Uma semana depois do assalto a uma viatura da empresa de segurança
privada “Delta Segurança”, que provocou a morte de quatro agentes e resultou no
roubo de mais de 100 milhões de meticais, na província de Tete, a Polícia da
República de Moçambique continua sem pistas para neutralizar os ladrões.Um
funcionário superior do departamento financeiro da “Mozambique Leaf Tobacco”,
que falou na condição de anonimato, disse que houve premeditação com o intuito
de roubar o dinheiro, mas não aponta nomes.“Sempre que necessitamos de elevados
valores em dinheiro para levar aos centros de produção, a fim de comprarmos
tabaco dos nossos agricultores, contratamos uma empresa de segurança, que
transporta os valores” explicou a fonte.
A mesma fonte disse que, para o transporte de valores, a empresa tem assinado
um contrato de prestação de serviços.“Só após esse contrato é que passamos os cheques e entregamos aos nossos
funcionários, para procederem ao levantamento do dinheiro, acompanhados por
guardas duma empresa de segurança”, disse.A fonte, que pediu o anonimato, disse
que, normalmente, depois do levantamento do dinheiro, as pastas ficam sempre
seladas, o que não aconteceu no dia em que ocorreu o assalto.“Não foram
observados esses passos todos. Apenas se entregou o cheque à ‘Delta Segurança’,
para proceder ao levantamento dos valores”, explicou, acrescentando que,
“estranhamente, as chefias do departamento financeiro deixaram tudo a cargo da
‘Delta Segurança’, mesmo sabendo quais são as regras”.
Dados obtidos depois do levantamento feito na noite do dia em que ocorreu
o assalto indicam que a viatura que transportou os valores devia pernoitar no
recinto da MLT depois do levantamento do dinheiro, para no dia seguinte,
quarta-feira seguir viagem, o que não aconteceu.“Na MLT, trabalham, em cada
turno, mais de 600 vigilantes da segurança privada e da PRM. A pergunta que
fica sem resposta é porquê os funcionários da MLT violaram as regras”, disse a
nossa fonte.
A PRM em Tete, embora se limite a dizer que está em curso o trabalho
investigação, acredita que o roubo do dinheiro resultou dum esquema montado
entre os funcionários da MLT e da empresa de segurança privada.“Nós já reunimos
com as empresas de segurança em diversas ocasiões, em que participaram os
gerentes dos bancos existentes aqui na província, e ficou estabelecido que,
para o transporte de valores acima de 100 mil meticais, tanto por pessoas
singulares como por empresas, deve ser comunicado à Polícia, para o devido
policiamento e acompanhamento gratuito”, disse Luís Nudias, porta-voz da PRM em
Tete.Nudias acusa o delegado da “Delta Segurança” em Tete, Armando Chico
António, de ter ignorado uma série de questões de segurança. A Polícia informa
que dentro da viatura foram encontrados apenas 25.030,50 MT (vinte e cinco mil,
trinta meticais e cinquenta centavos) em moedas.“Nunca dormimos aqui na
delegação com um montante igual. Não sabemos o que motivou essa decisão.
Pensamos que deve haver esclarecimentos”, disseram, por sua vez, os
trabalhadores da “Delta Segurança” abordados pela nossa reportagem e que
acreditam ter havido um esquema dos seus chefes para roubarem o dinheiro.
Uma fonte da PIC informou ao Canalmoz em Tete que o caso já tem um
processo com o número 446-2014. A mesma fonte disse também que o director
financeiro da MLT e outros três funcionários da empresa poderão ser chamados
mais vezes à PIC, por recaírem sobre eles fortes suspeitas de envolvimento no
esquema que facilitou o assalto e consequente roubo.“Já foi submetido ao juiz o
pedido de mandato de captura contra estes colaboradores da MLT”, disse uma fonte
da PIC, tendo sido confirmada pelo porta-voz da PRM, que afirmou ter
conhecimento de que “os colaboradores da MLT vão recolher às celas”, sem no
entanto divulgar os nomes.Em relação ao mesmo caso, foi preso na tarde da
passada segunda-feira, o comandante da força da “Delta Segurança” que
acompanhava a viatura assaltada, Roberto Silvério, que se junta ao seu
delegado, Armando Chico António, detido na semana passada, logo depois da
ocorrência do crime. Os indiciados estão detidos na 1a esquadra da PRM.
Devido ao roubo dos 100 milhões de meticais que estavam destinados para a
compra do tabaco aos agricultores em vários distritos da província de Tete, a
comercialização do tabaco está comprometida, devendo a paragem demorar, o que
começa a preocupar os produtores.Fonte do distrito de Macanga disse que existem agricultores que haviam
pesado e entregue o tabaco à MLT e estavam à espera do pagamento.“Aqui em
Macanga, existem agricultores que já pesaram o tabaco, entregaram à MLT,
receberam recibos e estão à espera da chegada do dinheiro para o pagamento. Com
o que aconteceu, esses produtores estão desesperados”, disse a fonte.
Enquanto isso, um funcionário duma empresa de seguros disse que, geralmente, as empresas de seguros não aceitam cobrir este tipo de
acidentes, afirmando que o risco de assaltos, em muitos casos, é grande. (J.Pantie)
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