Óscar Monteiro, que integrou o grupo
que produziu a primeira Constituição da República de Moçambique, defende uma
Função Pública dos melhores, “sem nepotismo nem amiguismo”, um anseio que
contrasta com a realidade actual. No debate promovido pelo Conselho
Constitucional, na semana que o país comemora os seus 45 anos de Independência,
com os velhos desafios a acompanhar o percurso, Monteiro relembra que a Lei-mãe
não é e nunca foi uma cópia da Constituição portuguesa.
A comunicação de
Óscar Monteiro traz um retrato de Moçambique desde a sua génese, denunciando as
suas fragilidades, os ideais imperativos que viabilizaram a construção de uma
Nação, a criação da primeira Constituição, a necessidade de um Estado
emancipado e termina com imagem de uma descentralização comprometida. Monteiro
é veterano da luta de libertação nacional e, na última sexta-feira, foi o
orador principal da mesa- redonda organizada pelo Conselho Constitucional (CC),
centrado no tema “As fontes da primeira Constituição da República”, numa série
de debates que remonta “a origem e desenvolvimento do constitucionalismo
moçambicano”.
De acordo com Óscar
Monteiro, a actual estrutura política de governação em Moçambique não permite o
oposto: “O bom funcionamento do Estado continua a ser preocupação dos partidos
e da sociedade, incluindo da Sociedade Civil. Mas tal não significa que um
partido permaneça como cúpula do Estado, preenchendo todos os lugares e
determinando todas as decisões”, observa, numa radiografia que, apesar deste
ser um anseio colectivo, reflecte a realidade do dia. Mais adiante, Óscar
Monteiro explica que para este continuar a existir como partido, é preciso que
essa organização retome a sua verdadeira e originária vocação de mobilizar e
educar os cidadãos, estar à escuta do sentimento popular. “Significa redefinir
critérios de nomeação, torná-los transparentes. Significa também estabilizar a
administração, abandonar a prática de alterações constantes de chefias
intermédias, no fundo, estabelecer uma separação entre o nível político e o
nível profissional da
Administração Pública”, afirmou, para mais adiante acrescentar que “significa
atrair os melhores para a administração, atrair as forças vivas da sociedade
que vêm emergindo, ansiosas de servir o bem público. Uma Função Pública dos
melhores, sem nepotismo nem amiguismo”.
O orador foi um dos
membros da comissão que redigiu a primeira Constituição
da República, tendo acrescentado que a Lei-mãe não é e nunca foi uma cópia da
Constituição portuguesa.
Uma crítica que com o tempo esmoreceu.
“Haverá algo de utopia nesta proposta, mas uma organização
que fez o trabalho histórico de edificar o Estado também saberá dar o passo de
o emancipar. Afinal, o que queria o Presidente dizer quando apelou à
meritocracia no seu discurso de posse do seu primeiro mandato? Este é mais que
um desafio, uma condição para dar sentido ao novo passo de descentralização que
acaba de ser dado. Um novo constitucionalismo”, afirma. É que, no entendimento de Óscar Monteiro, o
Estado, na sua dimensão de Estado-Governo, deve ganhar a sua própria
personalidade, ser constituído por cidadãos escolhidos pela sua capacidade de
bem exercer a sua função, o que quer dizer um Estado competente, com personalidade
própria e confiança nas suas decisões, orientado nas grandes opções pelos
resultados das eleições, mas livre de se organizar, tomar as suas decisões,
escolher modelos de gestão, formar os seus quadros, dando especial atenção aos
quadros-chave, definir formas de implementar as políticas que melhor servem os
programas vencedores. O homem,+na foto ,da esquerda do primeiro governo de Mocambique, o sexto- que participou nas negociações públicas e
confidenciais sobre os Acordos de Lusaka assegura que a experiência de
administração das zonas libertadas, que visava o estabelecimento do poder
popular e os Acordos de Lusaka, foi fundamental para a criação de um quadro
institucional no qual surgiu o Estado novo.
Rui Baltazar,+na foto ,da esquerda do primeiro governo de Mocambique, o segundo/ primeiro presidente do CC, fez também parte
dos convidados da mesa-redonda, eventos que poderão ter continuidade nos
próximos dias. Na sua intervenção, Baltazar disse que depois da Independência, Moçambique
conseguiu impor-se como Estado de Direito. Por isso deve-se atribuir mérito ao
grupo de homens e mulheres que conseguiram evitar um vazio legal num momento
crucial de afirmação da Nação moçambicana. No debate ficou consolidada a teoria
de que a primeira Assembleia Constituinte só foi estabelecida em Moçambique com
a criação da Assembleia Popular. Entretanto, alguns participantes defenderam
que o país deve aproveitar a experiência de administração descentralizada das
zonas libertadas para criar um novo constitucionalismo baseado na administração
descentralizada, mas que responda as vontades do povo e não dos partidos
políticos. ( Nelson Mucandze)
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