Em “A Frelimo, o Marxismo e a Construção do
Estado Nacional 1962-1983”, o também investigador associado do IESE, Luís de
Brito, trata de separar o que chama de
anti-colonialismo e nacionalismo no contexto da luta pela libertação de
Moçambique. Explica que a participação camponesa na luta da Frelimo, desde as formas
mais simples de apoio até ao engajamento no seu exército, não é mais do que a
expressão da revolta desse grupo social contra as práticas do Estado colonial.
“Por outras palavras, é uma forma simples de anticolonialismo”, diz,
acrescentando que “de facto, não havia uma consciência nacional no seio do
campesinato”. De acordo com a fonte, a chave para a participação dos camponeses
na guerra está na sua relação conflictual com o Estado, seja ele qual for.
Mas não é que os assimilados não tenham tido
motivações anti-coloniais. As tinham, só que, de natureza diferente das dos
camponeses. “Eles revoltam-se por causa da discriminação racial e das
humilhações de que são vítimas”, diz. Segundo De Brito, foi a frustração de não
terem as mesmas oportunidades que os brancos, de não serem verdadeiramente
reconhecidos na sua qualidade de cidadãos portugueses, que levou os assimilados
a se engajarem no combate anticolonial. Ao contrário dos camponeses, prossegue,
o seu anti-colonialismo não se limita à vontade de destruir a ordem colonial;
para eles, a destruição da ordem colonial está, indissoluvelmente, ligada a um
projecto de criar uma sociedade nacional.
“Eles são nacionalistas no sentido de que o seu
objectivo é criar um Estado nação moderno e independente. Ao referir-se à
vontade do «povo», de que o movimento que eles dirigem seria a expressão,
colocam-se como os seus «representantes», legitimando assim a sua aspiração ao
poder: eles consideram-se a vanguarda necessária para conduzir a luta das
massas colonizadas contra o poder colonial”, refere. No entendimento do autor,
é evidente que a luta liderada pela Frelimo era, fundamentalmente, anti-colonial
no seu conteúdo, mas afirmava-se nacional no seu discurso. “Graças às alianças
formadas dentro da Frelimo entre os diferentes grupos sociais que aí se
encontram representados, as reivindicações nacionalistas das camadas urbanas aparecem
como sendo as reivindicações de todos os moçambicanos”, diz. Assim, toda uma
ampla frente social, constituída por urbanos e rurais, intelectuais, pequenos
assalariados e camponeses, confirmava o ideal nacionalista do grupo dominante
em formação, essencialmente, formado por intelectuais e urbanos do sul e que se
foi, gradualmente, constituindo ao redor do presidente Mondlane.
“Embora representassem apenas uma pequena fracção
da sociedade colonial, eles eram, pela sua escolaridade, os detentores do
conhecimento modern e das habilidades necessárias para a organização efectiva
do aparelho político. Eram, também, pela sua posição social particular, os
portadores da ideia nacional”, avança, acrescentando que “de facto, os termos
do discurso fundador da Frelimo apelavam à união de todos os moçambicanos sem
distinção «de origem étnica, condição de fortuna, confissão religiosa ou
filosófica e sexual»”.
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