segunda-feira, setembro 05, 2011

A nossa moçambicanidade


Os Jogos Africanos de Maputo-2011 já estão em movimento. No sábado aconteceu a cerimónia de abertura, dirigida pelo Presidente da República, Armando Guebuza, na presença de várias outras figuras do país e do mundo. Moçambique vai assim fazer mais uma página da sua história e, nesta página que se espera de ouro, o país fez a festa de abertura revivendo a sua história, num espectáculo teatral, com música e dança à mistura, mesmo ao nível da dimensão destas consideradas Olimpíadas Africanas. “Elevem as vossas marcas e fixem recordes. Divirtam-se e que o fair-play seja uma constante em todos os jogos que realizam”, foi o apelo de Guebuza, lançado no majestoso Estádio Nacional do Zimpeto para cerca de 45 mil pessoas. Vinte modalidades já estão em acção, em Maputo, Matola e Chidenguele, representando 42 países.Perante altos dignitários do Estado e do Governo de Moçambique, bem como de instituições desportivas mundiais, como são os casos do presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogger, e do presidente do Conselho Superior do Desporto de África (SCSA), Jacques Yvon Ndolou, a cerimónia de abertura dos Jogos Africanos Maputo-2011 aconteceu sábado no nosso majestoso Estádio Nacional do Zimpeto, na capital do país, e foi testemunhada ao vivo por mais de 45 mil pessoas.Coube ao Presidente da República, Armando Guebuza, declarar abertos os Jogos, com a multidão a vibrar, animando sobremaneira a festa que, diga-se, foi algo ímpar da nossa história, mais uma página, para acrescentar a tantas outras, que foram contadas na ocasião pelos actores deste referido espectáculo que marcou a abertura do evento.Durante algumas horas, o país parou para acompanhar a festa. Foram mil e uma histórias que fizeram do Estádio Nacional do Zimpeto o centro das atenções do povo moçambicano. O “Diário de Moçambique” vai contar algumas destas histórias, que marcaram a abertura desta 10ª edição dos Jogos Africanos, a prolongar-se até ao dia 18 de Setembro.


ACORDAR EM FESTA

A Vila Olím
pica acordou para o dia de abertura em festa, com a delegação moçambicana a reunir-se, ainda pela manhã, para içar a sua bandeira na vila, com o hino nacional a acompanhar o hastear até ao topo.Na ocasião, ficaram promessas de se lutar pelas medalhas, que é um dos objectivos de Moçambique neste evento que organiza.Jamais o país investiu tanto por uma causa desportiva, sendo mostras disso a vila olímpica construída em menos de um ano, com 848 apartamentos, número este aproximado ao dos bailarinos, essencialmente jovens e estudantes, que fizeram o espectáculo de abertura dos Jogos, denominado “África Mítica”, uma espécie de um seriado de peças teatrais corrido, ao longo do qual foram vividas os diferentes momentos da História de Moçambique, parte dela idêntica à de muitos outros povos africanos.A festa de abertura foi abrilhantada não só pelos mais de 800 bailarinos, como também mais de cem músicos e oito intérpretes, entre eles Moreira Chonguiça e Casimiro Nhussi. A História de Moçambique foi contada com um espectáculo corrido, denominado “África Mítica”, sobre a penetração do colonialismo no continente, a resistência dos povos, os processos de libertação, e mais.Os artistas abordaram a vitalidade das culturas e tradições moçambicanas, incluindo os jogos como factores de socialização e de desenvolvimento. “África Mítica” expressa igualmente as emoções e conquistas.A harmonia de luz e cor tornaram o espectáculo um momento único, marcante e inolvidável, reavivando a memória das elites africanas e mostrou às novas gerações, as fases da nossa vida.O destaque vai para o Massacre da Moeda, a dominação portuguesa, a formação dos três movimentos de libertação, Manu, Unami e Udenamo, a formação da frente de libertação, que culmina com a conquista da independência nacional, numa interpretação fantástica.A história contempla a fase em que mulheres vão à busca de água, em cântaros ou bilhas, os homens empunhavam arcos e flechas, portanto, uma vida normal das famílias moçambicanas (africanas no geral).À volta da lareira artificial, simbolizada por uma estatueta no centro do relvado, com velas acesas no seu interior e lenhas também artificiais, desceu Moreira Chonguiça, cantou com os alunos da Escola Nacional de Canto e Dança, instituição onde se iniciou como músico, interpretando a canção “Vozes do Silêncio”, da sua autoria.Na canção, Chonguiça e os jovens chamam à nossa consciência sobre o perigo que o HIV/Sida representa para a humanidade.Casimiro Nhussi, um dos mais renomados bailarinos moçambicanos, interpretou Moçambique, da sua autoria, cantada em maconde, exaltando a unidade nacional e a moçambicanidade.A parte cultural começou bem mais cedo, tendo descido para o relvado vários músicos, entretendo na altura o pouco público presente no ENZ, enquanto se aguardava o esperado momento.A ponta final da cerimónia foi colorida pelo fogo-de-artifício, trazido da França. O céu de Maputo ficou bastante colorido, prendendo muitos espectadores no interior e fora do ENZ.O fogo de artifício teve dois momentos. No final do desfile, após o hino, numa espécie de “cheirinho”, e no final, já com maior intensidade.
A anteceder a parte oficial da abertura dos Jogos, desfilaram delegações de 36 nações presentes nesta festa desportiva africana (outras não estiveram no desfile). No entanto, o que ma
is ressaltou na vista de todos foi o facto de a delegação da Líbia ter deixado a fase que lhe cabia de desfilar, entrando num momento menos esperado. Ademais, partiu de trás a correr, empunhando a nova bandeira líbia, dirigindo-se à imprensa dizendo “we are free” (estamos livres). Parte do público aplaudiu o gesto. A aparição líbia coincidiu com a entrada da delegação de Moçambique ao ENZ, o que levou os líbios a pensarem que a longa ovação era a si dirigida. Até pode ter sido.A primeira delegação a desfilar foi a da Argélia, país que passou o testemunho a Moçambique, por ter sido o anterior organizador do evento. Moçambique fechou a marcha ao som da banda militar.Foram mais de cinco mil atletas, levando as bandeiras de 36 países que desfilaram no ENZ. Porém, não foi dada explicação sobre a ausência das seis nações que já estão nos Jogos. O número inicial de países que se tinham inscrito no evento era de 47, mas apenas 42 estão nos Jogos.Eis a lista dos países que desfilaram: Argélia, África do Sul, Angola, Botswana, Etiópia, Camarões, Cabo Verde, Congo-Brazaville, Costa do Marfim, Djibuti, Egipto, Eritreia, Benin, Nigéria, Gabão, Namíbia, Mauritânia, Ruanda, Lesoto, República Democrática do Congo (RDC), Libéria, Maurícias, Senegal, Tanzania, São Tomé e Príncipe, Seychelles, Suazilândia, Quénia, Togo, Tunísia, Gana, Líbia, Uganda, Zâmbia, Zimbabwe e Moçambique.
Flávia Azinheira, porta-voz dos atletas, disse à África inteira, num juramento de todos os grupos,
que todos estão determinados a participar da melhor maneira desta festa africana, respeitando o adversário.“Todos os participantes de África estão determinados a fazer dos Jogos momentos de confraternização, de troca de experiências, fazendo o nosso melhor. Prometemos respeitar o fair-play”, disse.

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