quinta-feira, abril 30, 2015

Barrarijo:vencedor e honesto

Lucas Barrarijo, Lucas II para muitos, já não é treinador da equipa principal de futebol do Clube Ferroviário da Beira por ter colocado o seu lugar à disposição da direcção da colectividade que, entretanto, aceitou a sua decisão. Fica-nos a ideia, portanto, de que Lucas não foi propriamente demitido, como se pode depreender.
Para trás ficam aproximadamente três épocas recheadas de muitas alegrias algumas das quais jamais vividas num clube que há muitos anos investe “rios de dinheiro” na sua equipa principal de futebol sem, contudo, ainda ter atingido o topo, ou, dito de forma mais directa, sem ainda ter ganho um campeonato nacional, o nosso Moçambola.
Resultado de imagem para lucas barrarijoLucas deixa assim nas vitrinas do clube duas Taças de Moçambique. Deixa igualmente um vice-campeonato nacional e duas meritórias participações consecutivas nas afro-taças, nas quais, verdade se diga, a sua equipa não se portou tão mal como se pode julgar por ter sido eliminada. E este ano até foi mesmo afastada um pouco porque o adversário teve de recorrer a algum extra-jogo para lograr os seus intentos.
Não se pretende com estas linhas apoiar ou discordar da sua saída. Longe disso, até porque no desporto o critério são os resultados e quando eles não aparecem, como é neste momento o caso do Ferroviário da Beira, normalmente o treinador é o sacrificado.
Pretende-se, tão-somente, recordar que mais do que as duas Taças de Moçambique e o vice-campeonato nacional que conquistou, no meu entender, Lucas foi, neste período em que orientou o Ferroviário da Beira, um treinador que teve sempre coragem de lançar novos jogadores.
Estamos habituados a treinadores que resistem a isso, preferindo agarrar-se às “velhas glórias” sob pretexto de que só elas lhes dão garantias hipotecando dessa forma o futuro.
Mas no Ferroviário da Beira Lucas voltou a afinar por um diapasão que lhe é característico enquanto treinador de futebol. Quem acompanha ou acompanhou a sua trajectória sabe perfeitamente disso, e que esta foi sempre a sua postura desde os tempos do Têxtil do Púnguè.
Só para refrescar algumas memórias, nessa altura - do Têxtil do Púnguè - em que dava os seus primeiros passos como treinador, Lucas andava pelos bairros à busca de jovens talentos que depois lapidava e lançava na alta-roda. Só para exemplificar e para quem eventualmente não tenha conhecimento, Caíto, que se tornou depois capitão do Costa do Sol e cliente da Selecção Nacional, foi também “descoberto e atirado às feras” por Lucas.
Como dizia, no Ferroviário, Lucas voltou a adoptar a sua forma de estar e aqui teve a felicidade de encontrar uma colectividade que conta com um autêntico viveiro de novos talentos, o que naturalmente tornou relativamente mais fáceis as suas pesquisas.
Resultado de imagem para lucas barrarijoAbra-se aqui uns parênteses para dizer que o Clube Ferroviário da Beira deve ser das poucas colectividades no país que nunca fechou as suas portas às acções de formação, mantendo sempre os respectivos escalões.
Aí, Lucas deu-se bem. Nunca hesitou e foi dando oportunidades a todos os jovens que se revelassem muitas vezes perante a incredulidade de outros “entendidos”.
Para não estarmos a elaborar “no escuro”, basta citar os nomes de Reinildo e seu irmão Mandava, mais recentemente de Gildo, Dayo e Edson, tudo “prata da casa” que Lucas lançou e que hoje são certezas do futebol nacional.
Tanto é assim que pelo menos Reinildo, Gildo e Dayo já são clientes assíduos da Selecção Nacional sub-23, por enquanto, mas com largas possibilidades de chegarem à equipa principal, aliás o primeiro já chegou a ser opção.
Para dizer, portanto, que Lucas não só deixa no Ferroviário da Beira as duas taças e o vice-campeonato, mas também alguns jogadores jovens para o clube e para o país e, mais ainda, um exemplo para outros treinadores, principalmente nacionais que hesitam e não têm coragem de lançar novos atletas, hipotecando, como digo, o seu futuro e o futuro do país.
Eliseu Bento

