segunda-feira, outubro 29, 2012

Óleo de eucalipto para doenças respiratórias


A Associação Agro-pecuária ´Mpala Wa Sokoti´ (formigueiro em português), localizada no distrito da Namaacha, na província de Maputo, sul de Moçambique, está a produzir e a exportar óleo de eucalipto para o mercado da vizinha Republica da Africa do Sul.Ernesto Buca, presidente desta associação que foi visitada pela Primeira-dama de Moçambique, Maria da Luz Guebuza, no âmbito de vista de trabalho que realizou a província de Maputo, disse que a organização que dirige está a produzir actualmente 600 litros deste produto por dia.Para além de óleo de eucalipto ‘citriodora’, usado para o tratamento de doenças respiratórias, a Associação “Mpala Wa Sokoti”, esta produzir desde 2010, polpa e sumos de fruta e pretende avançar para a produção, num futuro breve, de um sumo com base na mistura de aloés e mel, um composto também medicinal. Para o efeito, a associação, que esta a trabalhar numa área de 33 hectares, já tem colmeias, posicionadas para a captação de abelhas que já produzem mel, matéria-prima para o fabrico do composto medicinal.
A fonte revelou ainda que o óleo de eucalipto, para além de ser usado para a o tratamento de doenças respiratórias, é aplicado no combate ao reumatismo e como analgésico nos ginásios e na sauna. 
Trata-se, segundo Buca, de um produto cem por cento moçambicano.
O grande desafio com o qual a associação depara é conseguir adquirir uma nova maquina para duplicar a produção por forma a satisfazer o mercado sul-africano, cujas necessidades estão a aumentar.“A nossa ambição é avançar para a produção de uma gama de produtos usando os recursos naturais disponíveis junto das comunidades locais”, disse a fonte. Esta unidade de agro - processamento foi criada no ano 2000 com apoio da cooperação italiana que entrou com um investimento de 790 mil euros. O valor foi aplicado no reflorestamento, reabilitação do armazém onde funciona a fábrica, compra e montagem das máquinas de destilação do eucalipto. 
A pequena indústria começou a funcionar com o acompanhamento da cooperação italiana até a sua sustentabilidade.Na produção agrária, a associação possui três motobombas, uma das quais comprada com o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) e 1.100 metros de tubagem que é usada para a irrigação dos campos.O valor disponibilizado pelo FDD, segundo Buca, foi também aplicado na compra de 300 metros de tubos para a irrigação, compra de sementes e na limpeza de represa que e usada para a conservação da água.Contando com um total de 22 trabalhadores efectivos e quatro contratados, a associação “Mpala Wa Sokoti” é uma organização colectiva pertencente a 18 membros.

quarta-feira, outubro 24, 2012

Força em estado-chave


Quem disse que a Flórida já está perdida para os republicanos? Este foi o tom do desafio oferecido pela multidão de todas as cores, idades e classes sociais que compareceu ao primeiro comício de Barack Obama depois do derradeiro debate com Mitt Romney, na costa atlântica do estado sulista disputado voto a voto por democratas e republicanos. De acordo com a polícia, 11 mil pessoas ocuparam as arquibancadas e o gramado do Delray Tennis Center, a cinco quadras da praia. Pelo menos uma centena ficou do lado de fora, celebrando do mesmo jeito no que parecia ser um carnaval fora de hora em celebração ao bom desempenho do presidente no confronto de ontem com Romney, centrado em política externa, e em garantia de que a batalha pelo ‘estado do sol’ está longe de ser decidida.“Ainda dá para ganhar aqui e garantir a presidência por mais quatro anos”, disse Bill Vallier, 62 anos, dirigindo o o carro alegórico da folia eleitoral, com um cachorro de pelúcia na posição de destaque, remetendo ao notório episódio em que Romney viajou para o gélido Canadá e esqueceu o cachorro da família amarrado no teto do carro. Na saída do comício, um grupo de cinco militantes republicanos foi cercado pelos milhares de obamistas que gritavam alternadamente, animadíssimos: “Mais quatro anos!” e “Romney é uma mala!”. O confronto democrático não ultrapassou o limite dos gritos, com os republicanos reagindo com gritos de “Mitt! Mitt! Mitt!” e todos deixando a avenida Atlantic de forma pacífica.
Um dos mais animados com a possibilidade de ver o presidente era o veterano da Guerra do Vietnã Frank Nieto, 65 anos, um ex-republicano que virou a casaca e promete jamais voltar para o flanco conservador.“O Partido Republicano acabou, foi tomado pela extrema-direita. No debate de ontem o presidente deu uma lição de conhecimento sobre nossas Forças Armadas. Romney ainda está contando quantos navios temos, vive no século passado. Meu filho é fuzileiro naval, foi duas vezes ao Afeganistão, e quero na Casa Branca um comandante-em-chefe que saiba do que está falando. Também não acho justo os republicanos quererem acabar com o Medicare, o serviço público de Saúde para os idosos. Ele sequer falou dos veteranos no primeiro debate, não está preparado para ser presidente”, disse.Nieto mora em um bairro próximo, de classe média.
O comício foi feito em uma região de forte imigração caribenha, de classe média baixa, com grande população negra e muitas casas abandonadas na vizinhança por conta da crise da bolha imobiliária.A enfermeira Benite Desjardins, 50 anos, imigrante haitiana
naturalizada, contava que sua decisão de votar em Obama é eminentemente racional. “No Haiti, quando tive a oportunidade de exercer meus direitos de cidadã, votei a partir dos valores defendidos pelos candidatos. Não é diferente aqui. Obama é o candidato que mais defende os direitos adquiridos das mulheres e dos idosos. Estou bem empregada, obrigado, mas penso na parcela dos meus clientes, senhores e senhoras, bons cidadãos americanos como eu, que não terão como pagar por meus serviços se os republicanos tomarem o poder e atacarem o Medicare. Não podemos correr este risco!”, disse, antes de atravessar a rua em direção ao estádio improvisado com primos, sobrinhos e amigos, todos haitianos naturalizados e fãs de Obama.
No palco, o presidente disse que, ao contrário de Romney, tem orugulho de detalhar seu plano econômico para seguir criando postos de emprego e desafogar a classe média. “Em meu plano, ao contrário do dele, a matemática faz sentido! Conte para seus amigos e vizinhos e colegas de trabalho. E quem está indeciso, quem chegou aqui achando que era um show de rock ou que estávamos dando pizza de graça, por favor comparem os dois planos e pensem em seu futuro”, pediu.A reação apaixonada do público, que incluía muitos aposentados na faixa dos 70 e 80 anos, eleitores importantes na Flórida, algumas senhoras com andadores, outras de cadeira de rodas, veteranos de guerra, jovens universitários e trabalhadores como o animado grupo do Sindicato dos Motoristas de Ônibus, deu ânimo à militância.
Todas as pesquisas no estado indicam um empate técnico, com vantagem de 1 a 3 pontos para Romney.
Na quarta e quinta-feiras a campanha de Obama vai fazer um esforço de 48 horas com o presidente fazendo comícios em vários estados sem pausa, passando por Ohio, Iowa, Virgínia, Nevada, Colorado, Wisconsin, Novo Hampshire e Flórida.Em Las Vegas, Katy Perry se ofereceu para fazer um pocket show de última hora com o objetivo de animar a militância. Os republicanos, por sua vez, anunciaram eventos com Romney em Iowa e Nevada, estados em que Obama aparece à frente em todas as pesquisas, com vantagens entre 5% e 3%.

