quinta-feira, março 05, 2020

Fé e imobiliário



O director do Instituto Católico Religioso de Angola (ICRA) em Benguela, Padre Valentim Joaquim Jamba, encontra-se detido desde Terça-feira, por suspeita de corrupção na venda de casas nas centralidades da província, soube a VOA de fontes do Serviço de Investigação Criminal.

Duas fontes avançam que o prelado católico, pertencente à Paróquia da Sé Catedral, foi detido com mais de um milhão e 200 mil Kwanzas, valores que terá recebido para favorecer cidadãos interessados nas habitações.
Segundo as fontes da VOA, o padre Joaquim Jamba, na mira do SIC há muitos meses, é suspeito de ter cobrado valores para colocar candidato às habitações em situação privilegiada, longe da previsível azáfama na altura da chamada venda livre, que deve arrancar nos próximos dias. Não é revelada qualquer ligação do director do ICRA à comissão que trata da venda das casas. O governador Rui Falcão convocou uma reunião com membros da comissão que trabalha na venda das casas,para analisar as implicações da detenção do padre Joaquim Jamba. Várias escolas e outras instituições, públicas ou privadas, receberam já quotas para os seus funcionários.
Contactado pela VOA, o porta-voz da Diocese de Benguela, Padre Zeferino Capoco, disse que a Igreja Católica pode avançar com uma posição se achar conveniente.
A activista cívica Sara Paulo pede clareza na distribuição do que falta das seis mil casas erguidas em Benguela.
RD ‘’Andamos todos à espera da venda livre, mas ouvimos sempre que uns estão já a receber. Será que houve algum concurso público? É preciso clareza’’,disse Sara Paulo
Segundo fonte da corporação, o prelado católico foi flagrado em posse de avultadas somas em dinheiro, valores que terá alegadamente cobrado ilegalmente a cidadãos ávidos por uma habitação. Em declarações à Televisão Pública de Angola a propósito deste caso, o jurista Vicente Neto disse que esta situação carece de análise, porque o padre é suspeito de estar envolvido na venda ilegal de casas do Estado. Realçou que, pela natureza do caso, pode-se estar perante possíveis infracções com relevância criminal, como a venda ilegal de prédio rústico ou mesmo a tentativa de burla por defraudação. Já o jurista Ivanildo Cutu é de opinião que não se estando a falar de um funcionário do Estado, mas de um particular, descarta-se desde já o crime de peculato. Na sua óptica, pode-se estar perante os crimes de burla ou burla por defraudação previstos e puníveis nos artigos 452º, 453º e seguintes do Código Penal.
“E consubstancialmente, atendendo o valor da coisa, recairia para o artigo 421º, punido com as penas de furto”, disse.
O detido será presente ao ministério público dentro de 48 horas para, dentro do interrogatório, aferir os elementos que possam justificar a manutenção da sua prisão temporária ou não.
Os especialistas aconselham os cidadãos, ávidos da casa própria, a tomarem algumas precauções e procurarem aconselhamento jurídico antes de enveredarem por determinados negócios/esquemas.






Entretanto, o Governo da Província de Benguela já reagiu a esta detenção, esclarecendo que o trabalho de intermediação para venda de residências a funcionários do Estado foi exemplarmente coordenado pelo padre José Inácio Hiliek, assessor do governador local. Numa nota de imprensa tornada pública hoje, o Governo de Benguela informa que não existe nenhuma ligação entre o seu assessor e o padre detido.

 O Governo da Província de Benguela informa ainda que o processo de venda livre vai ficar interrompido até que termine o processo de entrega de residências a funcionários do Estado, previsto para Junho do corrente. A nota esclarece ainda que apenas os órgãos do Estado, o Fundo de Fomento Habitacional, o Instituto Nacional da Habitação e a Imogestin, estão autorizados a proceder a venda ou aluguer do seu património habitacional, não existindo outras instituições ou pessoas credenciadas para o efeito.







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