opções não-cotadas que podem ser exercidas num prazo de três anos a 0,05 dólares australianos.A empresa australiana irá ainda proceder à colocação de 5 milhões de acções a 0,10 dólares australianos cada a fim de obter um encaixe de 500 mil dólares australianos, fundos que serão aplicados em actividades de prospecção a fim de melhor compreender o potencial do terreno incluído nas áreas para as quais foram submetidos os cinco pedidos.A província de Cabo Delgado tem estado a evidenciar-se pela existência de grande potencial de grafite.Os preços mundiais da grafite têm estado a aumentar, tendo passado de 600 dólares a tonelada em 2004 para 3 mil dólares a tonelada em 2011, sendo que a procura excede a oferta.

Investimento no cimento

Uma companhia de capitais norte-americanos projecta construir duas fábricas de produção de cimento em Moçambique, sendo uma na província de Sofala e a outra em Tete, centro do país.Trata-se da Biworld International, companhia que já tem interesses na área madeireira no país, que pretende construir uma das suas fábricas no distrito de Chibabava, em Sofala, com a capacidade de produção de um milhão de toneladas de cimento por ano, num investimento estimado em 34,3 milhões de dólares.A segunda fábrica, cujas obras de construção deverão iniciar já no próximo semestre, será erguida no distrito de Changara, província de Tete, com uma capacidade instalada de 500 mil toneladas por ano.“O esforço do Governo é de aumentar a actual capacidade interna de produção de cimento, estimada em dois milhões de toneladas por ano, para sete milhões, de modo a reduzir o défice que se regista à medida que o tempo passa”, disse o director nacional da Indústria, Sidónio dos Santos, citado pelo jornal “Noticias” de hoje.  Actualmente, Moçambique precisa de cerca de 2,3 milhões de toneladas de cimento para satisfazer as necessidades anuais da indústria de construção e este nível de consumo tem vindo a crescer a um ritmo de sete por cento por ano.Por isso, mesmo, o Governo considera estratégicas as duas fábricas tendo em conta a crescente procura de cimento para responder o grande surgimento de infra-estruturas nas províncias de Tete e Sofala.Além desses dois projectos, o Governo também já autorizou a construção de outras fabricas de cimento em diversas zonas do pais, com destaque para a Cimentos da Beira (Sofala), S and S Cimento (Matola), Africa Great Wall (Magude) e China Mozambique – Ciment and Mining Development (Cheringoma). Projecta-se que estas unidades industriais comecem a funcionar até 2014.

quinta-feira, junho 21, 2012

Temos uma oposição mafiosa !- acusa o MPLA

A agitação social e política voltou a tomar conta durante todo o dia de ontem de algumas artérias da cidade de Luanda, depois de um numeroso e enfurecido grupo de ex-militares das antigas forças armadas do MPLA (FAPLA) e da UNITA (FALA) ter saído a rua reclamando o pagamento dos subsídios de desmobilizados.  A este grupo de reivindicadores juntaram-se também ex-combatentes do ELNA (antigo exército da FNLA), do Batalhão Bufalo e Batalhão Tigre, que a meio da manhã foram rechaçados por efetivos da policia antimotim, quando pretendiam dirigir-se à zona adjacente ao Palácio Presidencial em direção ao Ministério da Defesa.  Circulam informações que apontam para a existência de pelo menos dois feridos.
As forças de segurança recorreram a gás lacrimogéneo e a disparos para o ar para dispersar os revoltosos, que arremessaram pedras e outros objetos contra a Polícia de Intervenção Rápida.  O trânsito na zona da Maianga foi interrompido durante várias horas, depois de ter sido instalado um poderoso aparato militar destinado a impedir a marcha dos ex-militares rumo ao Palácio Presidencial.  Esta é a segunda manifestação de protesto dos antigos militares, cuja cúpula havia sido recebida há quinze dias pelo chefe de Estado Maior das FAA, general Sachipendo Nunda, que lhes garantiu a liquidação dos subsídios até ontem.
As autoridades alegam ter encontrado efetivos "fantasmas" na lista apresentada pelos ex-militares como argumento para não terem procedido ao pagamento dos subsídios.
Terminado o prazo acordado entre as duas partes, os ex-combatentes, que estão a ser acusados de terem sido incitados por dirigentes da UNITA, Bloco Democrático e CASA, desencadearam hoje uma manifestação que instalou o pânico entre a população de Luanda.
Os jornalistas foram impedidos de fazer uso dos telemóveis ou de máquinas fotográficas para recolherem imagens. Receando o pior, a embaixada da Alemanha anulou uma receção que deveria ter lugar esta noite nas instalações da Cefojor. A embaixada dos Estados Unidos, na zona do Miramar, registou também a presença de um aparato policial de dimensão muito maior do que o habitual, depois dos manifestantes  se terem dirigido para aquelas instalações. Ao princípio da noite de ontem, uma delegação dos ex-militares deveria encontrar-se no quartel das transmissões com altas patentes do estado maior das FAA para a solução definitiva deste caso.

