Ano de
1994, Estádio da Machava, minuto 90. Chiquinho Conde “tira” dois adversários da
jogada, endossa o esférico ao recém-entrado Tico-Tico, que não perdoa.
Moçambique, 3-Guiné Conacri, 1. Os mais de 50 mil espectadores presentes,
rejubilaram.
Na Tribuna de honra, Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama (este pela
primeira vez no futebol), dançaram e abraçaram-se, efusivamente. Já lá vão 24
anos.Será que aquele gesto de paz, após a assinatura dos Acordos de Roma,
poderá repetir-se no final da Taça de Moçambique, fecho da época futebolística
actual, tendo agora como protagonistas o Presidente Nyusi e o líder da Renamo?
Em
países mais desenvolvidos que o nosso, o simbolismo da presença dos mais altos
magistrados faz parte da tradição e da história. Por exemplo: em Espanha é o
Rei, na Inglaterra a Rainha ou seu directo representante, em Portugal é o
Presidente da República quem, obrigatória e tradicionalmente se fazem presentes
na Final da Taça para entregarem ao capitão da turma vencedora, o simbólico
troféu. Nós
seremos dos poucos países do Mundo em que essa tradição entrou em desuso.
Chegou a acontecer na vigência do Presidente Chissano, depois no primeiro ano
de governação de Guebuza. A partir daí, por razões que se desconhece, passou a
estar em desuso.
Estamos
a falar de um “não” casamento em que todos perdem. Porquê?
A “obrigatoriedade”
do retomar desta tradição seria um sinal inequívoco de que o desporto é um
assunto de Estado, símbolo de concórdia e união entre as pessoas, ao mesmo
tempo que se valorizaria, através da Festa da Taça com a presença do Chefe de
Estado, toda a actividade desportiva do país.
Imagine-se
o Estádio do Zimpeto, repleto de alegria, com os adeptos a apoiarem as suas
equipas numa tarde memorável. Todo o
mundo galvanizado: jogadores, árbitros, dirigentes dos clubes e da Federação,
adeptos com as cores das suas colectividades – e não dos partidos políticos –
comunicação social em peso, fotografias para a posteridade!
Uma
tarde que poderia, porque ímpar, (re)motivar e ajudar a melhorar muito o tão
sedento desporto nacional. Ocasião também para quebrar um ciclo cada vez mais
agudo em matéria do desporto, em que os moçambicanos parecem virar as costas à
actividade indígena, encontrando motivação e paixão no que se passa além-fronteiras.No
nosso país, dia-a-dia e infelizmente, a tendência é cultivarem-se mais razões
para tristezas e cada vez menos motivos para, com abraços e saudações,
exaltarmos as virtudes dos nossos melhores executantes! (R.Caldeira)
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