quinta-feira, dezembro 30, 2021

Bom Ano Novo !!!!

 


Contra A COVID-19

A empresa produtora de drones, dos EUA, Zipline, assinou uma parceria com a Costa do Marfim, que irá facilitar a entrega de medicamentos e de materiais nas zonas recônditas.

A Costa do Marfim é o quarto país africano a assinar um acordo com a Zipline desde 2016.

A parceria tem em vista a construção e operação de quatro centros de distribuição para armazenar e fazer a entrega de materiais em demanda para mais de 1.000 centros de saúde. Espera-se que o primeiro centro esteja operacional até ao fim de 2022, de acordo com a Zipline.

Pierre N’gou Dimba, Ministro de Saúde, Higiene Pública e Cobertura Universal de Saúde da Costa de Marfim, disse que a parceria irá ajudar o país a alcançar a cobertura universal de saúde. “Avaliamos a capacidade da Zipline, as suas operações em outros países africanos com necessidades semelhantes às nossas, e verdadeiramente acreditamos que esta parceria irá ajudar-nos a remover as barreiras do acesso ao atendimento médico e criar um sistema de saúde mais equitativo e eficiente em todo o país,” disse Dimba num comunicado.

Pouco depois de registar o seu primeiro caso de COVID-19, o Gana tornou-se no primeiro país africano a utilizar os drones da Zipline para expandir as suas capacidades de testagem. Amostras de testes de COVID-19 foram recolhidas dos centros de saúde das zonas rurais, levadas para um centro de distribuição da Zipline e transportadas por via aérea, numa distância de 112 quilómetros, para a capital, Acra, para serem testadas e analisadas. Isso marcou a primeira vez em que drones autónomos foram utilizados para fazer entregas regulares de longa distância para zonas urbanas com alta densidade populacional e foi a primeira vez que drones foram utilizados para fazer a entrega de amostras de testes de COVID-19.

Desde essa altura, a Zipline entrou em parceria com Nigéria e Ruanda para efectuar a entrega de medicamentos e materiais relacionados com o coronavírus. Estes acordos incluem entrega de produtos de sangue, medicamentos e vacinas não relacionadas com a COVID-19. A Zipline distribui sangue através de drones em Ruanda desde 2016 e utiliza drones para fazer a entrega de vacinas, sangue e medicamentos em Gana desde 2019. Na Costa do Marfim, a Zipline será o único fornecedor para alguns centros de saúde das zonas recônditas. Espera-se também que a Zipline empregue trabalhadores locais em centros de distribuição, disse a empresa.

Israel Bimpe, director comercial de África, da Zipline, disse que espera que a parceria melhore drasticamente o sistema de entrega de produtos de atendimento médico do país. “A nossa tecnologia de logística instantânea e revolucionária, que está a ser destacada pelo mundo inteiro, irá melhorar amplamente o acesso e até a distribuição de produtos médicos para zonas recônditas e de difícil acesso,” disse Bimpe num comunicado. “É por esta razão que estamos animados com esta parceria, que, em termos gerais, irá melhorar as vidas da nossa população, garantindo que ninguém fique atrás em termos de acesso a produtos médicos.”


Vinil atinge máximo histórico

Em Inglaterra, as vendas de discos de vinil foram, este ano, as maiores dos últimos 30 anos.

Segundo dados oficiais, venderam-se no país, em 2021, mais de cinco milhões de discos neste formato, o que representa um acréscimo de 8% em relação a 2020. Este foi, também, o 14º ano consecutivo em que os valores registaram uma subida. Dentre os discos vendidos este ano, nos vários formatos, 23% eram de vinil.

Em primeiro lugar no top dos discos de vinil mais comprados este ano está o regresso dos ABBA, com "Voyage". O álbum "30", de Adele, surge em em segundo, e "Seventeen Going Under", de Sam Fender, em terceiro.

terça-feira, dezembro 28, 2021

Clube grande com grande problema de governação

Vieira contratou Jesus para mudar de assunto depois de um fracasso. Rui Costa despede-o para mudar de assunto depois de um fracasso. Jesus serviu para tudo menos para ganhar jogos. Só dinheiro

O cheque em branco do Benfica em 2020 acabou num xeque ao banco em 2021. O treinador sai forrado, Rui Costa desforrado e o Benfica segue saltando de nenúfar em nenúfar sobre um pântano de maus resultados. Jesus soube gastar dinheiro, soube ganhar dinheiro, só não soube ganhar troféus. Como o próprio disse uma vez, “ganharam bola”.  Zero.

