Um alto quadro da Ethiopian Airlines acusou a companhia de aceder aos
registos de manutenção do Boeing 737 Max um dia após este se ter despenhado, em
março, noticiou esta terça-feira a agência de notícias Associated Press (AP)
Na
denúncia do ex-engenheiro chefe a agências internacionais de segurança aérea é
indicado um padrão de corrupção por parte da companhia que incluía a
falsificação de documentos, a validação de reparações suspeitas e agressões a quem
se opunha a estes métodos, segundo a AP.
Yonas
Yeshanew, que se demitiu no verão e solicitou asilo nos EUA, disse que, embora
não seja claro se algo nos registos foi alterado, a decisão de aceder a estes,
quando deveriam ter sido selados, reflete uma política de gestão da companhia
aérea com poucos limites e muito a esconder.
"O
facto brutal será exposto (...) A Ethiopian Airlines está a seguir uma visão de
expansão, crescimento e lucro, comprometendo a segurança", sublinhou
Yeshanew num relatório enviado em setembro à Administração Federal de Aviação
dos Estados Unidos e outras agências internacionais de segurança aérea, e
entregue também à AP.
As críticas de Yeshanew às práticas de manutenção da
Ethiopian Airlines, secundadas por outros três ex-funcionários entrevistados
pela AP, fazem dele a última voz a pedir aos investigadores que analisem mais
profundamente os possíveis fatores humanos na saga dos incidentes com os aviões
737 Max e que não se concentrem apenas no sistema de estabilização da Boeing, responsabilizado
por dois acidentes em quatro meses. Não é por acaso, acrescentou, que a
Ethiopian Airlines viu um dos seus aviões Max cair quando muitas outras
companhias aéreas não sofreram tal tragédia, apesar de também utilizarem o
mesmo modelo.
A
Ethiopian Airlines retratou Yeshanew como um ex-funcionário descontente e negou
categoricamente as alegações, que representam um contraponto flagrante à
perceção da companhia aérea como uma das empresas mais bem-sucedidas da África
e uma fonte de orgulho nacional.
Yeshanew
alegou no seu relatório e em entrevistas à AP que a companhia está a crescer
muito rapidamente e a lutar para manter os aviões no ar, agora que transporta
11 milhões de passageiros por ano, quatro vezes o que acontecia há uma década.
O
ex-engenheiro chefe indicou que os mecânicos estão sobrecarregados de trabalho
e são pressionados a optarem por 'atalhos' para que os aviões estejam prontos a
descolar, enquanto os pilotos estão a voar sem o descanso ou treino
suficientes. O ex-funcionário apresentou ainda uma auditoria de há três anos,
na qual se descobriu, entre dezenas de outros problemas, que quase todos os 82
mecânicos, inspetores e supervisores, cujos ficheiros foram analisados, que não
possuíam os requisitos mínimos para desempenharem as suas funções. Yeshanew
incluiu e-mails mostrando que insistiu durante anos com os altos executivos
para que colocassem fim a uma prática na companhia aérea de aprovar trabalhos
de manutenção e reparo que, segundo ele, foram feitos de maneira incompleta,
incorrecta ou inexistente.
Por
outro lado, afirmou ter intensificado esforços após o acidente de 29 de outubro
de 2018 com um Boeing 737 Max da Lion Air, na Indonésia, que matou todas as 189
pessoas a bordo.
Num
e-mail enviado por Yeshanew ao administrador executivo da Tewolde Gebremariam
pedia que "interviesse pessoalmente" para impedir os mecânicos de
falsificarem os registos.
Esses
pedidos foram ignorados, acrescentou. E, após o acidente de 10 de março de
2019, dia em que caiu um avião Boeing 737 Max etíope nos arredores de Addis
Abeba, que matou todas as 157 pessoas a bordo, Yeshanew disse que estava claro
que a mentalidade não havia mudado.
Yeshanew
denunciou que, no dia seguinte ao acidente, o chefe de operações da Ethiopian
Airlines, Mesfin Tasew, expressou abertamente o receio de que a companhia aérea
poderia ser responsabilizada por causa dos seus "problemas" e
"violações" ao nível da manutenção e ordenou que fossem verificados
"erros" nos registos do avião Max que se despenhara.
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