Num livro lançado na Europa em finais do ano passado, o autor tanzaniano, Ludovick Simon Mwijage, relata a forma como foi raptado na Swazilândia por agentes ao serviço do SNASP, polícia política instituída em Moçambique pelo regime da Frelimo logo a seguir à independência.Exilado político oficialmente reconhecido pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas, Ludovick Mwijage foi viver para a Swazilândia em 1983, fugido ao regime de Julius Nyerere. Cedo foi abordado por membros da comunidade tanzaniana residente no vizinho reino, que se faziam passar por amigos dispostos a dar apoio e carinho a um compatriota seu. Desde Ahmed Mkindi, coronel das Forças Populares de Defesa da Tanzânia (TPDF), que vivia na Swazilândia na condição de reformado depois de ter exercido as funções de adido militar na missão diplomática tanzaniana em Harare, a Sheikh Yahya Hussein, que se intitulava astrólogo, profeta, quiromante, cartomante e curandeiro, todos eles excederam-se em manifestações de solidariedade para com o Ludovick Mwijage. Mas todos tinha algo em comum: trabalhavam para a segurança Tanzânia, a TIS ou Tanzanian Intelligence Service. Desenvolviam as suas actividades em território swázi em estreita colaboração com o Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP). Convidado a visitar um dos hotéis de luxo em Ezulwini, o autor tanzaniano aceitou tomar uma bebida. Sem se aperceber, a bebida continha uma mistela que fez com que rapidamente perdesse os sentidos. Quando acordou, deu por si numa residência na vila fronteiriça da Namaacha. Havia sido raptado mas nunca soube em que circunstâncias é que atravessara a fronteira entre a Swazilândia e Moçambique Narra o autor de “Julius Nyerere – Servant of God or Untarnished Tyrant” que na vila da Namaacha foi acomodado num antigo estabelecimento de ensino da Igreja Católica, entretanto transformado em edifício das forças de defesa e segurança do regime da Frelimo. Permaneceu sempre algemado. O oficial da segurança moçambicana que passou a lidar com o autor é identificado no livro como o “Comandante Mateus”, pessoa graúda e influente, que da Namaacha contactou telefonicamente o “diplomata” tanzaniano, Wilfred Kiondo, nos seus escritórios na Ujamaa House, na Av. Martires da Machava, em Maputo. Efectivamente, Kiondo era funcionário do serviço de segurança tanzaniano, TIS, tendo sido ele a coordenar com o Comandante Mateus o rapto de Ludovick Mwijage. Treinado em Cuba, o Comandante Mateus confirmou ao autor que se encontrava sob prisão a pedido das autoridades tanzanianas, e que nada mais podia fazer até receber instruções de Kiondo. Posteriormente, Mwijage voltou a ser algemado e metido numa viatura conduzida pelo Comandante Mateus que o levou até à cidade de Maputo antes de ser transferido para a cadeia de máxima segurança na Machava.O autor permaneceu em Maputo até finais de 1983. A 16 de Dezembro desse ano foi levado para base aérea de Mavalane de onde, a bordo de um avião militar, foi transferido para a Tanzânia. Foi graças a um despacho enviado pelo correspondente da agência de notícias, Reuters, na Swazilândia, dando conta do rapto de Ludovick Mwijage para território moçambicano e daqui para a Tanzânia que o autor escapou de ser executado ou mantido eternamente nas masmorras do regime de Nyerere. A estreita colaboração entre os serviços de segurança moçambicano e tanzaniano em matéria de raptos de cidadãos nacionais e estrangeiros voltaria a estar em foco meses depois quando a quatro indivíduos de nacionalidade portuguesa, entre eles Adelino Serras Pires, caberia a mesma sorte. Efectivamente, o então ministro da segurança moçambicano, Sérgio Vieira, solicitou aos seus homólogos a prisão de Serras Pires e familiares seus ao serviço de uma empresa de safaris no norte da Tanzânia, tendo as vítimas sido enviadas de avião para Maputo, à revelia dos tribunais em 1984.
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