terça-feira, abril 28, 2015

Meus irmãos sul-africanos,

     não creio que vocês padeçam de suposta amnésia existencial, enquanto violentam os moçambicanos. Mas vejamos: em todo o vosso acto, com que golpeiam os moçambicanos, mais do que a dor que vocês nos causam, expõem-nos as sequelas do Apartheid, a luta em que estávamos irmanados, e de que vocês, infelizmente, se esqueceram. Nestes corpos que vemos massacrados pelas vossas mãos, expõem a memória cruel das mãos que vos chacinavam, da mesma forma que vós nos chacinais. Essas vossas mãos transformaram-se para além do que se podia supor. E agora espelham semelhante carga inegável do mesmo ódio com que, em Fevereiro de 1981, um destacamento especial das Forças de Defesa e Segurança (SADF) do regime racista da África do Sul lançou um ataque contra as residências do Congresso Nacional Africano na Matola, nos arredores de Maputo.
Eu era miúdo. Lembro-me muito bem dessas imagens de terror, das tropas sul-africanas, dirigidas por Pieter Botha e Magnus Malan, a lançarem ataques contra o país, através de lança-granadas e armas ligeiras. Não são diferentes, porquanto mostram os corpos dos nossos concidadãos mortos pela vossa intolerância.
Se as mãos do Apartheid nos assassinavam por alegado pretexto de perseguirem membros do ANC refugiados em Moçambique, e que lutavam contra o referido regime segregacionista, torna-se-me impossível discernir o que preside ao vosso ódio, pois muitos destes a quem matais ressuscitaram de outras tantas mortes e golpes dos boeres. Foram milhares de vezes que nós morremos, por servirmos a vossa causa. Morremos quando o Apartheid assassinou a professora da UEM Ruth First, morremos na tentativa de homicídio contra Albie Sachs, na capital.Nós morremos milhares de vezes em “raids” do Apartheid contra a nossa indústria, na Matola. Ressuscitámos, porque sabíamos que não havia tempo para morrer. A nossa missão era libertar-vos. Era uma causa prioritária e superior.
Onde começa o humanismo está a ponta do fio para contar a história. E nisto o nosso internacionalismo, a nossa fraternidade, nunca pesou para o lado das contrapartidas. Sempre teve valores altos.
Esta carga de violência com que vocês nos expulsam da vossa terra não difere em nada da forma como a Polícia racista vos confinava nos guetos, perseguia os nossos cidadãos indocumentados e os repatriava às sextas-feiras, através da fronteira comum da Ressano Garcia.
Talvez haja na vossa amnésia uma forte cegueira.
Mas quero recordar-vos que esses cidadãos que vós matais são os mesmos que acenaram com benevolência à nata de dirigentes do ANC no nosso país, entre os quais Lennox Lagu, Joe Slovo, Frenny Ginwala, Esop Pahad, Jacob Zuma. Estes a quem vós assassinais não têm tempo para morrer, porque revivem a amargura com que, depois dez anos nas masmorras do Apartheid, Zuma aqui chegou e encontrou acolhimento.
Recordam-se do Zuma a conduzir um Volkswagen, sem ameaça de nenhuma ordem?
O Thabo Mbeki e muitos jovens estudantes e combatentes na clandestinidade devem estar lembrados da forma como aqui foram acarinhados e passaram momentos de lazer, em cumplicidade com familiares de muitos dessas vítimas da vossa irracionalidade. Em Maputo, muitos guerrilheiros e comandos das células clandestinas do ANC e do PAC usufruíram da cúmplice protecção dos moçambicanos, que também se incorporaram na vossa causa. Talvez muitos de vós não sabeis que esses a quem vós matais eram aqueles que serviam os vossos líderes, em casas atribuídas pelo Estado moçambicano (alguns contam-me, em depoimentos, que, antes de fazerem o sorteio, chegavam a possuir chaves de três moradias deixadas por portugueses) no Triunfo, Sommerschield, Polana, defronte da Escola Internacional e nas avenidas “Mateus Sansão Muthemba”, “Julius Nyerere”, etc.
Enquanto o Apartheid atacava o país, os valentes filhos desta terra a quem agora apedrejais baptizavam uma avenida de Maputo com o nome de Albert Luthuli, primeiro presidente do ANC.Essa herança de luta gerou matrimónio entre os dois Estados e os dois povos e sedimentou, através do calor e sangue comuns, como o forte e indestrutível betão que vós estais a destruir sem razão aparente.Há uma pergunta que me não cala no fundo da alma: Porquê, meus irmãos sul-africanos, matam moçambicanos? Why, my south african brothers, do you kill mozambicans? (Adelino Timóteo in Facebook)
Parecem aquelas mesmas mãos do Apartheid em incursões militares aqui em Maputo. As mãos xenófobas deixam nos moçambicanos impressões digitais cruéis, da mesma forma que as mãos racistas as deixaram no seu rasto de destruição no Choupal, por destruidoras que são. Ainda me resistem na memória as imagens fotográficas, no jornal “Notícias” e na revista “Tempo”, dos rostos dos soldados sul-africanos, com rostos pintados de graxa, abatidos na Matola, depois de assassinarem os nossos e os vossos.
(Na foto Daviz Simango,Presidente do MDM)

Estupefacto!!!!!


