quarta-feira, maio 18, 2022

Roubo precoce de "tibone"

A produção de carnes vermelhas no distrito da Moamba tem vindo a ser perigosamente ameaçada, de­vido aos frequentes ataques prota­gonizados por crocodilos e hienas principal­mente na localidade de Muchia.

Criadores de animais da zona de Muchia, no dis­trito da Moamba, província de Maputo, queixam-se dos ataques perpetrados por crocodilos e hienas contra os seus animais. Segundo apurou Dossiers & Factos, são vários os animais que já caíram nas “gar­ras” destas duas espécies.

Em contacto com a nossa equipa de reportagem, Jorge Lucas conta que perdeu grande parte do seu rebanho de cabritos. "Eu tinha cerca de 50 cabritos, mas agora fiquei com apenas 10 cabritos por causa dos crocodilos que atacaram os meus animais”, disse Lucas, que viu os crocodilos a retardarem-lhe a vida.

"Para além dos crocodilos, um outro grande pro­blema são as hienas, que também têm vindo a ata­car os bois e os cabritos”, acrescenta Victor Soto, mo­rador de Muchia. De acordo com esta fonte, grande parte dos animais são atacados quando se aproxi­mam ao rio Incomati.

Os criadores de animais culpam a exploração de areia nas margens do rio Incomati, pois, segundo eles, estes ataques de crocodilos não existiam antes do início da exploração. Em causa estará, supostamente, o facto de os exploradores de areia não res­peitarem o leito do rio, o que leva a que os crocodilos saiam mais.

A equipa do D & F procurou apurar o número exacto de animais que são dados como mortos por conta destes dois grandes vilões, mas os pe­cuaristas não precisaram o nú­mero, mas nos garantiram que o mesmo é elevado e que os ca­britos têm sido os animais mais atacados.

Sem resposta da Direcção Provincial da Agricultura, que garantem saber do problema, os pecuaristas procuram formas de espancá-lo, vedando o flanco pelo qual costumam ser feitos os ataques, na esperança de reduzir a perda de animais. A verdade é que esta medida, ainda que re­duza o problema, revela-se insu­ficiente, pelo que continuam a lançar o grito de socorro a quem é de direito.

Este é mais um desafio para a província de Maputo, que já revelou a ambição de catapultar a cadeia de valores das carnes vermelhas.  O distrito de Moamba conta com um efectivo de 76 mil bovi­nos, 2 mil ovinos , 109 mil capri­nos, 6 mil suínos, 89 mil aves e 3 mil e 843 caninos.

 

Quem vence? Exército ou o povo?

 Esta guerra já não é apenas entre a Rússia e a Ucrânia. É cada vez maior o envolvimento, através de ajuda militar e de sanções, de muitos países que passaram a ser parte, embora por ora não beligerante, no conflito. Em moldes todavia nunca comparáveis ao sofrimento da população da Ucrânia, as respectivas sociedades estão a começar a sentir as consequências do prolongamento da guerra.

Parece não ter sentido que os países envolvidos no apoio à Ucrânia fiquem a aguardar o resultado, cada vez mais duvidoso, de um processo negocial, aparentemente suspenso, entre Kiev e Moscovo. Há dimensões do conflito, como fica evidente na questão das armas nucleares, que vão muito para além da situação concreta da Ucrânia, embora com ela interligada.

António Guterres disse hoje que não parece haver condições para um cessar-fogo bilateral. Porquê? Porque entende que a Rússia pretende estabilizar alguns dos seus ganhos e não completou o cerco de isolamento que pretende fazer à Ucrânia pelo sul. E também porque o secretário-geral da ONU pressente que a Ucrânia, forte do apoio militar crescente com que conta reverter a sorte do conflito, avalia que as próximas semanas lhe podem trazer vantagens. Um dos dois contendores está enganado na sorte que o relógio lhe pode trazer, mas só no final se saberá qual.

É imperioso sair do impasse da situação no terreno. Os países ocidentais, mantendo-se sempre firmes no apoio que dão à Ucrânia - essa é, aliás, a expressão essencial do seu poder neste contexto - deveriam abrir uma frente negocial directa com Moscovo. Um conflito que pode escalar para proporções (in)imagináveis não pode ficar dependente exclusivamente dos eventuais resultados de uma diplomacia ucraniana acossada pela agressão e pela expectativa ansiosa da evolução da situação militar no seu terreno.

O envolvimento negocial ocidental deveria, como é óbvio, associar plenamente a Ucrânia e ter no centro os seus legítimos interesses de soberania, mas igualmente não poderia deixar de ponderar as consequências económicas, e em breve também sócio-políticas, decorrentes do efeito “boomerang” das sanções e dos previsíveis problemas decorrentes da situação dos muitos refugiados que não poderão ainda regressar à sua terra. Há que ter consciência, e aparentemente ela parece não existir, de que o momento óptimo de consenso entre os aliados vai começar a diluir-se, por virtude dos efeitos do inevitável desgaste de vontade, em vários países europeus.

