O mundo tem data marcada para conhecer um novo país, na região sul do Sudão. Janeiro de 2011 é quando essa região se afastará do mais extenso Estado africano, que perderá 25% da sua área.Isso, pelo menos, é o que está previsto. Mas tal como o capitão do Titanic que vê o iceberg a aproximar-se desde longe, um desastre politico e social toma forma.O governo central do Sudão adiou mais uma vez o início dos preparativos para o plebiscito, inicialmente marcado para 9 de Janeiro. Faltando quatro meses para a votação numa região com infinitas dificuldades práticas, em que o acesso a aldeias é um inferno logístico, nem o registo dos eleitores foi feito. Ficou para Novembro, quando faltarem somente dois meses.E não que as autoridades tenham sido exactamente pegadas de surpresa. O plebiscito está marcado desde 2005, há longos seis anos, portanto.O Sudão é um país imenso, dividido em duas áreas bem distintas. O norte é árabe, com uma identidade cultural e étnica muito mais próxima do Oriente Médio. O sul é negro, e ressente de ter sido “colonizado” pelos vizinhos árabes ao longo de décadas. É uma região miserável até para padrões africanos. Quase 30 anos de guerras terminaram com um acordo de paz que prevê o tal plebiscito, em que o sul terá a oportunidade de declarar independência. É quase certo que optará por esse caminho, caso o voto ocorra e seja justo.Aí é que está o problema. Integrantes do alto escalão da ONU estacionados no país, fazem previsões catastróficas sobre um adiamento, ou mesmo cancelamento, da votação. Mais guerra, mais mortes, mais miséria. A desculpa oficial para o adiamento do início do processo de registo dos eleitores é dar mais tempo para a distribuição de formulários para os eleitores. A coisa ficou tão estranha que uma reunião de emergência foi realizada este mês em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, para evitar o iceberg sudanês. O facto de a comunidade internacional finalmente ter começado a mexer –se é obviamente uma excelente notícia. O governo do Sudão, controlado há duas décadas pelo general Omar al-Bashir, só entende a linguagem da pressão e da ameaça. Mais pressão e mais ameaça são necessários para que Janeiro seja o encontro marcado com um novo país, e não com uma nova tragédia africana.(Texto de Fábio Zanini)
sexta-feira, outubro 15, 2010
O iceberg sudanês
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