domingo, setembro 11, 2011

Uma preta refrescante

Um grupo de feministas moçambicanas acaba de fazer um favor publicitário de graça à única cervejeira nacional. E não é preciso ser-se muito inteligente para chegar a esta conclusão. Vamos aos factos: Na passada terça-feira, o Fórum Mulher convocou uma conferência de imprensa, em Maputo, para alegadamente denunciar uma publicidade que atenta contra a dignidade da mulher, em geral, e da moçambicana, em particular. Tudo gira à volta de uma publicidade em painéis de rua, jornais e nos órgãos de comunicação de massas (principalmente as TV), sobre a cerveja “Laurentina preta”, uma das várias cervejas produzidas pela fábrica 2M. Uma representante daquela associação feminina disse, perante as câmaras de televisão, que tal publicidade é “uma vergonha nacional e internacional”, atendendo que é lançada numa altura em que Moçambique tem visitantes estrangeiros que participam nos Jogos Africanos. Ao mesmo tempo exigia que se retirasse tal publicidade, caso contrário uma marcha de protesto podia ser feita e mesmo um processo judicial poderia ser desencadeado. Como era óbvio, para fazer a notícia televisiva foi mostrada com destaque tal publicidade. Quer dizer, pessoas que vivem em zonas onde os jornais não chegam tiveram a oportunidade de ver no conforto das suas casas, nos locais de lazer, nos de trabalho, entre outros, tal publicidade. Mesmo nunca tinha prestado atenção a esta publicidade, tendo sido chamado a ver em hora nobre, a dos telejornais, em que a publicidade é paga a preço de ouro. No noticiário foi dito que a direcção da cervejeira decidiu mesmo pela retirada daquela publicidade. Terá o Fórum Mulher atingido o seu objectivo? Não. E explico: quantas pessoas que não tinham visto esta publicidade tiveram ocasião de a ver pela TV? A resposta é lógica: muitas. Quem ganhou com isso? A cervejeira que viu o seu produto (a cerveja preta) e a própria publicidade a serem levados ao debate a nível nacional. Este é o preço de fazer as coisas sob emoção. Se o Fórum Mulher tivesse pesado o resultado final da sua iniciativa, não teria optado por fazer o que fez, nomeadamente convocar uma conferência de imprensa que teve um efeito contraproducente. Bastava para isso ter se feito assessorar por pessoas conhecedoras de “marketing” publicitário. Para mim, publicidade é arte. Para fundamentar basta observar, por exemplo, os quadros do recentemente falecido Malangatana, o ícone da arte moçambicana, para ver neles homens, mulheres e crianças completamente nuas. Nem por isso os quadros do mestre deixavam de ser comprados a preço de ouro e admirados em todo o mundo. Já agora, porque aquele fórum feminino preferiu falar apenas da publicidade da “Laurentina Preta” e ignorar a publicidade da “Tentação”, a tal aguardente barata que transforma adolescentes em velhos, sem nunca terem passado da fase adulta? Não entendi esta ideia de pôr o país inteiro a debater este assunto, alegadamente porque “choca” com os valores das mulheres moçambicanas, como se isso fosse de interesse nacional. Muitos problemas afectam esta camada social, que é a maioria da população moçambicana.O problema principal da mulher moçambicana é a pobreza, que por seu turno é origem de muitos outros, como a prostituição, analfabetismo, casamentos prematuros, falta de planeamento familiar, violência doméstica, aborto clandestino, HIV/Sida, entre muitos outros. Para debater estes problemas e encontrar possíveis soluções é que devem servir organizações feministas no nosso país.Ocorre-me também perguntar aqui e agora: e as novelas que todos os dias passam nas nossas televisões não dizem nada às nossas intelectuais que fazem parte das direcções dessas organizações feministas? Podia se dizer que é aí que existe de facto alienação cultural, e por vezes com sexo ou palavreado pornográfico explicito, tudo isso visto até por crianças. Só que sobre este assunto preferem silêncio total, se calhar porque gostam das novelas.Já repararam, minhas irmãs, como se vestem hoje em dia muitas mulheres moçambicanas? Calças de cinta baixa que deixam ver o que os velhos na minha língua materna chamam de “massinguita” (uma palavra que não consigo traduzir, mas acho que entende). Devia ou não se proibir a venda deste tipo de roupa? Eis mais um motivo de debate... Já agora: já imaginou também a Fórum Mulher que outro efeito terá essa publicidade mesmo que tenha sido retirada? Não nos esqueçamos que estamos num mundo globalizado e a Internet é o meio tecnológico que chega a todo o lado.Como diz o povo, o proibido é apetecível. Sem ter pago nada, de facto a cervejeira nacional vai facturar a valer, tudo à custa da ingenuidade intelectual de quem provocou toda esta celeuma. Sem esforço nenhum, de facto, a cervejeira nacional, com a sua “preta” atingiu os pícaros da fama.
Na
foto de baixo cabe aos portugueses "puxarem" o que consomem...

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