O Presidente da República visitou a Província de Maputo. No final fez um balanço, cujo resumo foi apresentado em vídeo no portal do Governo. Três assuntos despertaram a minha atenção, todos eles reveladores duma maneira de fazer e pensar a política que dificilmente nos levará a lugar que seja. Acho. E não é a primeira vez que reclamo sobre estas coisas. A primeira coisa que chamou a minha atenção foi a constatação que o Chefe do Estado fez sobre a coincidência entre o anseio do governo pela paz e o anseio da população pela paz. Repito: toda a gente em Moçambique, incluindo a Renamo, quer a paz. Não há nenhuma controvérsia aqui. A controvérsia está nesta pergunta: que tipo de paz? Enquanto o discurso não for para além da constatação de que o povo quer a paz (eu quero paz eu!) vai ser difícil traçar uma estratégia útil para lidar com os inimigos da paz, onde quer que eles estejam. Infelizmente, não há novidade nesta constatação. Todos queremos a paz, mas que paz e como?
A segunda coisa que me chamou atenção foi a afirmação, segundo a qual a sua delegação teria constatado que a Província de Maputo tem potencial para a criação de gado. 40 Anos após a independência do País, mais de 100 anos desde a colonização efectiva de Moçambique pelos portugueses, o terceiro Presidente democraticamente eleito da República de Moçambique descobre que a Província de Maputo tem potencial para a criação de gado! Eu fico estupefacto quando oiço coisas do gênero. E ele continuou dizendo que apelara à Província para se concentrar na produção de carne, leite, etc. “… para sairmos gradualmente da dependência de carne (suponho que se refira à dependência da carne importada)”. O maior problema está justamente aqui. Um Governo dispõe de instrumentos para fazer política. O apelo é um deles, mas não é suficiente. Mais interessante seria saber que instrumentos fiscais, que apoios materiais, que estratégias económicas, etc. o seu governo vai adoptar para que o potencial pecuário da Província de Maputo seja realmente explorado. Porque a Província pode, de facto, se concentrar em obediência ao chefe. Mas sem um quadro institucional, fiscal e económico claro pode não conseguir fazer nada. Não obstante, mais grave do que esta omissão vai ser a omissão dos partidos de oposição, dos meios de comunicação de massas e dos investigadores que não vão pegar em nenhum destes assuntos e produzir uma discussão mais útil. Ao fim de cinco anos alguém, ou ele mesmo, vai de novo descobrir o potencial da Província…
A última coisa que me chamou atenção foi aquela parte que nunca falta nos comícios com a “população”, aquela parte, portanto, da lista de compras. No eufemismo político moçambicano chama-se de apresentação de preocupações ou questões. Quais foram? A população quer água, energia e estradas. O que disse o Presidente? Sabemos, estamos à espera da aprovação do Orçamento, está no Plano Quinquenal, etc. Esta é a cultura política do Estado-Pai, uma cultura que promove a dependência, a falta de responsabilidade cívica e a centralização do poder. Para quando um Governo que aborda estas listas de compras com uma mensagem política clara de devolução da responsabilidade, uma mensagem que procura por soluções que vão apenas complementar os esforços locais? Neste ponto o Presidente é apenas porta-voz dum modo de fazer política que é bastante generalizado entre nós e que precisa urgentemente de ser ultrapassado.Moçambique dificilmente vai mudar com mais do mesmo. É nossa obrigação, como esfera pública, interpelar os fazedores de política para mudarem de discurso e, quem sabe, de práticas… Alguém vai ver mesquinhice inútil neste tipo de interpelação, como sempre. Eu vejo crítica constructiva. Jaimito (Langa), o que achas? (Elísio Macamo in facebbok)

