Por que não é possível vibrar tanto com estes protestos nas cidades egípcias exigindo o fim da era Mubarak como nas jornadas nas cidades iranianas em Junho de 2009, depois da farsa eleitoral que manteve Mahmoud Ahmadinejad no poder? Estão aí dois regimes igualmente detestáveis e movidos por maciços aparatos de segurança. Existem diferenças óbvias e elas ajudam a explicar menos vibração diante dos eventos egípcios, e por extensão, no resto do mundo árabe. O regime islâmico de Teerã tem convicções ideológicas antiocidentais, planos hegemônicos e ambições nucleares. Cabe reconhecer que tem também uma base popular. O regime Mubarak é meramente pusilânime e um vírus para sua própria população. Ironicamente, tem alguma serventia por ser um contraponto ao projeto iraniano, é uma força moderadora e secular contra o radicalismo islâmico e é também um pilar (ou era) no grande jogo diplomático do Oriente Médio. É difícil o mundo árabe ir à guerra contra Israel sem o Egito. A “paz fria” entre os dois países é melhor do que nada. Não estou evidentemente insultando esta massa nas ruas egípcias, explodindo depois de décadas de frustrações e ressentimentos contra esta faraó embalsamado no poder, beneficiário de uma baba de dinheiro e apoio ocidental (isto talvez mude). Como não gostar de jovens não sectários? Estou comovido com esta massa, temo por mais mortes e pelo assassinato das aspirações que são universais. Parece muito tarde para o faraó reformar as pirâmides sociais, econômicas e políticas, com esta tardia pressão do governo Obama. Mas, quisera acreditar que os setores desta massa imbuídos de reinvindicações como emprego, dignidade, democracia, fim da brutalidade policial e do mero arbítrio de um regime podre possam nortear os rumos do Egito e construir um novo pais tão cedo. O regime está podre, mas não existe uma madura alternativa decente. No Irã, foram barbaramente pisoteados setores da sociedade civil que bateram de frente com as várias correntes de um infame projeto teocrático, antimodernidade, antissemita, antimulher, antidiversidade sexual e religiosa e que trata o diferente dele como um infiel. Estes setores inclusive se alinharam com um candidato presidencial, Mir Hossein Mousavi, egresso do sistema, mas que se tornara um digno dissidente. Tenho dúvidas se no Egito o Prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, possa assumir este papel. Ele é muito fraco e oportunista, em contraste a outros grupos. O drama no Egito é que a resistência mais organizada e alternativa mais forte ao regime Mubarak é a Fraternidade Muçulmana. Era contra este tipo de grupo e mentalidade que o “movimento verde” floresceu no Irã. Está certo que a Irmandade Muçulmana não equivale a um bando de jihadistas lunáticos, mas é fundamentalista. Como nos casos de Hamas (Gaza), Hezbollah (Líbano) e o movimento de Moqtada Al Sadr (Iraque), radicais islâmicos são instrumentos de democratização e utilizam a democracia como instrumento para forjar o caminho para o poder. Além da Irmandade Muçulmana, uma outra instituição que pode eventualmente ocupar o vácuo de poder (já está ocupando) é o Exército. Mubarak ensaia uma saída ao nomear o chefe da inteligência, Omar Suleiman, sinalizando que será seu sucessor. Não será mais o faraó júnior Gamal Mubarak. Se estas são as alternativas mais plausíveis a Mubarak, como vibrar? Existe uma noção de que nada pode ser pior do que Mubarak. Pode sim. (Caio Blinder/NY). Conheça em numeros o EGIPTO, clicando aqui.
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