“Entendo que o Governo de Moçambique, pelas políticas já iniciadas, é
capaz de encontrar uma solução duradoura, que já encontraram há muitos anos,
para o que se está a passar em Moçambique”, disse em conferência de imprensa
José Luís Guterres. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste falava
esta terça-feira em Díli no final da XIX reunião ordinária do Conselho de
Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “É uma questão
apenas de tempo. Há uma vontade política já expressa pelo candidato da oposição
de participar nas eleições presidenciais, o que significa que o processo
democrático está no bom caminho”, sublinhou.
O cenário de entendimento entre o Governo e a Renamo ganhou maior solidez
nos últimos dias, ambiente também evidenciado pelas declarações públicas dos
líderes das duas delegações.Analistas habilitados acreditam que entre os factores que em maior escala
terão contribuído para esse cenário são considerados os seguintes:
a) A Renamo moderou as suas exigências no que toca ao estabelecimento de
uma
paridade aritmética na direcção das Forças de Defesa e Segurança (FDS),
contentando- se com a aplicação do princípio de “despartidarização” das mesmas
– há quem entenda isto como uma repetição quase exacta de um alegado “erro” que
Dhlakama cometeu durante as conversações de Roma que conduziram ao fim dos 16
anos de guerra civil em Moçambique (1976/1992).
b) O Governo estará, ainda, disposto a proclamar, oficial e publicamente,
e aplicar uma amnistia ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e seus seguidores,
incluindo a retirada das acusações imputadas ao brigadeiro Jerónimo Malagueta
(ora em liberdade condicional depois de nove meses de detenção) e ao porta-voz
dolíder da “perdiz”, António Muchanga, detido na Cadeia de Máxima Segurança
(vulgo BO) em Maputo, há sensivelmente três semanas, sob acusação de incitação
à violência.
c) A fé dos mesmos observadores, o Executivo de Maputo estaria, ainda,
disposto a reforçar a segurança de Afonso Dhlakama quando este descer das
montanhas e retornar à actividade política plena, tendo como enfoque imediato a
campanha eleitoral com vista às eleições presidenciais de 15 de Outubro próximo.
Consta estar a ser redigido um pacto formal a ser celebrado pelas duas partes,
apesar de tanto os representantes do Governo como os da Renamo, na mesa
negocial no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, declinarem
confimar ou desmentir tal esforço.
Os mesmas analistas entendem que os sinais de aproximação dos pontos de
vista das duas delegações são ainda consubstanciados pela interrupção efectiva
dos confrontos entre as forças beligerantes do Governo e da Renamo nas últimas três
semanas, a “reacção contida” de Dhlakama face à detenção de Muchanga, a
resolução do dossier Certidão de Registo Criminal do líder da “perdiz”, bem
como a moderação da linguagem das duas partes, salvo raríssimas excepções, de
intervenientes tidos como “descontrolados”.
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