África enviou mais dinheiro para fora do continente do que o
montante que recebeu da comunidade internacional nos últimos trinta anos,
revela um relatório do Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD) e da Global
Financial Integrity (GFI).De acordo com o relatório, apresentado no âmbito do
48.º Encontro Anual do BAD, em Marraquexe, África enviou, entre 1980 e 2009,
quase 1,4 triliões de dólares para fora do continente, incluindo as saídas
financeiras ilegais resultantes de actividades como o tráfico humano ou de
droga."O pensamento tradicional é que o Ocidente tem inundado África com
dinheiro através de fluxos de ajuda internacional e do sector privado, sem
receber grande coisa em troca. O nosso relatório inverte esta lógica - África é
um contribuinte líquido para o resto do mundo há décadas", diz Raymond
Baker, presidente do Global Financial Integrity, um 'think thank' de pesquisa e
activismo com sede em Washington."A saída de recursos de África nos
últimos trinta anos é quase equivalente ao PIB africano actual e está a atrasar
a recuperação do continente", sublinha o economista-chefe e
vice-presidente do BAD, Mthuli Ncube.O estudo, preparado por uma equipa de
economistas do BAD e deste 'think thank' norte-americano, conclui que entre 1980
e 2009 os fluxos financeiros que saíram de África situaram-se entre os 1,2 e os
1,4 triliões de dólares a preços correntes, incluindo as actividades ilegais,
sobre as quais os autores não se pronunciam, a não ser para dizer que
provavelmente terão tido um efeito negativo no desenvolvimento económico. "Mais de um trilião de dólares saiu
ilicitamente de África nos últimos 30 anos, superando os fluxos de capital para
o continente africano, e dificultando o desenvolvimento económico", disse
o economista-chefe do GFI, Dev Kar, que já ocupou o mesmo cargo no Fundo
Monetário Internacional."Reduzir estes fluxos devia ser uma prioridade
para os decisores políticos em África e no Ocidente porque eles motivam e são,
ao mesmo tempo, motivados por um degradado ambiente empresarial e má liderança
política, sendo que ambos cerceiam o crescimento económico. A taxa de
crescimento mais baixa resulta em mais dependência de ajuda externa, com o
esforço dos contribuintes estrangeiros a compensar a quebra nas receitas [de impostos]
dos Estados, uma vez que a evasão fiscal é parte dos fluxos ilícitos",
acrescenta o responsável.Entre as recomendações dos autores para inverter esta
tendência estão a criação de fundos soberanos, a celebração de acordos entre os
países relativamente aos paraísos fiscais para aumentar a transparência,
incluindo a redução do recurso a offshores e 'empresas-fantasma', e obrigar os
bancos a reportar ao Banco de Pagamentos Internacionais as transferências
feitas de e para África, entre outros.
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