quinta-feira, julho 16, 2015

Registada como “Malvinda”, porque a gravidez não tinha sido boa

Um pouco por todo o país, os serviços de Registo Civil tem estado a registar um movimento desusado de cidadãos que solicitam a mudança de nome. Uns porque acham que a sua vida anda às avessas devido ao nome que receberam e que dá azar. Outros porque descobriram que o nome é feminino, enquanto são rapazes. E ainda há quem faz a troca porque o seu nome, numa outra língua, é um autêntico palavrão.Só na cidade de Maputo, na Primeira Conservatória de Registos e Notariado correram 38 requerimentos para a troca de nomes, sem contar com magotes de outros processos de pedido de mudança de grafia, porque o nome está mal escrito, a data de nascimento está errada e os nomes dos pais, não tem nada a ver.Observa-se igualmente que muitos pais residentes nas zonas urbanas escusam-se de atribuir aos filhos nomes como João, Filipe, Felisberto, Jorge, José ou Mário, bem como nomes femininos como Luísa, Maria, Ana, Paula, Francisca, e por aí em diante. Agora sobram Agnes, Milson, Sholtz, John, Duke, Sunilton, Colin, entre outros do género.Enquanto produzíamos a presente Reportagem, apurámos que uma família submeteu um pedido de rectificação de grafia do nome que tinha atribuído ao filho, porque descobriu que Nicole não é nome masculino, mas, sim, feminino. O rapaz tinha beneficiado de alguma zombaria na escola.Dados em nosso poder indicam que os pedidos para a troca de nome não são um fenómeno isolado da Primeira Conservatória da cidade de Maputo. “Há muitos em curso um pouco por todo o país”, indica fonte ligada ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos. Os factos remontam ao momento em que os pais se veem confrontados com a necessidade de dar um nome a um filho já nascido ou a caminho. Por vezes o evento é pacífico. A família, sem fazer grande esforço, oferece um nome tranquilo e o beneficiário cresce numa boa, sem fazer nenhuma objecção à designação que lhe foi oferecida. Porém, casos há, e aos milhares, em que o nome vira pesadelo para o dono e, o único remédio é trocá-lo mesmo. Por exemplo, Tristeza e Miséria parecem nomes corriqueiros, mas muitas mulheres começam a rejeitá-los porque não lhes trazem nenhuma felicidade. Ao contrário de Alegria, Esperança, Felizarda e Felicidade.Aliás, parte das beneficiárias destes nomes, quando se encontram perante o infortúnios da vida, de tipo falta de namorado, emprego, dinheiro e filhos, vão à busca de respostas em igrejas evangélicas ou no submundo dos curandeiros que, entre outros, questionam “como queres ser feliz e sortuda com um nome que remete à desgraça”. Para o caso de crianças, o confronto com o nome começa a ser difícil no contacto com colegas de escola, pois, é frequente ser vítima de zombaria no seio escolar a ponto do menor desistir por causa do nome que não ajuda. Exemplo, Mainato Manteiga, Alfinete Canivete, Sabonete Candeeiro Fogo, entre outros, são nomes susceptíveis de escárnio de “baliza aberta”. Na pesquisa que desencadeamos, constatamos que alguns pais optam por oferecer nomes difíceis simplesmente porque pretendem vincar um determinado episódio, por vezes negativo, que terão enfrentado durante a gestação ou no namoro.A título de exemplo, Esperança Nhangumbe, conservadora e directora da Primeira Conservatória da cidade de Maputo, revela que já recebeu uma mãe solteira que pretendia registar a sua filha, já crescidinha, com o nome de “Malvinda”, só porque a gravidez não tinha sido boa. Daquelas que fazem a gestante fazer pensar seriamente em desistir da caminhada.Entretanto, e como era de esperar, os conservadores rejeitaram com um sonoro “não”, uma vez que o nome era pejorativo. “Aliás, a própria criança pediu para ser tratada por Dércia alegando que era vítima de chacota na escola”.  Dados em nosso poder indicam que, nos últimos tempos, progenitores mais jovens atribuem nomes aparentemente modernos aos filhos e, poucos meses ou anos depois, descobrem que cometeram o erro de dar um nome que numa outra língua é literalmente um palavrão.Há também situações em que pais oferecem aos filhos um nome feito de iniciais de ambos. Pai e mãe. O resultado é um composto bizarro que se torna difícil de pronunciar até para os próprios progenitores. Para não mencionar os avós. Fala-se de um casal que levava o nome de Ivan e Sofia. Deram ao filho o nome de Soivan, que lembra a marca de um tractor.Outros dificultam ainda mais a vida da criança e dos avós e primos ao rebuscarem o nome de Patrick Cluvert, antigo jogador de futebol holandês. Os avôs da criança mordem a língua para chamar o neto e acabam apelidando-o de Papaíto. Assim fica mais fácil. Papaíto. Na senda de oferecer nomes de fora aos filhos, os serviços de Registo Civil da capital do país já se depararam com situações fora do comum de um casal que decidiu atribuir ao filho o sugestivo nome de Heineken. Assim mesmo. Heineken. Segundo o pai do petiz, a ideia era homenagear o holandês que inventou a cerveja e não a bebida.Na mesma senda, aqueles serviços receberam uma família que tinha o plano de dar ao seu recém-nascido o nome completo de Nelson Mandela. Algo como Nelson Rolilhalha Mandela. Os funcionários daqueles serviços voltaram a torcer o nariz. Depois de ouvirem Heineken, este segundo caso foi para cair de costas.