quarta-feira, junho 20, 2012

500 Anos como besta

“Nós não somos o que gostaríamos de ser.Nós não somos o que ainda iremos ser.Mas, graças a Deus,
Não somos mais quem nós éramos”, Martin Luther King
 Quando li esta eloquente frase do lendário herói norte-americano Martin Luther King, caí na tentação de modificar a palavra Deus, por Frelimo na terceira estrofe, para que, para nós moçambicanos, passe a ter a seguinte formulação: Nós não somos ainda o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças à Frelimo, Não somos mais quem nós éramos.
 É inegável que o nosso presente é de longe bem melhor que o nosso passado, como bem o disse o Presidente Guebuza durante o comício que na última quinta-feira marcou o fim da sua presidência aberta à cidade de Maputo e, seguramente, que o nosso futuro será ainda bem melhor, como ele bem  o antevê e anteviram antes dele Samora, quando repetidamente dizia cantando “Hitachura Moçambique”, e Joaquim Chissano, quando replicava em plena guerra de desestabilização, que iríamos ter um dia “Um futuro Melhor”.  Hoje, 20 anos após o fim dessa guerra diabólica, vivemos dias melhores, apesar da grave crise que afecta mesmo os países que ontem tinham leite e mel para vender e dar a pobres ou vitimas das guerras como a nós. O nosso país faz parte do grupinho de dez países de um total de cerca de 200 que perfazem o mundo, que nos últimos dez anos registam um crescimento rápido de entre 7 e 10 por cento.
  É certo que para os mais novos, mormente os que nasceram um pouco antes ou depois do resgate da nossa independência, podem ser erradamente induzidos ou persuadidos a acreditar que estamos pior agora que no tempo colonial. Esses, até  podem não compreender porque é que caí na tentação de mudar a palavra Deus por Frelimo. Não é tanto porque seja discípulo de Voltaire que questionou, no seu Dicionário Filosófico, a força que se atribuiu a Deus, mas assim optei para deixar mais do que claro, que para os que passaram pelas agruras e trágica noite coloniais, encaram a Frelimo pelo menos como tendo encarnado Deus  ou se tornado no seu outro Deus da Terra, porque de facto nos resgatou de um sistema tão diabólico quanto hediondo, de tal modo que os seus mentores não podem sequer servir como estrume depois de morrerem.
 É verdade que ainda não somos o que gostaríamos de ser, como ainda não somos o que ainda iremos ser, mas é um facto inegável, a qualquer luz, que o que a Frelimo fez por nós ao longo destes 50 anos da sua vida cuja exaltação tem marcado este ano e que terá o seu apogeu a 25 deste mês, faz com que já não sejamos mais quem nós éramos.
 De facto, o nosso presente é bem melhor que todo o nosso passado, e os que tentam nos incutir a ideia de que no tempo colonial estávamos melhor, é o mesmo que se dizer que os sul-africanos de cor estavam melhor no tempo do apartheid em que lhes era negado o direito de cidadania e quando eram impedidos de entrar nos mesmos lugares  em que estavam os seus compatriotas de raça branca.
Já que pode ter razão o lendário músico brasileiro Lindomar Castilho, quando diz numa das suas músicas que “a memória do povo esquece rapidamente”, acho imperioso fazer aqui uma descrição do que foi esse passado  negro que durou 500 tenebrosos anos de sofrimento comum, e que só a Frelimo veio pôr o seu fim definitivo. Vou descrever esse passado, porque acredito na tese de Cicero, de que “quem não se vale do passado, morre criança”. Porque não falamos desse passado, hoje é comum ouvir pessoas dizerem que o tempo passado era melhor que o presente. Não é por acaso que o escritor angolano José de Agualusa diz que um povo desprovido da sua história, é um rebanho fácil de dominar. Por isso, o Simpósio da Frelimo que decorreu sexta-feira e sábado últimos na Matola, foi sem dúvida vital para o refrescamento da nossa história sobre como era a brutalidade do colonialismo e como se erradicou. Para os mais novos, foi uma verdadeira revelação.
Afinal o que éramos mesmo no passado? Confesso que não há palavras que descrevam com exactidão o que éramos. Numa palavra, éramos tratados como bestas para carga. Não éramos nada, porque não nos era permitido sequer ser ou termos nada que fosse nosso, uma vez que nos era negado tudo, mas tudo mesmo. É por isso que Mandela diz que independência é termos o direito do que antes nos negavam. Não tínhamos, por exemplo,  o direito à existência como povo, como não nos era permitido o direito à educação, saúde, à propriedade e mesmo ao trabalho assalariado condigno e muito menos com remuneração que fosse na base do princípio que reza que para trabalho igual, salário igual.
 Na altura, aos trabalhadores de cor pagava-se deliberadamente tão baixo, porque se alegava que o negro come capim e por isso  não precisa de dinheiro para se alimentar. Como bem nos recordava Samora,   tratavam-nos pior que os seus cães, de tal modo que preferiam viajar com eles na cabine dos seus carros e nós na bagageira. Isto pode soar a exagero, mas é o que fizeram aos nossos antepassados e os mais velhos que ainda estão vivos podem testemunhar isso, como o fizeram os nossos libertadores quando falaram no Simpósio da Frelimo. Aliás, mesmo que a cabine não estivesse cheia, transportavam-nos sempre na bagageira porque para eles nós éramos piores que os seus animais de  estimação. Lembro-me do meu avô contar que houve um administrador colonial em Zavala que dizia que “no dia em que um avião fosse viajar nele um negro, devia se queimar logo no fim dessa viagem”. 
  Basta dizer que nessa altura, só havia escolas do Estado nas cidades e vilas onde os moçambicanos de raça negra não eram permitidas viver, enquanto  nas zonas rurais em que viviam, quando muito havia escolas rudimentares dos missionários católicos, feitas de caniço ou outros materiais perecíveis, onde apenas se lhes devia ensinar a ler e contar, ou alguns ofícios básicos como carpintaria, serralharia ou agricultura, tudo para que os que lá estudassem, pudessem ser, quando fossem adultos, bons servos dos seus patrões coloniais.  
  Ao invés de hoje em que em apenas 37 anos de independência se (re)construíram já dezenas de escolas de todos os níveis e especialidades em todo o país, no tempo  colonial as que havia se contavam aos dedos de uma só mão e, mesmo assim, quase todas estavam vedadas aos moçambicanos de raça negra, e apenas havia uma única universidade na então cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo), contra as mais de 42 com que contamos agora.
De facto, já não somos mais o que éramos, mesmo tendo em conta que temos muitas crianças ainda que estudam debaixo das árvores ou que se sentam no chão por falta de carteiras. Essas crianças são evidência viva de que ainda não somos de facto o que gostaríamos de ser, mas mesmo assim, provam também que já não somos o que éramos, porque pelo menos têm o direito de estudar, não obstante o façam em condições não muito condignas. É diferente do tempo colonial, em que havia crianças que eram discriminadas e que lhes era negado o direito de estudar só e apenas porque eram de cor negra ou de outra raça que não a branca.
Uma das evidências que para mim provou que a Frelimo era de facto o povo em si, foram as manifestações populares que a 7 de Setembro de 1974 acabaram esmagando a tentativa dos colonos se oporem à consumação dos Acordos de Lusaka, entre o Governo português e a Frelimo. A forma tão espontânea e heróica com que os habitantes de Maputo se fizeram às ruas e se bateram e morreram baleados ou mesmo atropelados deliberadamente pelos colonos que tentavam parar o vento revolucionário pelas mãos, no dizer de Samora então,” foi uma prova inegável de que a Frelimo se havia encarnado já no povo em si, e não um simples movimento rebelde”. A Frelimo havia conseguido, citando agora Mao Tse Tung,  “fazer do povo sua água”,  como se de peixe fosse.
 Aquela manifestação popular em prol da independência foi uma espécie de chegada física antecipada da Frelimo, para não dizer que era a Frelimo feita povo. Não terá sido por acaso que surgiram slogans do tipo “Frelimo é o povo e o povo é a Frelimo”. Praticamente todos os moçambicanos eram frelimos de carne, osso e alma  que tinham na palavra Frelimo o rótulo com que se podiam identificar. Na verdade, é esta característica pouco comum na vida de partidos políticos, que faz com que a Frelimo seja hoje um dos poucos partidos africanos que sobrevive de entre os mais de 50 que lideraram as intendências dos seus respectivos países. Sobrevive porque a Frelimo conseguiu tornar-se de facto num movimento de massas, graças às suas políticas libertárias e de defesa constante dos interesses dos que eram rejeitados pelo então sistema colonial.
É um dos poucos partidos sobreviventes, porque depois da independência, a maioria dos seus líderes, repito e vinco, a maioria e não todos os seus líderes, não se deixaram cair no sabor do poder em que caíram muitos outros pais das independências africanas e não só, e que fez com que se esquecessem, no dizer de Eduardo Mondlane, da sua missão sagrada – que é esboçar políticas e soluções que concorram para a resolução dos múltiplos problemas da maioria ou já agora do povo, e trabalhar sempre em prol do bem-estar comum e não apenas deles próprios como líderes.
  Vinquei a maioria porque é um facto inegável e visível a todas as luzes, que à medida que a Frelimo vai se tornando mais velha e mais expansiva, alguns dos seus dirigentes, especialmente os mais novos, têm dado evidências de ter mais vontade de comer sós que a de trabalhar e sacrificar-se pelo bem da maioria ou do povo, o que pode levar este grande e glorioso partido a definhar e morrer, tal como morrerem vários outros que haviam ganho a glória,  por terem liderado a libertação dos seus países e povos do jugo colonial e racista. Há que ter em conta o alerta feito por Francis Fanon, de que nem sempre a gloria do passado pode nos manter vivos e muito menos fortes e vencedores. Há que somar novas glórias às velhas para que a glória passada se mantenham válida, e seja sustentadora da continuidade. Creio que é o que a Frelimo tem estado a tentar fazer, ao declarar a fome e a pobreza como os novos inimigos do povo a que se deve combater e vencer. É um facto que caso a Frelimo liderar com sucesso a derrota destes dois inimigos tão velhos quanto o próprio povo, e cuja erradicação havia sido interrompida pela colonização que não permitia o nosso desenvolvimento, serão novas glórias que se somarão às velhas.
 Para que não definha e morra de vez, deve haver coragem para se refinar e lubrificar ainda mais a sua máquina, e se faça a purificação das suas fileiras, de modo a se livrar de alguns dos que se infiltraram no seu seio com a intenção de encherem as suas contas bancárias. Digo isto porque a purificação de fileiras foi sempre uma constante na Frelimo desde a sua fundação e ao longo da luta armada de libertação nacional, e é mesmo por ter adoptado esta pratica, que se desfez sempre de todo o jóio que a podia ter sufocado e morrer também.   Não pode haver hesitações, porque é um facto que nem todos os que se filiam à Frelimo o fazem com boas intenções. Fazem-no não para  servir o povo como o proclamam. Há os que se filiam movidos pela gula e vontade de  se valerem deste partido como instrumento de enriquecimento rápido, como bem alertou há décadas o lendário Francis Fanon no seu famoso livro “Os Condenados da Terra”.
É imperioso que se expurguem os oportunistas, se é que a Frelimo quer que seja  cada vez mais preferida pela maioria. Os elevados absentismos nos pleitos eleitorais têm sido um grande alerta e prova de que há que se refinar a máquina política, para que a política volte a ser ópio do povo, tal como o futebol que atrai milhares aos estádios para verem bons jogadores jogar. Para dizer a verdade, no dia em que as equipas de futebol passarem a ter muitos mais jogadores como na política onde há cada vez maus políticos, teremos também estádios menos cheios ou mesmo vazios, tal como agora em que há cada vez menos pessoas que vão aos comícios ver políticos pregarem política, ou cada vez menos pessoas votarem nas eleições. E isto já é um problema mundial, como se viu  agora na França,  Grécia, Egipto e Guiné-Bissau, só para mencionar alguns, em que teve de se ir à segunda volta para se apurar os vencedores dos pleitos eleitorais. Isto é muito mau e mostra que as pessoas ou o eleitorado estão a perder fé nos partidos políticos.(GM)