“Zero titoli”, diria hoje de novo José Mourinho. 18 meses e mais de cem milhões de euros depois, nem houve “Benfica europeu” nem há Benfica nacional, nem taças nem campeonatos, e grandes vitórias só se foram camisolas contra coletes nos treinos no Seixal.

Provavelmente, a contratação de Jesus foi o pior investimento de sempre do Benfica. Foi contratado a ganhar mais dinheiro do que qualquer jogador em Portugal e teve os famosos “cem milhões” para construir a equipa que quis. Mais do que dependurá-lo hoje pelo fracasso depois de voltar ao sítio onde foi feliz, é preciso questionar a megalomania e a arrogância do Benfica, cujo então presidente sai agora coberto de ridículo de cada vez que se ouvem as suas promessas de “hegemonia”.

Um treinador treina, um presidente gere – e não é possível olhar para o investimento no projecto de Jesus sem concluir pelo rotundo fracasso. Alguns números que comparam 2020/2021 (depois de Jesus) com 2019/2020 (antes de Jesus). A folha salarial subiu de Benfica subiu de 85 para 97 milhões de euros (14%) mas as receitas caíram de 140 para 94 milhões (33%).

A pandemia só explica parte deste desaire: da queda de 56 milhões nas receitas, as perdas em bilheteira “só” representam 17 milhões. Onde o Benfica falhou foi nas receitas de competições internacionais. E nas vendas de jogadores: com o investimento realizado, o valor líquido do plantel aumentou de 103 para 146 milhões (41%) mas os ganhos líquidos com transações de jogadores caíram de 126 para 88 milhões (quase 30%). O investimento fez o passivo subir de 325 para 380 milhões (17%), reduzindo o (ainda sólido) capital próprio de 161 para 144 milhões (11%), depois de os lucros de 42 milhões de 2020 se terem transformado em prejuízos de 17,5 milhões em 2021.

Insisto: a covid-19 não explica tudo. Não só o investimento em Jorge Jesus é realizado em plena pandemia, no verão de 2020, assumindo pois esse risco, como tanto os resultados desportivos como os financeiros demonstram o fracasso de quem investiu. Mas porquê?

Porque Luís Filipe Vieira quis mudar de assunto. Tinha acabado de perder mais um campeonato, tinha eleições pela frente e obnubilou as mentes dos benfiquistas com o futuro para fazer esquecer o passado. Gastou o que foi preciso para isso, ganhou as eleições e prometeu o céu. Zero. Hoje fora do Benfica e dentro de um processo judicial, Vieira sai como o presidente que estourou dinheiro num desapontamento. E Rui Costa?

Rui Costa também usa Jorge Jesus para se safar. As manobras de comunicação dos últimos dias serviram para isso, para deixar o novo presidente do Benfica ileso. É por isso que Jesus é um seguro de vida dos presidentes, do que foi e do que está. Um seguro com apólice cara.

Jorge Jesus vai agora à sua vida, bem na vida e provavelmente de bem com a vida. Já o Benfica fica com um problema: a meio de mais uma época em perda e concluindo que o dinheiro não resolve tudo e pode mesmo não conseguir nada. O novo presidente tem a sua primeira prova agora, o bode Luís Filipe Vieira já não será expiatório para o que se segue.

É melhor Rui Costa pensar bem no que vai fazer, ou acabará também num lugar difícil: onde Jesus perdeu as botas.


Acabou!

O regresso de Jorge Jesus ao Benfica redundou num enorme fracasso.

Jesus fora a carta que Luís Filipe Vieira havia lançado para a mesa para ganhar o jogo da reeleição.

O ex-presidente dos ‘encarnados’ lançou mão de uma relação muito próxima (chamam-lhe amizade) e explorou até ao tutano o efeito do trabalho realizado por Jorge Jesus na liderança do Flamengo.

Jesus chegou a Lisboa de peito feito. Com o ego em alta. Inchado de orgulho e de conquistas no Rio de Janeiro. O seu discurso de (re)apresentação foi retumbante: era ganhar, jogar o triplo e unir a nação benfiquista.

Não ganhou, nunca jogou o triplo e desuniu ainda mais a já fraturada nação benfiquista. Talvez tenha unido ainda mais a fação mais radical contra a sua presença na Luz e perdido alguns ‘votos’ entre os apoiantes, porque perante o investimento também era legítimo esperar mais do seu desempenho.

A questão da união ou da desunião resultou determinante e foram elas que tiveram um peso inelutável neste desfecho.

Jesus acreditou que conseguia impor as suas ideias, métodos e forma de estar junto dos jogadores e do ‘aparelho’, mas essa ‘imposição’, isto é, a projecção da “autoridade com brutalidade” — o verdadeiro calcanhar de Aquiles do treinador — acabou por ser a sua guilhotina.

