Com os Estados Unidos a ferro e fogo, com várias cidades tomadas
por protestos antirracismo e muita polícia nas ruas, a chamada dos bombeiros de
Houston (estado do Texas) a uma ocorrência na cidade poderia não ser uma
notícia importante não fosse o local do incidente o consulado da China. Na terça-feira (21), era já noite escura, um
clarão de chamas encimado por uma coluna de fumo preto saído de dentro do
consulado despertou a atenção de locais que alertaram os bombeiros. “As
autoridades responderam a relatos de um incêndio no consulado”, noticiou o
jornal “Houston Chronicle”. “Testemunhas afirmaram que havia pessoas a queimar
papéis no que pareciam ser latas do lixo.”
Com o
raiar do dia, imagens aéreas fizeram luz sobre várias fogueiras que ainda
ardiam num pátio interior — pensa-se que para queimar documentos —, vigiadas de
perto por pessoal do consulado. No exterior do edifício, era também visível o
dispositivo dos bombeiros, sem que ninguém lhes facilitasse a entrada.
Horas
antes deste episódio, a “guerra fria” entre Estados Unidos e China tinha subido
a um novo e perigoso patamar, com Washington a dar 72 horas a Pequim para
encerrar o seu consulado naquela cidade texana — o primeiro aberto pela
República Popular, em 1979, após os EUA reconhecerem formalmente a China
comunista.
Washington
justificou a decisão com a necessidade de proteger propriedade intelectual
norte-americana e informação privada. Nesse mesmo dia, o Governo dos EUA tinha
denunciado que dois “hackers” (piratas informáticos) chineses roubaram centenas
de milhões de dólares em segredos comerciais de empresas que estão a trabalhar
numa vacina contra a covid-19.
“Os
Estados Unidos não tolerarão as violações da República Popular da China da
nossa soberania e a intimidação do nosso povo, assim como as práticas
comerciais desleais, o roubo de empregos americanos e outros comportamentos”,
reagiu Morgan Ortagus, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
Esta
sucessão de casos contribui para acicatar ainda mais os ânimos entre os dois
pesos pesados da geopolítica mundial. Desde que Donald Trump entrou na Casa
Branca que as duas maiores economias do mundo se envolveram numa guerra
comercial sem tréguas, travam braços de ferro em vários outros domínios — da
tecnologia à questão de Hong Kong — e revelam-se incapazes de esboçar a mínima
cooperação face à pandemia de covid-19 que ameaça todo o mundo.
Wang
Wenbin, porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, considerou
este episódio “uma escalada sem precedentes” entre os dois países. “A China
exige que os EUA revoguem essa decisão errada. Se os EUA forem em frente, a
China tomará as contramedidas necessárias”, afirmou, citado pelo jornal “South
China Morning Post”.
Segundo
a agência Reuters, Pequim está a equacionar ordenar o encerramento da
representação diplomática dos EUA em Wuhan — a cidade chinesa onde primeiro foi
detetado o novo coronavírus. Atualmente, para além de Wuhan e da embaixada em
Pequim, os EUA têm mais quatro consulados na China Continental: Xangai,
Guangzhou, Chengdu, e Shenyang.
Nos
Estados Unidos, a China dispõe de igual número de representações diplomáticas.
Além da embaixada em Washington DC, tem consulados em Nova Iorque, Chicago, Los
Angeles, São Francisco e Houston — esta última com ordem para fechar portas. O
prazo termina às 16 horas de sexta-feira (23 horas em Moçambique).
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