sexta-feira, setembro 30, 2016

“Desportivo de Maputo foi sempre minha segunda casa”

Foi um dos melhores médios ofensivos e avançado que Moçambique produziu, marcou vários golos, de muito belo efeito, e teve uma carreira desportiva notável que o levou a jogar em Portugal pelas mãos do Sporting. Calton Banze é um dos principais emblemas do Desportivo de Maputo, e hoje um dos emblemas da formação no clube “alvi-negro”.

Resultado de imagem para calton banze desportivoMuitos desportistas e jovens não conheceram Calton Banze no activo e tão pouco viram as maravilhas que fez em campo. Em poucas palavras como se define?
Como jogador de futebol comecei muito cedo, vim para o Desportivo de Maputo com 13 anos e depois disso foi uma sucessão de acontecimentos que me levaram a Portugal para o futebol profissional, já com 31 anos. Depois comecei a carreira de treinador ainda em terras lusas, tendo regressado à minha terra para fazer o que mais gosto, que é estar junto dos atletas, treinando e aconselhando na medida do possível.

Em Moçambique, para além do Desportivo de Maputo, teve outra paixão em termos de clube?
Quando saí dos juniores para os seniores em 1974, fui jogar no clube de São José, que era o clube de coração do meu pai, ele era dirigente e fizera uma aposta consigo, que eu e o meu irmão mais velho iríamos lá jogar. Foi uma época muito importante, uma vez que, pela primeira vez, fui para a selecção nacional “A”. Logo, no ano seguinte, retornei ao Desportivo aonde fui campeão nacional no primeiro ano.

Que memórias guarda do Desportivo dos anos 70 e 80?
Resultado de imagem para desportivo maputoMuito boas, sobretudo os títulos conquistados. No ultimo ano de juniores ganhei todas as provas, o campeonato de abertura, o campeonato  nacional, o torneio de encerramento, enfim, ganhamos tudo. Foi um ano muito proveitoso. No balneário éramos uma família, nós dávamo-nos muito bem, muitas vezes, o treinador deixava-nos a sós para decidir-mos certas coisas do nosso futebol e nós fazíamos e conseguíamos dar a volta a situações que não fossem favoráveis.(Foto:esqª p/drª é sexto agachado)

Que jogadores o marcaram nessa época e porquê?
Foram vários especialmente pelas qualidades que detinham e disciplina profissional. Grandes capitães como o Amide e Frederico, que me legaram o Desportivo quando deixaram de jogar,  marcou-me o Nuro Americano, aquele a quem considero o melhor guarda-redes de Moçambique no pós independência, era muito disciplinado e profissional, lembro que, quando estivéssemos nos jogos da selecção nacional, enquanto nós estivéssemos ainda a equipar, ele já estava em exercícios de aquecimento, enfim, era um exemplo dentro do balneário.

Que memórias têm dos jogos que realizou pela selecção nacional?
São tantas, naquela altura, não haviam viagens de três dias, todas eram no mínimo de uma semana, devido as dificuldades que existiam para fazer as conexões com outros países, isso fazia do grupo uma família.

E quem foram os treinadores que mais o marcaram?
Os primeiros treinadores são muito importantes, e para mim, o técnico brasileiro que me recebeu e o mister Oliveira, carismático defesa do Ferroviário de Maputo, que terminou a carreira no Desportivo e depois se tornou treinador, o João Albasine, porque lançou-me para a ribalta, Serafim Batista acompanhava-me e dava-me sempre uma palavra, esses todos antes da independência, porque depois vieram o Cremildo Loforte, o Mário Coluna, foi ele que me transformou num grande finalizador. Eu sempre joguei como médio, e ele corrigiu-me e disse que eu era um falso médio e incentivou-me a fazer coisas maravilhosas.

Qual o golo que lhe ficou gravado na memória?
O que marquei contra o Maxaquene, faltavam pouco menos de dois minutos para o fim do jogo, e nós perdíamos por um a zero. Nisso há um cruzamento que vem para a grande área, onde eu estava, recebi a bola com o peito e enchi o pé direito fazendo a bola voar para o canto superior direito da baliza do Nuro Americano, foi um golo de antologia, nunca me saiu da memória.

Qual a diferença entre os avançados da sua geração e os de hoje? O que vos permitia marcar mais golos, facto que não acontece hoje?
Resultado de imagem para desportivo maputoHoje, muitos atletas não têm aquilo que nós tivemos. Eu tive a felicidade de começar a jogar na varanda no um contra um, com a bolinha de ténis, joguei também nos terrenos baldios que hoje já não existem. Hoje os atletas apresentam-se nos clubes com idades já avançadas, isto é, começam nos clubes, enquanto nós começamos em casa.

E como tem sido feita a transmissão desse legado as novas gerações?
Nós somos os principais culpados por não haver transmissão de legado e experiências aos mais novos. Os clubes não criam sessões de palestras para que as lendas vivas possam passar as suas experiências, para que possam dar palestras nos balneários.

