Um lugar-comum, argumentado entre analistas, observadores internacionais e a mídia, explica o conflito entre o Norte e o Sul do Sudão como uma guerra entre o Norte árabe e muçulmano e o Sul animista e cristão. Mas é uma definição que não fotografa uma realidade que é bem mais complexa e articulada. Padre Kizito explica: “No Sudão não houve uma guerra de religião, pois no início do conflito, 22 anos atrás, os movimentos de libertação do Sul eram de inspiração marxista-leninista. As coisas começaram a mudar na metade da década de 1990 quando a direita americana descobriu a existência do Sudão e a guerrilha logo quis aproveitar a ocasião, conseguindo credenciar-se como movimento cristão para obter ajudas políticas e econômicas. Um erro no qual caíram, mesmo em boa-fé, alguns eclesiásticos do Sul. Essa confusão levou, algumas vezes, a uma falta de denúncia dos abusos da guerrilha contra a população do Sul, mas principalmente favoreceu o credenciamento da guerrilha como um movimento cristão. Há alguns documentos do Spla em que se chega a propor a definição da Igreja como “ala espiritual” do movimento... coisas que era melhor evitar. Certamente as diferenças religiosas fizeram parte do conflito, mas falar de guerra de religião é errado. Na realidade tratou-se de uma guerra pelos direitos dos povos do Sul”.
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