sexta-feira, junho 15, 2012

Peregrinação à Igreja de N. S. de Fátima de Muliquela

A 1º Peregrinação Diocesana com motivo do dia 13 de Maio contou com numerosa partcipação de fiéis. provenientes dos quatro pontos cardinais da Diocese. Praticamnete estiveram representadas quase todas as Paróquias da Diocese: desde Pebane, no litoral, até Molumbo nos limites com o Malawi.
Desde as primeras horas da manhã dia 12 de Maio, as nossas estradas presenciaram a passagem dos peregrinos, que se fizeram transportar em camiões e em viaturas ligeiras.  Vimos camiões carregados de peregrinos das Paróquias do litoral Naburi, Mualama e Pebane; da sede da Diocese, a Paróquia da Catedral; das paróquias limítrofes de Ile, Invinha e Namarrói; e das mais longe em direcção ao norte, as paróquias de Lioma e de Molumbo, já na fronteira com o Malawi. A viagem de alguns durou mais de quatro horas, como, por exemplo, os  fiéis que vieram do Distrito de Pebane e dos Postos Administrativos de Mualama e de Naburi. Entre os cristãos de ile encontrava-se a Srª Administradora do Distrito.Também peregrinou a Madre Geral das Irmãs de jJesus Maria e José, que se encontrava de visita às Irmãs da sua Congregação que trabalham, precisamente, na Paróquia de Ile.
Um destacamento da  Polícia local se encarregou de vigiar pela ordem pública e pela segurança de todos os pregrinos. O pessoal do Centro de Saúde de Muliquela, acompanhado pela ambulância do Hospital Distrital, se encarregou por vigiar o estado de saúde dos que manifestaram qualquer problema.
O peregrinos foram  pontuais. Como estava programado, às 15.30H do dia 12.05.2012, todos estavam no lugar indicado para o começo da peregrinação. Um grupo de quatro senhoras da Paróquia de Ile, carregou o andor com a belissima imagem de N. S. de Fátima e adornado com flores de varias cores. O Sr. Bispo, com breves palavras, indicou o sentido desta 1ª Peregrinação Diocesana ao templo paroquial de N. S. de Fátima, escolhido por ser a primeira Igreja dedicada a N. S. na Diocese de Gurúè. Esta Paróquia foi fundada há já 72 anos.Durante as duas horas que durou a procisão, desde a Estrada Nacional até à Igreja de Muliquela, os peregrinos com uma vela e o terço nas mãos, tiveram nos seus lábios uma prece continua, uma oração, um cântico de louvor, de penitência e de invocação pela paz, pelas famílias, pela Diocese e por todo o mundo.
Chegados à Igreja da sede da Paróquia, celebrou-se a Eucaristia presidida pelo Sr. Bispo D. Francisco Lerma e concebrada pelos Padres que acompanharam os peregrinos das Paróquias mencionadas anteriormente.
Às 20.30H, começou a Adoração ao Santíssimo Sacramento, por turnos de uma hora cada, que durou toda a noite e toda a madrugada, até a hora da Missa.
A Eucaristia do Enceramento começou às 8.00H, presidida por D. Francisco Lerma e concelebrada por D. Manuel Chuanguira, Bispo Emérito, e por todos os Padres presentes: P. Francisco Cunlela, Vigário Geral; P. Paulino Nicau, Vice- Reitor do Seminário de Quelimane; P. Daniel Raul, Pároco da Catedral; P. Miguel Oliveira, Vigário Paroquial da Caetral e Vice Reitor do Seminário de Gurúè; P. Manuel José Nassuruma, Secretário da Diocese; P. Daniel Xadreque, Pároco de Ile; P. Inácio dos Santos, Vigário paroquial de Ile; P. Pedro Esquadro, Vigário Paroquial de Ile; P. Rito Alberto, Pároco de Mualama e Moderador de Naburi; P. Eustáquio César, Vigário Paroquial de Mualama; P. Américo António, Vigário Paroquial de Pebane; P. Ángelo Tavares, Vigário de Mulevala; e P. Francisco Matias, Pároco de Namarrói.
Na Celebração da Eucaristia também participaram a Srª Administradora do Distrito de Ile e a Madre Geral das Irmãs de Jesus, Maria e José e mais outros representantes das Confissões Religiosas e Autoridades Civis.A peregrinação encerrou às 10.30H. com a Consagração da Diocese a nossa Senhora, o cântico de despedida e saudação fraterna entre todos os participantes.

quinta-feira, junho 14, 2012

O milagre é uma farsa!

