segunda-feira, maio 20, 2013

“Os vossos inimigos não são necessariamente meus inimigos”


O presidente moçambicano, Armando Guebuza, refutou hoje as alegações de certos círculos ocidentais de que China tenciona recolonizar os países africanos para ter acesso aos seus vastos recursos, vincando que “este país amigo de Moçambique” já provou que a sua intenção é ajudá-los e cooperar com eles na base de ganhos mútuos.Falando em conferência de imprensa, que marcou o fim da visita de trabalho de sete dias à China, que descreveu como “muito boa e um sucesso
total”, Guebuza explicou que o relacionamento entre a China e África iniciou nos tempos em que os seus povos lutavam contra a colonização.Guebuza recordou que já nessa altura, o Ocidente acusava a China de estar a apoiar os movimentos de libertação, incluindo a Frelimo em Moçambique, como pretexto para exportar o seu comunismo. Ele recordou que mesmo Eduardo Mondlane, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que liderou a luta do povo moçambicano pela independência, explicava aos seus compatriotas que neste tipo de alegações era imperioso optar pela posição que melhor servisse os seus interesses.           Mesmo Nelson Mandela disse a alguns lideres ocidentais, depois de se tornar presidente na África do Sul, que nunca tomaria por inimigo alguém apenas porque é inimigo deles. “Os vossos inimigos não são necessariamente meus inimigos”, dizia Mandela, quando alguns países do Ocidente exigiam que rompesse relações com alguns estadistas como Fidel Castro e Muhammar Khadafi, alegando que eram déspotas ou ditadores. Vincava que continuaria a manter um relacionamento com estes estadistas porque sempre estiveram do seu lado nos momentos mais difíceis da sua vida e dos seus compatriotas, contrariamente a alguns países do Ocidente que estavam do lado do regime que o mantinha encarcerado.             
Guebuza, que respondia à uma questão colocada pela OCS de Moçambique sobre as tais alegações, mostrou-se tranquilo, denotando que não vê risco nenhum da alegada recolonização. Explica que estas alegações são feitas por pessoas que tratam os dirigentes africanos como se fossem criancas que não sabem o que é bom para elas.“Ora, quando alguém já é adulto, sabe o que quer e como quer, pelo que essas alegações não fazem sentido”, disse Guebuza, para de seguida acrescentar que quando a China apoiava a luta dos moçambicanos contra os seus colonizadores, o Ocidente alegava então que Beijing estava a exportar o seu comunismo.Aliás, alguns líderes ocidentais, defensores da teoria de recolonização de África por Beijing, eles próprios deslocam-se frequentemente à China para implorar apoio de biliões de dólares e tentar mobilizar investimentos para os seus próprios países, a semelhança daquilo que Beijing está a fazer para os africanos. Para a ironia do destino, ainda num passado recente, muitos lideres ocidentais evitavam a todo o custo tratar esta mesma China com decência, e muito menos com seu próprio nome, e preferiam chavões como “A China Vermelha”’ ou “A China Comunista”. Hoje, os mesmos pedem o seu apoio para ultrapassar a grave crise financeira que se abateu sobre os seus países e que ameaça a sua estabilidade política e social, como ruir os seus próprios edifícios democráticos, porque, segundo Mandela, “não há democracia quando o povo está de barrigas vazias”.
Muitos peritos, incluindo o Professor norte-americano Morten Jervern, concluíram que graças à ajuda chinesa em particular, e da Ásia em geral, África deverá atingir em 2050 um PIB igual ao EUA e da Europa combinado.Apontam Moçambique Gana e Nigéria como sendo alguns países que irão contribuir para que isso aconteça. Tal como voltou a defender Guebuza nesta conferência de imprensa, o professor Jerven é também contra as estatísticas que colocam certos países na cauda das listas de certas avaliações económicas, como Moçambique e Gana. Jerven diz, no seu estudo que as metodologias usadas são ultrapassados porque ignoram os progressos económicos registados em determinados países. Refere que economicamente, “o continente deu um grande salto” comparativamente maior ao pelas estatísticas dos seus respectivos países.  Defende esta sua tese no seu livro intitulado “Poor Numbers: how we are misled by African development statistics and what to do about it”, vincando que a metodologia usada não mostra a realidade.Ele sustenta que nos próximos 40 anos, “África será a máquina económica do Mundo’’, não só porque a Europa está em crise irreversível, e os EUA em declínio, mas, acima de tudo, porque África tem imensuráveis recursos, como Moçambique que está sentado em muitos deles’’.Este facto é aliado a sua população que está sempre a crescer, ao invés dos países ocidentais, que está a envelhecer. 


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