Há uma lei inexorável que Jesus desprezou, com toda a sua experiência: não há nenhum treinador que resista se não tiver o apoio dos jogadores.

A quebra de confiança foi decisiva: Jesus já não tinha a confiança de ninguém e o próprio Jesus já não confiava em ninguém. E, aqui, a responsabilidade é geral.

Jorge Jesus só funciona se tiver apoio máximo de toda a gente: do presidente, de cada um dos dirigentes (que ele genericamente despreza), da equipa técnica (com a qual chega a ser implacável), de cada um dos jogadores (se não houver veneração fica mais difícil), do tratador da relva e da águia Vitória (activa ou passiva).

Jorge Jesus acreditou que Rui Costa iria ser a sua rede. Não foi: por uma razão. Porque Rui Costa quer sobreviver. Rui Costa está numa fase em que faz crer que é capaz de liderar ou não.

Jesus rebentou, mas é preciso ter a noção de que há muitos culpados nesta incrível telenovela. O que se consentiu (os ‘cafezinhos’ do Flamengo), o que não se fez e as ilações a tirar de toda esta representação.

Um clube tão grande com um grande problema de governação. Esta é a verdade. Jesus constituiu-se num problema, mas o Benfica tem um enorme problema pela frente: redefinir o seu centro de poder e introduzir um treinador que ‘pense Benfica’ além de ‘pensar futebol’. Com uma ‘paixão racional’, com uma comunicação justa e equilibrada, com vontade de agregar e compreender o fenómeno global.

Jesus teve um problema adicional: o contraste estabelecido por Rúben Amorim, no Sporting. Rúben Amorim era o treinador certo para o Benfica, mas esse deixaram-no voar…

quinta-feira, dezembro 16, 2021

Captura ,é uma questão de tempo

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) abateram, recentemente, um dos líderes dos terroristas em Niassa. Trata-se de Maulana Ali Cassimo, um muçulmano conhecido em Mavago a quem se acredita que para além de liderar grupo terrorista também disseminava a propaganda jihadista e recrutava jovems para se juntarem aos extremistas.

Bernadino Rafael, comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (recentemente reconduzido ao cargo pelo chefe de Estado) confirmou que o terrorismo chegou a província de Niassa e a porta de entrada foi o distrito de Mavago.

“A seguir, a nossa patrulha, que chamamos de ‘Reconhecimento Combativo’, entrou numa emboscada onde os colegas combateram e, neste combate, foi atingido um dos terroristas que era procurado, chamado Cassimo. As pessoas de Niassa conhecem-no, era muçulmana em Mecula e, a partir da morte deste terrorista, tiramos a conclusão de que se trata de terroristas que atravessaram de Cabo Delgado para Mecula”, disse o comandante-geral da PRM.

Um estudo publicado recentemente pelo Observatório do Meio Rural (OMR), intitulado “Do inimigo sem rosto” fez referencia ao Maulana Ali Cassimo como um dos lideres dos terroristas. Trata-se de um indivíduo inteligente, bem articulado na língua portuguesa e com capacidade argumentativa. Maulana é um indivíduo claro, com cerca de 1,70m de altura. É natural de Lichinga, tendo concluído o curso médio de Agropecuária, no Instituto Agrário nesta cidade. É classificado de “ bom aluno ” por ex-professores. Trabalhou para a Mozambique Leaf Tobacco em Tete e em Cuamba. Alegadamente, foi após ter estado preso pela polícia (por não ter licença de condução) que ingressou no aparelho do Estado. Entre 2014 e 2017 foi técnico de Extensão Agrária no SDAE de Mecula. Devido ao seu envolvimento e dedicação na sua área de extensão, Maulana chegou a ganhar um prémio provincial. É descrito como carismático e com muita aceitação junto dos produtores. Ficou conhecido entre os colegas por ser rigoroso nos preceitos islâmicos (rezando cinco vezes ao dia) e por ser profissionalmente “activo” e “agitado”. É recordado por ter demonstrado, várias vezes, a sua revolta em relação à attitude das autoridades para com garimpeiros (em Mariri, na localidade de Mbamba) e caçadores furtivos na reserva do Niassa. Os colegas destacam a veemência com que criticava a extorsão de bens e detenção de 

jovens garimpeiros, justificando que a agricultura não constitui uma actividade rentável e que os jovens não dispunham de outras alternativas. Em defesa dos garimpeiros, com quem tinha relações, insurgia--se abertamente contra as autoridades do distrito, inclusivamente contra o Administrador e Secretário Permanente. A partir de 2016 envolve-se na organização de uma mesquita e perde interesse pela sua actividade profissional. A radicalização do discurso, incluindo a proibição de crianças de frequentarem a escola, levou ao encerramento da mesquita pelo Estado. Neste processo foi impedido de utilizar a motorizada do SDAE (que colocava ao serviço das suas actividades religiosas) gerando-lhe um grande descontentamento e revolta. Em Julho de 2017 abandonou o posto de trabalho e deixou de ser visto em Mecula.

