A
estratégia sionista para apresentar suas políticas brutais como resposta ad hoc
a uma ou outra ação dos palestinos é tão velha quanto a presença maléfica de
israelenses na Palestina. Sempre foi usada, repetidamente, como justificativa
para impor a visão sionista de uma Palestina futura, onde haveria bem poucos,
se algum, palestinos nativos.Os meios para alcançar esse objetivo mudaram ao
longo dos anos, mas a fórmula permaneceu a mesma: seja qual for a visão
sionista de um Estado Judeu, só se poderá materializar sem número significativo
de palestinos sobre a face da Terra.
E hoje, a visão sionista é uma Israel que
cubra quase toda a Palestina histórica, onde ainda vivem milhões de palestinos.A
onda genocida em curso hoje tem, como todas as anteriores sempre tiveram, algum
contexto imediato. Dessa vez, teve a ver com o projeto de fazer gorar a decisão
dos palestinos de constituir um governo de unidade, contra o qual nem os EUA
teriam objeções.O colapso da desesperada iniciativa “de paz” do secretário de
Estado dos EUA John Kerry legitimou o apelo palestino a organizações
internacionais para que interviessem e pusessem fim à ocupação.
Ao mesmo tempo,
os palestinos ganharam amplo reconhecimento internacional e apoio para a
cautelosa tentativa, pelo governo de unidade, de construir política coordenada
entre os vários grupos políticos e respectivas agendas.
Desde junho de 1967, Israel procura um meio para manter os territórios que
ocupou naquele ano, sem incorporar a população palestina indígena e dar aos
palestinos os mesmos direitos de cidadania que têm os israelenses. E todo o
tempo os israelenses mantêm a farsa de algum “processo de paz”, para encobrir o
movimento pelo qual vão ganhando tempo para implantar suas políticas
unilaterais de colonização.Ao longo das décadas, Israel passou a diferenciar
entre áreas que queria controlar completa e diretamente, e áreas que
controlaria indiretamente, com o objetivo de, no longo prazo, reduzir ao mínimo
a população de palestinos, usando, dentre outros meios, campanhas de limpeza
étnica e estrangulamento econômico e geográfico.A localização geopolítica da
Cisjordânia cria a impressão em Israel, pelo menos, de que é possível conseguir
tal objetivo sem provocar uma terceira Intifada nem excessiva condenação
internacional.
A Faixa de Gaza, dada sua especialíssima localização geográfica, não se presta
muito facilmente a tal estratégica. Sempre desde 1994, ainda mais depois que
Ariel Sharon chegou ao poder como primeiro-ministro nos primeiros anos 2000s, a
estratégia é cercar Gaza num gueto, e pôr-se à espera de que todo o povo que
ali vive – hoje, 1,8 milhão de pessoas – morra e caia no esquecimento eterno.Mas
o Gueto mostrou-se rebelde, sem nenhuma disposição para se deixar ficar em
condições subumanas, de estrangulamento, isolamento, fome, colapso econômico.
Então, para que Israel consiga enviá-los para o esquecimento eterno, voltou a
ser indispensável retomar as políticas de genocídio.
*ILAN
PAPPÉ,Historiador judeu israelense, professor de História na Universidade
de Exeter, no Reino Unido. Foi docente em Ciências Políticas em sua cidade
natal, na Universidade de Haifa (1984-2007). Pappé faz uma análise profunda
sobre os acontecimentos de 1948 (criação do Estado de Israel) e seus
antecedentes. Em particular, ele defende em seu livro mais importante, Ethnic
Cleansing in Palestine [A limpeza étnica na Palestina], que houve uma limpeza
étnica, ou seja, a expulsão deliberada da população civil árabe da Palestina -
operada pela Haganah, pelo Irgun e outras milícias sionistas, que formariam a
base do Tzahal - segundo um plano elaborado bem antes de 1948. Pappé considera
a criação de Israel como a principal razão para a instabilidade e a
impossibilidade de paz no Oriente Médio.
Segundo ele, o sionismo tem sido
historicamente mais perigoso do que o islamismo extremista. Ao longo dos anos
2000, Ilan Pappé notabilizou-se por várias polêmicas, notadamente a
controvérsia do massacre de Tantura, e por seu apelo ao boicote internacional
às universidades israelenses, o que o levou a entrar em conflito com seus
colegas da Universidade de Haifa, particularmente com Yoav Gelber. Ilan Pappé e
Benny Morris, um outro historiador, divergiram frontalmente quanto à análise
dos eventos de 1948 e quanto à atribuição de responsabilidades no conflito
israelo-palestino
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