Com a intenção de perceber as motivações da permanência dos pescadores nas redondezas da Rua Comandante Gaivão,cidade da Beira, aquele grupo de operadores informais foi abordado e por unanimidade admitiu não ter aval para pescar e muito menos autorização para secar camarão fino e instalar barracas naquele local. Filipe Jaime, de 30 anos de idade, disse que se encontra naquele lugar há sensivelmente seis meses e que desenvolve a actividade com um amigo. Apesar de saber que ali é proibido erguer palhotas e secar camarão, ele afirmou que não tem outro sítio para habitar, daí que, tendo visto outros pescadores a instalar suas casotas, enveredou pelo mesmo caminho e está a conseguir sustentar a sua família.“Sei que estou a viver aqui ilegalmente, mas é aqui onde ganho o meu pão” — disse Jaime. Há queixas dos moradores, segundo as quais vocês secam camarão fino que espalha cheiro horrível na zona, será isso verdade? — o nosso interlocutor, respondeu negativamente, afirmando, porém, que a secagem em questão é feita longe do “Prédio Comboio”.“É verdade que cheiro é cheiro, mas estendemos longe do prédio e mesmo aqui onde estamos está a cheirar” — indicou. Por seu turno, Tute Fernando Dias, de 19 anos de idade, outro pescador, disse que exerce a sua actividade naquele local há cerca de três meses. Ele contou que recebeu um convite de um irmão seu para pescar, mas reconheceu que o lugar escolhido não é próprio para erguer palhotas nem para estender camarão fino, porque está próximo de residências.“Eu e meu irmão não temos outra alternativa de vida. Por isso, erguemos a nossa barraca onde preparamos as nossas refeições ao longo do dia e dormimos durante a noite. Sabemos que o local não foi concebido para aquilo que estamos a fazer, mas não termos outra alternativa, a vida é que nos obriga”— justificou Tute Fernando Dias.Questionado sobre o barulho de que se queixam os moradores da Rua Comandante Gaivão, o nosso entrevistado disse que “às vezes bebemos, mas nunca provocamos barulho porque sabemos que do outro lado vivem outras pessoas que precisam de descansar, sobretudo nas noites, pois são na sua maioria trabalhadores”.Outro pescador abordado chama-se José Chia, de 53 anos, e é o mais velho do grupo. Ele disse que desenvolve a sua actividade há mais de três anos e sempre viveu naquele sítio, juntamente com a sua família.“Vivo aqui com os meus filhos e eles estão a estudar graças a esta actividade que estou a desenvolver aqui” — revelou Chia.Teve alguma autorização para erguer a sua palhota neste local? — afirmou que tudo está a ser feito à margem da lei. “A vida é que nos fez parar aqui. É verdade que passamos várias noites ao relento no momento de mares altas, pois a água do mar atinge as nossas barracas, mas não temos como evitar isso”, frisou.Indagado acerca da barulheira de que os vizinhos se queixam, José Chia afirmou que “onde vivem pessoas não falta barulho, mas não fazemos barulho que perturbe as pessoas”.Relativamente à secagem de camarão fino, aquele pescador disse que o produto é deixado ao sol nas proximidades dos acampamentos, daí que o cheiro facilmente chegue às moradias circunvizinhas.
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