terça-feira, julho 15, 2014

Que militantes e dirigentes da Renamo possam ler...

Embora não tenha solicitado a permissão do meu então mestre, Mia Couto, que neste caso foi quem diagnosticou a minha veia jornalística e me meteu no mundo jornalístico, achei por bem que deveria fazer mais eco a sua crónica intitulada “Uma Não-Carta para Afonso”, que a Revista-Encaixe do Semanário Sol do Índico publicou na sua edição de 11 deste mês, porque ele consegue expor, a meu ver, como mais ninguém, quão criminoso é o líder da perdiz e os que como ele pensam e agem, ao voltarem a matar os seus próprios compatriotas.Para não diluir ou enfraquecer esta Não-Carta de Mia a Afonso, prefiro transcrever com a devida vénia, alguns parágrafos da mesma, como se segue: É pena que uma força política que poderia ajudar a criar um clima pluripartidário mais vivo e dinâmico não seja capaz de se libertar desse passado de movimento armado. É pena que a palavra de construção que esta Nação tanto necessita seja substituída pelo discurso de quem vai “partir” e “incendiar” o País. …Recordo-me das palavras de José Saramago: a democracia é um regime tão extraordinário que aceita mesmo os partidos e as práticas mais antidemocráticas.
“A Renamo pode ter desistido das práticas democráticas mas os moçambicanos insistem no diálogo e na tolerância. A democracia moçambicana, por mais jovem que seja, alberga um partido que, em qualquer outro lugar do Mundo, seria considerado ilegal. Em que outra democracia se poderia aceitar um partido que recusa entregar as armas? Um partido que faz política com uma mão e faz Guerra com a outra mão? Que outra nação toleraria um partido que reclama pela despartidarização do Estado e do Exército, e depois quer partidarizar a dois em negociações políticas nas costas da vontade do povo? Até quando a gente da Renamo, que é patriótica e amante da Paz, tolera isso que é intolerável em Moçambique ou em qualquer outra parte do Mundo?”
Gostaria de não mais continuar e terminar aqui estas citações do meu mestre Mia com a frase predilecta do Emílio Manhique Mais Palavras Para Quê, mas não resisto a citar mais alguns trechos desta Não-Carta para o benefício dos que ainda não a leram, como estes:”…O Presidente da RENAMO poderia ficar na História de Moçambique como alguém que ajudou a consolidar o processo de pacificação e o reencontro dos moçambicanos consigo mesmos. As suas declarações, contudo, deitam a perder essa possibilidade. Nenhum político se pode orgulhar de usar o medo como uma forma de fazer valer as suas intenções. A nação moçambicana não pode ficar refém do retorno à violência. Ninguém que ame Moçambique e respeite o seu povo quererá reviver a tragédia da guerra”.
Mia conclui que Afonso Dhlakama opta por colocar a sua ambição pelo poder acima do clamor pela Paz dos moçambicanos e do desenvolvimento do seu País, e o condena por isso e a todos os que apoiam esta sua agenda belicista, porque, com isso, “significa que mais moçambicanos continuarão a ser mortos num clima de Guerra oculta ou declarada”.
“E é pena porque um dos partidos políticos de Moçambique (Renamo neste caso), com assento no Parlamento, está a dizer aos moçambicanos que aceita a Constituição mas que a agride de forma frontal quando proclama que vai, por via da violência, “dividir o País ao meio”.
Ele dá como ponto mais alto deste seu grito ou apelo a Dhlakama, as seguintes perguntas: Quantas vezes mais teremos que apelar? Quantas cartas teríamos que fazer para que o dirigente da Renamo abdicasse do recurso às armas? Pode alguém esperar que os fazedores de Guerra parem para escutar?

Sem esperar pela resposta, Mia dá ele próprio a resposta, da seguinte maneira: Não creio que tenhamos ainda alma para escrever a Afonso Dhlakama. Para que o voltássemos a fazer, teria que haver fé que o líder do partido (ou será do exército?) da Renamo colocasse os assuntos da Paz acima das suas ambições de Poder. O que é mais grave ainda, é que a Renamo não é o único partido que tem gente que é pela guerra de novo.  No MDM, que é um produto de dissidências apolíticas de interesses egoísticas na Renamo, está cheio deles também, se bem que os que o proclamam à viva-voz, são poucos. Um deles é o Edil de Quelimane, Manuel de Araújo, que faz apologia a esta mais uma tentativa de Dhlakama de reactivar a guerra, ao mesmo tempo que faz outra apologia à dos 16 anos que este mesmo Afonso moveu ao serviço do apartheid, e que matou mais de um milhão de moçambicanos. Araújo revelou esta sua apologia através duma longa entrevista que deu ao Savana, publicada na sua edição de 5 de Maio passado. Mesmo o próprio líder do MDM, Daviz Simango, deixa claro que é favorável a belicismo do seu antigo líder, porque diz ser contra a compra de armas pelo Governo para o exército moçambicano, o que é o mesmo que dizer “deixem a minha antiga Renamo matar”, tudo na vã esperança de que as matanças serão o feitiço que levará o povo a ver no MDM como o seu único salvador. Ele recorre a uma linguagem dissimulada de meter a Renamo e o Governo no mesmo saco, ou seja, de culpar ambos, o que é uma velha táctica que visa apresentar o seu MDM como o único que não se mete em guerras. (G.Mavie)

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