terça-feira, junho 09, 2020

Sr. Velasco, na sexta-feira onde é o jogo?


Esta pergunta era feita por mim, ou pelo meu vizinho João Robalo junto à nossa casa, na Av. Afonso de Albuquerque, nas traseiras das instalações do SNECI da “Cidade das Acácias”, quando o hoquista Francisco Velasco, mais tarde campeão do mundo, ali se dirigia para visitar os amigos. Nesses encontros dizia-nos “aonde era o jogo na sexta-feira”, e a nosso pedido arranjava sempre maneira de o vermos jogar. Como também morava ali próximo, sentia prazer em nos contar, e nós em ouvir, as tropelias que ele e o seu cunhado faziam a uma vizinha, que tinha um comportamento anti-social “terrível”! E por isso causava muitas malfeitorias à sua família e vizinhos… Era conhecida pela “Bruxa”! A sua brilhante carreira de hoquista campeão do mundo, bem como a selecção que representou, levando bem alto o nome de Portugal, já todos a conhecemos!

Foi também referida e elogiada aqui, no BigSlam, pelo Alexandre Franco, João de Sousa, Zé Pereira e por mim. Depois de ter passado por Timor e África do Sul resolveu, a seguir à independência, regressar a Moçambique. Mas, desiludido com a política e alguns políticos, veio para Itália e Portugal em princípios dos anos oitenta. Aqui foi muito apoiado pelo falecido comendador Zé Arruda e pelo hoquista Zé Pereira, que na altura desempenhava um lugar de “topo” na administração pública, e também intercedeu para que lhe fosse atribuída uma habitação. Desde que se ausentou de Moçambique nunca mais soube do seu paradeiro! Consegui o seu contacto pelo nosso amigo o, também hoquista, Tony Braga Borges. Convidei-os a estarem presentes num encontro/almoço de saudosistas moçambicanos que é habitual realizarmos num restaurante, em Almada.

Quando o fui (primeiro e segundo da esquerda na foto) buscar não me reconheceu! Mas no automóvel, pela maneira como me olhava, notei que a memória lhe tentava recordar alguma coisa a meu respeito! E a pergunta de:
– “quem eu era”, ia ser inevitável! – Antecipei-me:
– “Ó Chico, e a “bruxa”? – ainda te lembras da “bruxa”?
“Espantado”, virou-se para mim:
 “…É pá, não posso crer!! – Então era daí!…. Moravas na Afonso de Albuquerque ao pé do colégio António Barroso! E vocês às vezes pediam-me para vos arranjar entradas para verem os meus jogos!!…Quem havia de dizer!…O que é feito do outro amigo?”…..Embora sem se recordar dos nossos nomes, – até nem sei se alguma vez os soube! Apercebi-me que depois de tantos anos ainda se recordava dos “dois rapazitos”. Enquanto pôde era sempre nosso convidado, para estar presente nos almoços de amigos e desportistas. Nesses encontros dava gosto ouvi-lo contar as histórias do seu tempo, e o prazer que sentia na descrição minuciosa das suas grandes jogadas, só dignas do “grande mestre” que realmente foi!!

Apanhados de surpresa, “esta sua última seticada” deixou-nos muito tristes, e não tem o fulgor nem o brilho daquelas que outrora tanto nos encantavam em Lourenço Marques!
É por isso que os seus amigos, desportistas e admiradores, nesta hora de dor se juntam aos seus familiares… todos sentimos a sua falta! E o desporto Nacional ficou mais pobre.
Não!… Não tenho mandato da “nossa grande família do Bigslam”, mas porque sei que é o sentimento de todos:
Queremos que descanse em paz; e apresentamos as nossas condolências à família e a todos que lhe são queridos e não o esquecem.
        “Até sempre, amigo! Talvez um dia nos encontremos todos, aonde Deus quiser”
Clube Ferroviário de Lourenço Marques
 
 Equipa base do Ferroviário, durante 4 anos: Da esq. de pé: Brandão, Nogueira, vindos das Reservas, Velasco e Carrelo. Agachados: Agostinho e Fonseca, das Reservas, Moreira e Carneiro, este promovido dos Juniores.
Que Deus te dê o eterno descanso
Obrigado, ao Zé Pereira e Braga Borges pela colaboração.
(1) – Na Lourenço Marques dos anos cinquenta, do século passado, os jogos de hóquei realizavam-se às terças e sexta-feira à noite.
Para nós, com o Bigslam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa, 09 de Junho de 2020

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