Os colegas foram informados que se tinha dirigido para Cabo Delgado para receber formação religiosa, para posteriormente abrir uma mesquita em Mecula, onde iria receber um subsídio de 60 mil meticais, bem superior ao salário que auferia do Estado.

Com o início do conflito armado,  juntou-se aos insurgenets nas matas de Mocímboa da Praia, tal como muitos outros jovens de Mecula. A esposa ainda tentou juntar-se ao marido em Cabo Delgado, mas foi detida pela polícia nesse processo, residindo actualmente em Lichinga com os seus dois filhos, assim como a família do marido.

 Maulana participou nos ataques a Mocímboa da Praia e a Palma.

Entretanto, sabe-se que com a morte de Ali Cassimo já são três os elementos importantes que comandam o grupo terrorista que há quatro anos actua na província de Cabo Delgado sendo que nesta altura a prioridade das forças no terreno é capturar Bonomado Machude Omar, que várias vezes muda de nome, aquém é atribuída a liderança do grupo que atacou e ocupou por quase um ano a vila de Mocimboa da Praia e dali desencadeou acções que atacaram Palma. Com o aperto de Cabo Delgado acredita-se que Bonomado Machude Omar está Escondido nas montanhas e a sua captura é questão de tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


quinta-feira, dezembro 02, 2021

Os primeiros fósseis encontrados no Parque da Gorongosa

A posição e ecologia única do Parque Nacional da Gorongosa permitem aos investigadores trabalhar lado a lado, recolhendo o tipo de dados modernos e pré-históricos necessários para "pintar" uma imagem mais clara do que conduziu a nossa evolução. A equipa do Projecto Paleo-Primata identificou várias grutas e sítios promissores de fósseis ao ar livre no Parque da Gorongosa. As escavações estão a produzir fósseis de mamíferos anteriores à mais antiga evidência de fósseis de hominídeos registada, actualmente localizada em cerca de 8 a 10 milhões de anos atrás. Além de mamíferos, a equipa encontrou fósseis de fauna aquática, como tartarugas, crocodilos, tubarões e raias, crustáceos e ostras, entre outros.

Houve uma época em que a Gorongosa era uma floresta costeira localizada num estuário, o único local deste tipo no Vale do Rift Africano. A procura de fósseis de primatas, incluindo hominídeos, pode ser uma exploração de várias décadas e um esforço de pesquisa que produzirá novas perspectivas sobre como e quando os nossos primeiros ancestrais humanos evoluíram!




Os europeus são muito mais tribais

Excitado com o lançamento dum empreendimento que pode vir a fazer de Gaza a Singapura de Moçambique, fui consultar o Plano de Desenvolvimento Estratégico de Gaza para 2018-2027. Segundo ele, “em 2027, Gaza será uma província próspera e sustentável, livre da pobreza extrema e da fome”. A visão estratégica é de “promover os recursos endógenos de Gaza através da transformação da cadeia de valor agrária”. O plano foi elaborado por alguns daqueles que nos ajudam a morrer, portanto, os nossos “parceiros de cooperação” (PNUD, cooperação belga, sueca, etc.). É um documento arrepiante pelos seus lugares-comum e que nos países donde veio o dinheiro para a sua elaboração seria rasgado aos pedacinhos.

Mas esse é outro assunto.

O que reparei nesse documento é que não se faz nenhuma menção ao aeroporto. Os tais 60 milhões que esta infra-estrutura custou são muitos para uma província como aquela. Tanta infusão de “mola” tinha que ter sido considerada na elaboração dum plano estratégico. Teriam escrito, “em 2021, as crianças de Gaza vão gritar de alegria por ver um avião a pousar em Chongoene, os seus pais estarão livres da pobreza extrema e da fome”. Mas nada. No prefácio, a Governadora, na altura, Stella da Graça Magalhães Pinto Novo Zeca, saúda em primeiro lugar o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, pela sua visão e sábia liderança do País e do nosso povo, por tudo quanto foi alcançado e pela transformação do plano num instrumento de desenvolvimento. Já está explicado porque esta infra-estrutura tem que ter o seu nome.

