Se for julgado e
declarado culpado do crime de violação no âmbito de um processo penal,
Cristiano Ronaldo arrisca uma pena de prisão perpétua. No estado do Nevada,
onde uma acção cível foi apresentada há uma semana, num tribunal do condado de
Clarck, na cidade de Las Vegas, as agressões sexuais são encaradas o crime mais
grave logo depois do homicídio. Mas, para que a condenação ocorra, Kathryn
Mayorga tem de conseguir provar, acima de qualquer dúvida razoável, que as
lacerações no ânus que tinha quando apresentou a primeira queixa resultaram de
sexo forçado e não consensual.
E o jogador
português parece querer jogar pelo seguro. Para se defender, contratou aquele
que é considerado o mais conceituado advogado em direito criminal de Las Vegas,
David Chesnoff.
Segundo a imprensa norte-americana, este advogado integra a equipa responsável
pela defesa do produtor Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por várias
actrizes de Hollywood. E o seu portefólio de clientes é um verdadeiro cardápio
de estrelas, entre as quais a socialite Paris Hilton, a apresentadora
Martha Stewart, a cantora Britney Spears, o ilusionista David Copperfield e o
ex-basquetebolista Shaquille O’Neal, entre outros. Chesnoff, a quem o Wall
Street Journal se referia em 2007 como o advogado a quem telefonar se
alguém se meter em sarilhos em Las Vegas, já negou categoricamente a veracidade
das acusações, num comunicado em que expressou a sua fé no sistema judicial
norte-americano.
No mesmo comunicado,
citado pelas agências internacionais, Chesnoff asseverou que a polícia de Las
Vegas que recepcionou a queixa apresentada por Kathryn em 2009 não encontrou
razões para avançar com uma queixa-crime. Esta semana, o gabinete de informação
pública do Departamento da Polícia Metropolitana de Las Vegas confirmou ao
PÚBLICO que, no dia 13 de Junho de 2009, respondeu a uma chamada de agressão
sexual e que a vítima “não divulgou aos detectives o local do incidente nem uma
descrição do suspeito”.
Foi então realizado
um exame médico e os indícios recolhidos, bem como as fotografias que mostravam
os ferimentos da vítima - um inchaço circunferencial com hematomas e laceração
– foram arquivados, devendo agora ser reanalisados no âmbito da investigação ao
caso que foi entretanto reaberta. Na versão de Kathryn, Ronaldo forçou-a
a ter sexo anal, apesar de esta ter dito várias vezes "não" e
pára", num quarto da penthouse onde amigos de ambos se
divertiam no jacuzzi.
Há dúvidas quanto
àquilo que a polícia realmente sabia. Na segunda-feira, o seu porta-voz, Aden
Ocampo, garantiu que Kathryn nunca chegou a apontar-lhes o nome do suspeito. Na
entrevista que deu à revista alemã Der Spiegel, Kathryn garante que,
duas ou três semanas depois de ter apresentado queixa, completou o depoimento
com o nome do suposto agressor, embora tenha pedido ao agente que a atendeu que
não fizesse nada com aquela informação por enquanto. Motivo: estava
emocionalmente instável e precisava de mais tempo para decidir o que fazer.
Falta saber se a
reabertura desta investigação por parte da polícia dará azo ou não a um
processo-crime. Numa conferência de imprensa, Leslie Stovall, advogado da
ex-modelo e ex-professora de educação física, não deixou claro se à acção cível
se somará um processo criminal. “Não quero parecer banal, mas ela quer
justiça”, limitou-se a dizer, quando lhe perguntaram se a sua cliente queria
ver o jogador atrás das grades.
Por enquanto,
Cristiano Ronaldo é visado apenas numa acção cível que pede a anulação do acordo de confidencialidade que
pressupôs o pagamento de cerca de 323 mil euros a Kathryn e o acusa de vários
crimes: agressão e abuso sexual, imposição intencional de sofrimento emocional,
coacção e fraude, chantagem e conspiração, difamação, abuso de direito. O
jogador tem 20 dias para responder à intimação.
Segundo os advogados
de Kathryn, a violação deixou-a depressiva, com pensamentos suicidas e a sofrer
de stress pós-traumático, o que a tornou legalmente incompetente para
assinar o acordo de
Ronaldo, que se diz
“de consciência tranquila” e que qualificou a violação como “um crime abjecto”,
conta com a “total solidariedade” do presidente da Federação Portuguesa de
Futebol, Fernando Gomes: “Conheço o Ronaldo há muitos anos e sou testemunha do
seu bom carácter”.Ontem, soube-se que o jogador da Juventus não deverá voltar a
jogar por Portugal em 2018, ficando de fora da lista de convocados para os
jogos frente à Polónia, Escócia e Itália. Dizendo acreditar na inocência do
jogador, o seleccionador nacional, Fernando Santos, alegou que Ronaldo não
estava "convocável".
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