terça-feira, outubro 23, 2012

Tá duro!


Menos agressivo que no segundo debate (realizado na semana passada), mas com um tom assertivo, Barack Obama foi o vencedor do terceiro debate presidencial que antecede as eleições marcadas para 6 de novembro. As sondagens reveladas pela CNN e CBS News após o debate confirmam a prestação do Presidente dos EUA. A CNN dá-lhe 48% contra 40% para Romney e a CBS 58% contra 23% para Romney. Numa das questões colocadas pela CNN aos eleitores consultados por esta sondagem era perguntado se tanto Obama como Romney estariam preparados para lidar com as questões da política internacional norte-americana. As respostas foram favoráveis a ambos, confirmando que o candidato republicano, apesar de não ter sido dado como vencedor, não desiludiu a sua base de apoiantes.  Distante da imagem de um George W. Bush, Romney mostrou-se mais negociador que belicista e concordou mesmo com Obama em várias tomadas de posição internacionais. Ocasionalmente as maiores divergências reveladas durante o debate aconteceram quando ambos os candidatos saíram da agenda internacional para abordar questões internas, cada qual defendendo as posições que já eram conhecidas das respetivas campanhas e dos debates anteriores.  A noite, mais diplomática que agressiva conheceu mesmo assim alguns momentos de choque. O mais notório resultando de um ataque de Romney a Obama, acusando o Presidente de terem hoje os EUA uma marinha substancialmente menos dotada de navios que em outros tempos, ao que Obama respondeu que hoje há também no exército menos cavalos e baionetas e que, atualmente os EUA deslocam pelo ar tanto os militares como equipamentos. Outra crítica sugerindo algum anacronismo nas posições de Romney resultou de uma etapa do debate em que se falou da Rússia, Obama sugerindo então que a visão de Romney pareceria coisa dos anos 80.
Para surpresa de todos o potencial foco de desentendimento entre os candidatos face ao caso da morte do embaixador dos EUA em Benghazi (já abordado no debate da semana passada) não foi trazido à mesa de discussão, apesar da questão Líbia ter sido francamente abordada.  Um tom moderado dominou mesmo assim o encontro entre os dois candidatos e, ao contrário do que tínhamos visto em Nova Iorque na semana passada, findo o debate ambas as famílias conversaram amigavelmente no palco.

domingo, outubro 21, 2012

Ele foi o pior inimigo de si próprio!

