Jacinto
Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e antigo ministro da Segurança no
Governo de Samora Machel, em artigo publicado no semanário Savana, afirma estar
convencido de que Moçambique está a enfrentar uma grande operação cujo objetivo
é bloquear os projetos de gás na província de Cabo Delgado.
Analistas,
no entanto, discordam da ideia do general moçambicano, de que o país está a
lidar com uma mega-operação concebida, dirigida e executada de fora do país,
para retardar aqueles projetos. "Estes projectos", escreve Jacinto
Veloso, "são considerados uma séria ameaça comercial aos gigantescos
interesses económicos das grandes empresas envolvidas em projectos idênticos na
região, que estão competindo pelos mesmos mercados".
Em
reação, o jornalista e investigador Joe Hanlon, citado pela publicação Carta de
Moçambique, realça que Jacinto Veloso descarta a ideia de que a situação em
cabo Delgado "é uma guerra interna baseada em descontentamentos locais e
rejeita as opiniões de que é principalmente uma insurgência doméstica".
Entretanto,
para o presidente do Centro para a Democracia e Desenvolvimento(CDD), Adriano
Nuvunga, as afirmações de Jacinto Veloso "têm elementos suficientes de
verdade porque, inicialmente, as mutinacionais estavam preocupadas com a
participação, nos projetos, de empresas como ENH (Empresa Nacional de
Hidrocarbonetos).
"Essa
era a expectativa das multinacionais, mas isso não justifica o conflito, de
maneira nenhuma", realça Nuvunga, acrescentando que "é a governação,
sobretudo as expectativas que alguns moçambicanos têm em relação aos contratos
de apropriação, que explica mais o conflito do que propriamente as
multinacionais".
O
director do CDD destaca ainda que "há questões de fundo que devem ser
resolvidas em Cabo Delgado, entre as quais a marginalização, a exclusão e a
expropriação do Estado que os jovens estão a ver, e também a questão do tráfico
de drogas e outras atividades criminosas" . Por
seu lado, o editor da publicação Mediafax, Fernando Mbanze, diz que respeita a
opinião de Jacinto Veloso porque "é uma pessoa idónea, que conhece a
realidade do país", mas, relativamente a Cabo Delgado, a sua posição
parece exagerada.
"A
situação em Cabo Delgado não tem a ver apenas com aquilo que Jacinto Veloso
diz, mas também com questões muito sérias como exclusão, pobreza e o facto de
muitas pessoas não terem nenhuma na vida", afirma Mbanze. Entretanto,
o sociólogo Francisco Matsinhe é da opinião de que Jacinto Veloso pode ter
razão no que diz porque "os ataques começaram, precisamente, na altura em
que as companhias petrolíferas estavam a instalar-se em Cabo Delgado. Não vamos
fazer acusações sem provas, mas esta coincidência não deixa de ser
curiosa".
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