sexta-feira, maio 28, 2021

DiGnIdAdE

Naturalmente que por causa das circunstâncias do continente a nossa tendência é de enfatizar o que falta. Nesse tipo de discurso procuramos pelas “causas” dos nossos problemas e encontramo-las, facilmente, no mais simples, nomeadamente na corrupção, na mentalidade e por aí fora. Nunca fui partidário deste tipo de olhar sobre o continente porque não o considero analiticamente útil, nem mesmo plausível. É pura distracção.

É pior do que isso: é a nossa submissão a uma narrativa cujas condições de possibilidade estão, na verdade, na origem dos nossos problemas. É a narrativa do “desenvolvimento”. Parece boa coisa, mas não é. O facto de só nessa narrativa sermos capazes de falar de forma intelegível sobre os nossos problemas constitui para mim parte do problema, pois estamos reféns duma razão manipulativa que formula problemas e projecta-os sobre nós como se fossem realmente nossos problemas.

Com isto não quero dizer que a fome, a pobreza, o autoritarismo e, já agora, a corrupção, não constituam problemas. Há um certo sentido em que realmente são problemas, mas apenas como descrição da nossa condição e das dificuldades que temos de nos orientar num mundo que não foi feito por nós, nem à nossa medida. Então, mais do que problemas, estas coisas todas são a manifestação da nossa condição. É a esse nível que nos devíamos ocupar disso, mas como parece mais cômodo repetir o discurso fácil dos outros, persistimos nesta ideia nefasta que nos responsabiliza por coisas que, estruturalmente, estão longe do nosso alcance. Por enquanto, claro.

A nossa agenda não é o desenvolvimento. A nossa agenda continua a ser a luta pela independência. No centro dessa luta estava a preocupação com a dignidade humana de todos os africanos. Definir o que essa dignidade implica do ponto de vista material, político, cultural, etc. continua a ser o principal desafio intelectual, e político, que enfrentamos em África. É nesse esforço intelectual que vamos conseguir ver que o discurso do desenvolvimento não nos leva a sítio nenhum. Precisamos dum discurso que nos convide a reflectir sobre que princípios precisamos de promover para que os valores protegidos pela dignidade sejam garantidos nos nossos países. Tudo o resto virá daí, não hoje, nem amanhã, mas a longo prazo através duma entrega obstinada e persistente.

Está aqui, para mim, a importância do discurso do presidente angolano. Muito para além do reconhecimento da nódoa que o 27 de maio é na história angolana de luta pela dignidade, o presidente, de forma consciente ou não, comprometeu-se com a agenda da dignidade. Isso significa que com este pedido de desculpas ele elevou a sua própria fasquia moral e convocou o respeito pela dignidade como um dos principais critérios a observar na avaliação da intervenção estatal.

Quem sabe o descaso das nossas elites políticas em África, mas também das nossas sociedades – dói reconhecer isto, mas somos melhor tratados na Europa e mesmo nas Américas do que no nosso próprio continente e nos nossos países – em relação ao respeito pelo indivíduo sabe que muita coisa boa pode vir deste auto-compromisso do presidente angolano.

Só espero que ele tenha assessores à altura deste desafio, isto é pessoas com sensibilidade suficiente para saberem reflectir sobre as condições que precisam de ser criadas para este novo paradigma de governação tenha sucesso. Como não há bela sem senão, algumas passagens do discurso revelaram um cálculo político interno que me pareceu despropositado, por exemplo, quando ele manifestou o desejo de que a UNITA também faça o mesmo em relação aos seus podres.

Tirou um pouco o brilho ao discurso, pois com este passo ele não está a abrir o caminho para que todos aqueles que têm peso na consciência se declarem. Com este passo ele está a convidar os seus, sobretudo o seu partido, a reflectirem sobre o que cidadania significa e, consequentemente, o que governação significa. Fica mal confessar pecados, mas ao mesmo tempo denunciar os vizinhos ao padre, pois pecados são uma questão de consciência individual.

Eu tenho a certeza de que a preocupação com a dignidade, e se ela de facto estiver por detrás deste importantíssimo passo dado pelo presidente angolano, é não só a narrativa fundadora duma agenda política africana como também a condição que devemos satisfazer para nos libertarmos deste discurso imbecil sobre o desenvolvimento. João Lourenço vai entrar nos anais da civilização política deste continente se ele for consequente. (Professor Elíso Macamo)

 

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Uma avioneta das Forças Armadas de Moçambique, acaba de cair na zona de Hulene arredores da cidade e aeroporto internacional de Maputo. A bordo estavam dois ocupantes, dos quais, um contraiu ferimentos e outro saiu aparentemente ileso.

A avioneta atingiu tecto de uma residência e muro de vedação da Escola Primária Completa de Hulene “B”, que fica bem ao lado do campo onde a aeronave despenhou. O director da Escola garante que nenhum aluno foi atingido pelos estilhaços, já que todos estavam nas salas de aula aquando da queda.

Até aqui, desconhecem-se as razões do despenhamento e a Polícia da República de Moçambique, presente no local, disse que qualquer explicação seria dada no aeroporto e que, por enquanto, nada poderia ser avançado.

Testemunhas que estavam no local dizem que o incidente foi repentino, sendo que, depois do despenhamento, houve um estrondo, que “até aqui só havia visto na televisão”, tal como relatou a senhora Celeste, residente do bairro Hulene “B”.

Segundo as informações preliminares, a aeronave sofreu danos ligeiros e não há feridos, disse à Lusa João de Abreu, presidente do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). "Temos uma equipa no local", detalhou. Fonte oficial das Forças Armadas moçambicanas também confirmou o acidente, acrescentando que foi destacada uma equipa para o local.