Jonas Savimbi era um homem altamente complexo e cheio de contradições. Gostava muito de livros e da educação, mas matou muitos intelectuais que divergiram dele. Afirmava ser um lutador pela democracia e pela economia livre, mas criou escolas para quadros, onde eu próprio me licenciei, que ensinavam o maoismo. Dizia-se um democrata, mas não tolerava as críticas. Para alguns angolanos, Savimbi é a encarnação do diabo; para outros, é um dos líderes mais inteligentes, mais determinados e mais corajosos que Angola teve até hoje. Qual será, então, a verdade?
(Nota: Savimbi foi colaborador activo das Forças Armadas portuguesas contra o MPLA no Leste de Angola)
A vida de Jonas Savimbi pode ser dividida em três fases: o Savimbi da etapa inicial, o Savimbi da etapa intermédia e o Savimbi da etapa final. O da etapa inicial foi um produto do sistema colonial português. Nasceu em 1934 em Munhango, estação da linha de caminho-de-ferro de Benguela, onde o pai era chefe de estação - na época, um lugar impressionante para um africano. Savimbi sofreu a humilhação por que passaram muitos negros angolanos, inteligentes e ambiciosos. Tinha antipatia pelos «assimilados» e por alguns mulatos que faziam então parte da classe privilegiada. (Mais tarde, Savimbi iria atenuar a sua hostilidade em relação aos brancos, criando grandes amizades com alguns deles).
Em finais dos anos 50 obteve uma bolsa de estudo para Lisboa a fim de estudar Medicina, mas, depois de muitas perseguições movidas pelas autoridades portuguesas, fugiu para a Suíça onde estudou Ciências Políticas. Voltou para África, aderiu à FNLA e tornou-se seu secretário para os Assuntos Externos. Viajou por todo o mundo e estabeleceu ligações com muitos nacionalistas africanos incluindo Jomo Kenyata, do Quénia, e o falecido Felix Houphouêt-Boigny, da Costa do Marfim. Savimbi foi para a China, onde conheceu o Presidente Mao, e adoptou a revolução chinesa como modelo. Regressou clandestinamente a Angola e, em Dezembro de 1966, levou a cabo o primeiro ataque, em Luau, na província do Moxico. Em 1974, por ocasião da revolução em Lisboa que derrubou o regime colonial fascista, a UNITA, de Savimbi tornou-se num dos três movimentos de libertação que competiram entre si pelo apoio dos angolanos. Os outros dois eram a FNLA e o MPLA. O MPLA seria o vencedor da guerra civil que se seguiu à partida dos portugueses.
O Savimbi da etapa intermédia vai de 1975, quando os apoiantes da UNITA foram forçados a fugir das cidades para o mato, até 1983, quando, com a ajuda dos americanos e dos sul-africanos, o movimento atingiu o seu apogeu. O Savimbi da etapa intermédia era carismático, eficiente e amado pelos seus colaboradores mais próximos.
Sem Savimbi a UNITA teria desaparecido nessa altura. Savimbi conseguiu, habilmente, atrair muitos professores, enfermeiros, mecânicos e burocratas, que vinham das terras altas centrais para o mato a fim de participarem na administração dos territórios que controlava e que, a certa altura, abrangiam grande parte do território de Angola. O Savimbi da etapa intermédia falava em nome dos angolanos pobres que sempre tinham sido marginalizados.
Milhares de jovens, especialmente do grupo étnico ovimbundo, viam em Savimbi um pai adoptivo. Aqui estava, finalmente, um homem que infundia respeito em alguns círculos internacionais e que também sabia relacionar-se com os mais humildes camponeses angolanos.
Savimbi era igualmente eficiente a descobrir e a estimular talentos. As figuras que estavam nas posições cruciais subiam não através de nepotismo, mas sim pela sua competência. Se este Savimbi tivesse sido Presidente de Angola, o país teria tido uma história mais risonha. Contudo, o Savimbi da etapa intermédia começou a manifestar características que o haviam de marcar até ao fim da vida matando opositores políticos, por vezes por razões infundadas. Este Savimbi começou a ver-se como a encarnação da causa da UNITA e permitiu que um culto da personalidade se desenvolvesse à sua volta. Os músicos só podiam cantar canções em seu louvor; outros podiam escrever poemas desde que tivessem uma estrofe de glorificação do líder. Este culto foi estimulado por informadores ansiosos de estar nas boas graças do líder. Alguns deles viriam, mais tarde, a passar-se para o lado governamental.
O Savimbi da etapa intermédia também começou a abandonar qualquer ideia de liderança colectiva para o movimento. O destacado secretário para os Assuntos Externos, Orneias Sangumba, foi morto por ser alegadamente um agente da CIA. Apesar das ligações estreitas que acabou por estabelecer com americanos e sul-africanos, Savimbi nutria uma grande desconfiança em relação à CIA. Nessa altura, o então chefe do Estado Maior, Waldemar Chindondo, militar distinto que foi um dos primeiros oficiais negros do Exército português, foi igualmente morto devido a acusações infundadas. Kashaka Va-kulukuta, anteriormente um colaborador muito próximo de
Savimbi, foi metido numa prisão e acabou por morrer de doença. Segundo a direcção do movimento - a qual toda a gente tinha de aceitar - figuras como Sangumba estavam numa qualquer região remota do território controlado pela UNITA. Mas era uma grande mentira.
A mentira, especialmente aos órgãos de informação internacionais, era possível porque Savimbi tinha o controlo completo do movimento. Tudo o que os seus seguidores faziam devia depender do facto de serem ou não leais à sua causa. A UNITA não tardou a desenvolver uma intrincada rede de informadores que reportavam sempre ao líder. Ele sabia tudo - pelo menos era isso o que as pessoas pensavam.
Em 1990, Savimbi entrou em litígio com Tito Chingunji, o seu secretário para Assuntos Externos, um homem igualmente brilhante, acusando-o de se ter tornado demasiado próximo dos americanos. Apesar de todas as suas qualidades, é difícil perdoar Savimbi pelo modo como se vingou da família de Chingunji: os outros três irmãos de Tito e os seus filhos foram executados.
Savimbi devia pensar que ia ganhar as eleições de 1992 e realizar o sonho da sua vida de ser Presidente de Angola, e que todos aqueles que ele tinha matado seriam esquecidos. Mas não foi isso o que aconteceu. A UNITA perdeu as eleições, disse que os resultados tinham sido fraudulentos e Savimbi e os seus colegas voltaram a pegar nas armas. Este período, desde 1992 até à sua morte, marca o Savimbi da etapa final.
