quinta-feira, outubro 17, 2019

Turquia considera os curdos uma ameaça!


Os curdos são um dos povos originários das planícies da Mesopotâmia — território compreendido entre os rios Tigre e Eufrates — e dos planaltos da região onde hoje estão o sudeste da Turquia, o nordeste da Síria, o norte do Iraque, o noroeste do Irã e o sudoeste da Armênia.  Hoje, eles formam uma comunidade unida por raça, cultura e linguagem, ainda que não tenham um dialeto padrão. Eles têm diversas religiões e credos, mas a maioria é muçulmana sunita.
área ocupada por curdos

Por que os curdos não têm um Estado nacional?
No início do século 20, muitos curdos começaram a considerar a criação de um Estado, geralmente conhecido como Curdistão. Depois da Primeira Guerra Mundial e da derrota do Império Otomano, os países ocidentais vitoriosos fizeram uma provisão para a criação de um Estado curdo em 1920 no Tratado de Sèvres. Mas os planos foram frustrados três anos depois, quando o Tratado de Lausanne, que estabeleceu as fronteiras da Turquia moderna, não tratou de um Estado curdo e os deixou com status minoritário em seus respectivos países. Nas oito décadas seguintes, qualquer ação dos curdos para estabelecer um Estado independente foi brutalmente anulada.
Por que os curdos estavam à frente da luta contra o Estado Islâmico?
Resultado de imagem para curdos contra estado islâmicoEm meados de 2013, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) voltou seus olhos para três enclaves curdos que faziam fronteira com o território sob seu controle no norte da Síria. O EI lançou uma série de ataques que, até meados de 2014, eram revidados pelas Unidades de Proteção do Povo (YPG) — a ala armada do Partido da União Democrática Curda da Síria (PYD).O avanço do Estado Islâmico no norte do Iraque em junho de 2014 também arrastou os curdos daquele país para o conflito. O governo da região autônoma do Curdistão no Iraque enviou suas forças de Peshmerga para áreas abandonadas pelo Exército iraquiano.Em agosto de 2014, os jihadistas lançaram uma ofensiva surpresa, e os Peshmerga precisaram se retirar de diversas áreas. Várias cidades habitadas por minorias religiosas foram tomadas, principalmente Sinjar, onde militantes do Estado Islâmico mataram ou capturaram milhares de yazidis.Em resposta, uma coalizão multinacional liderada pelos Estados Unidos lançou ataques aéreos no norte do Iraque e enviou assessores militares para ajudar os Peshmerga. O YPG e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que lutam pela autonomia curda na Turquia há três décadas e têm bases no Iraque, também ajudaram no combate.Em setembro de 2014, o Estado Islâmico fez um ataque em Kobane, região curda na Síria, forçando dezenas de milhares de pessoas a fugirem pela fronteira turca. Apesar da proximidade dos combates, a Turquia se recusou a atacar posições do Estado Islâmico ou permitir que curdos turcos cruzassem a fronteira para lutar.
Em janeiro de 2015, após uma batalha que deixou pelo menos 1.600 pessoas mortas, as forças curdas recuperaram o controle de Kobane.
mapa dos campos de refugiados
Os curdos — lutando ao lado de várias milícias árabes locais sob a bandeira da aliança das Forças Democráticas Sírias (SDF) e auxiliados por ataques aéreos, armas e conselheiros da coalizão liderada pelos EUA — em seguida expulsaram o Estado Islâmico de dezenas de milhares de quilômetros quadrados de território no nordeste da Síria e estabeleceram o controle sobre uma grande extensão da fronteira com a Turquia. Em outubro de 2017, os combatentes do SDF capturaram a "capital" do Estado Islâmico, Raqqa, e depois avançaram para sudeste na província vizinha de Deir al-Zour, o último ponto de apoio dos jihadistas na Síria.
O último reduto do território mantido pelo Estado Islâmico na Síria — ao redor da vila de Baghouz — foi tomado pelas Forças Democráticas Sírias em março de 2019. O grupo falou em "eliminação total" do "califado" do Estado Islâmico, mas alertou que as células adormecidas jihadistas continuam como a "grande ameaça" para o mundo.

