Em 1992, James Carville,
estrategista da campanha de Bill Clinton, do Partido Democrata, na disputa pela
Presidência dos Estados Unidos contra George Bush, concorrente à reeleição,
cunhou um mantra para o resultado de qualquer refrega política: “É a economia,
estúpido!”. O termo pouco educado pretendia mostrar que é a questão econômica a
balizadora dos resultados eleitorais. No caso, Carville apostava que a crise
americana superaria o sentimento de resgate da autoestima do cidadão obtido
após a vitória na Guerra do Golfo. O que se confirmou e garantiu a vitória de
Clinton. As eleições brasileiras de 2018 parecem contrariar o mantra de
Carville. No caso, o que definiu o resultado das urnas foi “a política,
estúpido!”.
E nenhum outro candidato beneficiou-se dessa nova ordem de forma
melhor que Jair Bolsonaro, do PSL. “Houve uma mudança profunda no sentimento do
eleitor, que a maior parte dos candidatos, à exceção de Jair Bolsonaro,
demoraram a perceber”, observa o cientista político André Felipe, especialista
em questões municipalistas. Muitos ainda nem perceberam. Até 2014, prevalecia o
voto econômico, voltado a temas como controle da inflação, desemprego,
estabilidade, desigualdade social. Este ano, não. Compõem os alicerces do voto
em Bolsonaro o combate à corrupção, o enfrentamento dos problemas de segurança
pública, a contestação ao establishment, que faz com que o eleitor do candidato
do PSL sinta-se quase como um revolucionário dos tempos modernos, o
conservadorismo, ao qual estão umbilicalmente ligados a questão cultural e os
costumes – defesa da religião e de valores da família tradicional composta por
“pai e mãe” contra uma agenda considerada progressista – e, claro, o
antipetismo, grande responsável pela avalanche de votos na reta final.
Como disse na terça-feira 9 a senadora
Ana Amélia (PP-RS), no seu primeiro compromisso após deixar de ser a candidata
à vice-presidência na chapa de Geraldo Alckmin, do PSDB, o eleitor acalenta uma
mudança drástica. E identifica em Bolsonaro a possibilidade. “Nós sabemos que
ele, com 21 anos de mandato como deputado federal, está longe de ser exatamente
o ideal. Mas o eleitor resolveu correr o risco, mesmo que seja para tirá-lo
depois”, afirma ela, que franqueou apoio ao candidato. Está embutida nesse
raciocínio a constatação da força que o cidadão pode ter na transformação
política. Em 2013, o mundo político ficou surpreso quando as ruas do país se
encheram de manifestantes em protesto durante a Copa das Confederações. Como os
antigos imperadores romanos, os governos do PT ofereciam o pão e o circo. Mas o
cidadão, descontente, reclamava da corrupção e da falta de segurança. Exigia
para o país o “padrão Fifa” de excelência, que os governos justificavam para
construir faraônicos estádios de futebol. As manifestações cresceram. Viraram
os movimentos que alimentaram o processo de impeachment contra a ex-presidente
Dilma Rousseff. Tornaram concreta a sensação de que é possível “tirar” os
governantes que frustrarem suas expectativas.
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