O Savimbi da etapa final nunca se poderia ter adaptado a uma sociedade digna e com regras. Tratava-se de um Savimbi cuja única motivação era o poder e o controlo absoluto. Este Savimbi tinha pouco respeito ou consideração por aqueles que lhe estavam próximos - incluindo as suas mulheres e amantes. É um segredo por todos conhecido que Savimbi tinha uma intrincada vida doméstica. Os filhos tinham de lutar entre si para atrair a atenção paternal. Oficialmente tinha uma mulher, Ana Paulino, mas também uma série de amantes; estas teriam sortes diversas, tais como os membros do seu gabinete ou do alto comando. O círculo íntimo de Savimbi era como uma corte medieval: os cortesãos disputavam entre si influência e poder (principalmente para serem ouvidos pelo «rei») através de intrigas.
O Savimbi da etapa final também sabia lançar as famílias mais influentes umas contra as outras, através do seu sistema clientelar. Jonas Savimbi nunca se interessava pelo dinheiro em si. Isto talvez derivasse da sua educação de protestante. Contudo, estava mais interessado no poder do que naquilo que o dinheiro poderia dar a alguém. Um dos fracassos da UNITA foi o de ser um movimento cujo líder tinha ilusões de vir a governar um Estado. Ainda me recordo dos tempos em que os líderes da UNITA diziam que esta tinha tanto dinheiro que dava para envergonhar o tesouro de muitos países africanos. O próprio Savimbi gabou-se um dia numa entrevista que havia africanos que vinham ter com ele para lhe pedirem lições de economia. (Quem recusaria tais lições se, no fim, lhes era entregue um envelope com alguns diamantes?).
Claro que ninguém se atrevia a dizer que este tipo de comportamento não era digno de um líder. (Alguns dos comandantes mais jovens de Savimbi começaram a imitá-lo e acabaram por ter uma série de mulheres e filhos, alguns dos quais vivem agora em condições terríveis nos campos de refugiados na Zâmbia). É chocante como estes jovens comandantes começaram a imitar Savimbi em todos os aspectos - incluindo o modo como ele andava, falava ou dançava. Era estranho, por exemplo, ver um grupo de homens na casa dos vinte anos, todos calçando botas mexicanas iguais porque era assim que o líder gostava. Também começaram a copiar a sua inflexibilidade e tendência para personalizar todos os problemas.
É verdade que, depois de 1992, o Governo angolano tratou mal os apoiantes da UNITA em Luanda tendo sido assassinadas pessoas inocentes das etnias ovimbundo e kinkongo, apenas em consequência das suas origens. Contudo, depois de ambos os lados terem aceite, no acordo de Lusaka, que o caminho para a frente era a reconciliação, a importância que estava a ser dada ao estatuto do Dr. Savimbi fez passar para segundo plano o verdadeiro problema. Houve então momentos em que pareceu que a UNITA tinha estado no mato unicamente para dar um posto importante a Jonas Savimbi em Angola.
O Savimbi da etapa final era impiedoso e estava pronto a sacrificar centenas de vidas pela sua causa. Savimbi queria, acima de tudo, estar no comando - e este desejo de um controlo total tinha atingido proporções patológicas. Era também altamente caprichoso - e, face a diversos reveses militares, começou a assacar todas as culpas aos seus comandantes.
Cientes do futuro que lhes estava reservado, muitos deles acabaram por desertar para as fileiras do Governo, onde eram devidamente recompensados com postos aliciantes. Muitas famílias importantes da etnia ovimbundo, a maior de Angola, confiavam em Savimbi e entregavam-lhe os seus filhos. Por ocasião da sua morte, muitos destes falaram mal dele. Muitos perceberam que Savimbi queria implantar um estado totalitário em Angola. Não foi o Governo angolano enquanto tal que destruiu o falecido líder da UNITA; Jonas Savimbi foi o pior inimigo de si próprio. Isto explica a estranha apreensão da elite governamental de Angola na sequência da morte de Savimbi: agora que o papão nacional desapareceu eles terão de provar do que são capazes. Por exemplo, será que vão continuar a desviar a riqueza da nação para contas em bancos estrangeiros, será que vai haver uma verdadeira democracia nos assuntos do Estado?
Mas como é que Savimbi, o nacionalista empenhado, se transformou num potencial ditador africano? Há muitos anos que, como ovimbundo que sou, me interrogo como foi possível que uma pessoa que eu tanto admirei se tivesse transformado numa de quem me envergonho de dizer que fui colaborador.
Ninguém duvida de que era um homem extremamente inteligente, cuja capacidade de trabalho e boa memória o colocaram acima dos outros. Trabalhei durante pouco tempo como tradutor no gabinete de Savimbi - e não hesito em dizer que ele foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci. Foi também muito corajoso até ao fim. Foi isto, inevitavelmente, que levou muitas pessoas - especialmente da etnia ovimbundo, a maior de Angola - a segui-lo. Contudo, ultimamente, muitos ovimbundos começaram a perder a fé nele. Isto não significa que tenham agora começado a aceitar a cleptocracia de Luanda - . com as suas passagens de modelos e sumptuosas mansões em Palm Beach contrastando com tanta miséria. O que acontece é que tinham seguido um líder com muitos defeitos e que lhes estava a sair demasiado caro.
Jonas Savimbi tinha profetizado em diversas ocasiões a sua morte. Num discurso na Jamba, então o quartel-general da UNITA no leste de Angola, disse que iria morrer de morte violenta. Em vida, Savimbi já se tinha tornado numa lenda. Na morte, poderá, para muitos dos seus ardentes apoiantes, tornar-se no perfeito mártir. Tanto a UNITA como o MPLA têm heróis - alguns são uma pura criação dos departamentos de propaganda - que disseram terem posto o interesse colectivo acima dos seus interesses individuais. No entanto, todos concordam que Savimbi se manteve fiel aos seus princípios - ou seja, a conquista do poder - até ao último momento. Não parou de disparar mesmo depois de sete balas se terem alojado no seu corpo.(Fonte: Expresso)