FOTO MAPA
Por que a Turquia considera os curdos uma ameaça?
Há uma hostilidade enraizada entre o Estado turco e os curdos do país, que representam de 15% a 20% da população da Turquia, em torno de 80 milhões de habitantes.
Os curdos receberam tratamento duro nas mãos das autoridades turcas ao longo de diversas gerações. Em resposta aos levantes nas décadas de 1920 e 1930, muitos curdos foram reassentados, nomes e roupas foram proibidos, o uso da língua curda foi limitado e até a existência de uma identidade étnica curda foi negada, com pessoas designadas como "Turcos da Montanha" .
Em 1978, Abdullah Ocalan fundou o PKK, que defendia um Estado independente curdo na Turquia. Seis anos depois, o grupo iniciou uma luta armada. Desde então, mais de 40 mil pessoas foram mortas e centenas de milhares foram desalojadas.
território sírio atualNos anos 1990, o PKK recuou em seu pleito por independência, pedindo maior autonomia cultural e política, mas continuou a lutar. Em 2013, um cessar-fogo foi acordado após a realização de conversas a portas fechadas.
O cessar-fogo entrou em colapso em julho de 2015, depois que um atentado suicida atribuído ao Estado Islâmico matou 33 jovens ativistas na cidade de Suruc, de maioria curda, perto da fronteira com a Síria. O PKK acusou as autoridades da Turquia de cumplicidade e atacou soldados e policiais turcos. Em seguida, o governo turco lançou o que chamou de "guerra sincronizada ao terror" contra o PKK e o Estado Islâmico.
Desde então, milhares de pessoas, incluindo centenas de civis, foram mortas em confrontos no sudeste turco.



Donald Trump assegurou esta quarta-feira que enviou uma missiva “muito poderosa” ao homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan. Reconhecendo que a situação na fronteira entre a Turquia e a Síria é "complicada", defendeu ser "um problema" face ao qual os EUA têm "um controlo muito reduzido". Negou ainda também ter dado "luz verde" para que a Turquia invadisse o norte da Síria após a saída das tropas norte-americanas daquele território.
Imagem relacionada"Não lhes dei luz verde. Quando dizem isso, é uma grande mentira", sublinhou, em mais uma resposta às crescentes críticas sobre essa decisão. "Foi o contrário de uma luz verde. Primeiro, tínhamos muito poucos soldados aí. Na sua maioria já tinham partido", assegurou aos jornalistas. Já na carta que entretanto foi divulgada, Trump aposta num tom muito pouco informal e desafia Erdogan a chegarem a consenso: “Vamos trabalhar num bom negócio! Não quer ser responsável pelo homicídio de milhares de pessoas, e eu não quero ser responsável por destruir a economia turca”. Promete ainda ter garantias de que os militares curdos estão disponíveis para negociar e “fazer concessões” até agora nunca feitas.
“A história olhará para si de forma favorável se fizer isto pela via certa e humana. Olhará para si para sempre como o diabo se coisas boas não acontecerem. Não seja um tipo difícil. Não seja tolo!”, escreve, terminando com uma promessa de um telefonema para breve.
Na semana passada, após a retirada dos militares norte-americanos do norte da Síria, a Turquia lançou uma ofensiva contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), também definida como uma “formação terrorista” e considerada por Ancara o ramo sírio do PKK. O objetivo é o de criar uma “zona de segurança” de 32 quilómetros de largura ao longo da fronteira entre a Turquia e Síria para manter as YPG à distância e repatriar uma parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios que atualmente vivem em território turco. A ofensiva abre uma nova frente na guerra da Síria que já causou mais de 370.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados desde que foi desencadeada em 2011.

A carta na íntegra:

Sua excelência
Resultado de imagem para Recep Tayyip Erdogan Recep Tayyip Erdogan
Presidente da República da Turquia
Ankara
Caro Sr. Presidente:
Vamos trabalhar num bom negócio! Não quer ser responsável pelo homicídio de milhares de pessoas, e eu não quero ser responsável por destruir a economia turca - e serei. Eu já dei um pequeno exemplo a respeito do Pastor [Andrew] Brunson.

Resultado de imagem para O general Mazloum
Trabalhei intensamente para resolver alguns dos seus problemas. Não desiluda o mundo, consegue fazer um ótimo acordo. O general Mazloum está disposto a negociar consigo e disponível para fazer concessões que nunca antes fez. Em anexo segue uma carta confidencial da carta que ele me enviou, acabei de a receber.

A história olhará para si de forma favorável se fizer isto pela via certa e humana. Olhará para si para sempre como o diabo se coisas boas não acontecerem. Não seja um tipo difícil. Não seja tolo!

Ligo-lhe mais tarde.

Cumprimentos”



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