E sobre a experiência em Portugal. Como é que a descreve?
Fui a Portugal pela mão do Sporting, o Jorge Gonçalves era o presidente do clube na altura. Infelizmente não joguei na primeira liga por causa da burocracia, e acabei por jogar em equipas da segunda e terceira divisão. Depois entendi que aquilo que muita gente disse, que o Calton  falhou em Portugal se resumia nas grandes expectativas depositadas. Na verdade, eu já nem tinha idade para jogar no futebol profissional, fui com 31 anos e no mês seguinte completava 32 anos, para muita gente isso representava o fim da carreira, e eu estava a iniciar um novo ciclo, mesmo assim joguei em Portugal, fiz coisas muito importantes e bonitas que mereci na hora do regresso a Moçambique várias homenagens e tenho certeza de que quando um dia regressar a um desses sítios serei recebido com as devidas honras.

E em Portugal fez algo que fez pouco em Moçambique, muitos golos de cabeça...
Sim, para um jogador da minha estatura era difícil, mas fiz lá muitos golos de cabeça e é memorável.

Uma última palavra para os apreciadores do bom futebol?
Gostaria que o tempo voltasse atrás, para ver bons jogos de futebol, muita gente dentro dos campos a assistir bons jogos e espectáculos. E para isso, convido a todos a voltarem aos campos, aproximar dos clubes e dar contribuição, que nem sempre se deve entender que deve passar pelo lado financeiro, mas pela presença e testemunho que possamos dar.
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Para a geração actual de futebolistas que conselhos para que se tornem profissionais a altura das exigências?
Olha, os tempos hoje são diferentes, hoje há mais distractores e por consequência, razões mais  fortes para se perderem. Meu conselho e que pensem que o futebol tem vida curta e que e preciso aproveitar bem as oportunidades, construindo seu futuro, enquanto e tempo para poderem dar aos seus algo de bom. As oportunidades hoje são várias num mundo cada vez mais globalizado.


Fui contratado para jogar pelo Sporting Clube de Portugal, pelo então presidente do clube, Jorge Gonçalves, mas a minha idade avançada na altura não permitiu que eu me inserisse no plantel principal, por isso fui emprestado ao Atlético, um clube da segunda divisão. Mas, contribui para a ida e chegada de Ali Hassan ao Alvalade. Ele tinha ido a Portugal para testes no Sport Lisboa e Benfica e o então presidente leonino ouviu falar dele e das suas qualidades e questionou-me se haveria alguma chance de o desviar do Alvalade, ao que respondi, sim. Daí para frente foram algumas chamadas e conversas com Ali Hassan, que prontamente resultaram num entendimento entre ele e o Sporting. Porém, a consequência foi a minha saída do clube por empréstimo, para dar lugar a um compatriota mais novo e com muito talento que estava também num grande momento de forma. Portanto, fico feliz em ter contribuído para que essa operação tivesse tido o êxito que teve.

Q400 na berlinda

O Ministério Público abriu uma investigação para esclarecer o destino dado ao valor da venda de duas aeronaves das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) que, entretanto, não aparece reflectido na contabilidade da companhia.
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Segundo o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) está em causa a compra, venda e aluguer de duas aeronaves do tipo Q 400, num processo que envolve a LAM e uma empresa estrangeira, cuja análise sumária do processo levou a suspeitas de que tenha havido esquemas de corrupção na aplicação do valor referente à operação. 
Face à suspeita, e de modo a apurar os factos, a 5 de Julho último foi instaurado um processo-crime registado sob o número 52/GCCC/16, ao mesmo tempo que foi solicitada uma auditoria ao processo de compra, venda e aluguer junto da Inspecção Geral de Finanças. A ideia é apurar, junto dos antigos gestores da companhia, o destino dado ao dinheiro.            As suspeitas da aplicação fraudulenta dos montantes provenientes da compra, venda e aluguer das duas aeronaves foram levantadas pelo GCCC quando procedia à investigação de matérias relacionadas com alegadas práticas de má gestão exercida por dois administradores da companhia aérea de bandeira, denunciadas pelos trabalhadores.Foi na sequência deste trabalho que o Ministério Público deduziu uma acusação contra um antigo administrador da LAM por abuso de função, consubstanciado na celebração de 25 contratos com uma empresa pertencente a um familiar directo, levando a firma a pagar mais de cinco milhões de meticais.

