Apesar de delimitadas como árabes, as revoltas populares no Egito e na Tunísia acontecem na África -e as consequências para o continente são grandes.Em 2011, devem acontecer 18 eleições em países africanos, muitos governados também por lideres autocratas, com grande desigualdade social e ampla insatisfação popular. É a mesma receita que levou às manifestações populares no norte da África."Estivemos reunidos com políticos do Congo em Washington e eles nos disseram que estão muito atentos ao que acontece no Egito. Em toda a África, os lideres estão se perguntando quem será o próximo", diz Richard Downie, diretor do "think tank" Center for Strategic and International Studies, sediado em Washington (EUA).As próximas eleições no Congo acontecem em novembro, e há o receio de que manifestações populares gerem uma escalada de conflitos na África subsaariana."Estamos falando de Estados frágeis, onde protestos podem derrubar regimes, mas, se não houver outra opção de governança viável, pode haver caos e conflito", acrescenta Downie.Para o analista, o próximo país na lista da onda de levantes poderá ser o Sudão. "As condições são muito semelhantes às de Egito e Tunísia: desemprego, aumento dos preços. Certamente, é o país em que devemos ficar de olho no momento."
Desde o começo desta semana, protestos foram registrados em todo o norte do país, desde a capital Cartum até cidades pequenas entrecortadas pelo rio Nilo.Até agora, o governo tem tido sucesso em desmantelar rapidamente as manifestações. Centenas de manifestantes saíram às ruas e dezenas deles ficaram feridos; um estudante foi morto em confronto com a polícia.Assim como no Egito e na Tunísia, o movimento é organizado por jovens, pela internet. Há duas semanas, um grupo chamado "Youth for Change" (Juventude pela Mudança) publica mensagens no Facebook, chamando sudaneses a protestarem contra o governo."O povo do Sudão não ficará em silencio. É hora de exigirmos nossos direitos", afirmavam os textos. Os manifestantes reclamam melhores condições de vida, mais empregos e a queda de Omar Bashir, que governa o país há 21 anos com mão de ferro.Cartum e Cairo possuem fortes laços diplomáticos. Com o recente resultado do referendo no sul pela secessão da região, o governo de Cartum está fragilizado."É uma situação delicada", concorda Fouad Hikmat, especialista em África do International Crisis Group. "Mas muitos outros países africanos também podem ser afetados por essa onda de encorajamento popular. Uganda, Nigéria e África do Sul terão eleições neste ano, e os cenários são de instabilidade politica e descontentamento da população."Analistas destacam, no entanto, as grandes diferenças culturais e políticas no continente africano e a dificuldade em traçar paralelos. O Sudão é etnicamente dividido, assim como a Nigéria; mas em Uganda há uma ditadura, e a Somália, por exemplo, é uma sociedade tribal."No entanto, todos esses países têm uma coisa em comum agora. As pessoas estão acompanhando o que ocorre no Egito e na Tunísia e, de certa forma, estão perdendo o medo de seus governos ou governantes", diz Hikmat."Os líderes africanos sabem disto e estão receosos. Agora, resta a eles tentar se conectar mais aos anseios de seus cidadãos e promover profundas reformas políticas", acrescenta ele.A mudança no Egito também recebe atos de solidariedade no continente. Na África do Sul, haverá hoje mobilizações em frente às embaixadas egípcias em Pretória e Johannesburgo. São esperadas cerca de mil pessoas. Veja a lista dos ditadores aqui.(Carolina Montenegro em Nairobi/A FOLHA)
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