sexta-feira, outubro 19, 2012

Dhlakama:o mesmo final que Savimbi?

Domingos Abrantes, pastor da Igreja Baptista Independente de Moçambique, considerou ontem,  em entrevista ao "DM,  ser preocupante o facto de a Renamo ter reagrupado os seus soldados e o Afonso Dhlakama ter recolhido ao mato, pois esta situação é uma clara indicação de regresso à guerra.
Referiu que as reivindicações podem ser resolvidos na base do diálogo e não sob ameaças de armas, pois,  no seu entender, existe espaço para que as partes cheguem a um acordo em torno das reclamações apresentadas. O pastor Domingos Abrantes entende tratar-se de uma simples ameaça da Renamo e do seu respectivo líder, na medida em  que este último não conseguirá permanecer nas matas durante muito tempo pelo facto de ter provado o sabor da vida da cidade, as boas companhias e todo um conjunto de mordomias que desfruta.  “Está a tentar fazer pressão para que o Governo ceda às suas reivindicações, mas se o Governo não ceder, acredito que a Renamo não vai permanecer durante muito tempo no mato” – disse o pastor Abrantes, o qual acrescentou que,  para além de estar habituado a viver na cidade, Afonso Dhlakama não possui homens capazes de desencadear uma guerra e sacrificar suas vidas.“Não quero acreditar que haja hoje países que queiram ajudar a Renamo, que queiram sustentar uma guerra. Portanto, os problemas dos moçambicanos devem ser resolvidos por meio do diálogo. A Frelimo deve sentar e conversar, mas não pode ser sob pressão das armas, mas sim pela voz da razão” – indicou Domingos Abrantes.Abrantes considerou que os moçambicanos, incluindo os desmobilizados e comandos da Renamo, estão hoje preocupados com o melhoramento das suas condições de vida e não pelo derrame de sangue.
Um outro entrevistado, Isaías Macuacua, estudante da Universidade Pedagógica, corroborou com o pastor Abrantes, afirmando haver necessidade de as partes encontrarem mecanismos de solucionamento das reivindicações da Renamo.“É verdade que estamos sempre habituados a ouvir o líder a dizer que vai fazer isto e aquilo. Mas é necessário tomar a peito as suas palavras, porque podem resultar em acções concretas” – disse Isaías Macuacua.Adiante afirmou que,  apesar de durante 20 anos estar a frequentar as cidades moçambicanas, o líder da Renamo pode permanecer nas matas, pois este está habituado a esta vida, daí que tudo pode acontecer. “O Governo precisa ceder e atender às reclamações da Renamo para evitar banho de sangue, pois se assim acontecer, o povo é que vai sofrer” – indicou o nosso entrevistado.
O terceiro interpelado foi Luís Zacarias, funcionário público, que sobre o assunto afirmou que o reagrupamento dos comandos da Renamo é uma ameaça que pode culminar em uma guerra sem precedentes.“É preciso dialogar para que isso não venha a acontecer.

Provavelmente o Dhlakama queira mesmo mostrar que ainda tem forças para lutar. O Governo deve dialogar com a Renamo para pôr ponto final às reivindicações da Renamo que, na verdade, não são de hoje” – precisou o nosso entrevistado.
Refira-se que durante as comemorações dos 33 anos da morte de André Matsangaissa, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afirmou que não sairá do seu novo acampamento até que o Governo resolva todas as suas reivindicações.
Dhlakama que, entretanto, ordenou a realização de uma parada de demonstração de prontidão militar aos seus comandos, afirmou que não vai atacar a ninguém, mas poderá fazê-lo caso seja provocado pelas tropas governamentais.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Vice-reitor aparece morto!

