Leio, na imprensa desta semana, que o Estádio Nacional, essa obra que devia ser o orgulho de todos os moçambicanos – pelo menos foi essa a imagem que sempre nos quiseram fazer passar – reprovou na inspecção dos senhores da FIFA. Nada mais natural. O estranho, conhecendo os critérios rigorosos dos inspectores do órgão que rege o futebol mundial, era mesmo se passasse. Porque aqui, meus caros, ao contrário da escola em que o aluno suborna o professor com 50 meticais para passar no exame ou na obra que é desembargada com uns poucos milhares de meticais porque não há tempo a perder, negócio oblige, os senhores da FIFA são à prova de bala no que aos critérios de aprovação de um recinto desportivo diz respeito. Os critérios estão muito bem especificados, está tudo escrito tintim por tintim, como se costuma dizer. Ninguém pode alegar que não os conhece. Parece que as irregularidades do Estádio Nacional são tantas, o chumbo é tão redondo, que nem vale a pena apelar para uma revisão de provas, numa tentativa de irmos à prova oral. Desde as dimensões do campo (imagine-se!), passando pelo deficiente posicionamento das máquinas electrónicas de controlo de entradas, até à falta de estacionamento e ao dumba nengue em redor, nada obedece aos critérios dos tempos de hoje. E agora a quem se pede responsabilidades? Ao Governo? À Federação? À empresa chinesa que construiu o recinto? Uns mais outros menos, ninguém deverá estar isento de culpas, mas ela, a culpa, como em tudo o que se passa neste país, irá morrer solteira. Sem qualquer laivo de racismo, que know how possuem os chineses em matéria de construção de estádios? Porque lhes foi entregue uma obra desta responsabilidade? Terá sido uma proposta tão mais barata do que as outras que valesse a pena correr todos estes riscos? Um dos critérios a favor da empresa chinesa era a rápida conclusão da obra que supostamente deveria estar pronta a tempo de ser aproveitada para o Mundial da África do Sul, o que, como se sabe, falhou redondamente. Depois desse primeiro fracasso, somaram-se todos os outros – demasiado exaustivos para citá-los – culminando no chumbo, também ele redondo, da FIFA. Um dos gravíssimos problemas deste país é a falta de seriedade que invadiu toda a pirâmide económicosocial, desde a morte de Samora. Ninguém trata as coisas com seriedade. A seriedade, essa base que existe em muitas sociedades de outros países, aqui, no nosso, deixou de existir. Desde as balanças com que pesamos a fruta na rua – muitas estão adiantadas meio quilo –, passando pelas bombas de gasolina onde os litros possuem várias medidas, pelos sacos de cimento ou pelo bife no restaurante, até às grandes obras, tudo é, como se diz na gíria popular, mafiado. Somos um país de mafiosos, pequenos e grandes. Gato por lebre é o nosso prato do dia. Parece que meio Moçambique acorda de manhã para enganar o outro meio Moçambique. A mentira virou regra e a verdade excepção. O Estádio Nacional é só mais um paradigma desta falta de seriedade. Aproveitemos, já que o Governo decretou 2011 como o ano de Samora Machel, para sermos um pouco mais sérios. É uma merecida homenagem que lhe prestamos.(Escrito por J.Vaz de Almada)
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