A vacuidade das declarações de Filimão Suazi, o porta
voz do Governo, ontem depois de uma mais uma sessão do Conselho de Ministros
que se esperava profícua em medidas consistentes contra a pandemia do Covid-19,
foi alarmante. Moçambique está à espera do que vai acontecer nos próximos dias,
para aumentar suas medidas de contenção. A mesma ladainha de Armindo Tiago
(Ministro da Saúde), na sua pobre entrevista à STV: Não se sabe o que vai
acontecer, disse ele. Em suma, Moçambique está à espera que a tragédia bata à
porta para encetar uma reacção tardia.
Mas uma reacção tardia implica o quê? Implica camas
suficientes nos hospitais, os ventiladores que não temos (na Itália morre-se
por essa ausência), enfim, um sistema de Saúde incapaz de dar resposta à
avalanche de doentes com sintomas graves: os 8% que acabam nos hospitais,
aqueles cujos sintomas envolvem a perda de ar. Os dados mostram que dentre
estes, 3 acabam morrendo.
A espera por
uma panaceia curativa nos hospitais é grave. Não temos capacidade nenhuma.
Olhem para este número: o sistema nacional de Saúde tem apenas 2000 testes. Nem
chega para todos os trabalhadores do HCM, onde a maioria actua sem máscaras.
O Governo está a ignorar uma coisa que devia saber: a
janela de oportunidade para medidas de prevenção drásticas começa quando o
Covid-19 chega ao país vizinho mais próximo. Desde lá tem-se apenas 15 dias
para agir (foi como fizeram a Tailândia e o Macau, dois territórios com sucesso
na contenção do vírus; o Macau obrigou ao uso de máscaras e isso funcionou,
contra outras teorias).
Depois disso, é
ir tapando o sol com a peneira, como está acontecendo com países como a Itália
e Portugal (ou mesmo os Estados Unidos, onde Trump andou a minimizar a doença,
no mesmo diapasão da espera que apaixona nossos governantes). Outro dado cruel:
o facto de não ter ainda havido confirmação oficial de infeccões pelo Novo
Coronavírus em Moçambique não é garantia de que a doença ainda não esteja entre
nós: 80% dos infectados são assintomáticos.
A incapacidade do Governo de responder proactivamente
à pandemia envolve coisas bizarras. Deixaram o Presidente Nyusi anunciar
medidas para pôr na gaveta, como essa da “quarentena obrigatória” para quem
chega de fora. Basta ir aos aeroportos para verificar sua ineficácia, por
desleixo e negligência.
A espera do Governo tem contornos sinistros e revela
uma profunda distração. O Ministro Armindo Tiago tem fama de bom clínico, mas ainda
não mostrou cartas em matéria de saúde pública. Ele podia ter usado a
oportunidade para passar a mensagem que o Governo teima em não fazer passar
nestes dias. Afinal, o que é quarentena? (todos falam de quarentena, mas
ninguém sabe o que é isso, como acontece na prática o auto-isolamento). E como
é que os que estão de quarentena se devem portar em casa, perante outros
membros da família? Como nos devemos portar no “my love” e nos comboios? Como
lidarmos com nossos empregados? Como usar a “lixívia” como ferramenta de
limpeza das maçanetas das portas e corrimões? Como usar o lenço de cabeça como
substituto mais eficiente das máscaras que já não há no mercado?
(cartamz)
Enfim, a janela de oportunidade que estamos a perder
obrigaria a um enfoque de todos na comunicação, na sensibilização pública, na
pedagogia contra o vírus. Não esperar de braços cruzados, como sugeriu o
Porta-Voz do Governo...esperar que aconteça algo para reagir. Esperar que a
tragédia bata à porta. Esperar que haja mortes. Terrível. O próprio Orçamento
do Estado está à espera da tragédia.
O Governo devia estar todo ele empenhado em ensinar a
sociedade como agir. Devia ter uma "Task Force" de comunicação e
pedagogia sobre o assunto. E com base nas directivas do MISAU, ministros e
deputados, partidos políticos (a Frelimo, a Renamo e o MDM) deviam estar no
terreno a mobilizar seus militantes contra o inimigo comum. Nossas
possibilidades como país de enfrentar o Covid-19 não estão no plano curativo;
estão na prevenção, na comunicação de massas. O tempo está a esgotar, mas ainda
se pode fazer qualquer coisa. Não precisamos de esperar nem mais um
minuto.(Marcelo Mosse)
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