O antigo director do Banco Ruandês de Desenvolvimento (BRD), Théogène Turatsinze, foi assassinado em Moçambique por pessoas ainda não identificadas, anunciou, terça-feira, a Embaixada do Ruanda na África do Sul.O corpo do ruandês Théogène Turatsinze, actual vice-reitor da Universidade São Tomás de Moçambique, foi encontrado, em Maputo, amarrado e a flutuar numa praia da capital moçambicana.Segundo uma nota da Embaixada do Ruanda na África do Sul, citado pela imprensa nacional e estrangeira, o corpo foi encontrado no domingo, depois de Turatsinze ter desaparecido durante dois dias.A última vez que tinha sido visto, sexta-feira, estava na companhia de um grupo de investidores estrangeiros, dos quais se despediu no hotel onde estes estavam alojados.Théogène Turatsinze era vice-presidente da Fundação Cardeal Dom Alexandre José Maria dos Santos e vice-reitor das Universidade São Tomás de Moçambique, ambas instituições ligadas à igreja católica em Moçambique.

terça-feira, outubro 16, 2012

Foi necessária meia decáda para que...

A Comissão da Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social (Quarta Comissão) eliminou o ‘polémico’ artigo 85 da lei eleitoral ora em revisão em sede daquele organismo da Assembleia da República (AR), o parlamento moçambicano.
O referido artigo determina no seu número 1 que “em caso de discrepância entre o número de boletins de votos existentes nas urnas e o número de votantes, vale, para efeitos de apuramento, o número de boletins de votos existentes nas urnas, se não for maior que o número de eleitores inscritos”. No entanto, o projecto de lei de revisão do instrumento jurídico em questão, hoje distribuído durante o encontro público em que aquela comissão deu o ponto da situação desta matéria, refere já no artigo 86, sobre a contagem de votos, que “o presidente da mesa de voto abre o boletim de voto e lê em voz alta o número da série do boletim, e o secretário da mesa certifica a conformidade numérica com os canhotos e, em caso de desconformidade numérica com os canhotos, o segundo escrutinador da mesa deve colocar o boletim em causa num lote separado, e havendo conformidade, o presidente da mesa exibe-o e anuncia, em voz alta, qual o candidato ou lista votada”.
O artigo 85, da lei em revisão, é visto como o “artigo que apadrinha o enchimento de urnas e as fraudes eleitorais”.
Durante o encontro, o Presidente desta comissão, Alfredo Gamito, disse, que grande parte das divergências foram sanadas, desde 2010 a esta parte, principalmente graças a intervenção das chefias das três bancadas com assento parlamentar, nomeadamente a Frelimo, a Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
É a estas chefias e a próxima sessão plenária do parlamento moçambicano, com início marcado para o dia 22 do corrente mês, que a Quarta Comissão vai recorrer para se sanar as diferenças quanto a composição dos órgãos eleitorais, nomeadamente a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE). A Frelimo e o MDM defendem a manutenção do actual figurino em que a CNE, por exemplo, é constituído por 13 membros, sendo um presidente, eleito entre as figuras apresentadas pela sociedade civil, e doze vogais, enquanto a Renamo quer este organismo constituído por 17 membros.O actual figurino, defendido pela Frelimo e pelo MDM, diz que cinco dos membros da CNE são indicados pelos partidos políticos ou coligações políticas com assento na AR, segundo o princípio de representatividade parlamentar, e oito membros propostos pelas organizações da sociedade civil legalmente constituídas.Para a Renamo, cada partido com assentos no parlamento deve designar quatro membros, dois membros propostos pelos partidos políticos sem assento parlamentar, e três membros propostos pela sociedade civil.
Quanto ao STAE, a Frelimo mantém a sua posição de um director seleccionado por concurso público de avaliação curricular dirigido pela CNE.Enquanto a Renamo diz que o Director Geral do STAE é coadjuvado por directores gerais adjuntos designados pelos partidos políticos ou coligações de partidos com assento no parlamento, em condições de igualdade e paridade. Esta formação política defende ainda um quadro do STAE composto por pessoal proveniente dos partidos políticos e coligações de partidos com assento na AR, designados de forma paritária, e de pessoal proveniente de partidos sem assento na AR e outro proveniente da sociedade civil.A proposta da Renamo contraria os relatórios dos observadores eleitorais, principalmente a União Europeia, que aconselham para órgãos eleitorais menos partidarizados.

Mudança de "residência"

Reclusos que se encontravam a cumprir diversas penas no Comando da Polícia moçambicana (PRM) na cidade de Maputo estão a ser transferidos para a Cadeia de Máxima Segurança, vulgo Brigada Operativa (BO), onde alguns deles haviam sido retirados por questões de segurança.Apesar da BO ser tida como a cadeia de máxima segurança, há alguns anos, alguns reclusos que se encontravam a cumprir diversas penas naquele recinto foram transferidos para as celas do Comando da PRM na cidade de Maputo, por se considerar que ofereciam melhores condições de reclusão.Contudo, durante uma visita realizada mês passado àquelas instalações pelo Procurador-geral da República, Augusto Paulino, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deplorou o facto de haver reclusos condenados a partilhar celas com detidos, considerando que as celas daquele local destinam-se a indivíduos em prisão preventiva.Além de ser um local para detidos, o problema das celas do Comando da PRM é o facto de ser gerido pela Polícia, enquanto o sistema prisional do país está sob a alçada do Ministério da Justiça.Contudo, falando a jornalistas, o porta-voz do Comando da PRM na cidade de Maputo, Orlando Mudumane, disse que a transferência de reclusos condenados daquele recinto para a BO começou na Quarta-feira da semana passada e até agora já foram transferidos mais de 10 indivíduos.
“De princípio, todos os condenados serão transferidos para a BO, assim que no local houver condições para o efeito”, disse Mudumane, falando durante o habitual briefing semanal da Polícia à imprensa. Mudumane reconheceu que as celas do Comando da PRM “não são de uma cadeia normal para indivíduos condenados”, devendo apenas acolher pessoas em prisão preventiva.
Informações pulicadas durante a visita do PGR ao Comando da cidade indicam que existiam naquele local 44 reclusos, 25 dos quais condenados. Segundo Mudumane, os reclusos que se encontram naquele local estão a cumprir penas de entre oito a 24 anos de prisão maior.Na altura, publicou-se ainda que os reclusos daquele local queixaram-se de casos de torturas perpetradas pela Polícia, falta de assistência médica e alimentação.

