quinta-feira, abril 06, 2017

1889 / 1970




Moçambique tem as duas coisas

O escritor moçambicano Mia Couto defende um debate mais alargado sobre a paz, não só entre os políticos mas também na sociedade civil. Em entrevista à DW África, fala ainda sobre os escândalos de corrupção no país. Os moçambicanos vivem ainda uma paz com prazo de validade. O Governo moçambicano e o maior partido da oposição, a RENAMO, acordaram em cessar as hostilidades até 4 de Maio. Esta é a terceira trégua consecutiva, algo que alimenta as esperanças dos moçambicanos numa paz definitiva. Durante a Feira do Livro de Leipzig, que terminou a 26 de Março na Alemanha, a DW África falou com o escritor Mia Couto sobre a situação política, o combate à corrupção e a falta de transparência em Moçambique. 
Resultado de imagem para Mia Couto na DWQuestionado se faz sentido que o destino do povo, em discussão apenas entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO, não possa também ser decidido pelo povo, em termos de debate alargado? Mia Couto respondeu: Acho que Moçambique tem as duas coisas - tem algum espaço de liberdade democrática. Por exemplo, os jornais que existem no país criticam abertamente a situação; as pessoas falam. Nunca senti propriamente medo de dizer o que pensava dentro de Moçambique, o que não é uma coisa muito comum hoje em dia no mundo. Ao mesmo tempo, acho que há assuntos que deveriam ser mais debatidos. A paz seria um deles. Mas também entendo que há questões que deviam ser debatidas no Parlamento, e isso envolveria um terceiro partido político, o MDM [Movimento Democrático de Moçambique], que se sente excluído da negociação. É uma coisa esquizofrénica: [a RENAMO] é um partido político e, ao mesmo tempo, é um exército, com armas. Quando está feliz discute no Parlamento e quando não está ataca as pessoas e os carros nas estradas. Tudo isso parte de uma base errada. Agora, quando se trata de discutir questões de uma guerra, como fazer terminar um assunto militar, também entendo que tem de haver conversações "fechadas". Sobre os escândalos de corrupção têm abalado o país e membros das elites políticas têm os seus nomes associados a esses escândalos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) têm mostrado um esforço extra, embora tímido, para esclarecer alguns desses casos. Essas iniciativas resultam de uma pressão interna e externa ou trata-se de mera vontade de trabalhar? Mia Couto respondeu: acho que as duas coisas são verdade. Há uma pressão exterior muito forte. Dentro do próprio sistema, da própria FRELIMO, [também] há uma posição que pretende que o assunto seja da responsabilidade de quem o causou, e essa posição foi assumida, por exemplo, pela bancada da FRELIMO na Assembleia da República – não é uma coisa tão minoritária assim. E eu estou muito curioso para saber como se resolve um assunto destes, que realmente envolve compromissos de gente muito poderosa no país.

“Simanguinhos”

Conhecidos na gíria popular por “Simanguinhos”, em tributo ao seu homónimo de Maputo, que no seu primeiro mandato enfrentou os mesmos problemas, os buracos tornaram a cidade da Beira praticamente intransitáveis devido a situação lastimável em que se encontram maior parte das vias da urbe. Naquela cidade é difícil circular, principalmente nos dias chuvosos, devido ao mau estado em que se encontram as estradas em diversos pontos da cidade, o que condiciona a vida dos munícipes que, não raras vezes, vêem- -se obrigados a parquear as suas viaturas para não correrem o risco de danifica-las. O MAGAZINE efectuou uma ronda pelas artérias da cidade da Beira e constatou que os problemas vão desde o pavimento irregular, aos buracos, alguns dos quais enormes no meio da estrada, bem como o desgaste das marcas de sinalização do pavimento em muitas zonas. Os munícipes da Beira reclamam pela demora do Conselho Municipal em resolver o problema que remota desde 2012 e vai se agravando com o andar do tempo. 
Resultado de imagem para Cidade da Beira buracosOs automobilistas dizem que as viaturas estão a ficar danificadas por causa do mau estado das vias e pedem socorro a quem de direito. Na Av. FPLM, por exemplo, apenas o troço que parte da Praça da Independência até ao Estoril, é que está em boas condições de transitabilidade. As restantes vias, incluindo a EN6, a principal via que liga aquela cidade ao resto do país e outros países do interland, encontra-se em avançado estado de degrada- ção, principalmente dentro da cidade. Para quem conhece aquela cidade, sabe que quase todas as ruas transversais que ligam os principais bairros da cidade estão completamente esburacadas, o que obriga os automobilistas a esforçarem- -se para transitarem, sobretudo nos dias de chuva. Ouvidos pelo Magazine, alguns automobilistas estão agastados com a situação por considerarem que os buracos na via pública danificam as suas viaturas e mostraram-se agastados pela falta de acção da edilidade. “Aqui é difícil andar de carro. Quase todas as estradas estão esburacadas e o Município nunca resolve a situação. O meu carro está sempre com problemas de suspensão por causa dos buracos. A situação está péssima”, disse um automobilista gestor de uma instância hoteleira. Bem no coração da zona nobre da considerada segunda maior cidade do país, ruas como João Quero, J de Barro, Mártires da Revolução, Serpa Pinto, Cunha, só para citar alguns escassos exemplos, estão completamente esburacadas. Na Av. Mateus Sansão Muthemba, junto ao complexo Oceânia, restam somente algumas “ilhas” de asfalto. Na via do Aeroporto à Manga, passando por Manga- -Mascarenhas, os automobilistas recorrem a todo o tipo de manobras possíveis para, por ali, passar durante o tempo chuvoso, uma vez que devido as águas das chuvas, os condutores têm de “adivinhar” por onde passar. 
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Em vários outros pontos da cidade da Beira, os automobilistas recorrem a vários truques para fugir das covas, mas porque quase todas as ruas da cidade estão esburacadas, não lhes resta outra saída se não pedir socorro, a quem de direito. Desde 2013 que a situação vem se agravando, perante uma aparente incapacidade das autoridades municipais. Tanto o presidente do município, Daviz Simango assim como o seu vereador para Área de Construção e Urbanização, sempre prometeram resolver a situação em prazos curtos, mas nunca cumpriram, segundo avançaram alguns automobilistas ouvidos pelo Magazine. Segundo eles, o Conselho Municipal da Beira que sempre promete fazer uma reabilitação de raiz de algumas estradas, através da remo- ção e recolocação do asfalto, apenas fez o tapamento de buracos com saibro, o que faz com que sempre que chove voltem a surgir os buracos. A edilidade justifica o facto com problemas no seu orçamento que não possibilitam a resolução da degradação das estradas. Estranhamente, o Município da Beira é um dos que anualmente se beneficiam do Fundo de estradas, canalizado pela Administração Nacional de Estradas para a manuten- ção destas, mas assiste-se, ao invés de trabalhos de manutenção, ao tapamento de buracos em estradas alcatroadas recorrendo a saibro que se transforma em lodo quando chove, deixando os buracos ainda mais salientes e concorrendo para o entupimento dos canais de drenagem recentemente reabilitados. Segundo dados fornecidos pela ANE, no ano passado, aquele município não constava da lista dos municípios que não recebem fundos.