quinta-feira, abril 23, 2015

Traçado para contornar as cheias



O governo moçambicano vai lançar em breve estudos de engenharia visando a construção de uma estrada alternativa à Estrada Nacional Número Um (EN1), que deverá ligar o distrito da Moamba, na província meridional de Maputo, e a região de Espungabera, em Manica, centro do país.Segundo o Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Carlos Bonete, citado pelo “Notícias”, a ideia é que a estrada siga o traçado Magude-Motaze-Chókwè-Mapai-Machaila- Massangena-Espungabera, incluindo uma ponte sobre o rio Save.A estrada ligaria, desta forma, as províncias de Maputo, Gaza e Manica e seguiria um traçado em que parte dos troços já está a ser realizado, como é o caso de Magude-Motaze e Chókwè-Mapai.No traçado em causa, segundo Bonete, tem-se em conta que a estrada Espungabera-Chimoio (centro), com perto de 240 quilómetros de extensão, já está ligada à rede nacional.A existência duma alternativa à EN1 está a ser equacionada há vários anos, sobretudo, porque o actual traçado da estrada é sistematicamente afectado pelas cheias que invariavelmente interrompem a transitabilidade.O programa do Governo inclui igualmente as estradas Chissano-Chibuto (sul) que até então servia de alternativa em caso de problemas na baixa de Chicumbane. O referido troço foi, à semelhança de Guijá-Chibuto, afectado pelas cheias da época 2013-2014.

"Sofrer nas matas"



O estadista moçambicano, Filipe Nyusi, encorajou a população do distrito de Marracuene, província meridional de Maputo, e do país, em geral, a falar com os seus “irmãos que estão a sofrer nas matas” a se juntarem à sociedade, pois, este é o momento para que todos se unam, trabalhem e desenvolvam o país.Nyusi falava num comício realizado no âmbito da sua visita à província, que já vai no segundo dia, reagindo, por sinal, às ameaças do líder da Renamo, o maior partido de oposição, Afonso Dhlakama, segundo as quais se o seu projecto de criação de “Províncias Autónomas” não for aprovada na Assembleia da República, o parlamento moçambicano, irá criar instabilidade e insegurança no país.“Os grandes países que estamos a ver, depois de um ciclo eleitoral, não se batem, trabalham e esperam por uma outra etapa. É por isso que estão a crescer. A guerra é para ganhar quê? Dêem a contribuição, explicando o que é bom e o que não é bom. Têm de saber que devem trabalhar para poder evoluir. Não gostaria de ajoelhar e pedir só a um outro moçambicano e dizer que quero paz, porque esse e qualquer um de nós tem a missão de trazer a paz para este país”, disse.Assim, neste processo, Nyusi recomendou que a paz, unidade nacional e desenvolvimento devem ser os conteúdos a serem usados nas mensagens que se pretendem transmitir.

quarta-feira, abril 22, 2015

“Se não tivesse estudado em África,seria difícil falar do continente ”



O Governo chinês atribuiu, em 2014, um total de 7.833 bolsas de estudo a África, das quais pouco mais de cem (100) a Moçambique.A África é o segundo maior receptor de bolsas de estudo da China depois do continente asiático. “Este é apenas o número de bolsas atribuídas pelo governo através do Ministério da Educação. Há outros africanos que estudam na China mas com outros apoios, incluindo auto-financiamento”, disse o Director Geral do Departamento de Cooperação e Intercâmbio Internacional no Ministério chinês da Educação, Cen Jianjun.
Resultado de imagem para Cen JianjunFalando Terça – feira (21), em Beijing, num encontro com jornalistas africanos em estágio profissional na China, Cen disse ainda que o governo chinês melhorou o valor pago por cada bolsa de estudo.Ele não avançou nenhum montante nem a percentagem do aumento mas sabe-se de outras fontes, que a medida, com efeitos a partir de Setembro de 2014, determinou que para o grau de licenciatura o montante da bolsa varia de um mínimo de 59.200 yuanes (cerca de 9.400 USD) a 66.200 yuanes por ano. Para o mestrado, o valor oscila entre 70.200 e 79.200 yuanes e para o doutoramento entre 89.800 e 99.800 yuanes.Sabe-se que a propina para os estudantes estrangeiros na China custa, em média, 20 mil yuanes por cada ano de licenciatura, 25 mil para o grau de mestre e 32 mil yuanes para doutoramento.Por outro lado, Cen disse haver, nos últimos tempos, um crescente número de estudantes chineses interessados em se graduar em universidades africanas ou a especializarem-se em assuntos africanos.“Se eu não tivesse estudado em África (Nigéria), seria me difícil falar deste continente com algum detalhe”, disse, por seu turno, Liu Hongwu, docente e director geral do Instituto de Estudos africanos da Universidade de Zhejiang, na China.Liu, também presente no encontro e que é igualmente director da Associação de Amizade entre povos africanos e chinês, disse que optou por África por inspiração de alguns seus professores que também estudaram no continente negro.Segundo ele, durante a sua passagem por África percebeu e defendeu que a educação tem de estar virada as necessidades de cada país, destacando, no caso vertente, as áreas de saúde, agricultura, educação, entre outras.