Esta
pergunta era feita por mim, ou pelo meu vizinho João Robalo junto à nossa casa,
na Av. Afonso de Albuquerque, nas traseiras das instalações do SNECI da “Cidade
das Acácias”, quando o hoquista Francisco Velasco, mais tarde campeão do
mundo, ali se dirigia para visitar os amigos. Nesses encontros dizia-nos “aonde
era o jogo na sexta-feira”, e a nosso pedido arranjava sempre maneira de o
vermos jogar. Como também morava ali próximo, sentia prazer em nos contar, e
nós em ouvir, as tropelias que ele e o seu cunhado faziam a uma vizinha, que
tinha um comportamento anti-social “terrível”! E por isso causava
muitas malfeitorias à sua família e vizinhos… Era conhecida pela “Bruxa”! A
sua brilhante carreira de hoquista campeão do mundo, bem como a selecção que
representou, levando bem alto o nome de Portugal, já todos a
conhecemos!
Foi também referida e elogiada aqui, no BigSlam, pelo
Alexandre Franco, João de Sousa, Zé Pereira e por mim. Depois de ter passado
por Timor e África do Sul resolveu, a seguir à independência, regressar a
Moçambique. Mas, desiludido com a política e alguns políticos, veio para Itália
e Portugal em princípios dos anos oitenta. Aqui foi muito apoiado pelo falecido
comendador Zé Arruda e pelo hoquista Zé Pereira, que na altura desempenhava um
lugar de “topo” na administração pública, e também intercedeu para que lhe
fosse atribuída uma habitação. Desde que se ausentou de Moçambique nunca mais
soube do seu paradeiro! Consegui o seu contacto pelo nosso amigo o, também
hoquista, Tony Braga Borges. Convidei-os a estarem presentes num
encontro/almoço de saudosistas moçambicanos que é habitual realizarmos num
restaurante, em Almada.
Quando o fui (primeiro e segundo da esquerda na foto) buscar não me reconheceu! Mas no automóvel,
pela maneira como me olhava, notei que a memória lhe tentava recordar alguma
coisa a meu respeito! E a pergunta de:
– “quem eu era”, ia ser inevitável! –
Antecipei-me:
– “Ó Chico, e a “bruxa”? – ainda te
lembras da “bruxa”?
“Espantado”, virou-se para mim:
“…É pá, não posso crer!! – Então era daí!….
Moravas na Afonso de Albuquerque ao pé do colégio António Barroso! E vocês às
vezes pediam-me para vos arranjar entradas para verem os meus jogos!!…Quem
havia de dizer!…O que é feito do outro amigo?”…..Embora sem se recordar dos
nossos nomes, – até nem sei se alguma vez os soube! Apercebi-me que depois de
tantos anos ainda se recordava dos “dois rapazitos”. Enquanto pôde era sempre
nosso convidado, para estar presente nos almoços de amigos e desportistas. Nesses
encontros dava gosto ouvi-lo contar as histórias do seu tempo, e o prazer que
sentia na descrição minuciosa das suas grandes jogadas, só dignas do “grande
mestre” que realmente foi!!
Apanhados de surpresa, “esta sua última seticada” deixou-nos
muito tristes, e não tem o fulgor nem o brilho daquelas que outrora tanto nos
encantavam em Lourenço Marques!
É por isso que os seus amigos, desportistas e
admiradores, nesta hora de dor se juntam aos seus familiares… todos sentimos a
sua falta! E o desporto Nacional ficou mais pobre.
Não!… Não tenho mandato da “nossa grande família
do Bigslam”, mas porque sei que é o sentimento de todos:
Queremos que descanse em paz; e apresentamos as nossas
condolências à família e a todos que lhe são queridos e não o esquecem.
“Até
sempre, amigo! Talvez um dia nos encontremos todos, aonde Deus quiser”
Clube Ferroviário de Lourenço Marques
Que Deus te dê o eterno descanso
Obrigado, ao Zé Pereira e Braga Borges pela
colaboração.
(1) – Na Lourenço Marques dos anos cinquenta, do
século passado, os jogos de hóquei realizavam-se às terças e sexta-feira à
noite.
Para nós, com o Bigslam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa, 09 de Junho de 2020
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