DE VOLTA ÀS RAÍZES
O facto de Moçambique ter estado sob dominação colonial portuguesa em parte contribuiu para o desaparecimento dos nomes indígenas, sobretudo na província da Zambézia, onde muitos adultos ainda se apresentam com nomes de tipo Garfo Tigela, Penteado Azul, João Sabonete, Lurdes Vai Embora, Maria Faz Bem, Tudo Mal Feito, entre outros.Nos tempos que lá vão, quem quisesse ser um cidadão com mínimos direitos, de tipo assimilado, era condicionado a deixar seus hábitos e costumes e, automaticamente, assimilar a identidade e cultura portuguesas, muitas vezes porque os colonos desprezavam tudo o que era nosso.Pode se dizer que este acto era compulsivo, pois quem fosse registar o seu filho nunca lhe era permitido dar nome africano, de tipo Camizinga, Potesse, Bissopo, Nhantsave, kharige, entre outros. No lugar destes, muitos cidadãos acabaram recebendo nomes e apelidos como Alves, Pereira, Araújo, Teixeira, Costa, Silveira, Silva e mais.Com o acesso à informação, que hoje caracteriza a sociedade, muitos procuram resgatar a identidade perdida. Por conta disso, está a registar-se uma tendência de se rejeitar nomes de origem portuguesa e até se buscam os verdadeiros apelidos. Os Costas, Alves e Pereiras procuram ser Cossa, Mandlate, Nguila, Bambo, Guitsetse, por aí em diante.
De igual modo, e para os descendentes, muitos pais jovens começam a resgatar nomes feitos em línguas locais. Mas há ainda aqueles que preferem os brasileiros e americanos.“Há uns 10 anos a tendência era de buscar nomes de origem brasileira, como Walter, Edmilson, Edson, Emerson, entre outros. Actualmente, as pessoas buscam nomes tradicionais como forma de resgatar a identidade moçambicana. A maior parte destes nomes contêm significados diversos, desde alegria e agradecimentos. A título de exemplo temos Tsaquilke, Nkensany, Nkensa, Wanga, Mbonguile e mais”, referiu Esperança Nhagumbe.Perante este novo fenómeno, os serviços de Registo Civil têm sido obrigados a questionar o significado de alguns nomes que os pais apresentam, para evitar passar para o Boletim de Nascimento identidades que em outras línguas contêm significados pejorativos.Neste processo, quando os progenitores mostram sinais de não conhecerem o significado do nome que pretendem dar ao filho, o Registo Civil encarrega-se de investigar. “Já recebemos alguém que registou um nome e, pouco tempo depois, veio trocá-lo alegando que não desejava ver a sua criança com maus espíritos uma vez que tinha descoberto que o mesmo significava Satanás”, disse.