Só que não.

O hábito dos tempos gloriosos de dar nomes dos Presidentes a infra-estruturas nunca foi bom e eu já me pronunciei várias vezes sobre isto. Entra em choque com o espírito democrático e, pior, colide com a necessidade de fazer da deliberação no seio da governação um instrumento eficaz. Numa altura em que decorre um julgamento onde bôdes expiatórios são sacrificados para proteger a cultura das “orientações superiores”, tresanda inaugurar um aeroporto cuja viabilidade económica é altamente duvidosa com o nome do Presidente da República. Isso significa, no mínimo, que o Presidente continua rodeado de pessoas que estão mais preocupadas em o agradar do que em trabalhar em boa consciência para o bem da comunidade. Eu acredito que a ideia não foi dele, mas o facto de ele não a ter rejeitado diz tudo sobre a sua perplexidade e sobre porque com ele este País está entregue.

Agora, há uma maneira de evitar o debate sobre a racionalidade deste empreendimento e sobre a qualidade da nossa liderança.

É transformar o assunto numa questão tribal. É dizer que quem não gosta do nome atribuído ao aeroporto é porque é do Sul e não quer que se faça na sua região aquilo que eles andaram a fazer noutras regiões. Eu não gosto do nome por várias razões, mas nenhuma tem a ver com o facto de o Presidente ser de Cabo Delgado. Há anos estive contra a ideia de se rebaptizar o aeroporto de Mavalane para Samora Machel, e não foi por ele ser de Chilembene, e eu de Xai-Xai. A ideia de que a origem duma pessoa deve constituir razão para não se pronunciar sobre o que a incomoda revela muitos dos problemas de falta de imaginação que cada vez mais caracterizam a Frelimo. Quando a única mensagem política é “Unidade Nacional”, fica mais do que evidente que um partido está com dificuldades em gerir a sua própria diversidade.

Mas o argumento tribal é mau por outras razões.

Primeiro, não há comparação possível entre Mondlane, Machel, Chissano e Guebuza, por um lado, e Nyusi, por outro. E não é porque uns são do Sul e o outro é de Cabo Delgado. Haveria comparação entre os primeiros e Chipande, Pachinuapa, etc. Fazem parte duma geração de ouro (mesmo com as devidas reticências), cuja vida e obra se confunde com o devir deste País. Atribuir os seus nomes a infra-estruturas (ainda que, por uma questão de princípio, eu esteja contra) não me parece tão grave quanto fazer o mesmo com um Presidente de outra geração. Ele simplesmente não tem o peso histórico que os outros têm. E devia ser do seu interesse proteger-se do ridículo procurando introduzir outras maneiras de fazer as coisas, algo que ele tem grandes dificuldades em fazer e, infelizmente, não parece ter o devido apoio.

Segundo, achar que quem é de Gaza e se opõe é porque não gosta do Norte é simplesmente fantástico.

Nas últimas eleições, Gaza deu 94% do seu voto a Nyusi, contra 75% da sua província natal. O pessoal de Cabo Delgado que não votou em Nyusi é tribalista também? Em Gaza, ele teve melhor desempenho do que o seu próprio partido, mas mesmo aí, a Frelimo em Gaza teve mais 20% do que obteve em Cabo Delgado. Não interessa, por enquanto, se alguém andou a encher as urnas. O que interessa é que se as pessoas de Gaza tivessem um problema tribal, nunca teriam votado em massa por alguém de fora da sua província. Até correram com os adversários à paulada em cenas vergonhosas de perseguição de pessoas de Gaza que aderiram a outros partidos.

Terceiro, o argumento tribal é típico da nossa colonização mental.

Os europeus meteram na nossa cabeça que é um problema sentir obrigações morais por quem nos é mais próximo. Pegam nisso para explicar porque andamos aos murros uns com os outros. Eles próprios são muito mais tribais do que nós. Quando fecham as fronteiras para protegerem os seus dos vírus que eles acham que nós estamos a transportar, eles estão a mostrar que sentem obrigações morais mais fortes pelos que lhes são próximos. Como estrangeiro aqui na Europa, para eu ter emprego é preciso que quem me emprega mostre que não existe candidato nacional ou europeu melhor qualificado do que eu. É tribalismo isso. Mas lá em África, andamos aí com a cabeça cheia da ideia de que é mau ser tribalista.

Pois bem, não é. 

