segunda-feira, julho 21, 2014

Israel: prossegue o genocídio, por etapas *


A estratégia sionista para apresentar suas políticas brutais como resposta ad hoc a uma ou outra ação dos palestinos é tão velha quanto a presença maléfica de israelenses na Palestina. Sempre foi usada, repetidamente, como justificativa para impor a visão sionista de uma Palestina futura, onde haveria bem poucos, se algum, palestinos nativos.Os meios para alcançar esse objetivo mudaram ao longo dos anos, mas a fórmula permaneceu a mesma: seja qual for a visão sionista de um Estado Judeu, só se poderá materializar sem número significativo de palestinos sobre a face da Terra. 
E hoje, a visão sionista é uma Israel que cubra quase toda a Palestina histórica, onde ainda vivem milhões de palestinos.A onda genocida em curso hoje tem, como todas as anteriores sempre tiveram, algum contexto imediato. Dessa vez, teve a ver com o projeto de fazer gorar a decisão dos palestinos de constituir um governo de unidade, contra o qual nem os EUA teriam objeções.O colapso da desesperada iniciativa “de paz” do secretário de Estado dos EUA John Kerry legitimou o apelo palestino a organizações internacionais para que interviessem e pusessem fim à ocupação. 
Ao mesmo tempo, os palestinos ganharam amplo reconhecimento internacional e apoio para a cautelosa tentativa, pelo governo de unidade, de construir política coordenada entre os vários grupos políticos e respectivas agendas.
Desde junho de 1967, Israel procura um meio para manter os territórios que ocupou naquele ano, sem incorporar a população palestina indígena e dar aos palestinos os mesmos direitos de cidadania que têm os israelenses. E todo o tempo os israelenses mantêm a farsa de algum “processo de paz”, para encobrir o movimento pelo qual vão ganhando tempo para implantar suas políticas unilaterais de colonização.Ao longo das décadas, Israel passou a diferenciar entre áreas que queria controlar completa e diretamente, e áreas que controlaria indiretamente, com o objetivo de, no longo prazo, reduzir ao mínimo a população de palestinos, usando, dentre outros meios, campanhas de limpeza étnica e estrangulamento econômico e geográfico.A localização geopolítica da Cisjordânia cria a impressão em Israel, pelo menos, de que é possível conseguir tal objetivo sem provocar uma terceira Intifada nem excessiva condenação internacional.

A Faixa de Gaza, dada sua especialíssima localização geográfica, não se presta muito facilmente a tal estratégica. Sempre desde 1994, ainda mais depois que Ariel Sharon chegou ao poder como primeiro-ministro nos primeiros anos 2000s, a estratégia é cercar Gaza num gueto, e pôr-se à espera de que todo o povo que ali vive – hoje, 1,8 milhão de pessoas – morra e caia no esquecimento eterno.Mas o Gueto mostrou-se rebelde, sem nenhuma disposição para se deixar ficar em condições subumanas, de estrangulamento, isolamento, fome, colapso econômico. Então, para que Israel consiga enviá-los para o esquecimento eterno, voltou a ser indispensável retomar as políticas de genocídio.

*ILAN PAPPÉ,Historiador judeu israelense, professor de História na Universidade de Exeter, no Reino Unido. Foi docente em Ciências Políticas em sua cidade natal, na Universidade de Haifa (1984-2007). Pappé faz uma análise profunda sobre os acontecimentos de 1948 (criação do Estado de Israel) e seus antecedentes. Em particular, ele defende em seu livro mais importante, Ethnic Cleansing in Palestine [A limpeza étnica na Palestina], que houve uma limpeza étnica, ou seja, a expulsão deliberada da população civil árabe da Palestina - operada pela Haganah, pelo Irgun e outras milícias sionistas, que formariam a base do Tzahal - segundo um plano elaborado bem antes de 1948. Pappé considera a criação de Israel como a principal razão para a instabilidade e a impossibilidade de paz no Oriente Médio.
Segundo ele, o sionismo tem sido historicamente mais perigoso do que o islamismo extremista. Ao longo dos anos 2000, Ilan Pappé notabilizou-se por várias polêmicas, notadamente a controvérsia do massacre de Tantura, e por seu apelo ao boicote internacional às universidades israelenses, o que o levou a entrar em conflito com seus colegas da Universidade de Haifa, particularmente com Yoav Gelber. Ilan Pappé e Benny Morris, um outro historiador, divergiram frontalmente quanto à análise dos eventos de 1948 e quanto à atribuição de responsabilidades no conflito israelo-palestino 

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