O
comandante Carlos Soares, Mwani assumido, profissional arrojado e cidadão para
todas às ocasiões, parou de pintar os céus com o seu fascínio. Para trás, ficam
anos de empenho e entrega a causa dos ares, da segurança aérea e do compromisso
para com os passageiros. Quis o destino que uma enfermidade colocasse uma
vírgula nessa longa e irrepreensível carreira de aviação civil.
Algumas
línguas tornaram convencional um provérbio conhecido. A vida é como um livro.
Cada dia uma nova página e, a cada hora, uma nova Vírgula. Nem lápis pode
escrever o futuro e, nenhuma borracha pode apagar o passado. Mas, chega sempre
um momento em que Deus nos retira o lápis e escreve Fim. Se o papel continuar na
mesa, cockpit, Cdte. Carlos Soares, ainda, poderá escrever outras e novas
páginas para a Aviaçao nacional, paixão que abraçou, ainda jovem e, se
consagrou como dos mais seguros e reconhecidos pilotos do país e da sua querida
terra natal.
Hoje,
ainda no limiar do mês de Julho, coincidência ou não, quando, também, nasceu
Amélia Earhart, a primeira mulher piloto do mundo, (1897-1937) Carlos Soares
conheceu a luz do mundo, franzino e de poucas falas, e, jurou fazer dos ares a
sua casa e marca. Em Julho nascem guerreiros e, nele, se constroem as vitórias
e se fortificam mais dotados. Cdte Soares faz parte desse naipe.
Entre
Pemba e Nampula se criou uma ponte. Todos os devaneios. Soares se juntou a TTA,
fez pulverização, amadureceu e entrou, por mérito, para a LAM. Amadurecido e
determinado, se fez e provou ao mundo o seu querer e determinação. Rescrever a
história da segurança aérea, suavizar os passageiros menos viajados e iluminado
mentes de várias gerações.
Cdte
Soares deve ter sido o primeiro e, talvez, dos poucos, que fazia os discursos
em quatro línguas. Francês, inglês, português e Swahili, sempre que precisava
de informar aos passageiros sobre as coordenadas dos percursos. Aqui, no
Swahili, residia o encanto e o prazer de ter uma língua nacional falada a
33.000 pés. Isso lhe valeu alcunhas e elogios. Admiradores e fanáticos.
Mas,
era a suavidade das suas aterragens, em pistas mais curtas como Pemba e
Lichinga, onde colocava a perícia e habilidade. Quem o conheceu fará referência
a mestria. Fazia destes lugares pequenos tapetes. Era o Leonardo da Vinci do
norte.
A
história da aviação no mundo e em Moçambique, será sempre complexa. Ou não será
que o desejo de voar esteve sempre presente na história da humanidade. Para
Moçambique, voar ainda parece um sonho realizável, sobretudo, quando alguém nos
paga à passagem. Muitos dos passageiros ainda acreditam que os aviadores são
dotados de poderes divinos, ou ainda, em alguns momentos, eles foram carregados
ao ar por animais voadores. Mas, aviação continua sendo velocidade, coração nas
mãos, facilidade de manobra, segurança, capacidade de carga e sobretudo de
emprestar o sonho da alegria as crianças e aos passageiros de primeira jornada.
Soares os conhece bem e, em sua língua materna, ele soube prolongar esses mitos.
Só
mentes brilhantes tatuam seus caminhos em noites de lua cheia. Comandante
Carlos Soares deixou-se transportar para tantos ares e pistas. Procurou, em
todas as asas e ases da história da aviação civil moçambicana o sentido do
desafio, o melhor para engrandecer uma marca e a mocambicanidade que ainda
iluminam os céus, a vida e os corações de todos que querem fazer deste país, um
lugar melhor .
De
repente, como que exorcizando identidades aereas, nos sentimos possuídos por
vontades e harmonias sincronizadas, revelando as essências do nosso tempo e de
tantos voos e peripécias.
Até
parece que fomos o impelidos para nos retratarmos, refazendo lembranças
espaciais, percursos e rotas dos tempos.
Hoje,
nesta celebração, revemos tantas histórias e facetas de um profissional e Pai
que assiste o país e o filme dos céus, sentado na sua poltrona feita plateia.
Dos passageiros e amigos ficam nestas letras rabiscadas a lápis, um
reconhecimento profundo e, a certeza de que nenhuma vírgula travará seu
talento.
Entrincheirados,
nesta quarentena coronária, resgatamos valores de utopias distanciadas. O mundo
já não quer saber de nós e, prescinde dos nossos afectos. Parabéns Cdte Carlos
Soares. Muita saúde e resguarde-se! O país saberá fazer-lhe o devido
tributo.(X).
Jorge Ferrão , Julho, 2020.
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