É pouca vergonha para o nosso país com a reputação que tem, ter de ficar indiferente em relação a certos problemas que afectam os moçambicanos. Esta carta vem reforçar o que o arcebispo Dom Francisco Chimoio declarou no jornal “Notícias”.
Sou filho de um bispo de uma igreja e o meu irmão mais velho é secretário-geral da Igreja Católica do bairro Ferroviário das Mahotas, mas o que tenho assistido hoje em dia com algumas confissões religiosas é mesmo incrível. Diz-se muitas vezes que o mundo terá o seu fim. Outros dizem que ao aproximar-se o fim do mundo surgirão várias igrejas. Nisto quero falar de algumas igrejas que a cada dia que passa vão surgindo. É claro, a igreja também é o coração de cada um porque mesmo frequentando a igreja noite e dia, se não tem coração puro e não tem fé, de nada vale ir à igreja. A igreja hoje virou um mundo de negócio, pois qualquer um acha que a vida está difícil e para não roubar e ganhar dinheiro honestamente opta por fundar uma igreja. Considerados estes pressupostos, nada antevia que nos nossos tempos viessem a proliferar igrejas – empresas (diga-se mega-empresas), onde reina a extorsão, a burla, o charlatanismo, a superstição, milagres simulados e profetas à nova moda. Trata-se de um negócio verdadeiro que ocorre à luz do dia e que urge o Estado, através dos órgãos apropriados, travar com urgência em defesa do povo incauto e desprevenido que cai nas malhas de um grupo de espertalhões, ávidos de melhorar as suas condições socioeconómicas. Estas todas igrejas com timbre de poder de amor de reino de qualquer coisa, marcadamente internacional pela sua designação, não raras vezes se confundem umas das outras e preferem um certo tipo de mercado e perfilham o seu negócio. Quando necessário até se perseguem, fazem chantagem e embargam as possibilidades que uma outra tem de se estabelecer num determinado local. Para estas igrejas, o milagre é possível desde que se pague. O seu Deus é tão carente que para te abençoar precisa-se de pagar. Trata-se de um Deus que atende o seu povo com base em classes sociais.
Agora, em cada esquina, se consegue alugar uma garagem, pôr lá uma cadeira, pegar na bíblia, começa a dizer que a tua igreja, onde existe Deus, é só ai.
Afinal, onde viu tal Deus? A questão que se coloca é a seguinte:
Por que não somos solidários uns com os outros? Por que não possuímos o espírito e atitude de entreajuda?
Por que a maior parte das vezes nos damos por vencidos por indivíduos com comportamento desviante?
Cada um de nós poderia responder a estas questões fazendo uma introspecção e colocando-se no lugar desses que um dia foram vítimas de assalto e mesmo implorando pelo socorro foram ignorados.
Pouco acredita-se que uma multidão de gente que fica a assistir uma pessoa a ser assaltada por dois ou três malfeitores não tem força suficiente para neutralizá-los. O que se pode aceitar é que vivemos numa sociedade de estranhos, onde o outro morreu somente vive o “eu”. A igreja no mundo sempre é bem vinda mas temos que ver onde a construímos. Sinceramente nunca tinha visto que alguém para enriquecer precisa gastar montões de dinheiro seguindo o caminho de Deus. Alguns dirigentes das igrejas incutem nos crentes que ao dar a Deus, ele pode dar mais em recompensa. Será que na era de Jesus Cristo a pregação do Evangelho era feito assim, com cobranças em dinheiro?
Será que esses milhões em dinheiro que eles são os detentores do milagre porque não fazem isso e colocam toda gente saudável? Se eles não fazem isso é porque não o conseguem e o povo continuará a ser enganado. Eles não curam nada. Na verdade é uma farsa e todos os dias estão a enganar as pessoas. Muitos que dizem que são curados, ninguém sabe de onde vieram, onde vivem. Apenas somos surpreendidos com gente a dizer-se curada. Quem a viu doente, segundo o arcebispo Dom Francisco Chimoio. Sobre os mortos, devo dizer que merecem dignidade e o respeito. A propósito do aborto, eu fui directamente afectado pela morte da minha esposa no ano passado, vítima de aborto clandestino e quando faltavam dois meses para a realização do nosso casamento oficial, tendo deixado três crianças e o último com quatro anos de idade. Os abortos clandestinos constituem outra causa importante de mortalidade no nosso país.
O mais caricato de tudo é que parece que o pobre perdeu o seu espaço neste Deus dos dízimos. O pobre é o último a ser reconhecido. Notamos claramente uma discrepância do Deus, revelado por Jesus Cristo, que é um Deus de amor incondicional que acolhe a todos como filhos e não discrimina.(A. Mujovo)

Análise de Mouzinho de Albuquerque

É que sei ajuizar, em cada momento, pelo menos cá do sítio, os comportamentos dos nossos dirigentes e avaliar a sua entrega e disponibilidade para serviço público e para o bem-estar das populações. É que desta forma, se poderá reforçar a interacção entre a sociedade, instituições e dirigentes a vários níveis.
E por falar de instituições, neste caso públicas, dizer que é bom que esteja a ser implementado neste sector o processo de reformas, que visam principalmente a melhoria na prestação de serviços aos cidadãos. Por conseguinte, cada vez mais me convenço, que tal melhoria passa também pela disponibilidade de infra-estruturas adequadas a essas instituições, por forma a que os que nelas trabalham possam ter espaços suficientes e condignos que lhes permitam planificar actividades viradas para o desenvolvimento e tomar decisões importantes da vida da nação.
O facto é que há situações que considero inexplicáveis na Direcção Provincial da Mulher e Acção Social em Nampula, ali no entroncamento entre as avenidas 25 de Setembro e Eduardo Mondlane, que, por vezes, deixam os utentes ou quem por ali passa, tanto quanto atónito e incrédulo, dando a transparecer a falta de atenção e interesse, não só por parte da ministra ou vice-ministro do pelouro, como do respectivo director incluindo o conselho municipal, no sentido de corrigi-las rapidamente.
Indo directo ao assunto, dizer que essa direcção ainda continua a funcionar numa antiga residência, e mais do que isso, o espaço é muito pequeno para albergar uma instituição da dimensão da Direcção Provincial da Mulher e Acção Social em Nampula. Há muito que já deveria ter sido construído um novo edifício maior noutro sítio. Na tentativa de resolver o problema de exiguidade de espaço, tem-se optado pela construção de pequenos cubículos que servem de gabinetes dentro do quintal da principal infra-estrutura. Essa opção torna ainda o espaço mais reduzido, que nem para estacionar ou guardar viaturas chega.
Se por um lado a execução de obras de remodelação e/ou construção de infra-estruturas naquela direcção, com vista a fazer face ao espaço diminuto do principal edifício onde funciona, torna aquele sector um local em que se possa ver e perceber a aparente vontade de lutar contra as dificuldades de disponibilidade de espaço, por outro, é preciso estar ciente que tais edificações podem pôr em causa a própria postura camarária. Tal é o caso do novo cubículo que está ainda em construção, que mesmo concluído não conferirá estética nem dimensão inovadora daquela direcção, daí que não me darei por satisfeito com essas construções.
O mais preocupante é que esse cubículo está num sítio impróprio e virou “costas” à avenida 25 de Setembro. Sinceramente não quero acreditar que aquela obra tenha sido autorizada pelo Conselho Municipal da Cidade de Nampula que sempre defendeu o cumprimento da postura municipal. Todavia, não me parece existirem mais razões para que aquela direcção continue a construir “casotas” que põem em causa a sua própria imagem.
O Ministério da Mulher e Acção Social tem que apostar já em infra-estruturas condignas e dignificantes para a sua direcção provincial de Nampula. Urge acabar a vergonha de andar de “remendo” a “remendo” que se verifica naquele sector chave para o combate à pobreza absoluta, que fustiga a maior parte dos cidadãos deste país, tanto é que temos muito espaço na cidade de Nampula para a construção de infra-estruturas, da mesma forma que as autoridades municipais deveriam repensar a construção desses “remendos” naquela direcção, claro se quer que as normas da postura municipal sejam cumpridas para o bem da estética elegante da cidade de Nampula.(M .A)

terça-feira, junho 12, 2012

Muito macho tem medo desta mulher...

