Desde 2005, a captura de navios rendeu aos piratas na zona do Corno
de África receitas entre os 339 e os 413 milhões de dólares (251 a 306 milhões
de euros), de acordo com uma estimativa conjunta do Banco Mundial, das Nações
Unidas e da Interpol. O relatório nota
a “ausência de dados credíveis”, mas diz ter conseguido fazer uma “análise
significativa” da actividade entre Abril de 2005 e Dezembro de 2012, na zona do
Djibuti, Etiópia, Quénia, Seicheles e Somália . O estudo analisou a actividade
de 59 financiadores das actividades de pirataria para chegar àqueles valores e
para estabelecer o funcionamento do modelo de negócio da pirataria e o circuito
do dinheiro envolvido. Cerca de 179 navios foram capturados durante aquele
período. O estudo aponta vários tipos de organização das actividades. Alguns
piratas estão envolvidos num modelo “artesanal”, que consiste em operações de
pequena dimensão. Noutros casos, vários financiadores juntam-se para uma
operação de maior escala. E alguns criminosos com mais recursos financeiros
bancam toda uma operação. Depois de os custos estarem pagos, os “soldados
rasos” recebem, em conjunto, entre 30 mil e 75 mil dólares de um resgate, cujo
valor médio foi de quatro milhões de dólares em 2012, uma descida face ao pico
de cinco milhões atingido no ano anterior. Em 2005, o resgate médio era de 390
mil dólares. Porém, como têm de pagar aquilo que comeram e, em alguns casos,
também devido a um sistema de multas (por exemplo, por desobedecer a ordens),
vários dos "soldados rasos" acabam por receber muito pouco dinheiro,
fazendo com que frequentemente reincidam na actividade.
Já os financiadores ficam com um valor que pode ir dos 25% aos 75%
das receitas, consoante o modelo de organização da operação.
Uma parte significativa do dinheiro flui para as populações
locais, que vendem vários bens e serviços de apoio à acção dos piratas. “Na costa,
outra milícia, diferente do grupo de piratas, guarda o navio [capturado] e
surge toda uma economia para o sustentar”, lê-se no relatório. Estes serviços
vão desde a reparação de partes do navio até à alimentação, tanto dos piratas,
como da tripulação refém. Há ainda o negócio do fornecimento de álcool, de khat (uma
planta estimulante, considerada uma droga pela Organização Mundial de Saúde e
que é tradicionalmente mascada naquela região) e de prostitutas. Os pequenos piratas usam o dinheiro que ganham
sobretudo em prostitutas, carros caros, droga e álcool. Os piratas
financiadores também incorrem neste tipo de gastos, mas estas depesas consomem
apenas uma pequena parte do que recebem. O resto do dinheiro é usado tanto
noutras operações ilegais (como o tráfico de pessoas e armas), como em
actividades legítimas, que vão da exploração petrolífera ao investimento em
hotéis. Num comunicado, um dos autores
do relatório, Stuart Yikona, apela a medidas internacionais para travar a
circulação do dinheiro proveniente da pirataria. "A comunidade
internacional mobilizou uma força naval para lidar com os piratas. Um esforço
multinacional semelhante é preciso para interromper e parar o fluxo de dinheiro
ilícito que circula no seguimento das actividades deles".
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