segunda-feira, outubro 08, 2012

Dr. Alberto Vaquina

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, exonerou hoje o primeiro-ministro, Aires Ali, e nomeou para o cargo Alberto Vaquina, governador de Tete, numa remodelação que atinge três ministros, um vice-ministro e três governadores provinciais. Em despachos separados, o chefe de Estado moçambicano anunciou a saída de Aires Ali, que ocupava o cargo desde 2010, e dos ministros do Turismo, Fernando Sumbana, da Educação, Zeferino Martins, e seu vice-ministro, Augusto Jone, e do titular da pasta da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massingue. Para o cargo de ministro do Turismo foi nomeado Carvalho Muária, até agora governador de Sofala, enquanto para a Educação foi indicado Augusto Jone.
Natural de Nampula, no norte de Moçambique, Alberto Vaquina licenciou-se em 1992 em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto e trabalhou nos hospitais de Santo António, do Porto, e de S. José, em Lisboa.O novo primeiro-ministro tem ainda uma pós-graduação em Clínica das Doenças Tropicais no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa.Regressou a Moçambique em 1996, tendo trabalhado como médico na província de Nampula e, de 1998 a 2000, foi director provincial de Saúde em Cabo Delgado.Alberto Vaquina, desempenhou o cargo de governador de Sofala, de 2005 a princípios de 2010 e, desde então, era o governador da província de Tete, considerada actualmente a capital mundial do carvão.No último congresso da Frelimo, em Setembro último, foi eleito para a poderosa comissão política do partido no poder, o que o seu antecessor, Aires Ali, não conseguiu.

sábado, outubro 06, 2012

XX Anos de Paz


O maior problema, diz o antigo Arcebispo da cidade da Beira, que integrou a comissão de mediadores no processo de paz em Moçambique, "era a falta de confiança entre ambos os lados".Marta Barroso falou com Dom Jaime Gonçalves sobre o que foi assinar a paz a 4 de outubro de 1992 e como Moçambique se desenvolveu desde então.
MB: O que sentiu quando finalmente viu a paz assinada?
D. Jaime Gonçalves (DJG): Já ali senti uma grande alegria e fomos às cerimónias da assinatura do Acordo e falou o Presidente da República, falou Dhlakama, que de Roma deu ordens às tropas de não avançarem para nenhum lado e de não fazerem guerra e de não dispararem contra ninguém e aí comecei a ver que afinal a paz é possível em Moçambique. Já imaginava a alegria que o povo moçambicano havia de sentir com a notícia de que a guerra terminou. Estava já a imaginar os cantos, danças e viagens.E de facto foi o que aconteceu: o povo moçambicano aceitou o Acordo Geral de Paz, viveu a ideia do abraço entre o Presidente da República e Afonso Dhlakama e o povo não quis vingar-se de ninguém, porque o povo sofreu com a guerra. Da parte do governo, porque o governo também tinha a sua gente que fazia desordens, é claro, a RENAMO, como eram guerrilheiros, também faziam desordens. Mas nem a RENAMO se vingou da FRELIMO nem a FRELIMO se vingou da RENAMO.“O povo viveu a ideia do abraço entre FRELIMO e RENAMO”
MB: Falou das desordens cometidas por ambas as partes durante a guerra. Acha que os moçambicanos recuperaram dos traumas de guerra?
DJG: O trauma de que a guerra pode voltar, esse para o povo moçambicano acabou. O Acordo prevê democracia, um sistema pluripartidário, talvez ali haja um trauma que ainda não acabou. Estabeleceu-se um pluralismo partidário no país, estabeleceram-se eleições como dizem, livres e justas e transparentes.Mas na realidade, quando vamos às eleições, acabamos alguns a perguntar: "Essas eleições foram livres? Essas eleições foram justas? Essas eleições foram transparentes?" A resposta é diversificada. Então, aí podemos dizer que ainda não se desfez aquele nó que nos levaria a dizer: "Acabamos de fazer eleições justas, livres e transparentes". Isso ainda nos falta. Mas já é uma vantagem que existam muitas eleições, isso é democracia.
MB: Quando olha para a democracia em Moçambique, o que vê?
DJG: É preciso chegar a um ponto em que as pessoas, pelo menos 80%, 70% possam dizer: "As eleições foram livres, as eleições foram justas, as eleições foram transparentes, portanto o seu resultado é aceitável".
MB: Entretanto já lá vão 20 anos. Como vê este período de paz?D. Jaime Gonçalves diz que ainda nem todos estão contentes com a democracia em Moçambique.
DJG: Para a paz, já tem uma grande base a partir do próprio governo, a partir do próprio povo, que de facto acredita na paz e que a vida social, a vida nacional depende muito da paz.Agora tem partes que é preciso desenvolver: problemas de caráter económico. A democracia sem nenhuma economia não é praticável, portanto o desenvolvimento económico do país, aí ainda há muito que fazer e muito que organizar. E isso pode influenciar a segurança da paz. Demasiada pobreza não garante muito a paz, leva as pessoas a uma ambição desmedida, porque a pobreza acaba por ser absoluta.

terça-feira, outubro 02, 2012

Vai esperar pela ocasião!