 A Ministra mocambicana do Trabalho, Helena Taipo, ordenou o cancelamento do concurso do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) para o fornecimento do material gráfico adjudicado à empresa “Ntuzi Investimentos”, avaliado em 25 milhões de meticais (900 mil dálares norte-americanos).A decisão da titular da pasta do trabalho resulta do facto de o referido concurso estar ferido de irregularidades e não ter obedecido a política de descentralização de competências, em vigor desde 2007 no país.As províncias, segundo a ministra, têm autonomia na contratação de empresas e afirma não fazer o menor sentido que as compras sejam feitas a nível central para depois serem distribuidas.“A descentralização não pode ser apenas uma teoria, as províncias têm capacidade para produzir o que se pretendia”, disse Taipo, anotando que já mandou investigar os procedimentos do concurso que, no seu entender, foi feito a revelia do Conselho de Administração da instituição.O INSS contratara, através de um concurso público, a Ntuzi Investimentos que encarregar-se-ia de produzir todos os materiais que constam do caderno de encargos, nomeadamente a produção de material estacionário (blocos de notas, canetas, isqueiros, bandeiras, brochuras, entre outros artigos).
Os valores apresentados ao INSS pela maioria das empresas variavam de três a sete milhões de meticais, à excepção da Ntuzi que concorreu com valores, em média, cinco vezes superiores à concorrência longe da realidade do mercado nacional.Mesmo assim, foi a proposta da Ntuzi Investimentos, a mais cara, que saiu eleita pelo contratante. A produção do material de propaganda custaria, ao todo, 25.314.9974,10 de meticais das contribuições do Imposto sobre Valor Acrescimento (IVA).A anulação do concurso segue-se, segundo o Jornal “O País”, ao cancelamento do concurso de compra de uma moradia que custaria, ao erário público, cerca de um milhão de dólares. A ministra afirma que o caso está sob investigação judicial, porque foi feito a revelia da Comissão Consultiva do Trabalho (CCT) que também tem direito a palavra nos investimentos feitos do INSS.

Violadores de menores ganham terreno

O recrudescimento dos casos de violação sexual de menores e mulheres está a preocupar as autoridades policiais moçambicanas.De acordo com o porta-voz do Comando Geral da Polícia mocambicana (PRM), Pedro Cossa, por semana as autoridades regitam cinco casos de violação por semana, um número que pode não representar a realidade visto que muitos casos não chegam ao conhecimento destas entidades.De salientar que em Moçambique está quase enraizada a prática de a família da pessoa violada chegar a um acordo com o violador, que consiste no pagamento de valores monetários, que chegam a ser irrisórios.A província da Zambézia é a que mais preocupa a PRM pelo facto de contribuir com dois ou mais casos por semana.“Este é o crime que mais preocupa a PRM neste momento. A Zambézia preocupa mais porque comparticipa com dois a três casos por semana. Este é um fenómeno muito mau, que deve ser estancado o quanto antes”, defendeu.Face a esta situação, a polícia defende que devem ser aplicadas penas duras aos violadores de menores.“Os tribunais devem tomar medidas mais exemplares para desencorajar estes actos porque esta é uma semente má que estamos a ver crescer no nosso país”, considerou.Cossa,  em Maputo, no habitual briefing semanal com a imprensa para dar o ponto de situação sobre a situacao criminal no país, revelou que ao longo da semana passada a polícia registou quatro casos de violação sexual, dos quais dois são contra menores de cinco anos, um contra uma mulher cuja idade não foi identificada e outro contra uma idosa de 92 anos.De salientar que este último caso, da idosa de 92 anos, trata-se de um filho que agrediu a mãe e depois a violou sexualmente. O caso de-se na Matola, segundo fez saber Pedro Cossa.“Um homem de 56 anos violou uma criança menor de 5 anos. O acto ocorreu no dia 8 de Junho, no bairro Ferroviário. No dia 5, na Matola, um cidadão de 32 anos violou uma menor de dois anos. Esta situação preocupa-nos muito”, referiu. De salientar que os casos de violação de menores são, muitas vezes, perpetradas por pessoas próximas, que têm o dever de protegê-las.Para o crime de violação praticado sobre mulher menor de 12 anos a pena aplicável é de 8 a 12 anos.As penas são substituídas pelas imediatamente superiores quando o agente do crime é: ascendente da ofendida (pai ou avô), irmão da pessoa ofendida, tutor, curador ou mestre do ofendido, encarregado ou guarda da sua educação, professor, transmissor de afecção sifilítica ou venérea à pessoa ofendida.

Bolas, parem o comboio!

 É um problema que pode resultar de políticas descoordenadas do Governo. As comunidades de Sena, no distrito de Caia e de Nhansato, no distrito de Muanza, todos na província de Sofala, por onde atravessa Linha de Sena, reclamam o facto de não haver estações (paragens) de comboio de transporte de passageiros e carga por onde passa. Estes dois pontos, são atravessados pela linha férrea, mas o comboio não pára. As pessoas querem que o comboio também as sirva e não seja só para transportar carvão para exportação. Querem que os comboios que devem servir as comunidades tenham em conta que há zonas ainda não servidas que também passem a ter estações de caminho-de-ferro.Às terças-feiras e sábados de cada semana, há um comboio que sai da Beira, passa pelo Dondo e vai até Savane. Nas sextas-feiras, existe um outro que passa de Muanza, Inhaminga, Nhantenga, Marromeu, por aí em diante.
Nas zonas do interior por onde o comboio passa e não pára, produz-se muito, desde mandioca até madeira em tronco. Há ainda muitos mariscos capturados na praia de Sambazoi que não são aproveitados. Uma paragem do comboio poderia ajudar a escoar os produtos locais para outros mercados defendem os locais.Quem vive, por exemplo em Nhansato, (Muanza) para apanhar o comboio deve-se deslocar 18 quilómetros para a estação de Semacueza ou andar 12 quilómetros até à estação de Duma.“O comboio que vai a Marromeu, devia parar por aqui. Produzimos muita mandioca que podíamos vender à unidade fabril que agora compra mandioca no Dondo”, disse Tina Major. Esta unidade produz biocombustível a partir de mandioca. Foi inaugurada recentemente.O posto administrativo de Sena dista 60 quilómetros da Vila-Sede de Caia. O posto é atravessado a meio pela linha férrea mas a população só vê o comboio a “passar”. Os produtores e comerciantes locais pedem para que o comboio pare pelo menos cinco minutos em Sena para escoar seus produtos.Fernando Luis, residente de Sena, disse que o comboio passa um pouco distante. E desse local para Tete, paga-se 150 meticais de passagem no comboio. Em Tete, vão vender esteiras, cabritos, galinhas e de lá trazem batata, cebola, repolho e outros produtos frescos produtos em Tete, mas não só.“Temos crianças que para chegarem a uma escola devem ir de bicicleta. Mas se os comboios parassem um instante podíamos usar como meio de transporte”, disse.Igual situação se vive na localidade da Pedreira, região predominante agrícola. Aqui produz-se repolho, couve, alface, gergelim, milho, mas a distância de uma para outra paragem faz com que os produtos se deteriorem. Joaquim Chau, disse que no seu celeiro, tem 20 sacos de gergelim, 35 sacos de milho quer ir comercializar noutros locais mas n´~ao consegue usar o comboio.“Se tivéssemos estradas ou paragens de comboio perto podíamos escoar os produtos. Os carros vêm e param a uma distância de 20 quilómetros e temos que transportar o produto de bicicleta para Gorongoza”, disse, recordando que no mês passado um carro de saúde que levava vacinas para crianças acabou desistindo de entrar devido ao precário estado das vias de acesso. (C. Saúte)

Filho de Matsanga,sempre Matsanga

A falta de bom-senso e de deontologia profissional por parte de alguns professores no país está a gerar descontentamento entre pais e encarregados de educação de alguns educandos, a perseguição e até o uso de expressões injuriosas. Como exemplo disso, no distrito de Funhalouro, dois professores e igual número de alunos estão em litígio, desde o princípio deste segundo trimestre do ano lectivo em curso.Quem denuncia é a deputada da Assembleia da República no círculo eleitoral da província de Inhambane pela bancada da Renamo, Gania Mussagy, que na última sexta-feira chamou a Impressa sediada naquela província para denunciar algumas irregularidades praticadas por alguns funcionários do Estado, em particular na classe docente que se encontra a fazer as suas actividades no distrito de Funhalouro.Ela acusou Luís Fernando e Ernesto Sitoi, ambos professores da Escola Primária Completa de Funhalouro, de no dia 25 de Maio último terem ofendido dois alunos da terceira e quinta classes, respectivamente, por serem filhos de membros da Renamo, proferindo palavras como: “Vocês meninos são matsanga”.Com este tipo de atitude lamenta a deputada da Assembleia da República a capacidade dos petizes em continuar com o ensino naquela escola fica afectada, visto que psicologicamente já estão alterados.(Matsanga vem do apelido Matsangaissa,o fundador do movimento de resistencia nacional mocambicano,RENAMO).

