terça-feira, janeiro 18, 2011

Dinheiro contra dinheiro

A Confederação das Associações Económicas (CTA) lança fortes críticas ao Banco Central pelas medidas anunciadas, semana passada, para travar o aumento dos preços. Em carta enviada, ao governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, na posse do “O País”, os empresários pedem que o regulador recue e atacam-no por “não privilegiar os canais de diálogo estabelecidos entre o Governo e o sector privado”. No passado dia 11 de Janeiro, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) decidiu subir as taxas directoras, as principais variáveis no comportamento das taxas de juro praticadas no mercado. Assim, o Coeficiente de Reservas Obrigatórias, a taxa que os bancos comerciais depositam diariamente no banco mãe, subiu de 8.75% para 9%.Na mesma ocasião, foi ainda decidido aumentar as taxas de Facilidade Permanente de Depósitos e de Cedência, subindo, cada uma das variáveis, 100 pontos base. Com efeito, a taxa de Facilidade Permanente de Depósito passa de 4 para 5% e a de Cedência de 15,5 para 16,5%.O sector privado entende que as medidas aprovadas pela instituição comandada por Ernesto Gove poderão afectar sobremaneira o seu desempenho, em particular a área produtiva. Num documento composto por seis pontos, os empresários defendem que o aumento das taxas directoras terá impacto nas taxas de juros praticadas pelos bancos comerciais, uma vez que a maioria dos créditos concedidos pelos bancos são indexados à taxa de Facilidade Permanente de Cedência.A situação irá ainda reduzir ou quebrar as decisões de investimento privado na economia devido ao aumento do custo de financiamento, que reduz a capacidade de endividamento, afectando, assim, o crescimento económico. “Reduzirá o consumo, o que pode resultar na redução das receitas totais das empresas, agravando o problema da tesouraria das mesmas; dificultará a programação dos créditos junto da banca comercial, sobretudo para os empréstimos em curso, uma vez que os juros não param de subir”, lê-se na carta. O documento indica ainda que as decisões, que entram em vigor a 7 de Fevereiro próximo, podem ter efeitos contrários ao que se pretende. É que o aumento das taxas de juro vão reduzir a produção, o que implica o aumento das importações. Se assim for, diz a CTA, “causa-se uma nova pressão cambial sobre o metical que degenerará num novo ciclo inflacionário”. A confederação que congrega todas as associações empresariais entende que o Banco de Moçambique falhou na reacção para conter a inflação, que atingiu mais de 16% no ano passado. A carta a Ernesto Gove é clara: “o problema não está no excesso de liquidez no mercado financeiro, mas sim na falta de produção na economia nacional” e “as medidas tomadas pelo CPMO seriam compreensíveis se o país tivesse presente uma capacidade produtiva, onde fosse possível fazer a substituição de importações”. O sector privado acrescenta que a alteração às taxas directoras estrangula as empresas que deviam dar resposta a situação inflacionária. Diz também que tudo isto o Banco de Moçambique está a fazer a favor da estabilização nominal da moeda que servirá mais para pagar importações e não aplica-las no sector produtivo. Esta é a quarta vez em menos de um ano que são alteradas as taxas de referência, tornando o dinheiro mais caro no mercado. A CTA diz que é impossível aumentar a produtividade com custos de financiamento “muito altos” e sugere que “a medida deveria ser revista”.

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