terça-feira, junho 09, 2020

Raptos por resgate de um salário


Um grupo de criminosos que rapta empresários ou seus próximos, para posteriormente servirem como moeda de troca, envolvendo avultadas somas em dinheiro, tem vindo a prosperar no país, há mais de uma década. Tal como a Procuradora- -Geral da República já reconheceu, em várias ocasiões, grande parte desse dinheiro é lavada através de investimentos na indústria imobiliária, mas, apesar dos rastros no sistema financeiro, a actuação das autoridades ainda é incipiente. Por essa razão, empresários defendem que as autoridades fiscais e financeiras devem denunciar indivíduos que enriquecem de forma ilegítima, pois ninguém fica endinheirado de um dia para outro. Amade Camal é dos que não se contentam com o estado das coisas e advoga a necessidade de a Justiça moçambicana arregaçar as mangas e acusar também os mandantes, sejam eles políticos, polícias e/ ou magistrados.
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A sociedade moçambicana, desde 2009, tem assistido a um tipo de crime que não fazia parte da vida do país. Trata-se de raptos de empresários ou seus familiares que a cada dia que passa vão se sofisticando e ganhando novos contorno, inclusive com pedidos de resgate já na fasquia de milhões de dólares. Devido ao aumento do número de casos e do nível de ousadia dos criminosos, que agora já não operam somente em Maputo, tendo alargado o seu campo de actuação para outras capitais provinciais da região centro do país, os empresários nacionais vivem com medo e pedem maior acção das autoridades. Em entrevista ao Dossiers & Factos, o empresário Amade Camal não tem dúvidas de que o crime de raptos, nos últimos 10 anos, dilapidou a economia real moçambicana, pois houve uma grande redução do investimento nacional, particularmente até 2014, devido aos receios que esta prática gerou. Para Camal, a forma de acabar com o “negócio” dos raptos “é indignarmo-nos, colaborar com as autoridades, acabarmos com os ‘candongueiros’ e exigirmos resultados às autoridades da PRM, SERNIC, PGR e todo o judiciário”.
De acordo com Camal, não há dúvidas de que este crime, para além de ser transfronteiriço, é conexo com tantos outros, como o tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro e terrorismo, por isso defende uma marcação cerrada aos movimentos financeiros e marcas de enriquecimento ilícito. “Ninguém fica endinheirado de um dia para o outro, cabe às autoridades fiscais e financeiras denunciar sinais de riqueza ilegítima. A Justiça deve acusar os mandantes, sejam eles políticos, polícias e/ou magistrados”, apelou. Como que a lançar suspeita sobre alguns agentes que podem estar ao serviço do crime organizado, a nossa fonte lembra que, há 25 anos, Teodato Hunguana definiu, no Parlamento, que o crime organizado é uma mistura entre políticos, bandidos e indivíduos de instituições que deveriam garantir o cumprimento da lei. Mais tarde, o Juiz Paulino, na mesma onda, abordou a questão do Estado capturado, deixando transparecer que pode existir complô entre os bandidos e as autoridades.
Metrobus em Maputo e Matola - Correio da manhã“Os moçambicanos precisam de uma PRM, SERNIC, PGR, tribunais, SISE, FADM e outras instituições relevantes com credibilidade, sem a fama actual de existência de bandidos nas fileiras. Uma grande parte dos crimes, incluindo o terrorismo, tem políticos envolvidos. Mas nunca se viu esses políticos criminosos responderem perante a Justiça”, destacou. Fazendo uma radiografia do crime de raptos no país, Camal disse que, neste momento, ninguém se sente seguro, porque os raptos também afectam o cidadão comum. “Todos os dias raptam indivíduos pelo resgate de um salário, e o que acontece é que os media só reportam os grandes raptos”, revela. Apesar disso, o empresário enalteceu o trabalho do SERNIC, ao nível da província de Maputo, que recentemente libertou dois cidadãos de origem asiática, que eram mantidos em cativeiro naquele ponto do país. No seu entender, a Delegação do SERNIC de Maputo deve ajudar aos colegas da Beira e Chimoio, onde, nos últimos meses, tem se registado um nú mero considerável de raptos.

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