quinta-feira, março 31, 2011

"Eu nunca fui um mito"

A cerimónia de lançamento do livro 'Vidas Lugares e Tempos', da autoria de Joaquim Chissano, havida na noite de terça-feira, constituiu um momento de 'revisitação' da história da pátria moçambicana escrita numa perspectiva de um filho que liderou o país em um dos períodos mais conturbados da Nação.Chissano assumiu os destinos da nação em 1986, na sequência da morte de Samora Machel no trágico acidente aéreo de Mbuzine, território sul-africano, tendo permanecido na presidência até 2005, altura em que passou o testemunho a Armando Guebuza, vencedor das terceiras eleições presidenciais realizadas no ano anterior.A concorrida cerimónia, cujo anfiteatro da Universidade A Polítecnica ficou diminuto para acolher o mar de gente que para lá se dirigiu a fim de assistir a efeméride, começou com uma breve encenação teatral com o objectivo de retratar os efeitos da guerra dos 16 anos.Mas após intensas negociaçoes, duas personagens que na noite de quinta-feira estiveram lado-a-lado (Chissano e Guebuza) juntamente com outras figuras conseguiram garantir a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em 1992.O histórico acordo, além de silenciar o barulho das armas, reunificou o povo moçambicano e semeou uma forte garantia de que filhos gerados pela mesma Pátria jamais voltariam à guerra.Tomás Viera Mário, docente na Universidade A Política e jornalista que testemunhou na altura a consumação do AGP, enalteceu as virtudes de Joaquim Chissano no processo negocial e o contributo que deu para a restauração da esperança dos moçambicanos.
O livro, com 376 páginas, prefaciado por Mário Machungo, é uma autobiografia de Joaquim Chissano que narra e retrata as vivências do ex-Presidente no contexto da sociedade moçambicana, desde a sua nascença, os trilhos que atravessou até as diversas etapas como o mais alto dirigente da nação.Pascoal Mocumbi, a quem coube a nobre tarefa de apresentar o livro, disse na sua demorada intervenção que a obra não é apenas um produto da arte literária, mas sim a partilha do pensamento progressista que Chissano tem das diversas formas e transformações do universo. Mocumbi comparou, na ocasião, Chissano a um génio criativo que de várias maneiras procura atingir outras latitudes da existência humana e nunca quis ser como os indivíduos que vivem com medo permanente de errar, tendo como refúgio os feitos do passado.Aliás, o próprio autor disse na ocasião ter compilado o livro a sua maneira para satisfazer o seu desejo de ter algo compilado, mas não para mitificar a sua pessoa porquanto ele não é um mito.A obra, a primeira de vários volumes ainda por publicar retratando o percurso de Chissano como dirigente, custa 550 meticais (cerca de 18 dólares norte-americanos) e durante a noite de quinta-feira foram vendidas pouco mais de 500 exemplares do livro disponível em outros estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

0 comments: