Um grupo de
criminosos que rapta empresários ou seus próximos, para posteriormente servirem
como moeda de troca, envolvendo avultadas somas em dinheiro, tem vindo a
prosperar no país, há mais de uma década. Tal como a Procuradora- -Geral da
República já reconheceu, em várias ocasiões, grande parte desse dinheiro é
lavada através de investimentos na indústria imobiliária, mas, apesar dos
rastros no sistema financeiro, a actuação das autoridades ainda é incipiente.
Por essa razão, empresários defendem que as autoridades fiscais e financeiras
devem denunciar indivíduos que enriquecem de forma ilegítima, pois ninguém fica
endinheirado de um dia para outro. Amade Camal é dos que não se contentam com o
estado das coisas e advoga a necessidade de a Justiça moçambicana arregaçar as
mangas e acusar também os mandantes, sejam eles políticos, polícias e/ ou
magistrados.
A sociedade moçambicana,
desde 2009, tem assistido a um tipo de crime que não fazia parte da vida do
país. Trata-se de raptos de empresários ou seus familiares que a cada dia que
passa vão se sofisticando e ganhando novos contorno, inclusive com pedidos de
resgate já na fasquia de milhões de dólares. Devido ao aumento do número de
casos e do nível de ousadia dos criminosos, que agora já não operam somente em
Maputo, tendo alargado o seu campo de actuação para outras capitais provinciais
da região centro do país, os empresários nacionais vivem com medo e pedem maior
acção das autoridades. Em entrevista ao Dossiers & Factos, o empresário
Amade Camal não tem dúvidas de que o crime de raptos, nos últimos 10 anos,
dilapidou a economia real moçambicana, pois houve uma grande redução do
investimento nacional, particularmente até 2014, devido aos receios que esta
prática gerou. Para Camal, a forma de acabar com o “negócio” dos raptos “é
indignarmo-nos, colaborar com as autoridades, acabarmos com os ‘candongueiros’
e exigirmos resultados às autoridades da PRM, SERNIC, PGR e todo o judiciário”.
De acordo com Camal, não há dúvidas de que
este crime, para além de ser transfronteiriço, é conexo com tantos outros, como
o tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro e terrorismo, por
isso defende uma marcação cerrada aos movimentos financeiros e marcas de
enriquecimento ilícito. “Ninguém fica endinheirado de um dia para o outro, cabe
às autoridades fiscais e financeiras denunciar sinais de riqueza ilegítima. A
Justiça deve acusar os mandantes, sejam eles políticos, polícias e/ou
magistrados”, apelou. Como que a lançar suspeita sobre alguns agentes que podem
estar ao serviço do crime organizado, a nossa fonte lembra que, há 25 anos,
Teodato Hunguana definiu, no Parlamento, que o crime organizado é uma mistura
entre políticos, bandidos e indivíduos de instituições que deveriam garantir o
cumprimento da lei. Mais tarde, o Juiz Paulino, na mesma onda, abordou a
questão do Estado capturado, deixando transparecer que pode existir complô entre
os bandidos e as autoridades.
“Os moçambicanos
precisam de uma PRM, SERNIC, PGR, tribunais, SISE, FADM e outras instituições
relevantes com credibilidade, sem a fama actual de existência de bandidos nas
fileiras. Uma grande parte dos crimes, incluindo o terrorismo, tem políticos
envolvidos. Mas nunca se viu esses políticos criminosos responderem perante a
Justiça”, destacou. Fazendo uma
radiografia do crime de raptos no país, Camal disse que, neste momento, ninguém
se sente seguro, porque os raptos também afectam o cidadão comum. “Todos os
dias raptam indivíduos pelo resgate de um salário, e o que acontece é que os
media só reportam os grandes raptos”, revela. Apesar disso, o empresário
enalteceu o trabalho do SERNIC, ao nível da província de Maputo, que
recentemente libertou dois cidadãos de origem asiática, que eram mantidos em
cativeiro naquele ponto do país. No seu entender, a Delegação do SERNIC de
Maputo deve ajudar aos colegas da Beira e Chimoio, onde, nos últimos meses, tem
se registado um nú mero considerável de raptos.
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