quinta-feira, junho 07, 2012

Cabrito para pudim



Muitas histórias engraçadas sabem à mentira, mas nem todas as mentiras têm um sabor engraçado. Pudim de cabrito é um prato saboroso, servido a amigos especiais no posto administrativo de Mandie, distrito de Guro, a norte da província de Manica, que tive a ocasião de ser servido e provar com muito gosto, aquando da visita presidencial àquele ponto do país, a qual cobri na qualidade de repórter de imagem.
Foi gratificante ser recebido por gente amiga de coração, pois, durante muitos anos, o tempo e a distância se encarregaram de nos separar. Uma espécie de comportamento humano em extinção, que ainda teima em permanecer como hábito e costume, num mundo tenebroso, onde muitas vezes se nega o bom ao próximo, para atender ao infinito dos caprichos do ser humano, embrulhado na capa da globalização, onde esconde as mágoas criadas e ponderadas pela fragilidade inocente e impotente da avareza selvagem. Apesar da pobreza e do sofrimento criado pela falta de algumas condições materiais, indispensáveis ao Homem em algumas partes de Moçambique, os seus habitantes imbuídos de orgulho próprio, pelo domínio nato de bons hábitos e costumes, sobretudo pelo respeito ao próximo, riqueza moral que vem encravado no peito, de geração para geração, parece não constituir verdade, quando uma simples história engraçada é contada por um viajante de ocasião.
É em Mandie, nas margens do rio Luenha, onde me encontro a lavar os pés, a cara, os dentes e, de vez em quando, com medo do famoso crocodilo, interrompo a tarefa de limpeza ao rosto, mas um amigo de longa data, que se voluntariou a me escoltar, me encoraja a tomar banho, pois estava disposto a guarnecer-me de todos os males que dali pudessem acontecer, conhecia todo o segredo e manias do paquiderme.
Seguro ou não, precisava de um banho, não só pela saudade das águas correntes do rio, simulando a ingénua pureza, mas, porque passara o dia inteiro de viagem num autocarro, que apesar da poeira que penetrava por baixo e da parte da porta, com toda a bravura do seu motorista, o velho Amade, venceu todos os obstáculos campestres, molhando os panos para tapar os buracos que deixavam infiltrar a poeira, até ao destino previsto, entre conversas, anedotas, música e outros comentários sem conteúdo, só para espantar o sono e “encurtar” a distância.  Depois da higiene corporal nas pedras do rio, fui convidado a ocupar um assento, debaixo da sombra de uma gigante maçaniqueira, lugar preparado para sacrificar um bode. O bicho encarou-me com um olhar tristonho e trombudo e eu o olhei também com muita pena. Quer dizer, entreolhamo-nos longamente. Parecia que o bode atirasse para mim toda a culpa da sua desgraça, como que falando comigo, frente a frente, ”é por ti que deixo este mundo, todo maravilhoso”.
Embora eu percebesse a tristeza daquele “cabrão”, cabrão sim, tinha os dentes enferrujados, de tanto mastigar folhas e capim, a barba comprida e desajeitada, os testículos carnudos que o incomodavam ao andar, por mais milagres que pudesse inventar, não tinha poder suficiente para mudar o destino daquele pobre animal, cuja sorte foi traçada entre os anciãos locais.
Virei os olhos para o lado do rio, não queria testemunhar aquela acção violenta contra o bode, depois daquele aceno de pedido de socorro, um gesto virtual de despedida que fizera a um estranho viajante, a quem confiara o seu último adeus.
Pouco tempo depois, o bicho estava pendurado na maçaniqueira, todo ele esfolado, bastando para quem quisesse, pegar na navalha e cortar o tamanho do pedaço da sua altura e atirar à brasa, que ardia sem favores, ao som retumbante de batuques e canções, entoadas e dançadas com júbilo do mundo; canções saídas da boca de um povo feliz por dentro, exteriorizando o não medo da liberdade construída pelas suas próprias mãos.
Enquanto o meu pedaço se demorava na fornalha, fui servido um copo fermentado de malambe, mesclado com leite condensado e “cachaça” da primeiríssima, que dava o sabor de um autêntico licor, acompanhado de um brilhante e estranho prato, que não consigo decifrar o seu conteúdo. Quis hesitar em prová-lo, mas o amigo que me acompanhava, encorajou-me a prová-lo.
—  Prova amigo, não tenha receio, é tudo festa aqui, é pudim de cabrito, preparado para esta ocasião ímpar – disse sorridente.
—  Pudim de cabrito, finalmente! Gostoso. – “Como tem preparado”, pois na cidade, pudim tem sido açucarado, parece que o vosso é salgado  —  tentei espiar a receita.
Afinal, sempre que se fica perante uma cerimónia especial, é sacrificado um animal, de preferência um bode. O seu sangue é colocado numa bacia com sal grosso, enquanto a navalha lhe atravessa o pescoço. Depois de pendurado num ramo, com a cabeça virada para cima e a parte inferior para baixo, cuidadosamente é lhe retirado a pele e as vísceras. Não precisa de ser lavado, não é por falta de água, pois o rio passa a cinquenta metros, assim tem de ser tratado, como rezam os hábitos, por respeito aos deuses.
E, enquanto o bicho é manejado no arbusto, o sangue coagulado na bacia é posto a ferver com água, sal e outros temperos, transformando-se numa espécie de fígado, e é servido a pessoas especiais. Em relação à carne, cada um corta à sua maneira, mergulhando-a na peneira de sal e temperos, assa-a na brasa viva, preparada previamente para o efeito.
Nos primeiros minutos, a gulosice toma conta dos convidados, que até preferem mastigar a carne antes de cozer, depois nota-se uma acalmia, as pessoas estão empantorradas, cada vez que exercem o seu direito carnivolar, e por fim, parece que ninguém mais se interessa em lidar com aquele esqueleto, baloiçando num arame, entre duas estacas na árvore. 
Já com a festa no seu auge, o sol aparece do horizonte e, horas depois, sobrevoam por cima de nós quatro helicópteros, que anunciavam a chegada do Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, que vai orientar um comício popular, mesmo ao lado onde os sapadores, na tarde anterior, dedicaram-se a apalpar o chão, de forma a prevenir qualquer desgraça, tendo em conta que Mandie foi área de disputa militar, desde a guerra de libertação nacional até à dos dezasseis anos.
Posto isto, com a panela de pudim de cabrito vazia, ninguém mais se interessou daquele amontoado e apetitoso de carne, e todos fomos aos empurrões ao local do comício, assistir às actividades culturais, onde as mais belas ancas exibiam o seu poderio sensual, os queixos recheados de barba, e receber as devidas orientações do mais alto magistrado do país.