sexta-feira, setembro 16, 2016

Presidente,premio de mérito

A Fundação ICCF (“International Conservation Caucus Foundation”), anunciou hoje no Capitólio do Senado dos EUA que tinha atribuído o seu Prémio de Mérito na Conservação a Sua Excelência, o Presidente Filipe Nyusi da República de Moçambique. John Gantt, Presidente da ICCF, declarou: "O Presidente Nyusi ganhou este prémio por promover um novo conceito de parque nacional no seu país: "o parque nacional enquanto motor de desenvolvimento humano".Gantt continuou: "Não é nenhum segredo que a fauna bravia de Moçambique sofre com a caça furtiva. No entanto, o presidente Nyusi comprometeu o seu país a efectuar uma melhor protecção dos seus treze Parques Nacionais e Reservas enquanto promove, simultaneamente, uma nova abordagem de desenvolvimento rural: utilizar os Parques e Reservas de Moçambique como motores de educação, desenvolvimento económico, e prestação de serviços para as comunidades tradicionais que compartilham ecossistemas com estes tesouros naturais.No passado, algumas pessoas entendiam que a conservação da natureza e o desenvolvimento humano eram objectivos que competiam entre si. Agora, líderes visionários como o presidente Nyusi reconhecem que o crescimento económico sustentável está intimamente ligado a um meio ambiente saudável – e que os seres humanos e as economias naturais são interdependentes.O Presidente alertou que “Moçambique seria menos Moçambique se olhássemos passivamente para o abate ilegal das florestas e da fauna.” No seu discurso, o Presidente Nyusi agradeceu ao ICCF pelo prémio recebido e enalteceu o trabalho que está a ser desenvolvido no Parque Nacional da Gorongosa – o parque nacional de referência do sistema de áreas protegidas de Moçambique – e o impacto que o mesmo tem junto das comunidades locais. A Gorongosa é gerida conjuntamente pelo Governo de Moçambique e pela Carr Foundation, organização sem fins lucrativos dos EUA.O Presidente Nyusi explicou que o Parque Nacional da Gorongosa é um exemplo de área de conservação que protege a biodiversidade, enquanto ajuda as comunidades humanas que o circundam. O acordo de gestão conjunta para a Gorongosa inclui o Parque Nacional de 400 mil hectares e também uma Zona Tampão (Zona de Desenvolvimento Humano) de sensivelmente 600 mil hectares, adjacente ao Parque e onde vivem cerca de 175.000 pessoas.No Parque Nacional da Gorongosa, ao longo dos últimos 10 anos, os números de animais selvagens aumentaram de 10.000 para mais de 71.000. O Parque, entre outras realizações, tem criado empregos na área do turismo e estabeleceu o Laboratório de Biodiversidade E.O. Wilson que aprofunda os conhecimentos ecológicos e forma jovens moçambicanos para serem cientistas.Entretanto, na Zona de Desenvolvimento Humano, o Parque da Gorongosa implementou programas nas áreas da saúde, educação e agricultura sustentável. No ano passado, cerca de 114.000 pessoas beneficiaram de serviços de saúde do Parque. Mais de quatro mil famílias participaram num programa agrícola que aumenta os rendimentos familiares.No evento no Capitólio dos EUA, Greg Carr, membro da Comissão de Supervisão do Parque, manifestou a sua satisfação pela extensão por 25 anos do acordo de gestão conjunta do Parque Nacional da Gorongosa, anunciada pelo Governo de Moçambique na semana anterior e aproveitou a oportunidade para apresentar o lançamento de um novo programa de educação de raparigas nas 93 escolas primárias que são vizinhas do Parque. Nestes Clubes de Raparigas (financiados pelo Parque) em horário pós-escolar, as adolescentes podem concentrar-se na leitura, estudar ciências naturais (ir em visitas de estudo ao Parque da Gorongosa), participar em actividades recreativas, aprender sobre segurança pessoal, saúde, nutrição e planeamento familiar. As raparigas vão ouvir falar sobre mulheres bem sucedidas através de livros, filmes e histórias e irão conhecer pessoalmente algumas delas. O objectivo dos Clubes de Raparigas é o de ajudar as meninas a terminar o ensino secundário, dar-lhes formação profissional, e diminuir a alta prevalência de casamento infantil e gravidez precoce nestas áreas rurais.

Greg Carr explicou que o Parque criou este programa com o apoio do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique e com a inspiração e ideias de programas similares que estão a ser lançados em todo o mundo, incluindo a iniciativa do Governo dos EUA "Let Girls Learn", recentemente promovida pela primeira-dama dos EUA, Michelle Obama.Participaram nesta cerimónia diversos membros do Governo de Moçambique, nomeadamente o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Balói, o Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia e o Ministro da Indústria e Comércio, Max Tonela. Estiveram ainda presentes o Embaixador de Moçambique nos EUA, Carlos dos Santos e a Primeira-Dama, Isaura Nyusi.Os Senadores Jeff Flake (Republicano) do Arizona e Chris Coons (Democrata) do Delaware – que visitaram o Parque da Gorongosa para avaliar o apoio do Governo Americano a esta parceria entre Moçambique os EUA - falaram durante o jantar, que contou com a presença do Embaixador dos EUA em Moçambique, Dean Pittman e muitos membros do Congresso. O Governo dos Estados Unidos, através da USAID, tem proporcionado um amplo apoio à Fundação Carr desde o início do seu envolvimento em Moçambique.Representantes das seguintes organizações também participaram: PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), Banco Mundial, o Instituto Médico Howard Hughes (HHMI), que apoia a educação científica de jovens Moçambicanos; a National Geographic Society, que apoia a conservação da fauna bravia no Parque da Gorongosa; e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), que tem ajudado na reflorestação da Serra da Gorongosa.