Carlos Machili iniciou seus estudos em
Nampula, Moçambique. Em 1963 segue para o Seminário Menor do Instituto dos
Padres da Consolata, em Fátima-Leiria, Portugal. Conclui o seu liceu em 1965 e
é incentivado pelo Instituto dos Padres da Consolata a iniciar a formação
filosófica na Pontifícia Universidade Gregoriana, na Itália. Licencia-se em
Filosofia e, em 1970/71, abandona a congregação, encaminhando-se para a
especialização em Ciência Política na Universidade de Roma, com o estudo sobre
as instituições políticas africanas. Carlos Machili retorna a Moçambique,
trabalha no ensino secundário e no Ministério da Educação. Torna-se reitor da
Universidade Pedagógica de Moçambique, assume o cargo de Diretor de Assuntos
Religiosos no Ministério da Justiça e, atualmente, é membro do corpo docente do
Departamento de História da mesma instituição. Foi director-geral da Agência
de Energia Atómica (ANEA) e membro da Comissão Central de Ética Pública . Militante
e antigo membro do Comité Central da Frelimo .
O
que pensa das negociações para a paz em Moçambique?
A paz tem de ser construída por moçambicanos.
Dhlakama é um moçambicano. A Renamo é moçambicana e os outros partidos
pequenos, etc. Nós temos de sentar e discutir o projecto de futuro de Moçambique
para os moçambicanos. Com certeza que Dhlakama fez alianças com o apartheid,
mas o Dhlakama já me disse que a guerra não é boa para o desenvolvimento.
Então, vamos reconquistar o Dhlakama e o partido dele para fazerem causa
moçambicana, com uma visão diferente. Agora ele tem de saber que se vier fazer
democracia em Moçambique a obedecer interesses exteriores, esta geração vai-lhe
fazer vida negra. Como pode sair a Frelimo, também ele prepare-se porque esta
geração não vai aceitar que lhe sejam tirados os direitos que tem. A paz tem de
ser construída por moçambicanos e sermos sinceros com o povo, dizer as causas
verdadeiras e nos obrigam a matarmo-nos uns aos outros.
Nas
negociações passadas, Afonso Dhlakama e Renamo depois vieram queixar-se de ter
sido aldrabados pela Frelimo. O que será se desta vez a história se repetir? Não foi aldrabado. Esse é o
termo político que usa, mas em consciência sabe que a transição de grandes
conflitos passa pela desmobilização de militares cujas condições nem a Frelimo
nem Renamo as sabiam.
O
que pode ser do futuro se isso não for acautelado? O problema não é acautelar, o
problema é programar o futuro de Moçambique juntos. Primeiro Moçambique, depois
as convicções políticas.
As
eleições de 2019 não serão o tudo ou nada para Dhlakama, tendo em conta também
que a idade já não o perdoa? O problema não é ele governar, estar na presidência da República. O
problema dele é criar um partido que lute até ser reconhecido e ganhar eleições.
Não acredito que o projecto de Dhlakama é nas próximas eleições ou é o
presidente ou não. Não, é a democracia e a descentralização. Esse é que é o
grande projecto e o grande desafio deste país e que o Nyusi assume.
Concorda
com a criação de federalismo? Enquanto houver um grupo tão conservador que pensa que o poder em
Moçambique é este esquema que tivemos, não temos outra solução como o professor
Mazula disse: ou vamos ao federalismo ou não. Mas podemos evitar o federalismo,
descentralizando.
Que
futuro para Moçambique sem descentralização ou sem federalismo? Guerra. Tem de se tirar das
cabeças que ninguém é dono de tudo. Há pessoas que não querem ouvir de
descentralização porque vão perder influências e tudo.
Quem
são?
Não sei.
Na
Frelimo? Busquem-os. Não sei quem são, mas há os contra a descentralização.
( Por Armando Nhantumbo)
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