sábado, setembro 10, 2011

No bastidor dos nossos hospitais

As pessoas que normalmente recorrem aos centros hospitalares para atendimento médico, divergem quanto à qualidade dos serviços prestados nas áreas administrativas de Maputo e Matola. A diferença reside, fundamente, no que toca ao relacionamento com o pessoal auxiliar, por não serem “simpáticos” na forma como abordam os doentes e/ou seus acompanhantes. No bairro da Matola, falámos com três utentes, que foram unânimes nas acusações contra o pessoal auxiliar que, dizem, acabam assumindo todo o protagonismo num estabelecimento hospitalar. A razão é simples. São eles que fazem a ponte entre o doente e o médico. Daí que lhe cabe o direito (?) de escolher quem avança ou deixa de avançar para o gabinete de atendimento. No hospital situado na Matola, as pessoas com quem falámos acrescentam que outros funcionários de apoio têm, igualmente, “peso” na entidade. Eles garantem que tudo esteja em ordem e, mais do que isso, tratam de deixar tudo em ordem. Por isso, diz-nos um dos interlocutores, “eles se acham no direito de proferirem insultos às pessoas”. Esta situação acontece, em muitos casos, porque os utentes não conhecem as normas que regem um centro hospitalar. “Muitos consideram que, o facto de alguém estar a trabalhar num hospital lhe assiste o direito de andar a insultar ou a não ter de prestar contas aos doentes e seus acompanhantes”, desabafa Auxílio Zandamela.Este cenário é contrariado no gabinete médico. Regra geral, de acordo com as várias pessoas com quem conversámos, os médicos são mais simpáticos “e parecem dominar a área em que estão metidos”, procurando dominar ao pormenor eventuais sintomas num paciente. Para Álvaro João, os médicos não têm, sequer, tempo suficiente para estar com um doente, muitas vezes porque pressionados “pela presença, lá fora, de muita gente à espera de ser atendida”. Álvaro João afirma que a qualidade no atendimento é boa do ponto de vista médico, mas deixando muito a desejar quando a questão envolve o pessoal auxiliar. “São pessoas de quem duvido da sua formação profissional ou complementar, a avaliar pelo comportamento que têm demonstrado” tanto no hospital da Matola, como noutros onde Álvaro João tem frequentado. Já no Hospital José Macamo, quatro utentes dão nota negativa ao pessoal de apoio, mas também aos médicos e enfermeiros estagiários. Mário de Deus: “tanto faz. Às vezes são os funcionários de apoio que se comportam mal com os doentes e seus acompanhantes, enquanto noutras situações estes são mais simpáticos e os médicos cínicos”, sobretudo para os estagiários. Para ser preciso, Cacilda Banze acrescenta: “os médicos e enfermeiros estagiários costumam se enervar quando se fazem perguntas cujas respostas não conhecem. Eles se irritam quanto estão diante de um paciente que, por ter passado de vários médicos, começa a fazer observações pontuais”. Seja como fôr, de acordo com Cacilda João, há um enorme esforço no sentido de todo o pessoal que se encontra num determinado hospital, mudar de postura para melhor. No Hospital Central de Maputo a situação é mais delicada, uma vez que C. J. Fonseca, acompanhante, denuncia certos comportamentos que têm acontecido durante a noite nas salas de enternamento. “Já assistí uma enfermeira que se apresentou em estado de embriaguez” e os utentes mais antigos a confirmar tratar-se de um acto normal. C. J. Fonseca denuncia ainda a má prestação de serviço à noite, nas enfermarias. “Fazem-se negociatas, porque a funcionária trouxe de casa roupinhas para criançase as apresenta às mães ou acompanhantes destas”, anota C. J. Fonseca, a mesma que afirma nunca ter comprador tais roupinhas, apesar de já ter desconfiado represáliapor causa dessa atitude. Para finalizar: “dependendo do estado de espírito que nesse momento estiver o funcionário, tanto podemos gozar de um excelente atendimento, como do pior”. Margarida Tembe acha, por seu turno, que numa sociedade repleta de problemas derivados do elevado custo de vida, “é compreensível que os funcionários hospitalares também estejam afectados por isso”, uma vez que não estão isentos de dificuldades do dia-a-dia. Mas, acrescenta, porque “são pessoas que elegeram uma profissão delicada como a da medicina, precisam ser indivíduos especiais quando atendem os doentes e seus acompanhantes”, sublinha Margarida Tembe. Num outro desenvolvimento, Margarida Tembe afirma, todavia, existirem funcionários dotados de muita paciência no trato dos utentes, e reconhece que “também existem utentes que têm o hábito das provocações,acabando por complicar toda a prestação dos funcionários”. Na Clínica Especial do Hospital Central de Maputo, as duas pessoas com quem falámos dizem-se contentes pela prestação que têm estado a receber, e justificam isso com o facto de estarem a “pagar muito caro”. Não “Pagámos muito dinheiro para depois sermos mal atendidos…”, destaca um deles.( A.Cuna)

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