Azares por detrás dos nomes
“Os pais deveriam pensar muito bem antes de atribuir certos nomes aos filhos, pois essa é marca que fica para o resto da vida. Quando o nome nos desagrada torna-nos pessoas sem autoconfiança”, disse Esperança Nhangumbe.Por conta deste problema, há muitos casos de adultos insatisfeitos com os seus nomes e desejam trocar. Geralmente, têm um nome de registo, mas no seu meio social são conhecidos por outro nome, simplesmente porque não se identificam com o que consta nos documentos.“É por isso que apelamos aos pais para pensarem nos nomes antes de os atribuir aos filhos. Que não sejam egoístas. É sempre conveniente que se pondere no que o nome pode significar para os filhos que amanhã serão pessoas adultas, e irão carregar essa denominação pelo resto da vida”.No que se refere a eventuais azares que um nome pode “ostentar”, a nossa fonte disse acreditar nesta crença e alerta que “não podemos dar nomes que estão associados à maldade e a energias negativas, pois, à medida que são pronunciados se está também a invocar tais coisas más”.Mais adiante questionou “se a criança é um dom divino, então porquê começar a dar energias negativas cedo através do nome? É certo que o azar pode vir da crença da pessoa, mas é preciso que os pais evitem esses nomes. É triste quando somos rejeitados só porque temos um nome “feio”.

Estigmatizados

Para o sociólogo Carlos Bavo, a busca pelos nomes estrangeiros resulta da vontade humana de se integrar no sistema internacional através dos nomes. Por outro lado, este fenómeno está associado ao esforço para a recuperação da tradição perdida por força da actuação colonial.“A busca dos nomes não termina apenas nos africanos, mas sim nos americanos e brasileiros, isso porque essa é uma forma que as pessoas encontraram de internacionalizarem-se, já que estamos num mundo globalizado”, disse.No que concerne aos nomes estranhos atribuídos pelos pais, o sociólogo Bavo afirma que “as pessoas tentam fazer com que um determinado evento vivido no passado se reflicta na criança. Mas, isso pode trazer consequências para quem transporta o nome. Ela pode sofrer um estigma e até ser desqualificada por causa do nome”, disse.Avança ainda que é traumático quando ao começarmos a construir a identidade somos duramente criticados e “agredidos” por causa do nosso nome. “Quando a pessoa é discriminada pelos colegas ainda em tenra idade, mesmo sem tanta noção da auto-estima, isso desenvolve em si um sentimento de rejeição pelos próximos”.Por seu turno, o antropólogo Marílio Wane acredita que o facto de a colonização ter desprezado a cultura moçambicana faz com que as pessoas queiram e procurem recuperar a identidade que estava perdida. “Agora já ninguém pode impedir, por isso as pessoas sentem a necessidade de fechar esse défice.”No que concerne à adopção de nomes brasileiros ou americanos, Wane explica que isso se deve à forte influência e interferência cultural que o povo moçambicano sofre desses países. As novelas, programas brasileiros, futebol internacional e astros americanos influenciam-nos e é neles que vamos buscar esses nomes”, concluiu.

sexta-feira, julho 10, 2015

Olhar o norte com mais atenção

Resultado de imagem para educação moçambiqueO norte de Moçambique passará a merecer maior atenção das autoridades da Educação e Desenvolvimento Humano, por se ter constatado, nas reflexões feitas nos primeiros cinco meses, que é a região com graves problemas comparativamente às outras duas zonas - Centro e Sul.Doravante os melhores professores, materiais e investimentos serão direccionados para Nampula, Cabo Delgado e Niassa como forma de colmatar o desequilíbrio existente nas três províncias quando comparadas com as provincias meridionais de Maputo, Gaza e Inhambane, e as centrais de Manica, Sofala, Zambézia e Tete.Falando na tarde desta quinta-feira na cerimónia de recepção de três mil livros oferecidos pela Fundação José Abudo, o titular da Educação e Desenvolvimento Humano, Jorge Ferrão, é hoje citado pelo “Notícias”, a dizer que no início havia a ideia de que o sector está completamente mal. Entretanto, dos debates havidos percebeu-se que tem, afinal, aspectos positivos. Identificou-se os críticos, a sua localização e as possíveis soluções.
A título de exemplo, notou-se que enquanto no Sul e Centro há uma tendência de o número de raparigas igualar-se ao dos rapazes em diversos níveis de ensino, na parte norte as cifras das meninas encontram-se abaixo das dos efectivos do outro género.
É igualmente facto que da província de Maputo até Zambézia e Tete regista-se, no geral, uma descida dos números de alunos por turma, mas no Norte os efectivos continuam cerca de 70 em cada sala de aulas nas primeiras classes. Contudo, já na quinta o universo baixa drasticamente, o que ilustra elevadas cifras de abandono e/ou reprovações.
Resultado de imagem para educação moçambiqueÉ perante este cenário, aliado a outros dados que o governante não precisou, que se decidiu em virar as atenções para o Norte, encaminhando mais apoios, investimentos de vária ordem, incluindo o destacamento dos professores que se mostrarem melhores mas ainda afectos nas outras províncias.Reagindo à oferta, Ferrão reconheceu que as bibliotecas escolares estão muito mal equipadas, pelo que qualquer apoio em livros é um valioso contributo para que as crianças aprendam a ler, escrever e calcular.
A Fundação José Abudo tem como patrono o antigo ministro da Justiça e actual Provedor da Justiça.O director executivo da Fundação, Charifo Ali, disse que os três mil livros destinados ao ensino do 1.º ao 12.º ano do sistema português resultaram de parcerias da sua instituição com uma congénere lusa.Destacou que embora sejam do ensino português a ciência é universal, pelo que acreditam que serão úteis nas bibliotecas das escolas nacionais, não só para os alunos, mas também na planificação das matérias por parte dos professores.