O mundo que Vladimir Putin conhece é o da força. Ora o ocidente tem hoje, nas suas mãos, dois instrumentos negociais que podem ser decisivos para qualquer compromisso: a sua capacidade e determinação em poder continuar a armar a Ucrânia, colocando-a em condições de ir “empatando” a guerra, e o fortíssimo pacote de sanções, que, recordo, foi posto em prática por virtude da agressão russa, pelo que parte do qual pode ser usado como moeda de troca na hipótese de um eventual compromisso.

Macron mantém o número de telefone de Moscovo. Draghi deu sinais, em Washington, de que favorece um caminho de um diálogo exigente, sempre sob uma posição comum. Berlim, nesta sua fase hesitante, conta bastante pouco para ousadias. O jingoísmo descabelado de Boris Johnson ecoará o que Washington ditar. É nos Estados Unidos que reside a chave de um eventual novo tempo neste processo, pelo que compete aos europeus lembrar-lhes que é só deste lado do Atlântico que, por agora, continua a guerra.

A História mostra que, para pôr termo a um conflito, ou se derrota totalmente o inimigo (e a Rússia não é derrotável, enquanto potência, como sabe quem sabe destas coisas) ou se fala com ele para ir aferindo das hipóteses de um acordo. Pensar que o tempo corre sempre a nosso favor é uma ingenuidade perigosa.

 

terça-feira, maio 10, 2022

Outra perspectiva do #Dubaiportapotty?

Algumas semanas atrás, na minha volta de Uganda, em embarcar no voo que ia para Addis Ababa deparei me com uma multidão de jovens, cerca de 100 acho, e podiam ter entre 18-20 anos. Num primeiro momento pensei que talvez estivessem participando de uma actividade religiosa. Mas olhando bem, notei que eram divididas em grupo e que cada grupo tinha um “uniforme” diferente e as camisetas tinham estampado algo tipo “working abroad international”. Fiquei mais curiosa até que no avião, uma delas ficou de se sentar ao meu lado. Ajudei a jovem a por o cinto e a indicar, em gestos, o que tinha de fazer. Era claramente a primeira vez que subia num avião. O passaporte que carregava bem apertado nas mãos era novo. Muito tímida, nem levantava a cara e continuava a ter os olhos bem baixos.

Perguntei se falasse inglês e respondeu que sim. E perguntei: “onde vão todas vocês?” Vamos a trabalhar na Arabia Saudita, respondeu ela. Arabia Saudita??? Acho que a minha expressão facial ficou assim diferente e talvez assustadora que a jovem decidiu não falar mais. Tentei criar uma conversa para saber mais mas ficou silenciosa. Estava também atenta a sua primeira experiência de avião. Mas comecei a pensar se as razões para ir tão longe seriam mesmo ligadas ao que a jovem respondeu; e como uma mãe e pai podiam deixar uma filha ir naquela tenra idade. Lembrei me que um dia antes, um amigo em Kampala, durante uma conversa, compartilhou que eles tem sérios problemas de desemprego e muitos decidem sair a procura de outras oportunidades. Tentei ligar as duas coisas, mas mais pensava mais ficava preocupada com as jovens.

 Descendo do avião tentei criar conversa com um senhor: “então todas estas jovens vão mesmo para Arabia Saudita?” E ele comentou que todos os dias, de Entebbe, saem voos cheios de jovens mulheres mas também homens para ir trabalhar na Arabia Saudita. E depois uma rápida procura on-line encontro o seguinte (Alto Comissariado das NU para Direitos Humanos). A Arábia Saudita é um país de destino para homens e mulheres submetidos ao tráfico de pessoas, especificamente trabalho forçado. Homens e mulheres da Ásia e da África viajam voluntariamente para a Arábia Saudita como empregados domésticos ou outros trabalhadores pouco qualificados, mas alguns posteriormente enfrentam condições indicativas de servidão involuntária, incluindo restrições de movimento e comunicação, retenção de passaportes e outros documentos de viagem, ameaças, abuso físico ou sexual e falta de pagamento de salários. O governo indiano não permite mais que suas cidadãs com menos de 40 anos aceitem empregos como empregadas domésticas em lares sauditas devido à alta incidência de abuso físico por parte dos empregadores. Acredita-se que muitas mulheres foram forçadas à prostituição na Arábia Saudita; outros teriam sido sequestrados e forçados à prostituição depois de fugirem de empregadores abusivos. Antes de ir em bora, apenas entreguei o meu cartão à jovem, esperando que não irá precisar de ajuda! Senti me mesmo sem chão para andar!

In Facebbok Tina Lorizzo