sexta-feira, julho 10, 2020

Os mitos sobre os quais 2


livro Luis de Brito | IESEEm “A Frelimo, o Marxismo e a Construção do Estado Nacional 1962-1983”, o também investigador associado do IESE, Luís de Brito,  trata de separar o que chama de anti-colonialismo e nacionalismo no contexto da luta pela libertação de Moçambique. Explica que a participação camponesa na luta da Frelimo, desde as formas mais simples de apoio até ao engajamento no seu exército, não é mais do que a expressão da revolta desse grupo social contra as práticas do Estado colonial. “Por outras palavras, é uma forma simples de anticolonialismo”, diz, acrescentando que “de facto, não havia uma consciência nacional no seio do campesinato”. De acordo com a fonte, a chave para a participação dos camponeses na guerra está na sua relação conflictual com o Estado, seja ele qual for.

Mas não é que os assimilados não tenham tido motivações anti-coloniais. As tinham, só que, de natureza diferente das dos camponeses. “Eles revoltam-se por causa da discriminação racial e das humilhações de que são vítimas”, diz. Segundo De Brito, foi a frustração de não terem as mesmas oportunidades que os brancos, de não serem verdadeiramente reconhecidos na sua qualidade de cidadãos portugueses, que levou os assimilados a se engajarem no combate anticolonial. Ao contrário dos camponeses, prossegue, o seu anti-colonialismo não se limita à vontade de destruir a ordem colonial; para eles, a destruição da ordem colonial está, indissoluvelmente, ligada a um projecto de criar uma sociedade nacional.
“Eles são nacionalistas no sentido de que o seu objectivo é criar um Estado nação moderno e independente. Ao referir-se à vontade do «povo», de que o movimento que eles dirigem seria a expressão, colocam-se como os seus «representantes», legitimando assim a sua aspiração ao poder: eles consideram-se a vanguarda necessária para conduzir a luta das massas colonizadas contra o poder colonial”, refere. No entendimento do autor, é evidente que a luta liderada pela Frelimo era, fundamentalmente, anti-colonial no seu conteúdo, mas afirmava-se nacional no seu discurso. “Graças às alianças formadas dentro da Frelimo entre os diferentes grupos sociais que aí se encontram representados, as reivindicações nacionalistas das camadas urbanas aparecem como sendo as reivindicações de todos os moçambicanos”, diz. Assim, toda uma ampla frente social, constituída por urbanos e rurais, intelectuais, pequenos assalariados e camponeses, confirmava o ideal nacionalista do grupo dominante em formação, essencialmente, formado por intelectuais e urbanos do sul e que se foi, gradualmente, constituindo ao redor do presidente Mondlane.
“Embora representassem apenas uma pequena fracção da sociedade colonial, eles eram, pela sua escolaridade, os detentores do conhecimento modern e das habilidades necessárias para a organização efectiva do aparelho político. Eram, também, pela sua posição social particular, os portadores da ideia nacional”, avança, acrescentando que “de facto, os termos do discurso fundador da Frelimo apelavam à união de todos os moçambicanos sem distinção «de origem étnica, condição de fortuna, confissão religiosa ou filosófica e sexual»”.

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