Presidente reune com investidores portugueses

O Presidente da República, Filipe Nyusi, manifestou  em Maputo, o seu apreço com um grupo de 12 empresas portugueses que se distinguiram em Moçambique, cujo investimento global ascende a mais de um bilião de dólares, gerando mais de 44 mil postos de trabalho. Este grupo inclui o Novo Banco, Grupo Visabeira, Grupo João Ferreira dos Santos, Mota Engil África, Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, Soares da Costa, Millennium BCP, Contact, Portucel, Galp Energia, Grupo Entreposto e Teixeira Duarte.Este reconhecimento teve lugar durante um jantar com os representantes deste grupo de empresas e que também tinha por objectivo incentivar a manutenção do seu investimento em Moçambique e reafirmar a abertura do Governo moçambicano ao investimento externo, particularmente português.
Resultado de imagem para moçambique portugal“Vocês são os campeões na promoção do investimento em Moçambique. Gostaríamos de reafirmar que estamos disponíveis para o investimento, esperamos que as vossas empresas continuem a investir no país”, disse Nyusi, numa clara manifestação de apreço a este grupo de empresas.“O vosso papel tem sido importante na edificação da nossa economia, pois, o vosso investimento torna mais robusta a economia do país, através da criação de emprego e do estabelecimento do bom ambiente de negócios. Queremos trabalhar”, acrescentou Nyusi.O encontro, que contou com a presença do embaixador de Portugal acreditado em Maputo, José Duarte, tinha também em vista preparar a visita do Presidente moçambicano àquele país europeu, onde deverá manter contactos com outros empresários que operam nos vários ramos de actividade. Falando durante a cerimónia, o diplomata português explicou que este grupo de 12 empresas tenciona manter o seu investimento em Moçambique enquanto as portas do país se mantiverem abertas para o efeito.“Boa parte dos que aqui estão se estabeleceu no mercado moçambicano já há um bom tempo. Através das suas empresas já criaram mais de 44 mil postos de trabalho no país e investiram quase mil milhões de dólares. Reiteramos ao Presidente da República que pode e deve contar connosco para acrescentar o investimento”, sublinhou Duarte. Um dos maiores investidores portugueses no sector automóvel em Moçambique, Pedro Palhinha, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Entreposto, disse que o empresariado pretende manter sempre que possível o contacto com o Presidente da República, bem como estar a par dos seus objectivos e metas para desenvolver o país.
Resultado de imagem para moçambique portugal“Gostávamos de poder aproximar, sempre que possível, ao PR para perceber quais são os seus objectivos de governação e entender como ele olha para o investimento. Nós já investimos no país cerca de 200 milhões de euros e queremos continuar a investir no país.Acrescentou ainda que o maior consumidor das viaturas disponíveis na sua empresa é o governo, seguido pelas empresas e em última estância o consumidor singular. Reconheceu que “o moçambicano (cidadão comum) ainda enfrenta dificuldades para adquirir um carro quilómetro zero, ou seja um carro novo”.