A adopção do voto preferencial é a proposta de Marina Costa Lobo e de
José Santana Pereira para ultrapassar a crise de afastamento entre eleitores e
partidos políticos em Portugal.A proposta faz parte de um estudo apresentado
este mês na conferência da Gulbenkian, intitulado “Afirmar o Futuro – Políticas
Públicas para Portugal”. Mas ainda não foi apresentado aos partidos políticos.
Marina Costa Lobo está a preparar um seminário sobre o tema, para o qual
convidará representantes dos partidos com assento parlamentar.No médio prazo,
Marina Costa Lobo deseja “poder fazer uma simulação com sondagem à boca das
urnas nas legislativas de 2015, por as pessoas a votar com voto preferencial
para ver a diferença”.A solução encontrada é “idêntica à dos Países Baixos” e consiste na
possibilidade de o eleitor escolher o partido da sua preferência, mas poder por
uma cruz também no nome que quer que entre em primeiro lugar na Assembleia da
República em representação do seu círculo eleitoral. Assim, no mesmo boletim de
voto surgem os partidos e por baixo a lista dos candidatos de cada formação.Esta lista pode ser ordenada de acordo com a decisão do partido ou com os
nomes apresentados por ordem alfabética.O voto preferencial foi “defendido a
primeira vez em Portugal pelo socialista António Vitorino, em 1992” e foi
colocado como hipótese no estudo feito para a bancada do PS, no consulado de
José Sócrates por André Freire, Diogo Moreira e Manuel Meirinho Martins. Mais
de duas décadas passadas e perante o agravamento da percepção da crise de
representatividade, Marina Costa Lobo e José Santana Pereira avançam com um
modelo concreto.Ao PÚBLICO Marina Costa Lobo defende que “o estado do sistema
político não serve a democracia em Portugal neste momento”. E considera mesmo
que “com listas fechadas, a decisão de quem entra e da ordenação dos nomes é do
partido”, um sistema que “distancia Portugal da prática europeia” e “retira aos
eleitos a capacidade de escolher.”A solução encontrada pode contribuir para
aproximar as pessoas dos partidos sem ser preciso grandes acordos de regime,
explica Marina Costa Lobo. “Não altera a proporcionalidade na Constituição nem
o desenho e a dimensão dos círculos na lei”, diz a politóloga, acrescentando:
“É uma forma de dar mais voz aos cidadãos, sem por em causa a
constitucionalidade.”Marina Costa Lobo considera que não é possível “retirar
aos partidos o poder de escolher quem é o candidato, mas este sistema promove a
escolha do eleitor no contexto da autoridade dos partidos”, dando, contudo,
“poder de escolha” também aos eleitores.Considerando que “não é salutar retirar
os partidos da escolha”, bem como que “a reforma do sistema político não pode
ser feita contra os partidos”, pois não é possível “deitar fora os partidos”,
Marina Costa Lobo apresenta assim uma solução que classifica como “de
equilíbrio”.Além de “boletins de voto com o nome do partido e a lista em baixo,
para as pessoas escolherem”, a proposta de Marina Costa Lobo e José Santana
Pereira aponta para a instituição de “uma quota mínima de votos que os
candidatos têm de obter para serem eleitos preferencialmente”. Assim, parte dos
deputados de cada círculo seriam eleitos de acordo com a preferência dos
eleitores, os outros deputados de acordo com a lista ordenada pelo partido. Mas
nesta lista os deputados mais escolhidos pelos eleitores passam à frente e são
os primeiros a ganhar mandato.No estudo, os dois politólogos propõem que “na
contagem dos votos” se siga “o exemplo holandês, de utilização da quota de
Hare”. E explicam que “assim, todos os candidatos que ultrapassem 25% da quota
de Hare considerar-se-iam eleitos, e os restantes entrariam pela ordem da
lista”.
1 comments:
Só para alertar que o post não se consegue ler...
Abraço
Enviar um comentário