quinta-feira, junho 09, 2011

Presidente rodeado de malandros

A população do distrito de Namuno, em Cabo Delgado, «descascou» o administrador local, Lourenço Casimiro Calopé, ao acusá-lo ontem, em pleno comício popular orientado pelo Presidente da Republica, Armando Guebuza, de gestão danosa. Com este encontro popular, o PR encerra a segunda fase da presidência aberta às províncias de Nampula e Cabo Delgado, a norte do país.As denúncias, graves e que põem em causa a imagem do administrador, foram feitas por José dos Santos, residente no posto administrativo de Machoca, local de realização do concorrido comício, o qual subiu ao pódio para dizer que aquele dirigente abocanhou uma quantia nau especificada de dinheiro que se destinava ao pagamentos de pensões e aos salários dos professores ao nível do distrito.Segundo as suas palavras, com o valor, comprou uma moageira no distrito nortenho de Nangade, em Cabo Delgado.Falando com muita coragem e frontalidade, o cidadão revelou, publicamente, que o administrador tem estado a ameaçar sistematicamente os funcionários que se atreverem a exigir os seus directos com o processo disciplinar, como forma de os intimidar e obriga-lhes a fecharem a boca.Contou que nas vésperas da visita do Presidente da República ao distrito de Namuno, Lourenço Calopé, antigo combatente da luta de libertação nacional, terá se reunido com os funcionários da administração no sentido de lhes advertir para que não tentem apresentar problemas ao Chefe de Estado, sob risco de sofrerem retaliação da sua parte.Como se isto não bastasse, o denunciante disse que a primeira dama distrital tem o hábito de insultar as pessoas quando passam junto da residência, cujos termos que usa nau revelou.Uma fonte próxima da delegação presidencial revelou que o administrador de Namuno, receando momentos de turbulência no comício, havia organizado um grupo de pessoas para saírem em sua defesa.Quando o Presidente da Republica abriu espaço para a intervenção de dez populares, colocando o que lhes vai na alma, alguns desses indivíduos acotoveram-se na fila na tentativa de usarem da palavra.Descoberto o esquema, decidiu-se, rapidamente, abrir novas inscrições junto às escadas opostas da tribuna, ignorando os que estavam do outro lado.Foi desta nova fila que saiu José dos Santos, a líder comunitária e outros que falaram colocando questões serias que preocupam a população do distrito.Inspirado, José dos Santos atacou igualmente à Procuradoria da República a nível da província de Cabo Delgado por até hoje nau ter podido responder a uma queixa que submeteu àquela estancia de justiça «há bastante tempo» relativa ao roubo de seus bens por parte de um seu hóspede.O outro problema não menos importante apresentado pela população durante o comício popular tem a ver com o facto do distrito de Namuno ter deixado de beneficiar do serviço de tramitação de pedidos do Bilhete de Identidade.Um popular lamentou o facto de este serviço ter passado para os distritos de Balama, há cerca de 30 quilómetros de Namuno, e de Montepuez, a 60 quilómetros.«Agora dizem para irmos a Montepuez ou Balama, onde é que vamos arranjar dinheiro para chegarmos lá?», questionou.Na ocasião, uma líder comunitária queixou-se de que ela e os seus colegas do oficio nau estão a receber os seus subsídios há alguns meses, no distrito, e que nau há nenhuma explicação oficial sobre o assunto por parte das autoridades.«Quando vamos à sede do distrito reclamar, dão nos 200 meticais e dizem para voltarmos noutro dia. Ninguém nos diz o que se está a passar», afirmou, acrescentando que este valor acaba todo no transporte de e para Machoca.Segundo ela, os poucos transportadores que circulam no trajecto Machoca-sede distrital de Namuno cobram nada menos que 150 meticais por cabeça e ida e volta são 300 meticais, o que é oneroso para as pessoas.Cada líder tradicional recebe por mes um subsidio mensal de 450 meticais, segundo a ministra da Administração Estatal, Carmelita Namachulua. Sem afastar a possibilidade de existirem problemas específicos relacionados com o pagamento dos referidos subsídios em Namuno, disse ao DM que a província de Cabo Delgado está, neste momento, com o problema de processamento dos salários, quer na educação e saúde, quer noutros sectores do Estado, cujas causas se desconhecem.O Presidente da Republica naão gostou de saber que cidadãos ficam longo tempo à espera da resposta aos seus pedidos ou requerimentos submetidos aos órgãos de Estado. Em reacção, disse que a responsabilidade dos trabalhadores do Estado é de transmitir a mensagem de respeito.«Respeito não significa concordar com a pessoa», disse Armando Guebuza, defendendo a necessidade da humanização de funcionamento dos órgãos do Estado. Na sua opinião, tal vai permitir grandes avanços na luta contra a pobreza.«O combate à pobreza exige o respeito pela pessoa humana», afirmou.
Abase Alves, camponês, colocou a questão de baixos preços de produtos no processo de comercialização agrícola que não compensam o seu esforço.«Nós produzimos mas os preços que se praticam na comercialização nau são satisfatórios. Um quilo de feijão verde chega a ser vendido por cinco meticais», desabafou, pedindo uma sugestão ao PR para a melhoria da situação e poderem «combater a pobreza».O mesmo interveniente pediu carro para a PRM, que opera com uma motorizada, actualmente avariada; edifício para os serviços de Registo Civil e para Actividades Económicas. «Assim vamos pensar que o administrador nau trabalha bem quando está a cumprir ordens do PR», afirmou.Por outro lado, sugeriu ao PR para, da próxima vez que visitar o distrito de Namuno, vir por via terrestre para ver em que estado está a ponte sobre o rio lúrio, importante na ligação entre Namuno, em Cabo Delgado, e Erati, em Nampula, para o escoamento de produtos agrícolas.Por seu turno, um sujeito que se identificou com o nome de Agostinho, denunciou que só se faz limpeza nos edifícios públicos quando se sabe que vai chegar uma visita.Falou-se igualmente das obras de construção de um centro de saúde que nunca mais chegam ao fim. Apesar de que foram aceleradas alegadamente por causa da visita do PR, elas nau foram concluídas.O ex-ministro da Saúde, Ivo Garrido, dissera à população de Machoca que podiam ligar para ele caso as obras demorassem. «Quando quis ligar disseram-me que eu ia ser preso», disse. Brincadeira Sualé revelou que trabalhou durante 10 anos como agente de saúde ao nível do distrito e que, no ano passado, foi expulso dos serviços por razoes desconhecidas, pagando-lhe cinco mil meticais de indemnização.

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