terça-feira, maio 10, 2011

Não aterrar na pista "Pista Dhlakama’"

Sobre o incidente registado a 22 de Abril findo na vila distrital de Marínguè, opondo agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR) e membros das forças da Renamo que cuidam até agora da então base central durante a Guerra Civil que durou 16 anos, ainda há dados não revelados. A partir de Nampula, a Reportagem do Canalmoz falou com agentes da FIR afectos às unidades de Marínguè. Agentes bem identificados pediram-nos anonimato, por alegadamente temer represálias, e revelaram que no dia da refrega alguns dos colegas morreram. “No dia dos confrontos, 13 dos nossos colegas perderam a vida nos confrontos que tivemos com os poucos homens da Renamo, que fizeram frente à FIR”, disse uma das fontes. “Nunca esperávamos, como faziam-nos acreditar os nossos chefes, que existisse alguém em Moçambique que desafiasse a FIR”, e com estes acontecimentos “ficámos claros que a Renamo é forte e que pode destruir muita coisa”, observou um dos nossos interlocutores.Disseram-nos outros ainda que “o Governo está a esconder o que realmente aconteceu e isto pode criar revolta na força e nas famílias dos que perderam a vida”.

O Presidente da República, Armando Guebuza, encontra-se em “Presidência aberta” e agora também designada por “inclusiva” à província de Sofala desde ontem. Iniciou a visita pelo distrito de Búzi, a Sul da província, esperando-se que escale o distrito de Marínguè, a Norte. Pelo que nos disseram as fontes, “o PR vai fazer comício em Nhamacala, a trinta e cinco quilómetros da vila do distrito de Marínguè, temendo-se revolta dos agentes da Renamo e da população” e “se ele for a vila de Marínguè vai ser por terra e numa situação descrita”.“A não aterragem na ‘Pista Afonso Dhlakama’ não é da vontade do PR, mas foi assim aconselhado depois da visita efectuada pelo general na reserva Alberto Chipande e o comandante Binda”, revelaram os nossos interlocutores.

A história começa com uma provável desobediência a hábitos militares. A vila de Marínguè dispõe de duas pistas de aterragem de aeronaves de pequena escala. Uma delas foi construída aquando da colonização, cuja dimensão não excede oitocentos metros. A segunda foi construída aquando da guerra dos dezasseis anos e é obra da Renamo, por isso foi baptizada com o nome “Afonso Dhlakama”. Esta pista dispõe de uma dimensão de cerca de mil e quinhentos metros. A picada de acesso à ex-base e residência de Dhlakama em Marínguè, parte da pista com o nome do líder da Renamo.Todavia, nos tempos do então Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, a utilização daquela pista estava sujeita a uma prévia autorização por parte dos militares da Renamo sedeados na Base de Marínguè.Com o advento da mudança na máquina governativa moçambicana ao seu mais alto nível, este gesto foi banido. Aliás o Governo de Guebuza “nunca tinha usado” a tal pista, contam os agentes da FIR.No presente ano, pretendendo o Presidente da República, Armando Guebuza, visitar o distrito de Marínguè, ordenou a limpeza da pista “Afonso Dhlakama” com vista à aterragem dos helicópteros que o transportam, incluindo a sua comitiva. O Governo local procedeu como era hábito, mas desta vez viu negado o pedido pela parte da Renamo, alegadamente porque “o vosso presidente Guebuza é muito arrogante e luta para acabar com a Renamo”.Imbuídos da tal “arrogância”, não tardou uma ordem central: “Com ou sem autorização devia ser limpa a pista”. O que chegou a começar. Foram para lá jovens da OJM (Organização da Juventude Moçambicana), organização da Frelimo. “Quando aqueles militares da Renamo se aperceberam vieram nos chamar atenção e quando nós fomos falar ao comandante distrital da PRM, ele veio com outros colegas e material bélico para disparar contra a base da Renamo”, conta-nos uma das nossas fontes da FIR em Marínguè. “Por isso e em resposta eles abriram fogo contra nós, morrendo assim 13 dos nossos colegas e muitos outros contraíram ferimentos”. “Com isso, nós recuámos para a vila, abandonando o blindado e os corpos dos nossos colegas”. “Quanto aos feridos alguns foram para a cidade da Beira, para receber tratamentos hospitalares”, outros ainda “foram, por iniciativa própria, para a cidade de Quelimane”, onde estão internados.Daí em diante as atenções viraram para Marínguè, tendo a Frelimo enviado, para levantar moral nos agentes da FIR, o general na reserva, Alberto Chipande, e um outro comandante denominado apenas por Binda.As mesmas fontes disseram-nos que “a situação aqui (em Marínguè) está fértil para os homens da Renamo e para a população em geral e se medidas não forem tomadas algo de pior poderá acontecer em Marínguè e em todo o país”.Esses mesmas fontes disseram-nos também que “mais de quinze camiões equipados com material bélico de alto nível e respectivos agentes foram enviado a Marínguè a partir de Maputo dias mais tarde do incidente”. (Aunício da Silva)

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