Precisamos duma outra abordagem deste assunto para que a nossa própria perplexidade não seja a razão de conflitos “tribais”. Há uma distinção feita pelo filósofo David Miller que me parece útil. Ele distingue entre uma moral negativa e outra positiva. A negativa é a que me impede de fazer o mal a quem não pertence à minha malta. O importante aí é o respeito pela dignidade humana dum modo geral. Como pessoa do Sul não devo andar nas ruas de Maputo a insultar gente do Norte, nem mesmo recusar alugar casa a alguém por não ser do Sul. A moral positiva é que me obriga a respeitar as minhas obrigações para com os membros da minha família, da minha terra, da minha região, da minha igreja, do meu clube de futebol, do meu partido, da minha profissão, etc. A moral positiva é que forma comunidade. O importante não é, portanto, combatê-la, mas sim criar condições para que ela evolua dentro da observação da moral negativa. Esta, na verdade, serve sempre como um correctivo.

Há gente em Moz que é do mesmo partido, da mesma igreja, do Real Madrid, fã de Cristiano Ronaldo, do Benfica, bebe junta, trai junta, rouba do erário público junta, odeia os homossexuais com os mesmos níveis de obsessão, detesta a Frelimo, a Renamo ou o MDM, tem sempre algum problema com os Tugas, etc., mas acha que ser do Sul, Norte ou Centro é um defeito de carácter. Parece-me infantil e, até certo ponto, imbecil.

Mas conforme dizia mais acima, onde não há cultura de debate – e a Frelimo é cada vez mais o exemplo disso – haverá sempre gente apostada em encontrar razões para impedir que as pessoas façam interpelações críticas. O argumento tribal, fruto da nossa colonização mental, continua a ser um dos maiores. E funciona com os menos seguros de si próprios que vão calar o bico para não serem acusados de tribalismo. 

Comigo não funciona.

O nosso País está a ser mal governado. Não é porque o líder seja do Norte. É porque ele revelou não reunir as qualidades necessárias. Não duvido que haja gente de Cabo Delgado mais capaz do que ele. Mas mesmo essas pessoas, sem a ajuda do seu partido, nunca conseguiriam suprir eventuais lacunas. A prova das insuficiências deste é deixar que quem o devia aconselhar melhor atribua o seu nome a um empreendimento de racionalidade económica duvidosa. Uma pessoa que no seu discurso inaugural anunciou que o povo era o seu patrão devia se sentir mal rodeado de pessoas que procuram mostrar que ele não estava a ser sério quando disse isso.

Se fosse coerente, teria recusado e sugerido que o aeroporto se chamasse “Povo”. Pelo menos isso.

N.b. Fiz duas correções. Tinha esquecido de incluir "Machel" na lista dos ilustres e corrigi a data do Plano. (Prof. Elísio Macamo in facebook)

terça-feira, novembro 23, 2021

FeiKian, o dinheiro voador

As autoridades fiscais da Namíbia fizeram uma descoberta chocante em 2017. Milhares de dólares estavam a sair do país para a China, mas apenas uma fracção era tributada.  O esquema foi descoberto quando o comerciante chinês Jack Huang foi preso sob acusações de fraude fiscal, e as autoridades descobriram que ele fazia parte de algo muito maior. Entre 2013 e 2016, Huang, que operava uma empresa de desalfandegamento, tinha importado bens com um valor declarado de 14,3 milhões de dólares. O verdadeiro valor dos bens era mais de 10 vezes maior. Durante o mesmo período, ele enviou 209 milhões de dólares para China para pagar pelos bens.

A fraude impediu que milhões em impostos entrassem nos cofres do governo da Namíbia. 

Quando as autoridades investigaram mais a fundo, descobriram que o sistema envolvia a subnotificação do valor dos contentores de envio e dos bens transportados pelo mundo, sem deixar rastos em formato de papel. Isso fazia parte de um sistema conhecido como feiqian, ou “dinheiro voador,” que, durante séculos, ajudou a esconder o movimento de itens como minérios, partes de animais selvagens e madeira.

A Namíbia acolhe mais de 7.000 comerciantes chineses e outros comerciantes estrangeiros que trabalham na base do auto-emprego e tem dificuldades para monitorar a actividade comercial e fazer cumprir as suas leis financeiras. O âmbito da fraude levou a que um exasperado Inspector-Geral da Namíbia, Sebastian Ndeitunga, declarasse que “não haverá misericórdia” e “não deixaremos nada impune.” 

Mas o feiqian é difícil de policiar. O jornalista namibiano, John Grobler, passou um ano a investigar este fenómeno e descobriu que rastrear o dinheiro é como perseguir um fantasma. O segredo é que a maior parte da moeda nunca sai da China — apenas as mercadorias são trocadas.  “É um sistema de comércio invisível e sem impostos que deu às empresas chinesas uma vantagem no sector da construção em África, o rendimento que não pode ser rastreado utilizado para apresentar propostas mais baixas que os competidores locais e ‘molhar a mão’ para ganhar contratos,” escreveu Grobler para a organização de jornalismo ambiental, Oxpeckers.

