sexta-feira, outubro 15, 2010

As mexidas do núcleo

António Fernando, Indústria e Comércio, surge como a grande novidade, sendo vítima da inoperância do seu sector nomeadamente no que diz respeito à indisciplina que tem reinado no controlo de preços em produtos alimentares de primeira necessidade. Figura de destaque nesta nova série de mexidas de Armando Guebuza, pelo facto de ter sido o único que vinha da era Chissano, situação só equiparada com a do actual Ministro das Finanças. Basta referir que António Fernando começou como vice-ministro dos Transportes e Comunicações ainda no começo da década de 90, e daí para nunca mais sair dos sucessivos governos. José Pacheco (Interior), começou como Ministro da Agricultura, foi para Governador de Cabo Delgado, província onde deixou marcas que rapidamente levaram a Renamo a não ter simpatias com o agora retornado ao Ministério da Agricultura. Paulo Ivo Garrido até começou muito bem na posição de Ministro da Saúde, um sector problemático onde essencialmente o diálogo entre os profissionais na área tem sido um dilema, nomeadamente devido a diferenças de pensamento. Garrido rapidamente grangeou a simpatia de muitos profissionais, mas sobretudo das populações utentes, por causa das suas intervenções de combate à corrupção e à inércia nos hospitais públicos. Uma prática que foi sendo relegada a um plano secundário, visto que Paulo Ivo Garrido passou a ser questionado pela sua estratégia de funcionamento. Já sem mais argumentos, foi ficando a ideia de que o homem já não tinha formas de manter a disciplina na enorme casa da Saúde. O eterno problema dos medicamentos, a questão do HIV/SIDA e ainda, as clínicas privadas, terão sido os principais entraves que Garrido acumulou ao longo da sua presença no Ministério da Saúde, um pouco aliado, nos derradeiros dias da sua exoneração, à maneira como o homem interpretou determinadas preocupações apresentadas pelos funcionários da saúde. Seja como fôr, a “bomba” rebentou com a ameaça de grave por parte dos funcionários do Hospital Central de Maputo, tudo por causa da intervenção de Garrido, chegando a forçar a entrada em cena do partido Frelimo para que a greve não se efectivasse. Soares Nhaca, antigo sindicalista, entrou para a política pela mão de Joaquim Chissano, primeiro como Governador Provincial de Manica, passou depois, já na era guebuziana, para vice- -ministro do Trabalho, acabando mais tarde por ocupar a pasta de Ministro da Agricultura. Na verdade, com o regresso de José Pacheco à Agricultura, passam a ser seis os ministros que a grande casa já teve desde o início de mandato por parte de Armando Guebuza. Uns duraram mais tempo que outros, mas nenhum deles conseguiu convencer o Presidente da Repúlica, na dura missão de garantir comida às populações e a preços acessíveis. Terá o Presidente da República feito uma boa aposta? Não se sabe, só o tempo o dirá. Para trás, fica um Ministério do Interior onde os funcionários já demonstravam alguma “zanga” pela maneira como as coisas corriam. O sentimento de alguma inoperância na Indústria e Comércio. A ideia de não se tirar maior proveito das potencialidades agrícolas, aliado a disputas internas pelo controlo de sectores-chave. Na Saúde, a luta entre pequenos grupos pode estar a travar o desempenho que se pretende neste sector. Enfim, faltam estratégias bem coordenadas desde as bases até ao topo, e que todos estejam de acordo.(Expresso)

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