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, declara que só volta a viver na cidade de Maputo depois de ascender a Presidente da República ou quando morto. Em caso de morte, o seu sonho é ser sepultado em Nampula junto dos seus cunhados, com quem travou combates contra a Frelimo na guerra que devastou o país durante 16 anos.Dhlakama realiza desde esta segunda-feira (01), na província da Zambézia, encontros com políticos, académicos, membros da sociedade civil e outros grupos sociais para falar dos 20 anos da paz em Moçambique. O objectivo é consciencializar a população local sobre a importância de preservar a democracia e exigir do Governo a prestação contas.Os referidos encontros vai decorrer durante todo o mês de Outubro. Servem também para publicitar actividades partidárias.

segunda-feira, outubro 01, 2012

2,6 milhões de onças

A província central de Manica possui reservas de ouro avaliadas em cerca de 2,6 milhões de onças deste mineral, segundo resultados apurados pelo Ministério dos Recursos Minerais nos seus mais recentes trabalhos de levantamento exaustivo do potencial existente naquela região.Em 2011, aquele departamento governamental atribuiu licença de concessão mineira a cinco companhias estrangeiras que estão a explorar as minas de ouro de Dot’s Luck, Andrade, Guy Fawkes, Fair Bridge e Boa Esperança.As firmas empregam uma média de 300 assalariados, maioritariamente moçambicanos, de acordo ainda com o Ministério dos Recursos Minerais num seu documento apresentado em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, durante um seminário organizado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) sobre Oportunidades de Investimento no sector de Hidrocarbonetos em Moçambique.O mesmo documento indica também haver no país outras explorações mineiras, das quais há a destacar as de produção de bauxite que está a ser objecto de um estudo de previabilidade e de grafite, cujas actividades produtivas deverão se reiniciar em 2013.

Kwacha no lugar do metical

A circulação da moeda estrangeira, nomeadamente os kwachas zambiano e malawiano, em detrimento do metical, nas zonas fronteiriças moçambicanas, na província de Tete, constitui uma grande preocupação para o Executivo, de acordo com o governador Alberto Vaquina, que acaba de visitar alguns distritos que fazem limite com o Malawi e a Zâmbia.Os distritos propensos à circulação da moeda estrangeira em Tete são Moatize, Tsangano, Angónia, Macanga, Mutarara, que se limitam com o Malawi, e Chifunde, Marávia e Zumbo, que fazem fronteira com a Zâmbia.Nas zonas fronteiriças da província de Tete regista-se um grande défice na utilização do metical, pois os nacionais preferem usar as moedas estrangeiras, nomeadamente kwachas malawiano e zambiano.Casos há em que os cidadãos moçambicanos não conhecem até a sua própria moeda, o metical, vendendo os seus produtos por kwachas, quer malawiano, quer zambiano, facto que tem deixado indignados alguns componentes da comitiva do governador, pois não conseguem adquirir os produtos que pretendem, mesmo os de consumo imediato.
Segundo Vaquina, a solução é uma questão de tempo e de infra-estrutura também. Explicou que a população que vive nas regiões limítrofes precisa de ter o abastecimento regular de produtos de primeira necessidade, de modo a que não recorra aos países vizinhos para tê-los.Na sua óptica, no dia em que o abastecimento regular de produtos de primeira necessidade moçambicanos, naturalmente que os cidadãos não necessitarão de usar as moedas estrangeiras. Assim, a solução passa necessariamente por promover os produtos agrícolas, através de intervenientes moçambicanos, de acordo com o governador de Tete.
“A solução vai levar o seu tempo, porque precisamos da interpretação da estratégia de estradas que o Governo da província desenhou, que visa a construção de uma estrada de ligação das zonas fronteiriças da nossa província e achamos que isso vai resolver este problema, porque vai facilitar aos intervenientes na comercialização e também os outros intervenientes para as zonas de negócios” – sublinhou.
Segundo Vaquina, é preciso igualmente fazer-se a sensibilização das comunidades, explicando-lhes que o metical vale mais do que o kwacha, pelo que quando se trate de produtos moçambicanos é preferível vendê-los pela moeda moçambicana.
“Temos que encontrar uma solução, enquanto se pensa em instalar casas de câmbios nos locais achados convenientes e a solução que podemos ter é de promoção de cambistas formais e oficiais nas diferentes regiões fronteiriças, cuja função é trocar as moedas” – anotou Alberto Vaquina, acreditando que hoje em dia a moeda estrangeira circula menos do que nos tempos passados e “nós acreditamos que gradualmente vamos encontrando a solução”.