segunda-feira, junho 04, 2012

Espiritos desaconselham investidores

Um grupo de empresários moçambicanos pretende ocupar para fins turísticos a Ilha Lipulula, nas proximidades da vila de Mocímboa da Praia, na provincia nortenha de Cabo Delgado, e o Conselho Municipal local não vê com bons olhos a pretensão, em razão da sua história, daí que tem estado a pedir opiniões autorizadas para decidir em definitivo.De repente, nasceu um movimento silencioso contra a pretensão de tais investidores, independentemente das razões que evocam porque, localmente, a ilha é considerada sagrada e qualifica-se como uma grande ousadia pretender ocupá-la. 
A Ilha Lipulula está próximo do porto de Mocímboa da Praia.
Segundo o “Noticias” de hoje, os fins turísticos, designadamente edificação de infra-estruturas de acomodação de hóspedes, fazem levantar uma série de questões que desaconselham tal iniciativa, em virtude da sua importância história, mitológica, ambiental, assim como económica, no sentido de que está praticamente encostada ao porto.O pedido ainda não obteve resposta, mas o presidente do Conselho Municipal, Fernando Neves, em face das dificuldades que encontra no terreno, decorrentes de desaconselhamentos vindos das várias forças da sociedade local, pelo seu lado aparentemente mitológico, histórico e ambiental, bem assim, de alguma forma, económico, achou por bem encomendar um estudo.Na sequência disso, conforme dados em poder do “Notícias”, o Prof. Doutor Yussuf Adam, do Departamento de História da Universidade Eduardo Mondlane, fez um memorando que acaba desaconselhando a sua ocupação para um complexo turístico, sugerindo que o município ou a administração do distrito encontrem lugares alternativos para o investidor.
Na verdade, conforme o estudo feito pelo historiador, a Ilha Lipulula faz parte de um banco de areia e fornece ostras e outros bivalves e os serviços de regulação por ela prestados têm a ver com a purificação da água, bem assim os sedimentos deitados na bacia pelo rio Ndjama, que desembocam bem perto são retidos por ela.Por outro lado, segundo o estudo do professor Yussuf Adam, os serviços culturais prestados pela ilha são evidentes, a partir do facto de que se trata de um lugar de culto, assim como o seu sistema de suporte do ecossistema inclui a formação de solos e a reciclagem de nutrientes.
“A ilha é uma vida que se está a formar. A floresta existente nela inclui sete a oito embondeiros, acácias etc. No lado norte existe um pequeno mangal, na praia, devido à água doce que escorre da ilha, cresce um capim que é utilizado pelos patos em migração”, escreve Yussuf Adam.Na verdade, diz o jornal, são visíveis na ilha, normalmente, grupos de aves que o estudo diz atingirem, às vezes, 1000, nomeadamente patos bravos, o que sugere parecer, nas palavras de Yussuf Adam, uma jóia para ser estudada por ecólogos, zoólogos e outros cientistas.
Os mitos à volta da Ilha Lipulula são reforçados pelo facto de existir um túmulo sem inscrições legíveis, uma construção de cimento armado que provavelmente fazia parte de algum sistema de sinalização marítima.
Em 2008, houve quem tenha construído uma estrutura de ferro, pretensamente ligada a alguma religião fixada no terreno e foram encontrados cestos feitos de palmeira verde, geralmente utilizados em cerimónias mágico-religiosas.Acredita-se que o túmulo seja de um rei importante da região que ali foi sepultado. Outros alegam que, ali foi enterrada uma mina submarina que terá aparecido na baía por alturas da II Guerra Mundial.É com base nessas histórias, mais ou menos imaginárias e sobre as cerimónias que se realizam nela, que o estudioso responde a uma pergunta que lhe é dirigida de forma recorrente:
“A minha resposta é que não deve ser instalado nenhum acampamento na ilha, parece mesmo um absurdo que alguém queira fazer tamanha barbaridade. Para além de tudo, a ilha está situada muito perto do porto de Mocímboa, uma rota das lanchas que saem daqui para Malindi e outros lugares. Tem um ecossistema valioso e frágil a qualquer ocupação humana”, diz Yussuf Adam.
Pelo contrário, aquele académico propunha que na ilha fosse colocada uma placa com o nome da mesma e com a indicação de que se trata de um lugar protegido, entre outras iniciativas que visassem a sua conservação, de modo a que de Lipulula não se remova pedra para a construção ou os seus bancos de ostras não sejam usados de forma destrutiva.
“Certamente que os biólogos e ecólogos poderão apreciar ainda mais a importância da ilha, muitos deles passam por aqui e ou estão a viver ou a trabalhar nas ilhas adjacentes, como por exemplo, Vamizi. Poderia ser solicitada uma colaboração deles para fazer um levantamento ecológico da ilha”, disse Yussuf Adam.