Como o Esquema Funciona

O feiqian começou há mais de 1.200 anos na dinastia Tang, da China. Na sua essência, é um sistema de pagamento baseado na confiança e nos relacionamentos.  Grobler disse que é semelhante ao sistema de remessa, conhecido como hawala, utilizado na maior parte do mundo islâmico. Neste sistema, as pessoas que vivem fora enviam dinheiro de volta para a sua terra natal através de um agente de confiança que entrega o dinheiro em troca de uma taxa.  O feiqian utiliza o mesmo tipo de pagamentos baseado na confiança e sem registo, mas que podem ser muito mais complexos. No sistema feiqian, os bens são importados com a ajuda de um despachante chinês e declarados numa fracção pequena do seu verdadeiro valor. Estas mercadorias, que, muitas vezes, são materiais de construção, são posteriormente vendidas para gerar moeda. A moeda é utilizada para comprar bens ilícitos como partes de animais selvagens ou madeira ilegal. Aqueles bens são secretamente enviados de volta para China e o despachante é reembolsado, recebendo estas mercadorias ilícitas de grande valor.

O marfim e outro contrabando encontram-se entre as mercadorias ilícitas exportadas num sistema conhecido como feiqian, que evita o pagamento de impostos e esconde os carregamentos dos produtos contrabandeados. REUTERS

É uma rota de comércio circular que não tem necessidade de bancos ou instituições tradicionais. “É como defraudar sistematicamente as autoridades em ambos os lados do lago,” Grobler disse à ADF. “Como é algo baseado no comércio, eles podem manipular os números e nenhuma destas acções decorre através de canais convencionais. … É apenas entre um comerciante local e o seu fornecedor na China. Não é possível ver; não é visível em nenhum lugar.”

Grobler disse que os proprietários de lojas chineses e os comerciantes da Namíbia quase todos operam num sistema de “apenas dinheiro vivo.” Eles não produzem facturas nem oferecem recibos aos clientes. Isso faz com que seja extremamente difícil para as autoridades locais exigirem o cumprimento das políticas fiscais. 

Depois da prisão de Huang, o Ministro das Finanças da Namíbia, Calle Schlettwein, prometeu que iria acabar com esta prática. Ele insistiu que os estrangeiros não devem ser capazes de contornar as leis nacionais através de empresas “fantasma” e jogos de engano. “O nosso sistema não está baseado na nacionalidade mas sim na fonte do rendimento,” disse Schlettwein. “Todo o rendimento recebido ou considerado como tendo sido originado de uma fonte namibiana é tributado na Namíbia.” 

Perfeito para Mercadorias Ilícitas

Para o feiqian funcionar, as mercadorias enviadas de volta para China devem ser valiosas, que não se podem rastrear e possíveis de dividir em pequenas unidades. Alguns dos itens preferidos são marfim, chifres de rinoceronte, pau-rosa, pedras preciosas e plantas suculentas. A chave é que as mercadorias podem ser espalhadas pelo mercado negro para servirem de pagamento a várias pessoas.  “O que faz com que esta forma de feiqian seja tão adequada para o contrabando é que o produto — contrabandeado — é fungível,” escreveu Grobler. “Cada quilograma de chifre de rinoceronte, marfim, abalone e barbatana de tubarão ou touros de madeira pode ser dividido em partes menores, que são mais fáceis de comercializar.”

Um exemplo vívido de feiqian é o comércio ilícito multimilionário de abalone na África do Sul. Este caracol do mar é considerado uma iguaria e procurado pelos restaurantes chineses pelo seu sabor amanteigado. Para poder satisfazer a esta procura, uma cadeia ilícita de fornecimento de abalone foi desenvolvida, envolvendo o envio de materiais através de empresas “fantasma” da África do Sul e transformando aquele material em numerário, que é utilizado para pagar os mergulhadores, para colherem o abalone, e os contrabandistas, para transportá-lo. 

Muitos destes operadores locais recebem pagamentos em drogas ilícitas ou em produtos químicos para fazer drogas. De acordo com a organização não-governamental TRAFFIC, 96 milhões de conchas de abalone foram colhidas de forma ilegal das águas da África do Sul durante 10 anos, até ao ano de 2016. O comércio, que, muitas vezes, é gerido por sindicatos do crime organizado chineses, alimenta a violência e os vícios pelas drogas nas cidades da África do Sul. Kimon de Greef, jornalista investigativo sul-africano, disse que o comércio de abalone tinha crescido para se tornar numa “economia imensa, paralela, subterrânea, multimilionária e criminalizada do rand” em que os pobres das comunidades de pescadores são obrigados a trabalhar. 

