segunda-feira, maio 16, 2011

Ganhardes António questiona Presidente

A população do posto administrativo de Mugeba, distrito de Mocuba, na Zambézia, diz não conseguir esquecer-se da “sua” linha férrea, ligando o distrito à cidade de Quelimane, removida nos últimos tempos, sem qualquer explicação e aparentemente para alimentar interesses de negócios estranhos.Num comício realizado sábado, no quadro de Presidência Aberta e Inclusiva que o Chefe do Estado está a efectuar à província da Zambézia, a população pediu explicações a Armando Guebuza sobre as circunstâncias em que ocorreu o processo de desmantelamento das infra-estruturas ferroviárias, pois, cerca de cinco anos depois da operação de remoção, ainda nada está localmente esclarecido.Ganhardes António, cidadão que levantou a questão, acolhida com aplausos da maioria dos presentes, argumentou que a linha férrea Mocuba-Quelimane revestia-se de extrema importância no seu quotidiano, uma vez que possibilitava o fácil transporte de carga, a custos mais baixos em relação ao transporte rodoviário.O inconformismo da população, tal como deixou transparecer o interveniente no comício, acentua-se sobretudo quando se sabe que, com a subida dos preços de combustíveis, a tendência dos transportadores rodoviários tem sido de frequente agravamento de tarifas, asfixiando cada vez mais a já fraca actividade económica.“O transporte terrestre está a tornar-se cada vez mais oneroso e a linha férrea seria hoje uma importante alternativa, porque a tarifa é relativamente acessível. Mas, para nossa surpresa, assistimos a nossa linha a ser desactivada, sem qualquer explicação”, lamentou Ganhardes, que se identificou como professor de profissão.O Presidente da República esclareceu que afinal a infra-estrutura encontrava-se inoperacional em consequência da sabotagens ocorridas durante o conflito armado. “Vocês sabem o que foi que aconteceu porque, nos últimos tempos, os comboios já nem circulavam pela via-férrea, na sequência daquilo que ocorreu durante o conflito armado”, explicou.Refira-se que a remoção da linha férrea, cujo processo ocorreu até 2008, terá merecido anuência do Governo, o qual considerou que a reactivação da infra-estrutura exigiria investimentos superiores ao que seria necessário para a construção de uma nova via.O debate em volta do assunto está a ser suscitado por cidadãos de muitas regiões da Zambézia, tanto é que até nas suas visitas aos distritos o governador da província, Francisco Itai Meque, tem sido confrontado com reacções de apreensão de gente que desfila na tribuna mas a expressar desilusão pela remoção da linha férrea em causa.Muitas pessoas alegam que as comunidades locais não foram consultadas nem sequer receberam uma simples explicação sobre o que estava a acontecer com uma via que se diz que alimentava expectativas para um futuro melhor, com a possibilidade de dinamizar o sector produtivo, permitindo o intercâmbio comercial entre habitantes de diferentes pontos da Zambézia.O Presidente Guebuza, que iniciou a Presidência Aberta à Zambézia na sexta-feira, tem sido confrontado com preocupações de carácter pessoal, das comunidades, algumas das quais relacionadas com frustrações sociais, que começam a ser arrastadas para fóruns públicos e de decisão.Uma mulher de 48 anos, que se identificou por Beatriz Neves, derramou lágrimas perante o Presidente da República, implorando que seja encontrada uma solução para a sua mãe, que trabalhou mais de 30 anos na Saúde em tempos de guerra, e que hoje, estando doente, não beneficia de assistência social do Governo.Alegou que percorreu todas as instâncias locais e até do poder central à procura de solução, mas a resposta que recebe é a de que o nome da senhora não aparece nos arquivos da função pública como tendo servido o Estado em algum momento.“E, para piorar a minha situação, vieram dizer-me aqui em Mocuba que o nome não consta porque uma maluca invadiu o arquivo, apoderando-se de todos os documentos, posteriormente vendidos no mercado informal”, indicou a cidadã.O Chefe do Estado deverá visitar cinco distritos da Zambézia durante a presente Presidência Aberta, que termina quarta-feira. Ele já esteve em Mopeia, Mocuba e Ile, devendo trabalhar ainda em Gilé e Namacurra.

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