Deputados-vampiro

No lugar de guardiões da lei e pessoas com iniciativas legislativas visando acautelar os interesses dos cidadãos, nosso Parlamento é constituído maioritariamente por uma associação de corruptos prontos para delinquir e extorquir o povo deste país. Os factos falam por si e não é preciso “procurar por uma agulha num palheiro” para que isso se prove.
A dinâmica democrática, edificante de uma nação robusta e solidária está sendo carcomida na chamada “Casa do Povo”. Como recentemente disse o advogado e académico moçambicano Gilles Cistac, “alguns deputados são uma vergonha”.
Nossos deputados tem ao longo da sua existência e história se revelado exímios em defender o indefensável.
Não são todos que cabem nesta classificação mas é verdade que a maioria não se pode qualificar de outra maneira.
Deputados supostamente eleitos pelo povo estão apunhalando-o pelas costas em cada exercício legislativo que são chamados a realizar.
Não se pode nem se deve incluir todos os deputados no mesmo saco porque tal não é o caso. Mas é de uma importância crucial que se denunciem comportamentos desprestigiantes praticados por alguns deputados moçambicanos.
Há que acusar com a maior frontalidade possível e de maneira rigorosa qualquer que seja o deputado que esteja enveredando por caminhos escusos e inapropriados. O facto de haver preocupação legítima até, de assegurar o bem-estar material para si e os seus, não deve jamais levar a que deputados sobreponham seus interesses privados ao de todo um povo. Aquelas funções não são para se tratar de vida própria. Aquilo que se faz no Parlamento deve ser serviço público.
Já não é altura de generalizar nas acusações mas é hora de se apontar a dedo a cada um dos deputados prevaricadores, sem vacilar.
Importa identificar quem está lesando o povo, desde aqueles que ganham salários chorudos para dormir nas sessões de trabalho àqueles que trabalham para impedir que a democracia triunfe neste país.
Já basta de divagações quando se trata de encontrar os culpados pela falta de sucesso das políticas governamentais postas em prática.
Se um dos grandes entraves para o fortalecimento da democracia e desenvolvimento do país é a corrupção e o nepotismo com que funcionam algumas instituições governamentais seria lógico e sensato que os deputados estivessem fiscalizando e propondo saídas para situações do género. Mas quando se vê uma maioria de deputados calando-se e aprovando leis que não tem relevância para a vida dos moçambicanos é motivo para que se desconfie. Afinal ser deputado o que significa? Será só uma questão de aceder a regalias e mordomias em nome dos cidadãos? A maioria parlamentar está no parlamento para carimbar positivamente os relatórios governamentais mesmo que se saiba que não correspondem à verdade dos factos?
Será que o tempo por exemplo para regularizar a situação de pensões dos militares desmobilizados já não expirou?
Será que com um parlamento activo não teríamos a questão das reclamações dos “Madgermans“ resolvida?
A Comissão de Petições da Assembleia da República tem ou não poder de exigir do governo respostas concretas e acção deste, sempre que se verifique que os peticionários têm razão?
Compreende-se que com a génese dos actuais deputados muito dificilmente teríamos um cenário diferente na altura em que se exige reflexão e trabalho. Ser eleito deputado tem sido como que a fórmula encontrada para que favores prestados sejam pagos. Alguns são eleitos devido a pretensos protagonismos políticos mas como todos eles chegam ao parlamento em nome de uma lista partidária torna-se difícil “separar o trigo do joio”.
Mas não tenhamos dúvidas de que a posição adoptada de garantir que um grupo de deputados seja continuamente reconduzido tem a ver com a segurança que os partidos sentem sobre o que serão suas posições na hora de votar.
Olhar e compreender o que deputados fazem e como fazem deve ser uma extensão de uma análise sobre como são os políticos e seus partidos no país.
Se a directiva que os deputados seguem é baseada na aprovação do que o executivo lhes apresente, sem terem que se maçar a trabalhar e a analisar os méritos das resoluções propostas, está visto: o partido que detêm a maioria parlamentar acaba “triunfando”. Triunfo esse que é a derrota ponto a ponto dos cidadãos.
Se temos problemas orçamentais e se não temos respostas concretas sobre numerosas questões apresentadas ao governo é por causa unicamente da arrogância e falta de respeito pelo preceituado na lei quanto à obrigação do executivo esclarecer e prestar contas do que faz.
O Parlamento, sede do poder legislativo, não tem que imiscuir-se nas tarefas do governo no dia-a-dia. Tem de fiscalizar a actividade do governo e deixar-se de cumplicidades.
Do Parlamento devem sair propostas de lei que promovam a democracia. Devem garantir de que os interesses sagrados dos cidadãos sejam protegidos.
Numa situação normal e no sentido de promover-se a democratização real do país deveríamos estar atravessando uma fase em que os deputados do parlamento moçambicano, actuando no quadro de suas responsabilidades soubessem separar interesse partidário e interesse dos cidadãos e interesse nacional.
Há perguntas fundamentais que não são feitas para não incomodar determinados esquemas instituídos ao nível do executivo porque são todos farinha do mesmo saco. Parece que se tornou em acordo que o Parlamento não incomoda o executivo e este vai sempre que julgado necessário, aumentando as mordomias e regalias dos deputados. Uma espécie de come e cala-te.
Quando teremos nossos deputados questionando a lógica de facilidades concedidas aos mega-projectos? O deficit orçamental tem de ser continuamente suprido por contribuições internacionais ou será objectivo ou unicamente um subterfúgio utilizado pela equipa do governo?
Quando se afirma e está provado que o país possui um manancial de reservas de recursos naturais, mais do suficientes para catapultar o país para uma dinâmica de desenvolvimento endógeno, porque não questionar seriamente o governo sobre a dependência orçamental crónica?
Quem está minando a democracia em Moçambique? Sabe-se que um desempenho “exemplar” no ponto de vista dos soma e segue, durante as campanhas eleitorais constitui um passaporte para se reascender à posição de deputado. E é do conhecimento dos cidadãos que o cargo de deputado é uma “rampa de lançamento” para a solução de inúmeros problemas materiais que caracterizam a maioria dos moçambicanos. A coberto de disciplina partidária e de outros mecanismos de controlo, uma vez que seja deputado, não há como fugir às instruções do partido que tem estado sempre no poder.
Posto isto é fundamental que os cidadãos de maneira progressiva, urgente saibam quem estão elegendo e o que esperar de tais representantes. A satisfação dos anseios legítimos dos cidadãos, suas aspirações e direitos não podem ser continuamente adiados.
O acasalamento indigno dos nossos parlamentares com situações claramente lesivas ao interesse nacional deve constituir motivo de preocupação da chamada sociedade civil. Não se pode permitir que os sacrifícios sejam o destino da maioria dos moçambicanos e os deputados da maioria e membros do governo e das hierarquias do Estado não parem de acumular.
Oferecer explicações não substanciadas e erróneas quanto aos benefícios que os recursos naturais podem significar para os moçambicanos é demagogia visando esconder uma realidade conhecida.
Há evidências de que alguns procedimentos de membros do executivo estão em linha com conflitos de interesse entre a coisa pública e a coisa privada. Está provado que alguns projectos e algumas aquisições governamentais se qualificam como tráfico grave e aberto de influências. Há titulares de cargos públicos lucrando com as posições que tem no governo e instituições afins, através da promoção de negócios individuais.
Os moçambicanos, sua sociedade civil, seus políticos e partidos precisam de acordar para esta realidade inadmissível num ambiente que se quer democrático e justo.
Basta de demagogias e de ofensivas discursivas cuja intenção é convencer que se está governando o país no interesse nacional.
Havendo interesse e uma postura digna do nome de deputado, teremos a Assembleia da República se dignificando pelo seu trabalho e pelas leis produzidas.
No lugar de “deputados-vampiros”, associados a interesses empresariais que junta membros do executivo e toda a gama de interesses privados, é urgente que os moçambicanos aprendam a punir quem não consegue nem está interessado em defender seus interesses.
Não se pretende avançar pelo caminho das acusações baratas e sem fundamentos e muito longe de nós qualquer coisa que se pareça com isso.
São os deputados da actual legislatura que nos oferecem dados sólidos e suficientes para que assim os classifiquemos…
O país deve promover mudanças para que este ambiente consolidado em que os mesmos continuam a encher-se e a venderem-nos mude ao menos para podermos experimentar novos ares. (NNhantumbo)

No que resulta a “presidência aberta”

Um comerciante do distrito da Machanga, no litoral a sul da província de Sofala, que se identificou como sendo Ismail Banu, pediu ao presidente da República, Armando Guebuza, para que haja desfecho no processo 213/93 que moveu contra o Estado moçambicano e continua emperrado no Tribunal Supremo, há mais de 20 anos.Ismail Banu, falava na última quinta-feira num comício popular realizado no posto administrativo de Divinhe, em Machanga, no âmbito da “presidência aberta” que decorre nesta província. Disse que em Dezembro de 1986 foi detido por agentes do então Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP) agora designado por SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) tendo sido acusado de transportar armas para a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO).Banu afirmou também que foi detido sem nenhuma acusação formal, o que a priori violou a “liberdade dos cidadãos” defendido pela lei. Acrescentou que instruído o processo e encaminhado para o Tribunal Judicial de Manica, foi ilibado sem matéria criminal.“Fui preso ilegalmente, e meus 11 camiões pesados também foram apreendidos e ficaram paralisados cerca de 20 meses, sem actividades. Estava sim a transportar armas e alimentos para os militares governamentais na província de Manica. Isto era, e é, do conhecimento do general Tobias Dai”, disse.Tobias Dai foi durante parte do primeiro mandato de Guebuza, ministro da Defesa Nacional. Foi demitido e passou para a Assembleia da República e ocupa agora um assento na concorrida comissão permanente, como deputado pelo partido Frelimo.Ele é irmão de Maria da Luz Dai Guebuza, esposa do presidente da República e presidente do partido Frelimo.O cidadão brutalizado pelo regime totalitário da Frelimo disse que, inconformado com a situação, recorreu, através do Tribunal Judicial de Sofala, com a pretensão de ser ressarcido pelos danos que lhe foram causados. Afirma que o assunto subiu ao Tribunal Supremo sob número 313/93 mas até agora o caso continua sem acórdão.“Vim aqui onde está o senhor presidente, como última instância e poder máximo da nação expor a minha situação”.Armando Guebuza, prometeu monitorar esta situação.
“Temos o assunto do comerciante Ismail Banu que está no Tribunal Supremo. Os factos remontam ao ano de 1986 e pedem a nossa intervenção”, disse.
O caso deste cidadão é um de muitas centenas de casos que nunca tiveram desfecho no Tribunal Supremo. Na época a Justiça estava condicionada pelo partido Frelimo que se intitulava a força dirigente da sociedade e do Estado. Presentemente a constituição prevê a separação de poderes entre o executivo, o legislativo e o judicial mas na prática continua a haver evidências de promiscuidade entre todos estes segmentos do Estado. (C.Saúte)