Será que se Pode Acabar com Esta Prática? 

Para os países com recursos limitados, rastrear e acabar com os crimes financeiros é um desafio. O Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) estimou que os países africanos perdem 88,6 bilhões de dólares anualmente devido à evasão de capitais. Aquele total é quase o mesmo que todo o dinheiro das ajudas financeiras e do investimento estrangeiro directo de todo o continente. Acabar com este fluxo ilícito seria um enorme benefício económico para os países e os ajudaria a proteger os recursos naturais de capital importância. 

“É necessário que todos os países, os nossos parceiros em África assim como os países de trânsito e de destino se juntem a esta luta,” disse Ghada Fathi Waly, directora-executiva do UNODC. 

O UNODC está a trabalhar com 17 países africanos para desenvolver uma rede de recuperação de activos, que os ajudará a capturar dinheiro contrabandeado, combater o crime organizado e parar com a lavagem de dinheiro utilizado para financiar o crime e o terrorismo. A rede permite que os membros troquem informação e aprendam sobre a legislação eficaz para combater estes crimes. 

“Fluxos financeiros ilícitos estão a drenar os rendimentos vitais de África, a colocar em perigo a estabilidade e a impedir o progresso para um desenvolvimento sustentável,” disse Waly.  Num relatório de 2020, a Agência de Investigação Ambiental (EIA) descobriu que muitos países não investigam nem processam o tráfico de produtos da fauna bravia como um crime financeiro. Os traficantes são punidos nos termos da lei de protecção da fauna bravia embora as leis de branqueamento de capitais tenham penas mais severas. Quando os países não possuem a capacidade de seguir o dinheiro, os chefes dos sindicatos escapam da condenação e podem continuar com os seus crimes. “Quando alguém é preso, geralmente se trata de um transportador de baixa categoria,” comunicou a EIA. “Uma apreensão de múltiplas toneladas, que, se for investigada a partir de uma perspectiva financeira pode produzir provas e ideias importantes, torna-se meramente uma despesa de negócios para os traficantes envolvidos.”

Por sua vez, a Namíbia acredita que deu grandes passos contra o tráfico ilegal. Depois de uma proibição de exportação de madeira, o país reautorizou a exportação de pau-rosa e outras madeiras em 2020, mediante orientações rigorosas. O país também modernizou os seus programas das alfândegas, acrescentando mais scanners e tecnologia para rastrear e inspeccionar os contentores que chegam ao Porto de Walvis Bay. Os funcionários das alfândegas passaram por formação para identificar o contrabando de produtos provenientes da fauna bravia. Entretanto, ainda continua a ser um mistério como os traficantes se irão adaptar e tentar evitar estas restrições.  “É tão difícil investigar algo que, a princípio, devia ser invisível,” disse Grobler.  

Sinais de Alerta

Maior consciência dos sinais de alerta ou sinais vermelhos associadas ao tráfico internacional de produtos provenientes da fauna bravia pode ajudar os países a fazerem cumprir as suas leis. 

Alguns destes sinais de alerta são: 

Empresas “fantasma”: Estas, muitas vezes, são empresas de comércio, criadas por pessoas de nacionalidade estrangeira e registadas com endereços residenciais.

Exportações de mercadorias com valor inferior: As empresas que exportam mercadorias como conchas, granulados de plástico ou feijão podem estar a utilizar as exportações para esconder partes de produtos ilícitos provenientes da fauna bravia, como o marfim.

Rotas sinuosas: Os carregamentos que seguem rotas indirectas ou ineficientes, incluindo paragens em múltiplos portos de trânsito, podem ser um sinal de que o navio está a tentar evitar ser rastreado.

Mudanças nas notas de desembarque: Uma nota de desembarque é um documento que acompanha um carregamento e que deve ser assinado pelo transportador, pelo expedidor e pelo receptor dos bens. No tráfico ilícito, várias alterações nas notas de desembarque podem ser usadas enquanto um contentor está de passagem. Isso pode incluir a mudança de proprietário antes de o contentor chegar ao seu destino. Também pode fazer com que o rastreamento seja mais difícil.

Grandes levantamentos: Levantamentos frequentes de dólares americanos das casas de câmbio pertencentes a chineses, particularmente aquelas que operam em lugares onde haja muito tráfico de produtos provenientes da fauna bravia, pode ser um sinal de comércio illegal.